“Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

Clarice Lispector

Lílian e Tiago foram para a torre da grifinória em agradável silêncio após o breve diálogo. Porém os pensamentos da ruiva estavam muito confusos.

Quando chegaram à sala comunal da grifinória Lílian resolveu subir para o dormitório e esperar por Maria lá.

- Bom, Potter, eu vou subir e esperar por Maria no dormitório. – ela informou ao garoto. – Obrigada mais uma vez.

- Tranquilo. – ele respondeu com simplicidade e com um sorriso calmo no rosto.

Apenas isso bastou para que o coração de Lílian desse uma cambalhota. A garota o olhava e se perguntava o que isso poderia significar. O que havia mudado em tão pouco tempo.

- Ei Evans, ta tudo bem com você? – Tiago perguntou com a testa franzida balançando a mão em frente do rosto dela. Lílian sorriu involuntariamente para ele, Lílian corou ao perceber que tinha sorrido pra ele e gaguejou uma resposta.

- Ah sim, está, tudo, vem... Vou, subir.

Ela virou as costas e subiu a escada que conduz ai dormitório correndo, deixando Tiago para trás coçando a cabeça, confuso.

Em meio a pensamentos conflitantes Lílian não percebeu o tempo passar e logo Maria estava de volta.

- Lily? Ah, aí está você! Tiago me disse que você estava aqui. E então? O que aconteceu? – Maria perguntou se sentando na cama de Lílian.

- Eu apenas me desconcentrei e disse o feitiço errado, Potter me ajudou a ir até a ala hospitalar e depois de esperar a porção curou meu tornozelo fazer efeito viemos para cá e eu estou aqui desde então, te esperando. – Lílian resumiu.

- Só isso? – Maria perguntou incrédula.

- O que mais você achou que poderia acontecer? – Lílian perguntou divertida.

Maria fez um sinal de indiferença com os ombros no que Lílian riu e Maria mudou de assunto.

- Bora descer pra jantar? Já esta na hora e eu estou morrendo de fome. – disse Maria se levantando.

- Claro. – disse Lílian também se levantando.

Apesar da confusão que se formava em sua mente e de sensações recém descobertas, ao sair do dormitório feminino do 7º ano da grifinória, Lílian havia tomado uma decisão.

Ela se sentia em dívida com Tiago Potter, por tê-la ajudado e também pela gentileza com que ela a tratava mesmo ela sendo tudo, menos gentil com ele e também porque ele estava passando por um momento difícil depois da morte dos pais. Por tudo isso ela havia prometido a si mesma que iria ser gentil com ele, dentro do possível. Ora não se aprende a tratar bem alguém que há alguns dias se odiava. Ela também prometeu evitar ao máximo brigar com o garoto e também não berrar para ele sair de perto sempre que ele se aproximasse dela, isso incluía quando ele se sentasse perto dela.

Poderia parecer pouco, mas para Lílian fazia toda diferença.

As duas amigas desceram para o Salão Principal para jantar. Quando chegaram a refeição tinha acabado de ser servida, porém o salão estava razoavelmente cheio.

As garotas se sentaram no lugar de costume, mas não havia sinal dos Marotos. Após mais ou menos cinco minutos os garotos apareceram e Sirius com um sorriso debochado se sentou exatamente no mesmo lugar que havia sentado no almoço assim como os outros Marotos. Lílian respirou fundo para se acalmar e não brigar com eles. Ela olhou para Sirius e sorriu, o garoto surpreso oscilou. Mas o passatempo preferido dos Marotos era irritá-la, ela sabia que Sirius não desistiria tão fácil.

- Então Pimentinha, fiquei sabendo que o Filch encontrou o Ranhoso dependurado no teto de cabeça para baixo. – ele disse com um sorriso Maroto.

- Eh mesmo Black? Que interessante1 – Lílian disse indiferente. Enquanto brincava com a comida distraída.

- Pois é! E sabe o que andam comentando por aí? – ele perguntou.

- Não Black, não sei. – disse Lílian soltando o garfo no prato estrondosamente demonstrando irritação e olhou para ele.

- Bem, estão dizendo que a monitora-chefe mais certinha que Hogwarts já teve é quem o pendurou lá, ou seja, você. – Sirius disse com um sorriso maroto nos lábios. - Não sei do que você está falando Black – disse Lílian em tom neutro voltando a brincar com a comida.

Ele sorriu dando a entender que sabia que ela estava mentindo.

- Bom se não foi você... então porque o Ranhoso não para de olhar para cá? – Sirius disse ainda sorrindo e olhando para um ponto atrás dela.

A garota seguiu o olhar e constatou que o maroto falava a verdade. De fato Snape a encarava com rancor nos olhos. Os outros viraram para ver se era verdade o que Sirius estava falando, mas Snape constrangido por causa de tanta atenção desviou o olhar.

Lílian se virou novamente para a mesa da grifinória e disse dando de ombros:

- Eu sei lá. Eu tenho cara de quem sabe o que se passa na cabeça de um protótipo de comensal da morte? – Ela disse apontando para o próprio rosto.

Sirius estreitou os olhos e disse:

- Sabe Pimentinha, eu acho que se você não se esforçasse tanto pra ser tão certinha, você até poderia ser uma Marota.

Lílian fez um gesto de indiferença com as mãos como quem diz: “Se você está dizendo...”

Tiago era o único que ainda continuava encarando Snape. Ele se virou para os companheiros de casa e disse:

- Eu só sei que se ele continuar encarando a nossa mesa ele vai ficar sem os olhos. – Ele disse mal humorado.

- Porque Potter? Você vai arrancar os olhos dele? – Lílian perguntou estreitando os olhos e o encarando de forma intimidadora.

- Não Lily! Pensei que você iria arrancar! – Tiago disse rapidamente. Lílian continuou o encarando, se decidindo se deveria ralhar com ele por tê-la chamado pelo apelido. Ela se voltou para seu suco novamente, o bebendo despreocupadamente.

- Acho que o Pontas ficou com medinho da Pimentinha! – disse Sirius debochado e depois começou a gargalhar, seguido pelos outros, apenas Tiago e Lílian não riam. Tiago emburrado e Lílian tentando parecer indiferente.

- Olha quem fala! – disse Tiago emburrado. – Você mesmo me disse que quase se borrou hoje no almoço.

E todos começaram a rir, e além de Lílian, Sirius era o único que não ria emburrado. Lílian deu um longo gole no suco para reprimir a vontade de rir também. A cada segundo que passava Sirius ficava mais emburrado.

- Ah vamos Black, desfaça essa carranca, também não é para tanto. E vocês – ela disse apontando para Maria, Tiago e Remo que ainda gargalhavam. – podem parar de tirar sarro do coitado. Já chega.

- NÃO, me chame desse nome! – disse Sirius fazendo uma careta como se estivesse sentindo dor.

- Que nome? – Lílian perguntou franzindo as sobrancelhas, confusa.

 - Black. – Tiago sussurrou no ouvido de Lílian provocando cócegas em sua orelha.

- Ah! Quer dizer que você não gosta que te chamem Black? – e quando ela falou o sobrenome dele ele fez uma careta. Lílian sorriu marotamente. – Black, Black, Black, Black, Black, Black, Black, Black... – Ela começou a repetir, Sirius tampou os ouvidos e começou a cantar a música “Um bruxo em minha vida” de Catarina de Bruxelas, Remo revirou os olhos, Maria e Tiago começaram a rir e Pedro continuou comendo.

Da mesa dos professores o diretor Alvo Dumbledore observava a cena com um sorriso nos lábios.

Enquanto o mundo bruxo inteiro estava um caos, todos assustados e tristes, a escuridão pairando sobre todos, ainda havia alguns raios de luz sobre alguns lugares de Hogwarts. Observando aqueles jovens o professor havia percebido isso. Porém ele se perguntava por quanto tempo isso ainda duraria.