“O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe. São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.”

Érico Veríssimo

Lílian seguiu para sua aula de feitiços. Chegando à sala de aula bem a tempo, ela se sentou como de costume ao lado de Maria e começou a prestar atenção na aula.

– Como os NIEN’s estão muito próximos hoje vamos começar a revisar tudo que aprendemos nos últimos anos. – disse o professor Flitwinc com sua voz esganiçada. – Bom para começar, peço que formem duplas e comecem a praticar o feitiço Expeliarmus. Podem começar!

Lilian ficou de frente para Maria, fez o movimento e no momento em que ela ia dizer o feitiço ela viu uma garota da corvinal dando em cima de Tiago Potter, o garoto parecia alheio a isso, concentrado em sua tarefa. Inexplicavelmente, a raiva se apoderou de Lílian, ela se desconcentrou totalmente e disse o feitiço errado:

– Estupefaça!

Maria se abaixou, o feitiço atingiu o escudo de uma armadura atrás de Maria e ricocheteou atingindo Lílian que voou cinco metros só parando quando ele se chocou com algumas cadeiras amontoadas na parede às suas costas. Todos pararam imediatamente e olharam para ela surpresos. Lílian olhou para Tiago que olhava para ela preocupado o que a irritou ainda mais.

O professor Flitwinck correu em sua direção e perguntou preocupado:

– Você está bem?

– Estou, acho que estou. – respondeu Lílian.

Ela tentou se levantar, mas foi surpreendida por uma dor aguda no tornozelo, não conseguindo ficar de pé.

– AI! – Lílian gritou de dor.

– O que foi? O que aconteceu? – perguntou o professor indo acudi-la.

– Acho que quebrei o tornozelo. – ofegou Lílian.

– Ah sim, bem, é melhor a senhorita ir para a ala hospitalar, senhor Potter, leve a senhorita Evans para a ala hospitalar. – disse o professor apressado.

Tiago se aproximou do lugar onde Lílian estava caída e estendeu a mão para ela.

– Não preciso da sua ajuda Potter. – ela disse entre os dentes e Tiago revirou os olhos.

Ela pegou a mão dele e seu coração acelerou e surgiu um rubor em suas bochechas. Lílian ficou surpresa em como este simples toque podia afetá-la tanto assim, ele deveria causar-lhe repulsa. Envergonhada como se toda a sala pudesse ouvir seu coração e seus pensamentos ela se levantou.

Tiago passou o braço pela cintura da garota e colocou o braço dela em volta do pescoço dele, ela corou ainda mais, e ele ajudou Lílian a sair da sala de aula. Então como uma criança birrenta assim que a porta da se sala fechou Lílian começou a tentar se soltar e Tiago revirou os olhos.

– Me solte eu sei o caminho para a ela hospitalar. – disse Lílian num misto de constrangimento e frustração.

– Eu sei que sabe, mas se não percebeu, você quebrou o tornozelo, não consegue nem ficar em pé sem apoio quanto mais andar até a ala hospitalar. Além disso, o professor Flitwinck me mandou te levar até a enfermaria.

– Desde quando você faz o que um professor te manda? – Lílian perguntou o provocando.

– E desde quando você tem tendência à autodestruição? – ele perguntou levantando uma sobrancelha.

– Desde que eu conheci você. – ela disse num murmúrio e Tiago riu depois ela acrescentou mais alto. – Eu não preciso da sua ajuda. Agora me solta.

– Você é orgulhosa demais para aceitar que precisa da minha ajuda. – ele disse com um sorriso maroto, e Lílian se surpreendeu, desejando parar o tempo e poder ficar contemplando esse sorriso para sempre. Ela balançou a cabeça para afastar esses pensamentos impróprios.

– Já disse pra me soltar, prefiro que o Pirraça me ajude a você. – então em uma atitude bastante infantil, ela começou a se debater tentando se soltar. – Me solta agora!

Ele então a soltou. Lílian balançou precariamente e começou a cair. Ela fechou os olhos se preparando para o impacto que certamente viria, mas invés da dor, ela sentiu os braços firmes de Tiago a impedindo de cair. Um arrepio percorreu seu corpo quando ela abriu os olhos e percebeu o quão próximos estavam.

– Podemos fazer do jeito fácil ou do jeito difícil. Você é quem escolhe. – Tiago disse com a voz baixa e rouca, ele olhava tão intensamente para ela que a moça não encontrou palavras para respondê-lo, apenas balançou a cabeça afirmativamente constrangida.

O caminho até a ala hospitalar foi silencioso, pois eles não se falaram. Quando chegaram à ala hospitalar Tiago ajudou Lílian a se sentar em uma das camas, ao ouvir o barulho Madame Ponfrey saiu apressada de sua sala.

– O que aconteceu? – perguntou ela.

– Acidente em feitiços, acho que ela pode estar com o tornozelo quebrado. – Tiago falou sério. Madame Ponfrey examinou o tornozelo de Lílian com cuidado e deu o veredicto.

– É, realmente está quebrado. – confirmou a enfermeira.

– Mas a senhora vai conseguir curá-la, não vai? – Tiago perguntou preocupado.

– Mas é claro. – ela saiu apressada e voltou em um minuto com uma porção cristalina e os dois até pensaram que era água, mas quando Lílian a bebeu viu que ela tinha um gosto muito amargo, mesmo assim ela bebeu tudo.

– Você terá que ficar aqui por 40 minutos até a porção fazer efeito. – dizendo isso ela saiu voltando para sua sala.

Passados alguns minutos Tiago perguntou:

– Você está se sentindo melhor?

– Estou. – respondeu Lílian um pouco constrangida com a preocupação do garoto.

Eles ficaram em silencio durante alguns minutos em que Lílian ficou esperando Tiago voltar para a sala de aula, mas ele não moveu bem um centímetro em direção a porta da enfermaria.

– Você não vai voltar para a aula? – Lílian perguntou.

– Não, vou esperar até você ficar curada. – respondeu Tiago firmemente e Lílian não pôde mandá-lo embora e nem queria que ele fosse.

Os minutos pareceram se arrastar lentamente, provavelmente por causa do silêncio que tomou conta do ambiente. Mas o silêncio é mais barulhento que o barulho e os olhos dos dois pareciam ímãs, sempre se atraindo, por vezes os olhos dos dois se encontraram, mas logo eles os desviavam constrangidos.

Quando enfim o prazo que Madame Ponfrey disse venceu, ela saiu apressada de sua sala e verificou se o tornozelo de Lílian estava curado.

– Pronto. Está como se nunca o tivesse quebrado, você está liberada. – a enfermeira disse.

Lílian se levantou insegura e Tiago logo estendeu a mão para ajudá-la caso ela precisasse, mas não foi necessário. Ela agradeceu à Madame Ponfrey e os dois saíram da enfermaria.

A aula estava quase no fim e eles resolveram ir para a torre da Grifinória. Após relutar um pouco, Lílian engoliu o orgulho e disse:

– Obrigada. – Tiago se sobressaltou ao ouvir a voz dela, a olhou um pouco sem graça e passou a mão nos cabelos, um gesto tão seu e que desde que havia perdido os pais não fazia.

– Ah, não foi nada. – ele disse.

E pela primeira vez Lílian não se sentiu irritada com essa mania de Tiago, em vez disso deu um sorriso para ele que surpreso retribuiu.