O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 89
X.4 Entrega.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324955/chapter/89

Bateram do lado de fora do vidro da janela e ele, com os braços postos debaixo da cabeça, estirado sobre a cama, estranhou.

Ainda não tinha adormecido, porque não parava de pensar nela. Repisava os momentos em que ela estivera nos braços dele no Templo da Lua, quando ela tinha acordado na Capsule Corporation e se tinha ido embora com número 17 sem sequer se terem despedido, no dia seguinte em que a iria encontrar na festa que Bulma-san preparava para comemorar o regresso da paz.

Saltou da cama, intrigado com a razão que teria levado Trunks até ali. Abriu a janela e a silhueta do exterior moveu-se de modo a se aproximar da claridade ténue do quarto, que se iluminava com um candeeiro aceso numa secretária pejada de livros. Ao reconhecê-la, engasgou-se.

- Ma-Maron?

O seu pensamento materializado e ele piscou os olhos várias vezes para se certificar que não estava a sonhar. Ela enfiava as mãos nos bolsos de um blusão preto e escondia o queixo na gola levantada, como se estivesse com frio. Ficou a pairar do lado de fora.

- Komba-wa, Goten… Hum… Quero falar contigo. Pode ser?

- Claro, entra…

- Não quero que os teus pais saibam que estou aqui. Podemos falar… cá fora?

- Eh… Hai.

- Mas primeiro, veste lá qualquer coisa.

Viu-a voltar a cara ruborizada e a esconder um sorriso. Ele olhou para baixo e descobriu que estava vestido apenas com umas cuecas e ficou mais corado que ela.

- Shimata!...

E não se conseguia mexer com a vergonha.

- Estou à espera, Goten.

A voz dela, que era divertida, fê-lo reagir. Enfiou a t-shirt e os calções que tinha vestido naquela tarde e que se espalhavam no chão do quarto. Calçou umas sapatilhas e saiu pela janela, sem apertar os atacadores brancos que ficaram pendurados de forma desleixada. Ela reparou nesse detalhe e arqueou um sobrolho.

- Não quero conversar ao pé da tua casa – disse a afastar-se da janela voando. – Conheces algum sítio para onde podemos ir sem sermos incomodados?

- Segue-me.

Alcançaram uma cascata ruidosa onde ele costumava nadar, pescar e onde fazia piqueniques com a família. Sentaram-se num recesso relvado, a salvo dos salpicos, mas suficientemente perto do rio para sentirem a humidade e a frescura da água abundante. Ele viu-a estremecer e quis apertá-la nos braços. Parecia que continuava com frio.

Estava bela, banhada pela luz das estrelas e foi a vez de ele estremecer. Encostava os joelhos ao peito que abraçava, o queixo quase pousado sobre as rótulas estreitas, as pernas dela eram tão bonitas. Corou outra vez. O cabelo loiro brilhava e os olhos fitavam-no meigos, mas expectantes, tinha a boca pintada de um rosa muito ténue que lhe acentuava a curva perfeita dos lábios pequenos. Ele não soube o que lhe dizer, mas ela esperava que ele começasse a conversa. Ficou confuso, porque ela é que lhe tinha dito que queria falar com ele, mas não se decidia a revelar porque é que o tinha vindo procurar.

Estava encurralado numa situação delicada, pior que enfrentar sozinho o saiya-jin de Zephir. Começou a arrancar pedaços de relva com a ponta das sapatilhas que continuavam com os atacadores pendurados. Pensou em atá-los, mas deteve-se, pois pensou que ela haveria de julgar que o fazia porque ela lhe censurara o desleixo.

Escutava-se a cascata na noite silenciosa.

- Vais estar amanhã na festa de Bulma-san, não vais?

Ela tinha-se decidido e fizera a primeira pergunta. Ele respondeu-lhe:

- Hai, com toda a minha família.

- O meu pai disse que o teu pai voltou para casa e que vivem agora juntos, com Ubo-kun.

- Hai. Deverá ficar por alguns meses. A minha mãe está feliz.

- E tu também.

- Claro… São como… Umas férias. Depois, regresso à universidade e o meu pai há de regressar à ilha com Ubo para continuarem com os treinos.

Ela respirou fundo e foi perfeitamente audível. Ele percebeu que ela estava nervosa e ele também ficou nervoso. Continuou a arrancar tufos de erva. Os atacadores brancos começavam a ficar sujos.

- Goten, vim aqui esta noite porque…

Finalmente, ela iria revelar o mistério. Ele sentiu os músculos arrepanharem-se todos, um por um, o esforço a refletir-se gradualmente. A situação era ainda delicada e ele estava ainda encurralado. Ela completou de chofre, como se lhe custasse dizer aquilo:

- Queria agradecer-te por teres cuidado de mim no Templo da Lua.

Ele não olhou para ela.

- Ah… Maron, eu iria sempre proteger-te contra qualquer perigo. És… minha amiga.

- Hai.

Ela vacilou, mas acrescentou num murmúrio, mais para os joelhos do que para ele:

- Tu também és meu amigo.

Goten encheu-se de coragem e espreitou-a. Os olhares deles cruzaram-se e coraram em simultâneo. Ela queria dizer-lhe mais qualquer coisa, o agradecimento tinha sido apenas uma introdução. Ele já sabia o que era e estava a ficar ansioso, cada vez mais encurralado. Apetecia-lhe dar um berro e transformar-se em super saiya-jin e arrasar com metade das montanhas Paozu.

- Acho que... que gosto de ti, Son Goten.

- Nani?!

Mesmo antecipando a declaração, foi como um murro no estômago e Goten arquejou.

A cascata tornou-se ensurdecedora. O cérebro dele zunia com as palavras dela, repetindo-as como num eco.

Se Trunks estivesse ali já lhe tinha dado uma cotovelada nas costelas e já lhe tinha dito que ele era um idiota e que devia dizer-lhe, imediatamente e sem hesitações, que também gostava dela e que queria ficar com ela para sempre. Ele abriu a boca, tentou falar, mas não lhe saiu som algum e ficou simplesmente de boca aberta, como um peixe fora de água.

Ela baixou os joelhos. Aproximou-se dele, sentou-se sobre os calcanhares.

- Eu… Gostava de poder dizer-te que queria combater contigo – começou ela. – Sei que para ti seria mais fácil, ficavas mais à vontade. Mas o que me apetece agora, Son Goten… é um beijo.

Ele lançou-se para trás, apoiou o corpo nos braços para não acabar estendido na relva. Ela repetiu o pedido, entreabrindo os lábios cor-de-rosa:

- Beija-me, Goten.

E lá vinha a segunda cotovelada e o berro indignado de Trunks.

Beija-a, baka! Ela está a pedir-te e tu não te mexes?!

Para calar o amigo, fê-lo. Num gesto rápido e totalmente desprovido de romantismo, pespegou-lhe um beijo nos lábios cor-de-rosa. Nem apreciou convenientemente a sensação de ter colado a boca dele à dela, porque não chegara a senti-lo. Maron olhou-o espantada e desiludida.

Uma terceira cotovelada do amigo, já tinha as costelas magoadas e ele despertou. Fechou os olhos e esqueceu-se de toda a timidez. Puxou a rapariga e beijou-a mais devagar, saboreando por fim os lábios cor-de-rosa e ligeiramente molhados. Quando sentiu as mãos dela no pescoço, teve o impulso de recuar, ficou petrificado, mas lutou contra a vontade de se escapulir daquela prisão que o escaldava, porque também era agradável. E então ela beijou-o ainda mais devagar. Ele retribuiu, tentando imprimir naquele toque todo o carinho que sentia por ela e a sensação de prazer aumentou. Desejava-a e ela também o desejava. Assustou-se. Ele confessou, trémulo:

- Eu não sei o que fazer, Maron.

- Nem eu… Mas quero aprender contigo.

Goten envolveu Maron num abraço apertado e deixou-se guiar pelo seu instinto, estendendo-a na relva, à beira da cascata ruidosa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Sob as estrelas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.