O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 77
IX.4 Desespero.




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A água fresca foi como um bálsamo e uma bofetada, em simultâneo. Despertou. Escutou uma voz a viajar do silêncio até ao mundo real onde recuperava os sentidos e as sensações.

- Estás acordado?

Respondeu:

- Hai… Estou acordado.

Goku abriu os olhos, abanou a cabeça tonta. Sentou-se no chão húmido. Estava junto ao lago, no Templo da Lua, recordou-se de rompante. Até as memórias tinham estado espalhadas em terra de ninguém enquanto estivera inconsciente. Olhou para um Piccolo esfarrapado e fatigado que se acocorava junto a ele. Confirmou, levantando-se:

- E já estou melhor. Arigato.

Sacudiu a cabeça. Confessou aborrecido:

- Kuso… Deixei-me apanhar por Ubo. Distraí-me quando Keilo começou a combater contra outro super saiya-jin de nível três. Ainda pensei que podia ser Vegeta, mas depois reconheci o ki de Gotenks. Ubo foi muito rápido, atacou-me com um golpe forte e traiçoeiro. Ele não se retraiu nunca, ao contrário de mim, que não consegui lutar contra ele na minha força máxima… Maldito miúdo! Porque tinha ele que deixar-se enfeitiçar?

- Devemos tentar entrar outra vez no templo, Son.

- Hai – concordou tenso, mas decidido.

- Estamos em vantagem… Por enquanto.

- Honto?

- Os dois demónios foram eliminados.

- Co-como? Tens a certeza? – E depois confirmou que as auras de Julep e de Kumis já não emitiam qualquer pulsação. – Mas eles não eram imortais?

- Alguém descobriu a maneira de os matar. Sobram Keilo e Ubo. O saiya-jin está a combater nas montanhas, Ubo viaja de um lado para o outro, ando a vigiar os seus movimentos mas não percebo porque é que entra e sai do Templo da Lua. O que quer dizer que Zephir está sozinho.

- Vamos salvar a Ana, então?

- Parece-me que ela também já não está ali, Son. Não consigo sentir-lhe a aura.

- Hum… Tens razão. A Ana não está ali. Temos uma oportunidade excelente para terminar com isto.

- Concordo. Avancemos!

- Apesar de ser a solução que Vegeta detesta.

- Vegeta que se dane!

Goku olhou para o horizonte carmesim onde o sol acabava de se por. O príncipe estava bem, lia-lhe pujança, energia e ganas no ki, o que era estranho dado que se tinha enfrentado a Keilo.

Pouco depois, os dois entravam no Templo da Lua.

Os kucris apareciam guinchando, atacavam e eram eliminados no instante seguinte, sem conseguirem deter os invasores que nem sequer se incomodavam com as suas investidas ruidosas. Goku e Piccolo fritavam-nos simplesmente com disparos de energia à medida que caminhavam pelos pátios e galerias do templo, atrás do ki negro do feiticeiro.

***

No refúgio dos aposentos do Sumo-sacerdote, Zephir viu, através da clarividência da pedra de cristal, a aproximação dos dois guerreiros. Gritou tomado de um pânico que lhe encharcou o corpo magro de suor:

- Não!!!

Son Goku estava a escassos metros dos aposentos e vinha acompanhado do gigante verde que se chamava Piccolo. Os dois tinham deixado um rasto pestilento de morte atrás de si, à medida que matavam sistematicamente os últimos kucris que defendiam estoicamente o Templo da Lua.

Passou uma mão apressada pela pedra de cristal e surgiu uma imagem brilhante.

- Keilo!

O saiya-jin regressava e ele respirou de alívio. Era apenas uma questão de minutos e Keilo haveria de o defender dos seus inimigos.

Observou a imagem com mais atenção. Debaixo do braço do saiya-jin havia um borrão, algo que o poder da pedra de cristal não conseguia atravessar, converter e interpretar convenientemente. Percebeu o que era e soltou um urro triunfante, uma gargalhada selvagem:

- A rapariga!

No Medalhão de Mu, os raios solares passavam de laranja a um quase vermelho intenso. Para além de reagirem com o altar, também reagiam com a pessoa da Dimensão Real. Um espetáculo magnífico de se observar.

Mais alguns minutos…

O rosto crispou-se de preocupação, de um medo visceral.

Mas talvez não tivesse esses minutos. Son Goku estava horrivelmente perto, já lhe escutava o som das botas, até lhe conseguia sentir o cheiro. Tinha de se defender conforme sabia e haveria de ser o suficiente para ganhar os minutos de que tão urgentemente carecia.

Os aposentos nublaram-se com um nevoeiro cinzento-escuro que subia do chão. O som do vento a chiar por entre as ramadas secas das árvores de Inverno encheu o compartimento. Zephir transfigurou-se. Cresceu de tamanho, ficou mais pálido, as pupilas tingiram-se de encarnado, os sobrolhos eriçaram-se. Os dedos moveram-se languidamente num poderoso feitiço. A voz era rouca mas forte:

- Pelo poder supremo da lua e das trevas… Invoco os demónios da Terra! Oh, Deusa-mãe, dai-me o poder das criaturas demoníacas, das almas do Outro Mundo, dos diabos do Inferno. Dai-me o poder da noite e o poder do sangue que jorra das entranhas do mundo. – Levantou os braços e baixou-os, uniu as mãos e entrelaçou os dedos, abriu e fechou os olhos. Concluiu com um berro desvairado: – Desejo o poder da noite!

Uma implosão de magia sacudiu os aposentos. O nevoeiro e os sons fantasmagóricos dissiparam-se com um estalo.

Em seguida sorriu, sentindo-se acompanhado.

***

As paredes abanaram. Um terramoto de baixa intensidade sacudia os alicerces do edifício. Goku parou e deu uma cotovelada em Piccolo para lhe chamar a atenção.

- Ouviste isto?

- O quê?

- Pareceu-me ouvir… um uivo.

- O templo é assombrado – disse Piccolo aborrecido. - Já o devias saber, Son!

- Mas há mais qualquer coisa…

O chão abriu-se em enormes fendas e eles tiveram de saltar para escapar da lava borbulhante que subia das profundezas e que se derramava das fendas.

- O que é isto?!! – Exclamou Goku.

- Vamos embora daqui!

Fugiram, desembocaram numa sala larga.

Uma gargalhada aguda feriu-lhes os ouvidos. De repente, a sala ficou repleta de gigantescos demónios negros e peludos, ameaçadores e intrépidos. Goku e Piccolo colaram costas com costas. Analisaram admirados os seus adversários.

O ataque começou. Goku e Piccolo descobriram que os demónios não eram tão fáceis de abater como os kucris. Assim que um tiro de energia os atravessava, estes explodiam em bolinhas de luz branca mas reapareciam mais atrás ou mais adiante.

- Não se consegue acabar com eles! – Gritou Goku.

Piccolo rebentou com o teto da sala e escapou-se pelo buraco aberto. Goku seguiu-o. Apareceram num dos pátios exteriores e assustaram-se. O lugar pejava-se de demónios e de outros seres do Inferno.

- O que raios aconteceu aqui? – Indagou Goku confuso.

- Foram invocados por Zephir. O feiticeiro necessita de proteção e lembrou-se desta ideia. Descobriu que estávamos aqui e quis evitar um encontro que terminaria mal para o seu lado. – Sorriu de viés. – Hum! Nem mesmo o meu progenitor pensaria num cenário destes!

Um diabo gordo, com a pele escamosa de cor esverdeada e com umas asas minúsculas perto da nuca, investiu contra Piccolo. Ficou logo inconsciente com uma joelhada e um soco.

Piccolo puxou Goku pelo ombro, que acabava de empurrar, com um disparo potente de ki, um trio de diabretes esguios como varapaus, mas tenazmente aguerridos. Saltaram e ficaram a flutuar por cima do pátio. O namekusei-jin disse:

- Eu fico aqui, entretido com os antigos esbirros do meu pai. Regressa ao templo e procura pelo feiticeiro.

- De certeza que ficas bem?

Sorriu.

- Claro! Acabo de reencontrar velhos amigos, Son!

Goku sorriu-lhe de volta.

- Hai, Príncipe das Trevas. Diverte-te!

Mas perdeu a boa-disposição ao ver, ao longe, Keilo aparecer com a Ana debaixo do braço. O saiya-jin sumiu-se entre as ruínas do antigo Salão da Luz.

Uma nova situação, mas que acabava por ser uma mera continuação do estado das coisas. Zephir continuava a vencer.

Veloz como uma seta, Goku mergulhou e tornou a entrar no Templo da Lua.


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Notas finais do capítulo

Prximo captulo:
Vantagem recuperada.



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