Clichê! escrita por Jessearth


Capítulo 2
Encontro com a Morte


Notas iniciais do capítulo

Ta aí o segundo cap.
Enjoy!



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"Adeus".

Ele abriu os olhos para a morte. Estava pronto para recebê-la de braços abertos. Esquecer-se de sua vida miserável e infrutífera e deixar-se levar para o Nada, ou qualquer outro lugar onde Deus descarrega seus mortos. Mas, bem, noticia ruim: ele não estava morto.

Droga! Nem pra morrer servia?

Sentia-se moído. Não, acabado. Destruído, arrebentado, aniquilado. Bem difícil de descrever. Sentia que já deveria ter morrido, mas seu corpo inútil não queria se entregar. Estava semimorto no limite da consciência. Podia ver a morte chegando. Hum, ela deveria ser loira? Ou estar chorando?

“Meu Deus ele não para de sorrir?” resmungou uma enfermeira com cara de (mil perdões) mula. Ele não ligou para a enfermeira, estava olhando uma garota linda de cabelos loiros e olhos azuis (hum, por que achava que deveriam ser castanhos?). A garota estava chorando e o olhava com a testa franzida. O que a mula disse? Ele não para de sorrir? Ah, bem, por que estava sorrindo mesmo? Ele parou de sorrir.

Sentia dor. Queria que fosse uma só. Que estivesse num único ponto onde ele pudesse mostrar e pudesse fazer parar, mas, é claro, não seria do jeito dele. Havia dores. Por toda parte, em todo lugar. Seu peito queimava e cada respiração, rápida e superficial, exigia um esforço considerável; sentia dores menores nos braços e barriga, um ponto lancinante no alto da sua cabeça dizia que ele deveria ter batido com muita força no chão. Mas o pior era a sua perna esquerda. Doía como se tivesse sido enfiado em um balde de lava, espremida por rochas e encharcada com limão. Tudo ao mesmo tempo.

Em resumo, foi a pior dor que ele sentiu na vida.

Uma luz passava por ele no alto, intercalada por intervalos de segundos. Uma luz no fim do túnel? (Clichê!). Havia vozes e muito barulho, ele notou o barulho de rodinhas no mesmo instante em que o empurraram para um novo corredor deixando a garota bonita para trás. Não, ela tem que ficar!, ele queria gritar. Mas ele não conseguiu encontrar sua voz a tempo. Empurraram-no para uma sala e começaram o atendimento.

Ele queria morrer. Desde o inicio tudo o que ele queria era morrer.

Virou o rosto lentamente para o seu corpo e percebeu a quantidade de sangue que afluía dele. Era inacreditável que ainda estivesse vivo.

"Eu só queria morrer", ele disse a si mesmo. E talvez tenha falado alto demais porque algumas enfermeiras com cara de mula o olharam duvidosas.

"Está delirando". Um médico muito prático sacou uma agulha (argh, agulhas!) e injetou um liquido transparente na veia dele. Ele podia sentir o liquido viajando pelo seu sangue paralisando onde tocasse. Uma enfermeira gritou algo, agitada, e ele se sentiu viajando. Fechou os olhos e só teve tempo de reconhecer a Morte com sua capa negra virando as paginas de um livro preto.

Procurando o seu nome.

Seu nome era Guilherme de Andrade. Ele se lembrou disso quando falou com a morte. Lembrou-se um pouco de sua vida e os motivos porque morrera. Sua vida desandou: contas, falência, desilusões, desincentivos. Isso provavelmente não derrubaria qualquer um, mas era um homem fraco por natureza, e o pouco era muito em sua vida. Se não há sentido em viver por que fazê-lo? Deus certamente pode encontrar outro jogo para ocupar o tempo, não é? Vidas insípidas não levam a nada.

A morte era exatamente o que imaginara. A maravilhosa sensação de não sentir nada. Era como se o peso do mundo fosse tirado de suas costas. Atlas retomara o seu posto. Mas, é claro, a Morte não facilitaria as coisas para Guilherme. Ela não queria levá-lo.

A Morte tentara dissuadi-lo, fazer com que ficasse. Guilherme negou.

“Você não está pronto” a morte disse numa voz fria e sem qualquer emoção. Uma voz, bem... Morta. “Mas é o que eu quero!” insistiu Guilherme. Ele não podia vê-la mais. Sua imagem se dissolvia e ficava fora de foco toda vez que ele tentava mira-la. A Morte pareceu ponderar. “Quero fazer um acordo com você, Guilherme de Andrade. Isso, é claro, se você aceitar”. Guilherme engoliu em seco. Não gostava que as pessoas o chamassem pelo nome completo e a sensação ruim exorbitava quando era a voz da Morte, fria e cadavérica, a pronuncia-la.

 “Quais são os termos?” Guilherme ouviu sua voz perguntar. “Vou levá-lo de volta, e você vai... tentar de novo. Se me provar que a sua vida de nada vale, eu terei prazer em leva-lo. Aceita os termos?” Ele olhou alem dela. Podia ver vários médicos e enfermeiros lutando para mantê-lo vivo. Sentiu pena deles, lutando por uma alma que não queria viver. “Tudo bem. Eu volto e provo a você” disse ele. ”E se eu não provar o que acontece?”

A Morte mantinha-se calada olhando os médicos com um olhar esperançoso. Talvez torcesse para que conseguissem salva-lo. Ou talvez simplesmente esperasse que um deles caísse duro no chão. “Você nunca me viu” disse ela. Guilherme queria que isso fosse verdade. Uma das coisas boas da morte era não ter qualquer lembrança, certamente, a Morte, em pessoa, honraria isso. Guilherme olhou para a Morte feliz por não poder olhá-la diretamente.

Ele iria provar que não era fraco. Provar à sua mãe. Provar aos seus credores. E acima de tudo... Provar a si mesmo.

“Eu aceito. Me leve de volta”.


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Notas finais do capítulo

Mandem reviews!!
Bye