Clichê! escrita por Jessearth


Capítulo 1
Adeus


Notas iniciais do capítulo

Sinceramente, não sei onde estava com a cabeça quando escrevi isso, mas achei que não faria mal algum postar.
Enjoy!



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Ele acendeu um cigarro. Não era de fumar, mas era um homem de clichês e imaginou um bom desfecho com uma ultima tragada. Puxou a carta que escrevera – uma ultima carta? Meu Deus! – e segurou bem forte em sua mão. Uma carta que só seus verdadeiros amigos entenderiam. Ou seja, uma carta para ninguém. Muito clichê um homem sem amigos? Fazer o que, é a vida.

Respirou fundo. Estava perdendo a coragem. Bem que sua mãe sempre dissera que não era homem de verdade. “Sem coragem até para desistir, é bem a cara daquele garoto”. Ele olhou para o carro no acostamento. Tanto tempo para pagar e agora... Bem, esqueça! Já era! Não poderia ficar com ele nem se continuasse vivo, teria de vendê-lo para pagar as contas de um jeito ou de outro. Respirou fundo novamente e andou para mais perto da rodovia.

Estava um breu generalizado. Estava debaixo de um poste de luz que não parava de piscar e seu raio de visão não passava de cinco metros à frente disso. Ou talvez fosse sua visão falhando no ultimo segundo. Ele deu um passo à frente olhando a rodovia. “Onde está a droga dos carros? Uma pessoa não pode se suicidar por aqui?”. Olhou para os dois lados. Nada. Saco!

Muito bem, um bom motivo para um suicídio... Contas. Muito clichê? É. Ele bem que podia ouvir sua adorada mãe gritando em sua cabeça o quão idiota ele era. Bem, não poderia negar, era um completo idiota. Seu motivo para morrer eram contas. Inúmeras contas acumuladas, agora mesmo, na mesa da sua cozinha. Contas incontáveis e, para sua atual situação, impagáveis. “Carros, carros, onde estão os carros?”. Não queria morrer desse jeito. Atirar-se na frente de um carro? Nunca estaria em seus planos. Pensara em varias maneiras antes de parar o carro na rodovia desolada. Se jogar da ponte, pular de um prédio (um bem alto, de preferência), um direto na cabeça, tudo nisso ele já pensara, mas faria tudo parecer ainda mais clichê. E também, havia mendigos demais nas pontes e empresários falidos faziam fila no alto dos prédios hoje em dia (os donos de prédios altos poderiam cobrar por coisas assim – façam fila para o suicídio, senhores, preço especial para quem não hesitar – fariam fortuna!) e, ainda por cima, onde, diabos, ele ia arrumar uma arma?

Consultou o relógio. Passava das onze. Bem distante ele ouviu o som de um carro se aproximando... Ou talvez fosse seu ouvido lhe pregando peças... Não, com certeza era um carro. Muito bem, é agora ou nunca (Clichê!). Ele andou uns passos até a rodovia, a luz dos faróis o iluminou por um momento, e... E... E o motor morreu. Pelo amor de Deus! Ele andou de volta para o acostamento xingando Deus e o mundo por alem de idiota ter nascido azarado. Encostou-se ao capô do carro e viu o motorista descer do carro. Era um homem? Não, não poderia ser. Homens não têm curvas, tem? Bem, talvez um ou outro, mas... Não, era uma mulher e... Deus ela está vindo pra cá!

“Oi. Será que pode me ajudar?”, perguntou ela aproximando-se com um sorriso educado.

Não sabia que não se deve falar com estranhos em rodovias escuras? O que tem na cabeça? Ela veio para a luz do poste e ele viu seu rosto. Era linda: cabelos loiros, ele não podia ver, mas imaginava olhos castanhos vivos e brilhantes. Linda. Ela parou a certa distancia e o encarou esperando a resposta. “Então... O senhor pode ou não pode me ajudar?” Ele recuperou a compostura. “Em quê mesmo?”, perguntou fingindo interesse. De que adiantaria? Iria se matar mesmo. De qualquer jeito, ela sorriu. “Acho que estou com um problema no motor. O senhor entende algo de carros?”, perguntou ela. Não, não entendia absolutamente nada de carros. Seria um erro ao seu bom papel de inútil se entendesse de algo importante. Mesmo assim ele se aproximou do carro como mestre. “Vamos ver o problema”. Sempre quis dizer isso, pensou. De um jeito ou de outro, devo entender mais do que ela para estar pedindo ajuda.

Aproximou-se do carro sem ter ideia do que fazer. Ela tinha aberto o capô do carro e deixado o motor desgastado a mostra. Dele saia uma fumaça acinzentada e um cheiro horrível de gasolina. Fingiu analisar o estado do motor e mexeu de leve em alguns cabos fingindo procurar qualquer problema. Bem, nada aparente, nem a olhos profissionais. “Não vejo problema algum”, disse ele sabendo que isso não importava já que não saberia se houvesse um problema de verdade. “Talvez seja outra coisa”, sugeriu. Olhou para a garota, ela analisava o motor, mas atentamente do que qualquer profissional ainda. “Viu alguma coisa?”

“Nada” suspirou a garota desviando o olhar para ele. “E você?”. “Bem, nada também, talvez... Talvez o problema não esteja aqui” sugeriu rapidamente ao notar um olhar estressado da moça. “Talvez” disse ela condescendente. E entrou no carro – trancando a porta, ele notou. Ele a achou engraçada, viu pelo vidro do carro a moça procurar o motivo do mau comportamento do carro velho. “Não vejo nada”, gritou para ele.

Ele não estava prestando atenção, algo o chamara a atenção. Ouviu por mais um instante e distinguiu nitidamente o barulho de um carro se aproximando, deixou o carro da moça e foi andando como um morto até a rodovia. Ele vem rápido, pensou. Talvez ela seja mais rápida ainda. Andou até o meio da rodovia e parou esperando. Os faróis estavam apagados, ótimo!, sem risco de breques inoportunos. “O que está fazendo?”, gritou a moça de dentro do carro ao vê-lo na rodovia. Ele se virou para ela, com seu sorriso triste estampado no rosto. “Acabando com tudo”, respondeu contando os segundos para a chegada do carro. Respirou fundo. A moça saiu do carro, nervosa, andou alguns passos até a rodovia, mas não teve tempo.

O carro chegou e ele voou com o impacto. Ela gritou desesperada enquanto o carro freava com toda a força. O motorista saiu do carro xingando. Correram ambos até onde ele caíra distante. O motorista xingou ainda mais e sacou o telefone, ligando para a emergência.

Ela chorava, olhando o corpo do homem que estava caído com um sorriso realizado no rosto, entre fraturas e escoriações.

“Adeus” foi sua ultima palavra.


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Notas finais do capítulo

Bye!
Atualizações sempre que a minha internet voltar.