Diário De Um Sobrevivente escrita por Allann Sousa


Capítulo 9
Entre perdas e apertos


Notas iniciais do capítulo

emocionante, explosivo, violento, dramático em quatro palavras acho q é isso ^^



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Meu tio falou mirando o chão, sua voz fraquejava e a vergonha de ser derrotado por uma mulher, que parecia ter sido amiga dele há algum tempo atrás de acordo com o decorrer dos fatos, o colocavam em uma situação desagradável e humilhante.

— Se eu te disser, você promete que não vai machucar ninguém do meu grupo? — Johan perguntou, ele não tinha opção senão falar, eu sabia que ele me amava e não conseguiria me ver morrer.

— Claro que sim, meu objetivo não é machucar ninguém. Só quero fortalecer os meus homens — ela falou, virando os olhos para cima, como se aquele pedido fosse algo óbvio e desnecessário.

— As armas estão no caminhão, o caminhão está estacionado na frente da igreja adventista de Betânia, a sudoeste daqui, subindo a estrada do outro lado do lago — meu tio explicou, depois soltou um suspiro.

— Eu sei onde fica, não precisa dar as coordenadas exatas — Érika respondeu, zombeteiramente.

— Só quero garantir que você não se perca — ele rebateu no mesmo nível.

— Ótimo, não me perderei, muito obrigado — ela falou com um sorrisinho, ela era visível psicopata inabalável. —A propósito, vamos terminar o que viemos fazer aqui.

A maldita me empurrou à frente e colocou a arma atrás da minha cabeça.

— Não! Miserável! Você disse que não iria machucá-lo! — meu tio gritou incapaz de fazer algo.

— Quando foi que eu disse isso? — ela perguntou, me empurrando para mais perto dele, eu vi seu desespero estampado em seus olhos quando eles se arregalaram e dilataram. — Vou permitir que você sinta o sangue do garoto no seu rosto, assim você vai lembrar de como foi incapaz de salvá-lo toda vez que tocá-lo e pensar na mancha da morte dele.

— Maldita! Por quê?

Ela soltou uma gargalhada sinistra enquanto meu tio se debatia na cadeira, tentando se libertar. Houve uma fração de segundo em que eu olhei nos olhos dele e tentei dizer sem falar que ele não se culpasse se sobrevivesse, por que eu o havia perdoado.

Então o gatilho foi apertado, um estouro ensurdecedor, um grito interminável e eu caí para frente. Meu rosto encontrou dolorosamente o chão, eu não sabia nada sobre morrer, mas acreditava que mortos não sentiam dor, nem ouviam zumbidos causados por explosões. Abri meus olhos e descobri que estava vivo, por um milagre talvez.

Procurei ao redor o que teria sido minha salvação e acabei descobrindo que ela veio em forma de zumbi. Carlos morto-vivo atacou Érika e empurrou o braço dela no momento em que ela apertou o gatilho, a arma voou de sua mão e com o susto e o impulso eu fui atirado no chão. A psicótica agora lutava desarmada com o zumbi.

Eu fui até meu tio que tinha caído para frente.

— Tio, eu estou bem — falei para ele pensando que ele não devia ter visto o que aconteceu.

— George! Graças a Deus!

— Espere um momento que eu vou te ajudar — procurei as mãos dele e descobri que estavam presas apenas por uma corda.

Eu fui até uma mesa de metal encostada na parede oposta à entrada e comecei a procurar nas gavetas, mas estavam todas trancadas. Frustrado voltei até meu tio, a cadeira onde ele estava preso era de madeira. Com um plano em mente chutei uma perna da cadeira até ela quebrar, usei então o pedaço quebrado para puir a corda.

Estava na metade do serviço quando para minha raiva fui puxado pelo cabelo pela terceira vez naquele dia. Ela me puxou, o zumbi estava caído no chão, talvez estivesse morto, uma coisa de que eu não duvidava é que aquela mulher tinha capacidade para tanto. Ela vasculhou o chão procurando o revólver. Percebendo a sua intenção eu comecei a espernear, mas ela me socou e eu fiquei quieto.

— Essa sua atitude só vai te fazer morrer mais rápido — ela falou friamente.

A primeira reação emocional que eu pude perceber naquele rosto impassível foi a felicidade ao encontrar a Desert Eagle. Ela me levou até a sua arma enquanto eu tentava chutá-la ou socá-la, sem resultado.

Quando ela apanhou o revólver eu mais uma vez achei que fosse morrer. Mas mal ela conseguiu colocar a arma na minha cabeça, meu tio enfiou a estaca de madeira no braço dela fazendo a arma cair novamente. Ela me soltou e eu rolei pelo chão, apanhei o revólver, cheio de ódio mirou o rosto dela.

Mas eu não era capaz de fazer aquilo, por mais que ela fosse maligna, cruel, doida ou que mais tivesse de anormal, ela ainda era humana e eu não era um assassino. Ela percebeu que eu não atiraria e com um sorriso desvairado ela veio até mim.

— George! — o grito do meu tio fez meu cérebro acelerar, quando Érika chegou muito perto eu abaixei a arma e atirei na perna dela a fazendo tombar se contorcendo de dor.

— Vamos embora tio! — gritei puxando-o pelo braço, vendo que ele ficou imóvel eu insisti. — Vamos! O que você está pensando?

— Você vai deixá-la assim? Mesmo depois de tudo que ela fez? — meu tio perguntou parecendo alucinado. — Por causa dela Carlos morreu! Ela me machucou!

— Nós não somos assassinos! — a pressão da vida acelera nosso desenvolvimento mental, por causa de todos esses problemas logo na minha infância meu cérebro foi forçado a evoluir rapidamente e agora eu agia como um adulto, um adulto bondoso e sano.

— Mas...

— Vamos embora!

Johan parou no tempo em um conflito interior para decidir o que fazer a seguir, por fim decidiu aceitar a palavra de uma criança nada infantil.

— Você escolheu certo — elogiei e fugimos pelo corredor —, espere um momento aqui! —paramos em frente à porta pela qual havia passado mais cedo, onde havia ouvido os barulhos estranhos.

Parado ali tomei uma decisão. Pensei que mesmo que saíssemos daquele lugar vivos, eles tinham exércitos e poderiam muito bem mandar alguns homens atrás da gente para nos matar e agora que meu tio denunciara nossa posição, seria bem fácil de eles nos encontrarem. Imaginando as coisas horríveis que teriam lá dentro, atirei na maçaneta da porta, com um estrondo a porta foi arrombada.

— Vamos correr agora, sem parar e sem olhar pra trás! — eu falei autoritariamente, por um momento meu tio ficou espantado com minha astúcia, mas ele logo se recuperou e descemos as escadas metálicas no fim do corredor em direção às máquinas.

As grandes turbinas estavam paradas, porém algumas pessoas pareciam achar confortável ficar aninhados entre elas. Nós passamos silenciosamente por trás das máquinas, havia pessoas de todo o tipo naquela sala, homens, mulheres, crianças, jovens, idosos. Alguns pareciam tentar consertas as turbinas, vestiam roupas de técnicos e mexiam em seu interior, outras pessoas passavam de um lado para outro carregando matérias, ferramentas ou comida. Havia ainda guardas, vestidos de roupa do exército, e alguns civis que estavam sentados ou deitados com suas famílias ou solitários.

Usando as sombras como refúgio chegamos até a saída. A porta estava trancada, como já esperávamos que estivesse. Então voltamos para onde o povo estava.

Ainda no corredor ouvimos gritos, corremos até lá e nos escondemos atrás de uma mesa de comando de uma turbina. Com terror e sentindo culpa vi algumas pessoas serem atacadas por zumbis, logo encontrei aquele homem que fora carrasco do meu tio, ele era um dos mortos-vivos e atacava as pessoas.

Tiros estouravam para todo lado, abaixados procuramos os guardas, nas sombras tentamos encontrar aquele que servia de porteiro, em vão. Depois de muitas pessoas serem mordidas e vários zumbis tombarem, um homem apareceu no alto, na plataforma por onde tínhamos passado. Ele tinha pinta de comandante e vi um brilho na cintura dele arrancou meu fôlego.

— Tio é aquele ali! — apontei. — Ele está com a chave.

— Certo, o que vamos fazer?

— Tenho um plano. Dê-me cobertura!

Eu fui até as sombras do lado contrário a plataforma, mirei no homem que dava ordens e atirei na perna dele. A potência do tiro fez meu ouvido doer e o homem caiu para frente. Dois soldados se voltaram para a origem do tiro e me encontraram ali escondido.

Eles carregavam uma Uzi cada um. Miraram em mim, mas não chegaram a atirar, meu tio aproximou-se por trás e quebrou o braço de um, usou sua arma para atirar na mão do outro, mesmo todo machucado aquele cara era fera, fiquei sem entender por que Érika chamou-o de frágil. Em posse das duas semiautomáticas ele metralhou os zumbis que avançaram sobre o sei lá qual patente, eu fui até seu corpo mutilado e peguei as chaves.

Nós corríamos para a porta quando os zumbis começaram a ser derrubados, não um ou dois, mas todos. No alto da plataforma estava Érika, apoiando o lado do corpo que estava ferido em um soldado e atirando nos zumbis restantes com uma M4A1 SOPMOD com lança-granadas, não me atrevi a olhar enquanto escutava o barulho de zumbis sendo despedaçados, tentando não imaginar a nojeira que ficaria aquele lugar tendo tanto sangue espalhado.

Eu estava colocando a chave na fechadura quando ouvi uma explosão, a louca lançou uma granada perto de nós, estava decidida a nos matar, em pânico deixei as chaves caírem. Meu tio apanhou as chaves no chão e abriu a porta, firme. Fiquei desnorteado contemplando as chamas formadas no corredor enquanto meu tio nos tirava dali.

Quando saímos descobrimos que ainda estávamos no alto do paredão da represa, lá embaixo havia uma lancha e alguns jet-skis.

— Teremos que pular — meu tio falou.

— Ficou louco? Vamos morrer! — eu gritei em resposta.

— Vamos! — então ele pulou sem esperar que eu tomasse uma decisão, talvez ele já soubesse o que eu faria a seguir.

O vendo assobiava em nossos ouvidos enquanto descíamos em alta velocidade a grande parede da represa. Caímos com estrondo espalhando água, meu estômago doía, nadei seguindo meu tio até um Jet-ski. Ele pulou para a lancha e abriu o tanque de combustível, derramou um pouco sobre ela e sobre a plataforma da represa que estava servindo de doca improvisada, depois pulou para o outro Jet-ski e fez o mesmo, após ter feito isso com todos os veículos dali ele voltou para o Jet-ski onde eu esperava observando.

— Para quê isso? — perguntei ingênuo.

— Isso vai atrasá-los, se quiserem nos pegar terão que ir por terra, o que vai demorar muito mais — Ele falou e assumiu o controle do Jet-ski. — Me dê essa arma! — eu obedeci e quando nos afastamos um pouco vimos Érika e alguns de seus soldados lá no alto, meu tio parou e mirou a doca.

No momento em que a mulher colocou o olho na mira do seu fuzil, meu tio disparou, explodiu os veículos deles e impediu que ela nos visse escapando.

Sinceramente isso tudo foi muito emocionante, mas só de lembrar que Carlos havia morrido, que eu quase segui pelo mesmo caminho e que meu tio estava todo machucado, eu sentia um aperto no coração.

Quando chegamos à igreja descobrimos que minha mãe nos esperava no lado de fora, talvez ela fosse a única acordada, o dia já estava quase amanhecendo.

— Filho! — ela correu até mim e me abraçou, sem perceber o estado do meu tio e também sem notar que Carlos não estava conosco.

— Amélia, vamos entrar, temos que acordar os outros e sair daqui imediatamente.

— Por quê? Meu Deus Johan, o que aconteceu com você? — minha mãe ergueu os olhos para o meu tio e finalmente percebeu como ele estava.

— É uma longa história, contaremos na estrada, temos que acordar logo os outros.

— O que aconteceu Johan? — minha mãe insistiu. — Fizeram algo com meu filho? Cadê o Carlos?

— Mãe, eu estou bem, Carlos está morto, precisa confiar em nós agora, vamos entrar e acordar os outros.

Ela quase deixou cair uma lágrima, mas resistiu, ela olhou o revólver de alto calibre que meu tio carregava e percebeu que não havíamos levado um do tipo conosco. Por fim ela acabou cedendo.

— Tudo bem.

Nós entramos e acordamos os outros, mas tínhamos um problema que nunca seria de fácil solução.

— Onde está o Carlos? —Eagle perguntou antes que Bruna acordasse.

Quando Bruna acordou teve uma reação ainda pior, nós contamos o que houve e eu citei os detalhes que só eu sabia, então ela começou a chorar e foi só isso que ela fez enquanto os outros arrumavam suas coisas. Eagle terminou rápido com suas malas apenas para ter a chance de tentar consolar Bruna.

Ela não aceitou muito bem a fala de nenhum de nós e quando saímos a conversa se tornou uma discussão.

— Quer dizer que isso foi culpa sua? — ela gritou para o meu tio quando este cometeu o erro de mencionar que conhecia Érika.

— Não exatamente — falou ele, desconcertado.

— Não exatamente? Você conhecia aquela mulher não conhecia? Que droga que ela queria com você afinal? E por que você não deu logo o que ela queria? Carlos só foi levado por que estava com você não é? — ela disparou para cima do meu tio sem sentir pena de seus machucados, apenas com ódio no olhar.

Eagle tentou acalmá-la inutilmente.

— Não tente me segurar Eagle! Se quiser me ajudar dê um soco nesse maldito! — ela gritou, desvencilhando-se da mão de Eagle.

— Não posso Bruna — ele falou como se desculpasse.

— Por que não? Ele é um assassino!

— Afinal o que foi isso Johan? Como você não nos fala que tem uma inimiga que quer te matar? — minha mãe entrou na briga.

— Por que eu não sabia. Vocês não estão achando que eu fiz isso de propósito, estão?

— Eu não sei mais o que pensar — Bruna falou, virando o rosto. — Apenas não posso mais confiar em você, em nenhum de vocês. Vou partir sozinha.

— Não Bruna! Não faça isso! — Eagle pediu.

— Não me diga o que fazer velho! Você pode vir comigo se quiser, mas ninguém me fará permanecer com esse grupo!

Eagle pareceu indeciso, olhou de Bruna para Johan e dele de volta para ela.

— Desculpe! — ele falou cabisbaixo, derrotado.

— Não desculpo — ela falou friamente e virou as costas, entrou no carro e acelerou pela estrada rumo ao norte.

— Você não vai mais sair de perto de mim! — minha mãe impôs para mim, percebendo o estado instável dela eu decidi não contrariá-la.

Meu tio encarou o chão por alguns minutos, depois encarou cada membro restante do nosso reduzido grupo. Um garoto que tentava aprender a ser adulto, uma mulher mentalmente instável, um ex-caminhoneiro gordo que nunca dava opinião, uma garota triste que não sabia o que fazer, uma mulher isca de zumbis assustada e sem habilidade com armas, um velho inteligente, mas já não muito ágil e um homem que estava na mira de uma psicopata assassina líder de um exército.

— Obrigado por confiarem em mim, principalmente você Eagle, que foi testado — meu tio falou, fazendo Bernard se mexer nos pés, incomodado.

— Apenas não nos decepcione — Eagle falou meio triste e psicologicamente exausto.

— Você está a fim de dirigir Bernard? — Johan perguntou.

— Você confia em mim para isso? — meu tio, já exausto em todos os aspectos, não reparou na mensagem.

— Sim, preciso dormir um pouco.

Assim nós voltamos à estrada, seguindo de volta para o sul, na intenção de despistar os inimigos, mas sem rumo estabelecido.


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Notas finais do capítulo

pois é, de volta estrada, perdendo amigos, joguei muito o jogo de The Walking Dead e percebi que depois de um tempo no apocalipse zumbi isso acaba se tornando normal..



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