Diário De Um Sobrevivente escrita por Allann Sousa


Capítulo 8
Fortaleza factícia


Notas iniciais do capítulo

Quando estava escrevendo, pensava constantemente em woodbury, talvez tenha servido um pouco de inspiração



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— Amélia, querida. Você precisa entrar, está ficando frio — Kátia aproximou-se da minha mãe, ela estava encostada na caminhonete, a noite estava fria e sombria com a lua coberta pelas nuvens, e ela cruzava os braços tentando proteger-se do frio, ela tinha a calibre 38 no coldre e parecia exausta e muito preocupada.

— Eles não deveriam demorar tanto, só iam verificar o lago, deveriam ter voltado há horas — minha mãe se referia a nós, já eram nove horas e nós não tínhamos como nos comunicar com eles.

— Vamos Amélia, tenho certeza de que eles estão bem, devem ter tido algum imprevisto, mas tenho um pressentimento de que logo eles estarão de volta e quando seu filho voltar você vai querer ter energia para recebê-lo não é mesmo?

Minha mãe não retribuiu o sorriso de Kátia, não tinha energia para forçar um sorriso, mas concordou em entrar.

— Você só precisa me dizer onde estão as armas e o caminhão Johan — Érika falou, quase meigamente, empurrando a longa franja para trás da orelha enquanto um homem gigante socava o meu tio.

Eles três estavam em uma sala iluminada apenas por um abajur no teto, era difícil enxergar as paredes e a porta naquela escuridão e meu tio era interrogado sentado em uma cadeira com os pulsos amarrados ás costas. Já estava com o rosto ensanguentado, o olho direito roxo, o lábio inchado e o nariz e a boca sangrando.

— Eu te falei da minha ideia, não é culpa minha se você não quis colaborar — meu tio falou, mesmo quebrado ainda mantinha a voz firme, era de fato admirável.

— Você é um imbecil desertor! — a mulher perdeu a calma e o grandalhão deu um murro no estômago de Johan, fazendo-o perder o fôlego. — Tudo bem Hunter, esse idiota não vai servir de nada morto.

— Bom ouvir isso — meu tio caçoou —, apenas me diga no que continuar ajudou você Érika.

— Você era só um majorzinho Johan, não ficou sabendo de nada sobre os nossos planos.

— Planos? Que planos? — meu tio ficou surpreso fazendo Érika dar uma risada prazerosa.

— Tolo! Acha mesmo que eu diria a você assim? — ela sentia prazer na dúvida de Johan, na ingenuidade dele. — Bom, admito que você não possa morrer. Mas tem gente com você que pode muito bem partir desse mundo sem deixar saudade, gente que você ama muito morrendo na sua frente que tal? — Ela falou com um sorriso sádico, pintado com as cores de uma meiguice diabólica.

— Não! Não faça isso! Não os machuque! — ele implorou, mas tudo que fez foi dar mais prazer à loira psicopata.

— Vejo que você se importa mesmo — ela afastou-se e abriu a porta, deixando uma réstia de luz entrar — traga o garoto aqui, já temos um uso para ele.

Meu tio gritou, possuído pela fúria, mas quando a porta de metal foi fechada seus berros não puderam mais ser ouvidos do lado de fora.

— Você ouviu isso? — Carlos perguntou para mim exaltado, levantando-se e indo até a porta.

— O quê? — eu não havia ouvido nada.

— Um grito, acho que do seu tio — ele concentrou-se colocando o ouvido na porta, parecia preocupado.

Nós estávamos e uma das salas de controle, mas as máquinas estavam desligadas e não havia nada que poderíamos fazer lá. As luzes estavam apagadas e a porta era de metal.

— Isso aqui é uma fortaleza perfeita, não há como sairmos daqui — comentei, me acomodando em uma parede fria.

— Espere! Ouvi outra coisa — ele falou nervoso, fechou os olhos e concentrou-se — tem alguém vindo!

Eu me levantei assustado, já havia assistido alguns filmes em que o guarda vai entrar na cela onde o preso está e acaba deixando ele fugir. Sabia que era nossa oportunidade, mas não sabia o que fazer, até que Carlos me ajudou.

— George aqui rápido! — ele apontou um lado da porta, era difícil enxergar no escuro, mas já estávamos lá há horas e a pouca luz que entrava pelas janelas de vidro era suficiente para que eu conseguisse ver depois de minha vista ter se acostumado.

Quando cheguei lá percebi que ele tinha me mandado ficar atrás da porta, isso significava que ele atacaria primeiro e eu abateria o guarda.

Passaram-se os segundos mais tensos e silenciosos da minha vida até que ouvimos a porta sendo destrancada e abrir rangendo. Carlos levantou as mãos para atacar o homem, porém este vinha preparado, trazia uma lanterna, surpreendeu-o tentando atacá-lo de surpresa e derrubou-o com uma arma de choque. Revoltado eu saltei nas costas dele, mas não tinha armas e era muito fraco, ele nem precisou usar a arma.

Puxando-me pelos cabelos ele me derrubou e me jogou para o outro lado da sala com um chute. Eu caí cuspindo sangue, mas levantei em tempo de ver algo surpreendente. Carlos recuperou-se do ataque e jogou-se para cima do homem, derrubando sua arma de choque e sua lanterna. Os dois homens rolaram pelo chão em uma briga no escuro. A lanterna saiu rodando e caiu debaixo de uma mesa com a luz apontando para a parede no fundo da sala.

Eu ouvia os socos, mas podia vê-los se batendo, apostando que o guarda não conseguia enxergar. Procurei a arma de choque, havia acabado de descobrir que não seria de nenhuma ajuda desarmado.

Achei a arma que parecia um cartucho atrás da porta, quando me voltei para a luta quase caí para trás. O guarda empurrou Carlos para cima e no tempo que teve pegou um revólver às costas, Carlos tentou segurar a arma, mas tarde demais, um tiro no peito o fez cair de lado sangrando e tremendo, segurando o peito tentando estancar o sangramento.

Minha fúria me fez pular em cima do homem que se levantava, segurei a mão que empunhava a arma e empurrei para o lado, não tendo força para mantê-la longe enfiei a arma de choque na cara dele, ele se contorceu e eu continuei empurrando até que ele desmaiou.

— Carlos! — eu corri até ele e deitei a cabeça sobre seu coração, mas já não ouvia nada pulsando. — Nãooooo! Respira! — gritei enquanto empurrava o peito dele, mas nada aconteceu, eu ainda não tinha o poder de ressuscitar uma pessoa.

Deitei minha cabeça sobre a barriga dele e fiquei ali chorando por alguns minutos, ele estava morto, perder um membro do grupo para um zumbi é uma coisa. Perder uma pessoa que ainda estava aprendendo a gostar para um ser humano racional que pensa, sente e atira consciente de que vai matar era totalmente diferente.

Estava prestes a usar minha força restante para sair dali quando algo inexplicável aconteceu, Carlos levantou-se, parecia tonto e fora de si. Eu abria minha boca para dar graças a Deus quando ele se jogou sobre mim, eu caí para trás sobre o peso dele e desesperado comecei a procurar algo no chão, apanhei a arma de choque que larguei quando corri até ele e acertei seu pescoço apertando o gatilho, mas nada aconteceu, a bateria havia acabado.

Eu sentia um zumbi de oitenta quilos sobre mim, uma criança de quase treze anos, e sua saliva caía sobre meu rosto enquanto ele tentava mastigá-lo e eu o empurrava para cima, sem pensar golpeei a cabeça dele com a arma de choque. Ela era de plástico, quebrou junto com o crânio dele, mas não foi o bastante, ele caiu para o lado ainda vivo.

Procurei por alguns segundos o revólver do guarda, mas quando voltei os olhos para ele, ele já levantava também, porém ele não usou a arma contra mim, apenas se aproximou com os braços erguidos. Eu não entendia por que aqueles dois tinham virado zumbis, até onde eu sabia eles não poderiam ter sido mordidos, pelo menos de Carlos eu tinha certeza que não.

Mas deixei isso de lado quando o pânico tomou conta da minha cabeça e fugi dali, deixei a sala para trás em meio minuto e dobrei cantos desesperado, correndo por aqueles corredores tendo em mente de que poderia encontrar um guarda a qualquer momento.

Então passei por uma porta onde ouvi barulhos de batidas. Pensando no meu tio tentei abrir a porta, mas estava trancada. Voltei a correr então, encostando o ouvido em cada porta acabei ouvindo a voz do meu tio por trás de uma porta de metal, ele parecia implorar por algo. Em seguida ouvi a voz daquela mulher.

— Esse imprestável está demorando muito para trazer o garoto, Hunter vá procurá-lo!

Ouvindo passos vindo em direção a porta, corri e me escondi atrás de uns barris de combustível no corredor. Um homem negro gigante, com cabelos crespos compridos, saiu andando pelo corredor. A porta se fechou, fui até ela e espiei o corredor pelo qual tinha vindo, vi o homem dobrar um canto, ele estava desarmado, então chutei a porta de metal.

— Mas que droga é essa? Hunter é você? — a mulher perguntou com ódio. — Idiota, se for você com brincadeirinhas eu vou fazer uma brincadeira que você nunca vai esquecer.

Eu voltei para trás dos barris e espiei, a mulher saiu da sala com uma desert eagle na mão, fiquei me tremendo sem saber o que fazer em seguida. Observei ela descer pelo mesmo corredor que seu carrasco de estimação seguiu.

Ela deixou a porta aberta, estava fácil demais, fui até lá e chequei o final do corredor, estava vazio, então entrei. A sala estava escura, mas por causa da luz que entrava e do abajur que estava sobre ele, pude ver o meu tio espancado, com o rosto maltratado.

— Tio! — eu gritei feliz, mas quando fui correr até ele, alguém novamente me segurou pelo cabelo.

— Foi muito fácil pegar você garotinho — a voz que eu já tinha aprendido a odiar sussurrou às minhas costas. — Saiba que eu não permito atraso por parte dos meus soldados, você deve tê-lo matado, não?

— Ele matou meu amigo — gritei, fazendo meu tio ficar em choque.

— Ah, matou seu amigo, que pena — ela falou sadicamente —, Johan agora você vai decidir se me diz onde estão as armas ou se admira o sangue do seu amado sobrinho escorrendo pelo chão.

Ela colocou o metal frio na minha cabeça, agitando as engrenagens do meu cérebro dolorosamente. Eu observei meu tio abaixar o rosto e vi seus lábios ensanguentados mexerem lentamente.

Amélia vomitou o pouco de comida enlatada que havia comido.

— O que houve? — Kátia perguntou preocupada, os outros ficaram apenas observando.

— Não sei, tive um mau pressentimento — ela falou, com a voz carregada.

— Relaxa Amélia, foi apenas um enjoo, deve ser porque você está preocupada com George e os outros só isso — Eagle falou, tentando acalmá-la sendo racional.

— Não, decididamente algo terrível aconteceu — ela falou decidida e todos menos Bruna encararam-na com uma expressão de medo.


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Notas finais do capítulo

Será que Érika vai matar George? será que foi isso que Amélia previu? só saberão no próximo capítulo huhuhahá!



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