Diário De Um Sobrevivente escrita por Allann Sousa


Capítulo 10
Histórias de vida


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa história doente, entrei numa regra auto imposta de escrever dois capítulos semanais, porém devido a horrível dor de cabeça foi com muito esforço q consegui apenas um.. Mas enfim, acho que o q importa é qualidade.



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Descendo a 75 rumo a sul, nós passamos pelos bairros Lake’s, entramos em algumas casas procurando por comida, mas achamos muito pouco. Apenas alguns enlatados que não durariam nem três dias. Depois de tomar a 285 ainda para sul ficamos sem gasolina em frente ao English Park.

— Tio, preciso lhe fazer pergunta, isso vem me inquietando desde que saímos de Betânia — anunciei ao me aproximar de Johan, ele se afastou um pouco da caminhonete e admirava a floresta além da avenida.

— Você quer saber sobre as armas, não? — ele perguntou taciturno.

— É isso — suspirei. — Que armas são essas? Por que a tal da Érika estava tão interessada nelas? E como ela sabia delas?

Ele também deu um suspiro, carregado de cansaço e talvez até de arrependimento. Então ele começou a me narrar uma história de antes dessa confusão apocalíptica começar.

Era uma tarde fria de céu nublado, mas até o momento não havia caído uma gota de chuva, quando entrei no quartel. Era no presente momento um major bem sucedido de meia idade, ainda não tinha recebido uma promoção por corrupção dos membros de alta patente, afinal desempenhava meu papel mais do que bem, modéstia a parte e no caso eu voltava de outra missão bem sucedida.

Eu carregava o relatório da missão em uma pasta e iria entregá-lo ao general de brigada, Holmes Fazzer. Porém ao tocar a maçaneta da porta da sala do general ouvi uma conversa que me chocou e me pôs em dúvida sobre a fidelidade do exército para com o governo e com a população.

“Isso é sério, lidaremos mesmo com mortos?” uma voz desconhecida por mim, falou.

“Ridículo! É o que eu digo! Como podem dizer que os mortos simplesmente andarão entre nós?” outra voz estranha gritou.

“Eu dei a chance de, aqueles que acredito serem merecedores, se juntarem aos que vão estar acima desses acontecimentos, aqueles que vão reinar no novo mundo. Porém se estiverem descrentes estão dispensados, mas se eu descobrir que algum de vocês revelou algum segredo desta reunião, procurarei pessoalmente o traidor e o matarei” Esta era a voz do general do exército, aparentemente fazia uma reunião secreta sobre algo terrível.

Meu coração então bambeou e eu dei dois passos para trás. Ao que parecia o alto escalão do exército tinha um plano de proporções inimagináveis. Andei calmamente até a saída, no corredor encontrei a assistente do general meu superior.

“Taylor entregue isso ao general por mim” falei dando a pasta para ela.

“Por que você mesmo não entrega?” ela perguntou incisivamente.

“Não estou bem. Faça o favor de entregar para mim e eu retribuo quando você precisar” respondi zangado.

“Tudo bem. Se você está doente deveria pedir o resto do dia de folga”.

“Farei isso, obrigado”.

Sem saber o que fazer eu andei desnorteado até o arsenal do quartel. Minha cabeça não funcionava direito, pensei que se houvesse algo que fosse inconveniente informar aos soldados e que tivesse relação com mortos e um novo mundo, só poderia ser algum tipo de pesquisa secreta que violasse os direitos humanos e que poderia ter consequências catastróficas.

Movido pela raiva e pelo medo, juntei algumas armas pesadas do arsenal, guardei-as em duas mochilas e coloquei-as em um compartimento secreto numa caminhonete do exército. Foi difícil convencer os guardas a me deixarem sair com o caminhão, mas dizendo para eles que sairia em missão e que precisava do caminhão para retirar soldados de uma região hostil consegui sair.

Eu sabia que não tinha muito tempo até que descobrissem a minha traição. Fui até a casa de um amigo meu de antes do exército, um amigo de infância que ainda morava na minha cidade. Contei a Carlos que algo terrível estava sendo planejado pelo exército e que acabaria envolvendo todas as pessoas naquele estado. Em tempos diferentes eu teria o convencido facilmente a vir comigo, mas logo descobri que ele estava namorando com uma mulher muito dominadora.

Dei a ele vinte e quatro horas para que se decidisse e voltei para casa para fazer as malas. Como prova de confiança deixei a caminhonete na garagem dele. À noite ouvi coisas estranhas no rádio e vi noticiários na televisão que me deram calafrios. Todos os jornais anunciavam sobre mortos que mordiam as pessoas, mostravam testemunhas oculares e fotos.

Desesperado recolhi minhas malas e corri até a rua. Estranhamente havia um táxi parado em frente a minha casa, abri a porta do passageiro para entrar então uma criatura que parecia uma pessoa deformada jogou-se sobre mim, eu caí para trás e ela se arrastou até mim. Vendo a criatura ensanguentada que era um homem de pele cinzenta tentando me morder eu entrei em pânico apanhei a mochila e joguei contra a cabeça da criatura. O peso da minha bagagem destruiu o crânio do homem, eu senti nojo e culpa por matar alguém, mas superei isso, pois já tinha feito algumas vezes vestindo uma farda.

Entrei no táxi e dirigi de volta à casa de Carlos. Quando eles me viram descer do táxi com minha camisa suja de sangue ficaram amedrontados.

“Amigo, confie em mim! Uma pessoa... morta, me atacou!” eu disse.

“Como você espera que eu acredite em uma coisa dessas?” Carlos perguntou já começando a ficar zangado.

“Carlos, eu não vou te deixar aqui! Temos que sair da cidade, vamos para Geórgia, podemos ficar na casa do meu irmão em Atlanta”

“Isso é ridículo! Pegue seu caminhão e vá embora, antes que faça alguma coisa de que não vou gostar” ele advertiu-me e virou-se para entrar.

“Já falei que não vou te deixar aqui!” eu urrei e pus a mão no ombro dele.

Ele virou-se com raiva e enfiou um murro na minha cara, eu perdi a calma, o puxei e começamos a brigar. Depois de alguns golpes ouvimos um grito. Uma mulher ruiva gritava em frente à casa, em pânico. Paramos os punhos no alto e olhamos para onde ela olhava. Algumas pessoas andavam na avenida, mas não caminhavam normalmente, andavam lentamente contorcendo-se. Nas sombras da noite não era possível ver seus rostos, mas o medo me dominou quando elas viraram-se para nós e começaram a seguir em nossa direção, eram mais de uma dúzia de pessoas e algo me dizia que não queriam no cumprimentar.

Entramos correndo na casa e trancamos a porta e fechamos as cortinas.

“O que é isso?” Carlos gritou para mim.

“É o perigo sobre o qual te falei” gritei de volta para ele enquanto Bruna correu para a cozinha.

“Isso não é possível” ele falou, agora menos convicto.

“É isso que você acha? Olhe pela janela e me diga que você não acredita!” nesse momento uma mão quebrou o vidro de uma das janelas.

Bruna voltou a sala com uma faca de cortar carne na mão, impiedosamente arrancou o braço que quebrou o vidro.

“Você tem uma mulher e tanto” falei assustado.

“Você não disse que são mortos?” ela perguntou friamente.

“Sim, vamos embora!” corremos até a garagem e entramos no caminhão. A porta da garagem era automática, daquelas que abrem para a frente, porém algo nos atrapalhou, um monte de zumbis começou a bater na porta da garagem e impediu-a de abrir. Deixei Carlos na direção e fui até a porta, empurrei-a e atirei com um revólver em dois deles. A porta ergue, fiz um sinal para que Carlos saísse com o caminhão, ele parou na calçada e eu atirei nos zumbis que se aproximavam corri e entrei na traseira da caminhonete.

Então saímos da Filadélfia, paramos em alguns lugares para abastecer e acabamos descobrindo que a catástrofe se espalhara. Alguns noticiários informavam que o incidente já era de amplitude global e que já poderia ser considerado o fim da humanidade, logo depois todos os tipos de comunicação pararam de funcionar e aos poucos os postes de iluminação não ligaram mais. No caminho até Atlanta encontramos algumas pessoas que acabamos aceitando no nosso grupo, já próximo daqui Carlos e Bruna resolveram pegar um único carro que restava em uma revendedora detonada.

Quando meu tio terminou a narrativa fiquei apenas olhando para o rosto dele, parecia triste. Eu sabia que havia alguma coisa que ele ocultava, mas resolvi não perguntar.

— E então? — perguntei.

— Então o quê? — ele perguntou aturdido.

— Não vai me mostrar as armas?

Uma expressão de dúvida estampou o rosto dele.

— Tudo bem, venha comigo! — ele me levou até o caminhão e me fez entrar na carroceria, observando se havia alguém por perto ele abriu um compartimento secreto na parte da frente.

Do compartimento ele tirou duas mochilas, jogou uma para mim que não consegui segurar soltei no chão. Abri a mochila e descobri que estava cheia de rifles de assalto. Ele abriu a outra e me mostrou rifles snipers e pistolas de alto calibre.

— Por que você não nos mostrou isso antes?

— São armas pesadas demais, essas pessoas já se sentem incomodadas com cada um carregando uma pistola. Imagina o que iria acontecer se todos tivessem fuzis!

— Talvez ficássemos bem protegidos, talvez Mirelly e Carlos não tivessem morrido.

— Ou talvez acidentalmente alguém atirasse em um de nós.

— Poderíamos treinar!

— George você não entende.

— Não, você é um covarde! — eu gritei e atirei a mochila com as armas no chão.

— Feliz aniversário George — Johan falou depois que eu saí, dando um sorriso triste.

Mais tarde meu tio veio até mim. Ele ficou me observando enquanto eu vigiava a floresta com minha Glock nova na mão, sentado na grade da avenida.

— George, temos que procurar mais comida — ele anunciou para mim, depois de alguns minutos calado.

— É verdade, a que temos não durará muito mais — mirei a grama. — O que você sugere?

— Esta cedo, tem uma parada de caminhões, dois restaurantes, eu acho, e alguns bairros residenciais no raio de mais ou menos dez quilômetros daqui a sul. Nós dois somos os mais rápidos do grupo, poderíamos ir até o aeroporto e voltar antes do pôr do sol. Passaríamos por esses lugares e procuraríamos comida nesse meio tempo. Além disso, poderíamos tentar encontrar gasolina para a caminhonete.

— Dá pra ver a parada de caminhões daqui — falei apertando os olhos em direção sul. — Acho que é uma boa ideia.

— Então vamos, avise sua mãe! Vou te dar uma M1 para treinar — ele falou me dando um tapinha nas costas e correndo até o caminhão.

Logo estávamos chegando à parada de caminhões. Conversar fazia as caminhadas parecer menos longas, eu falava da minha vida monótona em Atlante enquanto ele falava da carreira dele no exército, mesmo eu percebi que ele não foi promovido por uma corrupção descarada. De longe pudemos ver dezenas de caminhões, com e sem carga, mas todos parados havia muito tempo e provavelmente com os tanques vazios.

— Temos que economizar tempo — meu tio falou quando entramos no pátio. — Você acha que tem algo útil naquele armazém?

— Acho que seria uma grande merda se tivesse e nós não encontrássemos por não termos procurado — falei.

— Está certo, procure por gasolina nesses caminhões, tente encher esses galões para a caminhonete — meu tio falou apontando para cada galão de dez litros que eu trazia. — Vamos nos encontrar em uma hora naquela lanchonete. Tome! — Ele atirou o apito de metal dele para mim. — Se estiver em perigo apite e se eu não estiver na lanchonete no prazo volte para o grupo e assuma a liderança.

— Mas tio... — comecei a argumentar.

— Nada de mais, você pode até ser criança, mas é o único em quem eu confio de verdade — ele falou e depois correu até o armazém.

Sem nada mais a fazer fui até o caminhão vermelho, que eu achei o mais chamativo e procurei por gasolina no tanque, não encontrei. Depois de passada metade do prazo eu tinha examinado quinze tanques de caminhões e enchido menos da metade de um galão. Eu olhava a cada minuto para o armazém preocupado, tudo estava silencioso até que uma mulher saiu da lanchonete gritando.

Cinco zumbis corriam atrás dela, ela parecia ilesa, mas estava toda ensanguentada. Os gritos dela chamaram muita atenção, dezenas de zumbis começaram a sair das florestas e vir das avenidas. Felizmente as grades os pararam, mas eles começaram a se acumular nelas e a tentar passar por elas.

A mulher vinha correndo em minha direção e mesmo ela parecendo não ter sido mordida eu não fiz nada. Com um fuzil M1 nas costas, uma Glock no coldre do lado direito e um facão na bainha do lado esquerdo eu não sabia o que fazer e minhas pernas tremiam.


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Notas finais do capítulo

Eu não descrevi as características de George por um motivo intencional, agora aqui está ele:
Gostaria que os leitores descrevessem como veem o protagonista da minha história, me refiro à aparência física XD
Obs: sim, eu vou acabar criando o motivo do apocalipse zumbi e como aconteceu.



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