Mal consegui dormir a noite. Minha mãe não voltou para casa, ela ficou no hospital por conta do ataque dela, mas eu já estava acostumada a ficar sozinha em casa. Hoje começava os treinamentos. Depois do almoço eu iria me apresentar no ginásio que eles criaram que agora eu descobri para que serve.

Preparei um almoço bem simples, e comi rapidinho. Vesti uma roupa normal, shorts e blusa, porque me disseram que iam entregar roupas de treinamento lá.

Sentei na mesa de jantar, peguei uma vela, fósforos e um bolinho bem pequeno. Enfiei a vela no bolo e a acendi. Uma lágrima caiu, mas rapidamente a limpei. Comecei a silenciosamente cantar parabéns para mim. E no final, apaguei a vela, com um desejo em mente. " Que eu saia viva dos Jogos Vorazes para cuidar da minha mãe e que a Capital se toque que esses jogos não levarão a nada. "

Abri a porta de casa e um pacificador veio comigo para me acompanhar até o ginásio. Quando chegamos lá eu ainda estava com o rosto triste, mas é claro, eu passei meu aniversário sozinha e estou indo para o treinamento da minha morte. Que dia lindo!

A treinadora ainda não chegou, então fiquei a vontade e me sentei em um banquinho largo e marrom. Começei a observar o ginásio. Era grande e tinha meio que "estações", em uma parte tinha armas e vários bonecos para treinar. No outro tinha espécies de plantas e animais mortos. No outro tinha várias coisas, cordas, gravetos, que pelo visto iam ser para montar armadilhas. Quando me dei conta percebi que tinha alguém sentado do meu lado.

– Oi Finnie - disse Max meio tímido.

– Olá Max. - eu respondi de cabeça baixa.

– Érrrr.... Feliz Aniversário!! - disse ele com um sorriso.

– Ahhh... Muito Obrigada Max!! - eu disse olhando para ele com um sorriso enorme no rosto. - Você foi a primeira pessoa que me disse isso. - ele corou, devia ter ficado envergonhado. - Mas, como você soube disso?

– Sua mãe não parava de gritar isso no hospital.

– Como você sabe disso??? - fiquei curiosa e assustada, como ele sabia da minha mãe?

– Fui visitar meu pai, ele trabalha lá. O hospital era caminho daqui, então fui vê-lo.

– Ah tá, bem, isso explica tudo.

– Ela me mandou trazer isso pra você quando ela soube que eu te encontraria. - disse ele me entregando uma caixa pequena. - Sua mãe disse que sentia muito não estar com você hoje, e que vai fazer o possível para voltar o mais cedo para casa.

– Obrigada Max. - fiquei admirando a caixa azul claro, eu estava preste a abri-la quando alguém me deu um susto.

– Boa Tarde Tributos! Meu nome é Katherine James, mas podem me chamar do que quiser, sou treinadora de vocês. - nós a cumprimentamos e nos apresentamos. - Bem, aqui está o uniforme de treinamento. - ela disse entregando um macacão preto para nós.

Fui até o banheiro e me troquei. O macacão era confortável, era elástico, dava pra fazer qualquer movimento com ele, e também era meio colado no corpo, o que não me agradou muito. Guardei minha roupa em um armário no banheiro junto com minha caixinha, e fui para o treino.

Chegando lá me posicionei em frente da Katherine e ao lado de Max.

– Como primeira coisa que vocês devem aprender - começou ela. - é a sobreviver. Cada dia sim e dia não vocês terão uma prova que pode acabar com a vida de vocês. Mas antes disso vocês terão de arranjar comida sozinhos, não morrer de sede ou de frio. E essas coisas.

Katherine nos levou a uma estação para aprender a montar armadilhas e pegar animais. Eu estava conseguindo aprender, já Max se enrolou um pouco. Depois fomos para uma estação de escalagem. Era uma parede com algumas pedras e obstáculos. Ainda bem que amarraram uma corda em mim antes de eu subir, porque perdi a conta de vezes que eu tentei chegar ao meio da parede sem cair. Já Max conseguiu chegar ao topo 2 vezes. E agora era a última seção de hoje, aprender sobre plantas comestíveis e o que fazer com elas. Tentei decorar tudo, mas não foi muita coisa porque não terminaríamos tudo hoje.

– Hoje foi um grande primeiro dia, mas com o tempo sei que melhorarão. Obrigada Max e Finnie. - disse Katherine se despedindo.

– Muito Obrigada por ter paciência Treinadora James. - eu respondi também despedindo.

– Obrigado Treinadora! - disse Max.

Fui ao banheiro e me troquei. Coloquei o macacão no armário e retirei minhas coisas de lá. Daqui a pouco ia começar o pôr do sol, e como o pacificador estaria me esperando em casa, resolvi que iria dar uma passada na praia.

Como sempre tem um pôr de sol encantador todos os dias e hoje era segunda, não tinha tanta gente na praia. Na verdade só tinha eu. Sentei na areia com os pés sendo molhados pelas pequenas ondas na areia. Resolvi pegar a caixa e abri-la. Eu tinha me esquecido de abri-lá! Quando olhei me surpreendi. Era o colar da minha mãe, o que ela sempre usava no pescoço. Era um círculo tamanho médio com um desenho de um tridente. Era prata. Fiquei passando minha mão nele, admirando. Quando percebi que dava para abri-lô. Tentei controlar minhas lágrimas fujonas.

Tinha duas fotos, uma delas era eu bebê. No dia em que eu nasci, há 13 anos atrás. E a outra era o casamento dos meus pais, dava pra perceber porque eles estavam arrumados. Eles sorriam tão felizes. Minha mãe linda e encantadora como sempre, e meu pai um rei. Eles eram o casal mais lindo que eu já vi.

Coloquei o colar em mim e apertei o círculo com toda a força. Olhei para o magnífico pôr do sol e disse:

– " Papai, vou fazer de tudo para sair de lá viva. Quero que você se orgulhe de mim, e quero continuar cuidando da mamãe, assim como você fazia. Eu prometo que sempre vou dar o meu melhor por vocês dois. Os meus anjos. "

Eu posso jurar que senti meu pai me abraçando e que vi o sorriso encantador dele junto com seus olhos perfeitos naquele magnífico pôr do sol.