O Hatake não compreendia as palavras de Takari. E pior, não compreendia o porquê de estar dando ouvidos a ela. Ele pensava a cada hora que se passava o quando Takari era louca, ou se fazia ser, que ficava se escondendo na escola e fugindo de falar com os outros. Mas por que ela não fugia dele? Essa pergunta atormentava cada vez mais a consciência de Kakashi, criando inúmeras hipóteses sobre a razão de a menina estar agindo diferente com ele. Tudo bem que ela fugia de seus olhares e abaixava o rosto para seu sorriso, mas mesmo assim era ele a única pessoa que fora capaz de lhe dizer algumas palavras.

- Cara, é você que tá louco! – falava Hayate. – Não me diga que você levou a sério aquele lance do “escute seu coração”?

- Eu não sei. – respondeu Kakashi.

- Tenha paciência, Prateado! – disse Genma. Prateado era o apelido de Kakashi desde que ele entrara na escola, há algum tempo atrás. Os três, juntamente com Asuma estavam na garagem da casa do Hatake para ensaiar.

- Uma coisa é certa, Kakashi, nada sai sob pressão. – falou Asuma brincando. – Muito menos uma música. Vê se relaxa! Se a gente não tocar uma inédita a gente toca na próxima...

- Não vai ter próxima! – falou Kakashi interrompendo-o. – Será que vocês não entendem que já tá na hora de agente mostrar algum trabalho? Vocês não querem ter uma banda de rock?! Então! Precisamos trabalhar!

- Não estressa, Kakashi! Pára de levar tudo tão a sério...

- E a banda não é algo sério, Asuma? – Kakashi aumentava a sua voz. – Você está mais interessado nas garotas o que em tocar!

- Ora, não fale comigo nesse tom! – disse Asuma também aumentando a voz. – Você não tem o direito de falar assim comigo!

- Se você se importasse com a banda eu não teria! – gritou Kakashi.

- Quem disse que eu não me importo?! – responde Asuma também gritando.

- Gente, parem de brigar! – falou Genma com a voz alterada.

- Eu só tô querendo dizer que essa banda de rock não é uma brincadeira! – resmungou Kakashi alto.

- Você tá é querendo impor regras pra gente! Regras que não fazem o menor sentido! – gritou Asuma.

- Tudo bem! – falou Kakashi. – Ensaio encerrado!

- Tudo bem! – resmungou Asuma.

Kakashi saiu pisando duro da garagem. Quando entrou em casa, bateu com força a porta e foi subindo pelas escadas. Asuma foi embora, junto com Hayate no carro de Genma.

- Droga! – bradou Kakashi chutando uma cadeira. Ele sentou-se na cama e colocou as mãos na cabeça. – Por que eles não entendem?!

Ele ficou assim por um tempo, com a cabeça baixa e os dedos entrelaçados em meio a seus cabelos cor de prata. Kakashi se sentia frustrado, com raiva e pesaroso por ter brigado com seus amigos.

Até que, ele olha a seu lado e vê a folha que ele escrevera as últimas frases que Takari pedira. “Em quem acreditar?” pensou incrédulo Kakashi.

Ele abre a sacada de seu quarto e senta-se ao chão. Kakashi ergue o olhar para os céus. Uma lua brilhante se encontrava alta naquele manto marinho estrelado. Já era noite e as luzes da cidade estavam acesas. Ele encosta a cabeça na parece a suas costas e permanece descrente a encarar o horizonte.

Realmente a pressão o incomodava. Ele precisava desligar-se desses problemas pequenos para conseguir seu sonho. Ele sonhava alto demais. E isso o fazia fraquejar de medo da queda alta que poderia ter.

- Será que vai dar certo? – falou para si mesmo.

Ele pensava no seu futuro. Em breve estaria saindo da escola e ele tinha certeza que queria somente tocar guitarra pelo resto de sua vida. Contudo, a realidade o prendia no chão. Seu pai queria que ele fosse para a faculdade, ou melhor, exigia que isso fosse cumprido. E o pior, Kakashi desagradava totalmente da idéia. O que fazer?

- O que vocês têm a me dizer? – perguntou ele esperando alguma resposta do universo. Porém essa resposta nunca veio, e mais uma vez constelações mudas permaneciam sobre sua cabeça.

Ele fechou os olhos mais uma vez, tentando fazer com que nenhum pensamento passasse por sua cabeça. Mas ele não pôde conter as imagens que percorriam sua cabeça. Takari andando nos jardins sozinha naquele dia frio em que ele a vira pela primeira vez... Ela encarando o nada com aquela expressão de vazio... Aqueles olhos azuis dela vidrado nos seus, decifrando sua alma por completo... Seu leve sorriso de lado... Sua saída discreta e melancólica... Seus mistérios por detrás daquela pele pálida... Suas tristezas ocultas por aquela voz fraca e sussurrada...

Por que será que a imagem dela não saía de sua cabeça? Justamente agora que ele estava sozinho, sonhando acordado. Seria possível que ele estivesse... Não. É muita falta de bom senso e racionalidade. Mas mesmo assim, a voz de Takari dizendo “apenas escute seu coração” ainda tocava ininterruptamente seus ouvidos.

Até que, finalmente ele pega aquela folha de papel já amassada e escreve os seguintes versos:

“ Tonight the sky above

Reminds me of you, love

Walking through wintertime

Where the stars all shine

The angel on the stairs

Will tell you that I was there

Under the front porch light

On a mystery night”

~ × ~

“Esta noite, o céu acima

Me lembra de você, amor

Andando através do inverno

Quando todas as estrelas brilham

O anjo na escada

Irá dizer que eu estive aí

Sob a sacada frente à luz

Em uma noite misteriosa.”