Here Without You escrita por lawlie
Amanhece na cidade. O rádio relógio de Kakashi toca incansavelmente avisando que era hora de acordar. O garoto está envolto por cobertas por causa da noite fria que tivera. Ele bate a mão no despertador, se revira mais um pouco e joga o travesseiro sobre a cabeça, desgrenhando ainda mais seus cabelos prateados. Os minutos voam, até que Kakashi, dado por vencido de que deveria render-se ao fato de ir à escola, abre os olhos e encara o teto azul. Ele se senta na cama e dá um longo bocejo. Olha fixamente para sua reflexão num espelho e se levanta. Lava o rosto com aquela água fria. Isso o fez despertar com incrível capacidade. Depois escova os dentes e troca de roupa. Veste um jeans qualquer, com um casaco quente por cima, na cor cinza. Coloca os tênis e desce para a cozinha. Seu pai está na mesa, lendo um jornal e tomando uma xícara de café, Kakashi diz um “bom dia” desanimado e pega um tigela, colocando leite e cereal. - Você não devia já ter ido pra escola? – pergunta seu pai, ainda escondido pelo jornal. - Devia. – fala Kakashi comendo lentamente. - Você precisa ser mais pontual, Kakashi. Até quando eu vou precisar assinar mais uma ocorrência de atrasos? – o tom dele demonstrou que aquilo era mais um conselho do que uma ordem. - Até eles entenderem que o relógio é o maior inimigo da humanidade. – diz o garoto em meio a colheradas de cereal. - Às vezes eu agradeço por esse ser seu último ano na escola. Queria que você aprendesse a não se atrasar na faculdade... - Pai, eu não vou pra faculdade! – interrompe Kakashi. - Vai sim. E não discutiremos mais isso. – Sakumo olha o relógio. – Adeus. – fala e sai rumo à porta. Kakashi pára a encarar perplexo a insistência do pai a respeito da faculdade. Por fim, ele escuta o motor do carro sendo ligado e seu pai partindo para o trabalho. - Yare... yare... – resmunga. – Hora de ir. E sai também, caminhando lentamente pela rua. Até que, chega à escola. O portão ainda estava aberto. Isso era um bom sinal. Pelo menos não iria perder a primeira aula. - Atrasado de novo Hatake! – reclama o porteiro. - É que... hoje eu tive problemas com meu cereal... – ele inventa a primeira coisa que lhe passa na cabeça. - Hoje foi culpa do cereal? – diz o porteiro incrédulo. - Pode apostar. - Vinte minutos! Vamos! Entre! – Kakashi vai para a sala. Talvez fosse melhor ter se atrasado mais um pouco, pois, afinal, teve que suportar uma aula absurdamente chata de trigonometria. Podia até ser que Kakashi é que não sabia aproveitar devidamente a aula, afinal, Hayate dormia sobre os braços, era certo que ele ficara jogando até tarde. E Genma desenhava em sua carteira esboços de uma história em quadrinhos. No primeiro intervalo, ele contou aos amigos a respeito da teimosia de Asuma no dia anterior. Depois disso, tiveram mais algumas aulas e até que enfim, o almoço. Nessa hora, falaram de que música deveriam tocar no baile. Algo que fez Kakashi lembrar-se que tinha um compromisso com a garota que o ajudaria com a letra. E então, tiveram as aulas finais. Nada de muito interessante. O sinal tocou, finalmente. Kakashi guardava seus objetos, porém mais lentamente que no dia anterior. Não estava com pressa, pois não sabia se a garota estaria realmente lá. Pelo dia todo, ele não a viu na escola. Talvez eles cursassem o mesmo ano, e as matérias que ela optara sejam diferentes. Mas isso não foi o suficiente para ele acreditar que ela estaria esperando. Kakashi sequer a vira no almoço ou nos corredores da escola. E com certeza ele se virava toda hora procurando por ela. O fato da garota não aparecer o dia todo o deixava desconcertado. Realmente, a existência de Uchiha Takari naquela escola era imperceptível. Finalmente, ele caminhava pelos jardins ao lado oeste da escola, onde havia as mesas. Para a surpresa do garoto, Takari estava lá, de preto, sentada como uma escultura de cera, imóvel no banco. - Você está atrasado. – diz ela quando Kakashi se aproxima. – É culpa do cereal de hoje cedo? - Como você sabe disso? Você devia estar na aula quando cheguei... - Ora, você devia arrumar uma desculpa mais convincente. Cereal? – diz com uma ponta de deboche na voz. - Você nunca pôs a culpa do seu atraso no cereal? – pergunta ele sorrindo. Definitivamente, essa era a conversa mais estranha que ele poderia ter com aquela garota. - Eu não gosto muito de cereal. – diz calmamente. – O leite me dói o estômago. – Takari faz uma careta negativa. - Intolerante à lactose? – pergunta Kakashi. - Pode apostar que sim. - Você não respondeu à minha pergunta. Como ouviu minha desculpa de hoje cedo? – pergunta ele agora sério. - Digamos, - ela faz uma pausa. – que eu nunca tive vocação para assistir aula de trigonometria. - Vocação. – repetiu ele pensativo. – Essa é uma boa desculpa. Ele está sentado em frente à garota. Takari está olhando para o lado, a observar a grama, Kakashi a fita sua expressão. - O que tem de tão interessante aí? – pergunta ele ao ver a concentração de Takari. - Você devia prestar atenção ao seu redor. Talvez na grama você encontre sua inspiração. Ou talvez na pedra, no muro da escola, na lata de lixo. Ele olha a grama por um segundo e volta a encarar a garota. - Não me parece inspirador. – diz ele sorrindo constrangido. Takari desvia o olhar do sorriso encantador de Kakashi. - Apenas observe. De alguma forma você vai conseguir tirar palavras do que está à sua volta. Tudo que está acontecendo nos dá um sinal de como achar as palavras certas que eles estão transmitindo. Kakashi pára a encarar a garota, confuso. - Eu sei que eu pareço louca falando assim. Mas leve a sério. Não me olhe com esses olhos implorando por um pouco de insanidade... - Até para reclamar você escolhe palavras bonitas. – Kakashi a interrompe. Ela olha sem graça para o chão. – Eu queria poder fazer isso às vezes... Quer dizer, você está aqui pra me ajudar a compor uma música e até agora só fica olhando a paisagem... - Não. – diz Takari rispidamente. – Não vim aqui soletrar versos para você copiar em uma folha. Eu vim aqui para te ensinar como encontrar as palavras para depois serem transformadas em versos. - Agora sim você tá parecendo uma louca falando desse jeito. – fala Kakashi. – Por que você não tira seus olhos daí e olha para mim? - Você não vê? – diz Takari olhando agora profundamente dentro dos olhos de Kakashi. – Você acabou de fazer. - Do que você está falando? Não faz sentido... - Escute a sua volta. Você acabou de receber as palavras. – interrompe ela. – Preste atenção. Kakashi aperta os olhos numa expressão de dura incompreensão a respeito do que ela falava. Agora ele estava achando Takari uma verdadeira aluada distraída. - Quais foram as palavras de sua última frase? – pergunta ela quebrando o silêncio. - Ãhn? - Diga. O que você acabou de falar? - Que não faz sentido? – tenta ele. – Do que você está falando? - A frase anterior. – diz ela. Ele fecha os olhos e tenta se lembrar. - Por que você não tira seus olhos daí e olha para mim. – diz ele quase que num sussurro. - Vamos. Anote aí. – diz Takari entregando um papel e uma caneta a ele. – E escreve as outras duas. Kakashi escreve: “Why don’t you take off your eyes over there and look at me? What are you telling about? It doesn’t make sense.” - Isso não parece muito bom. São frases soltas completamente sem noção... diz ele encarando o papel. - Calma. De alguma forma elas vão se encaixar. – fala Takari serenamente. - Como se fosse fácil... – reclama ele novamente. - Por que você ainda não compreendeu? – pergunta Takari fazendo uma carranca. - Eu não tenho o dom das palavras! Não adianta... Você acha que é fácil falar essas frases? – ele parecia frustrado. - Você ainda não entendeu o verdadeiro segredo de compor... - Você é uma louca! - Eu sei disso. Não precisa ficar me lembrando toda hora. – diz Takari indiferente. – Você acha que você não consegue? Que você tem problemas demais... Que você não é capaz... Que se você não fizer essa música vai se sentir um completo fracassado por não conseguir fazer o que sempre sonhou. Você se sente desapontado por ter que concordar com os outros que isso não é seu destino! Kakashi olha perplexo para a garota. Uma expressão de raiva consome seus olhos negros. - Quem é você pra falar assim comigo? - Eu não sou ninguém. – fala Takari agora olhando profundamente nos olhos de ônix do garoto. Kakashi podia senti-la invadir sua alma com aqueles olhos vidrados. Ele podia ver que ela estava o lendo por completo. - Por que você tem essa certeza que pode me compreender? - Eu não tenho. Apenas te observo. – ela fez uma pausa e sussurrou – Na distância. - Eu realmente não sei o que estou fazendo aqui... Por que você não me ajuda de uma vez por todas? – pergunta Kakashi inconformado com a passividade de Takari. - Eu te mostrei o caminho. - Não é o suficiente! – reclama ele fazendo cara feia. - Compor essa música não é a coisa que você mais deseja no momento? – pergunta ela quase que inaudivelmente. - Sim. – responde ele encarando os pés. - Então. Busque pelas palavras. Escute o som do seu coração. – fala ela quase que num suspiro. - Mas... - Faça isso. Amanha nos veremos de novo. - Quem pode me garantir que você virá? – pergunta ele. - Eu não estive aqui hoje? Apenas confie que você pode ouvir as palavras certas. Acredite em seu coração. – diz ela friamente. Aquelas palavras não combinavam com Takari. Ela falando assim a fazia parecer artificial demais, teórica demais no assunto de “coração”. Takari se levanta do banco e sai caminhando em direção à saída da escola. - Adeus! – grita Kakashi vendo ela se perder na distância. “Ela é uma louca! O que estou fazendo... Eu devo estar desesperado demais pra acreditar nessa garota!” pensa ele franzindo a testa. E então ele vai embora para sua casa.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!