– Bella meu amor, me desculpe estar ligando esse horário filha, mas eu fiquei com saudade. Como foi seu dia? - me arrumei na cama enquanto falava com a minha mãe no telefone. Tranquei meu diário e coloquei na primeira gaveta do meu criado.

–Está tudo bem mãe e com a senhora? Vai voltar mesmo na segunda?

– Filha, é complicado. Mas Angelina precisa ficar um tempo longe de casa, acho que ela está passando por uma separação, mas isso não vem ao caso. Você sabe o que seu pai tem? Acabei de desligar com ele e Bella, ele está estranho.

– Nossa mãe, isso é péssimo, será que Alice sabe? Coitadinha. E não eu não sei o que meu pai tem, ele não te contou nada? - será que papai teria contado sobre Anthony?

– Não, ele desligou rápido. -escutei ela suspirando. - Ele disse que estava cansado e que não era pra eu ficar preocupada e você sabe que..

– Que a senhora é neurótica? Eu sei mãe. - gargalhei.

– Neurótica, Bella? Neurótica é você sua pirralha. E me conte, estava fazendo o que aí?

Podia imaginar ela deitada em uma grande cama típica de um bom spa, com seu chá de hortelã e laranja. Seu rosto cheio de cremes e seus olhos tampados com pepino, tão típico dela.

– Estava analisando algumas faculdades aqui, já tem duas horas que eu estou aqui. -suspirei. - Duas horas e dezoito minutos para ser exata. Sabe mãe, eu não quero sair de Nova Iorque, nunca quis, ainda mais agora que.. deixa quieto. Eu não quero falar sobre isso. - deitei a cabeça no travesseiro frustada.

– Bella meu amor, eu sei o que você está passando, você nunca quis sair de Nova Iorque, mas sonha em estudar em Oxford, estou certa? Querida temos a NYU aqui também, você já pensou nesta opção? - escutei a televisão alta do outro lado da linha.

– Mãe, não vamos falar sobre isso, eu tenho meus motivos agora, quando a senhora chegar conversamos pode ser? - estava começando a ficar irritada.

– Aí meu Deus, você está apaixonada é isso? Arrumou um namorado? - ela gritava empolgada do outro lado da linha.

– Não é nada disso…

– Bella posso entrar? - Meu garotinho estava parado na porta com uma carinha assustada. - Assenti, batendo minha mão ao lado esquerdo da cama para ele se sentar.

– JESUS ISABELLA, EU ESTOU INTERROMPENDO UMA NOITADA DE SEXO É ISSO? TEM UM HOMEM AÍ COM VOCÊ?

–Mãe eu preciso de desligar, um beijo, eu amo você. - desliguei o telefone e coloquei no criado.

– Estou te atrapalhando? - Anthony perguntou. Vi ele enxugando uma lágrima do seu pequeno olho esquerdo.

– Claro que não, você nunca me atrapalha. - beijei seus cabelos e o puxei pra mim o acolhendo em meus braços.

– Eu tive um pesadelo. - ele me olhou assustado.

– Quer falar sobre isso? As vezes ajuda. - sorri tentando o encorajar.

– Não sei como isso me assusta ainda, muitas vezes eu sonho com isso. - ele suspirou e coçou sua cabeça. - Sebastian vai embora e me deixa sozinho no orfanato e por lá eu fico sozinho, sem amigos, sem comida, sozinho, sozinho e sozinho. - seus olhos escorriam lágrimas descontroladamente.

– Você não está sozinho, eu estou com você agora. - puxei seu rostinho, fazendo-o olhar em meus olhos.

– Sim, por hoje sim, mas amanhã não. - ele sorriu triste.

E ele tinha razão, amanhã se ele sentisse sozinho aonde ele iria se aconchegar? Se ele machucasse o joelho quem iria cuidar? Se ele brigasse na escola quem iria…? Ele ia na escola? Teria que perguntar a ele mais tarde. Essa é a questão, eu não sabia nada sobre ele, quem era aquele menino que eu estava me apegando tanto? De onde ele veio? Qual seria sua cor favorita? Seu desenho favorito? Quantos quilos ele pesava? Quanto ele media? Qual a sua cor favorita? Coisas tão simples que eu não sabia a resposta.

– Claro que eu estarei, você vai poder me ligar sempre que quiser e eu prometo que vou te visitar. Você nunca vai estar sozinho, aposto que Sebastian vai te visitar também. - sorri tentando anima-lo. Limpei sua lágrimas e o deitei no travesseiro ao meu lado.

– Eu preciso voltar pra cama. - ele tentou se levantar e eu o segurei.

– Você já está na cama, não precisa ir pro seu quarto. Se você não roncar, pode dormir aqui comigo. -sorri. - Pensando bem, se você roncar, acho que pode dormir aqui também, contando que não me deixe sozinha.

– Você tem medo de dormir sozinha? -ele tentou me fazer cosquinhas. - Uma menina desse tamanho? Quantos anos você tem? - ele pegou uma mecha do meu cabelo e cheirou como havia feito mais cedo me fazendo sorrir com o gesto.

– Eu tenho 18, vou fazer 19 em setembro, dia 13. E sim eu tenho medo de dormir sozinha. - confessei.

– Então eu durmo com você, mas não vai se acostumar. - ele virou de costas pra mim deixando escapar um sorriso reluzente.

– Vou tentar não me acostumar. - o abracei e o puxei para mais perto de mim, nos cobrindo e dormindo logo depois, deixando para trás todos os meus medos e inseguranças, tendo pela primeira vez em oito anos… um sono tranquilo e perfeito.

Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, triiiiiiiiiiiiiiim, triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim. Quem foi o idiota que criou o despertador, parabéns Bella, parabéns, acorde o Anthony mesmo, levanta e desliga isso logo menina. Bella, abra os olhos. Larga de ser preguiçosa não da pra fingir que você não esta escutando o despertador. O Anthony vai acordar e..

– Anthony? - levantei assustada da cama e desliguei o despertador irritante do meu celular. Olhei o menino anjo deitado ao meu lado, sua respiração calma me acalmava também. Beijei sua testa e me levantei a tempo de fechar as grossas cortinas que tampavam a luz que entrava da janela.

Entrei no banheiro e liguei a banheira e deixei enchendo, escovei os dentes e prendi os cabelos em um coque. Abri a cortina da janela que ficava ao lado esquerdo da banheira e dava para o jardim da frente. José o jardineiro estava podando as rosas e Joe o motorista estava ilustrando o carro preto do papai.

Escolhi uma roupa simples e confortável que só faltava estar escrito: feita para ficar em casa. Coloquei na cadeira dentro do closet e tomei meu banho, fiz uma maquiagem leve, apenas batom rosa, rímel preto e um pouco de blush. Quando terminei Anthony ainda estava dormindo tranquilamente. Sentei ao seu lado e acariciei seus cabelos. Dei três beijinhos na sua testa e sai para lhe preparar um bom café da manhã.

A casa estava silenciosa como sempre, o corredor que levava até as escadas estava incrivelmente cheiroso, o bege das paredes estavam quase todos escondidos por grandes quadros de grandes pintores cuja minha mãe era fascinada. O lustre com vários coelinhos pendurados estava totalmente engraçado. Chegava a ser ridículo. Passei pela porta do quarto dos meus pais e pude escutar o barulho do chuveiro ligado, papai já havia acordado.

– Não acredito. Judity, o que você está fazendo? Estou me sentindo em um galinheiro. Pode me explicar o porque desses ovos espelhados na escada?

Uma grande quantidade de ovos coloridos estavam cobrindo as laterais da escada. Primeiro os coelhos pendurados nos lustres, agora esses ovos. Meu Deus, tinha até um ninho entre a escada e a mesa do telefone.

– Fala que não é uma gracinha, senhorita Bella? Eu que fui comprar com a sua mãe, ela queria a casa bem decorada. - ela levantou um coelhinho branco de pelúcia.

– Tudo bem Judy, eu acho fofo, mas você tem que concordar que está extremamente exagerado. Sei que a minha mãe é viciada em chocolates e que nada do mundo a faria esquecer da páscoa, mas vamos combinar que isso está demais. Se eu me assustei imagina Anthony. Vocês poderiam começar a decorar a casa na segunda, né?

– O combinado era que eu começasse arrumar na terça, mas seu pai achou as caixas na garagem dos fundos e me ordenou a começar a decorar hoje cedo. Não me pergunte o porque. - ela disse triste.

– Entedi Judy, não fique triste eu não estou brava, só achei exagerado, mas me diga uma coisa que não é exagerado nessa casa? - sorri. - Você viu Dorota? - segui para a cozinha.

– Ela saiu hoje cedo, foi fazer compras e depois eu não a vi mais? Posso te ajudar? - ela sorriu docemente.

– Está tudo bem Judy, pode continuar sua decoração, apesar do exagero da minha mãe, o seu trabalho esta ficando ótimo.

E realmente estava, mas quem decora a casa na páscoa? Ninguém! Minha mãe e suas loucuras. Quem merece?

Entrei na cozinha e Carlos estava terminando de colocar uma grande porção de bacon no prato. Senti o cheiro de bolo no forno e minha boca se encheu de água. Abri a porta que dava para o pequeno jardim fechado e sorri com a brisa que me atingiu.

– Bom dia Carlos, o que temos para o café de hoje? - me sentei no banquinho da ilha e peguei um pouco da salada de fruta que já estava posta na mesa.

– Bom dia senhorita Bella, caiu da cama? - ele sorriu.

– Acho que sim, acordei com muita vontade de fazer uma bela bandeja para levar para o meu menino. - sorri ao falar de Anthony. - Na verdade eu esqueci de desligar o despertador, mas eu ainda continuo com a vontade de preparar a bandeja.

– Meu menino eim? - ele me olhou engraçado. - Então ele ganhou um bom espaço no seu coração? - Carlos tirou as luvas e lavou as mãos.

– Acho que sim. E mudando de assunto, a salada de frutas está ótima. - Coloquei mais uma colher na boca.

– O que você acha ruim? - ele arregalou os olhos. - Tirando, manjericão, pimentões, abóbora, cebola, beterraba, salpicão, caviar, peixe frito e com espinho, eu nunca me esqueço dos espinhos, que papo é esse, é melhor eu me sentir elogiado, a sua lista é grande se considere uma pessoa enjoada, você não gosta de nada. - ele saiu da cozinha mas antes bagunçou meus cabelos. - E Bella, antes que você pergunte, a bandeja está na porta ao lado do microondas.

Engraçadinho como ele sabia que eu ia perguntar isso? Terminei de comer minha salada frutas e peguei um pouco de leite e coloquei na minha xícara da Minnie favorita, acrescentei um pouco de baunilha. Liguei para Alice, mas seu celular só dava na caixa postal.

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– Oi Bella. - Anthony se sentou na cama assim que eu fechei a porta. Ainda estava segurando a grande bandeja branca. A coloquei na mesa de centro que tinha na frente da lareira e fui até a cama me sentando na beirada.

– Bom dia meu Pequeno Príncipe. - ele sorriu assim que o apelido saiu de meus lábios. - Dormiu bem? - ele chegou mais perto de mim sem se descobrir.

– Como nunca dormir antes. Teria dormido melhor se não tivesse escutado uns roncos da pessoa que tava dormindo ao meu lado. - ele gargalhou.

– Heyyyy, eu não ronco. - Fiz cosquinha nele.

– Eu….. eu….. eu ta…va..brincan..doo. - ele tentou dizer.

– Ah, então nesse caso eu paro. Ande, tire essa bundinha da cama e vá escovar os dentes, deixei sua escova na primeira gaveta. A verde. - me levantei e fui abrir as cortinas e a janela. Quando voltei pra cama ele ainda estava lá sentado da mesma forma.

– Antes de escovar os dentes eu preciso fazer uma coisinha. - ele me olhou e depois pulou no meu colo. Sorri com aquele gesto fofo que eu tanto sonhava em fazer. Ele me abraçou  e mais uma vez cheirou meus cabelos. Quando ele pulou do meu colo eu o segurei mais firme em meus braços.

– Que foi? - ele perguntou assustado.

– Nada, eu ainda não terminei de te abraçar. - o abracei mais apertado e distribui beijinhos por todo o seu rosto o fazendo rir. Me levantei com ele no meu colo e fui com ele ao banheiro o ajudando a escovar os dentes.

Quando seus dentes estavam limpos o deixei sozinho para que ele terminasse de fazer sua higiene matinal. Verifiquei meu celular, e respondi uma sms de Alice que tinha chegado á quarenta minutos.

"Querida B, me desculpe por não te atender, fui na academia hoje cedo e esqueci meu celular no carro. Como começou a manhã? Com o pé esquerdo e com aquele humor gostoso de sempre? Me ligue assim que estiver disponível. Xoxo, lov u. Ali."

"Querida A, sem problemas, eu só queria bater papo. Sobre a minha manhã? Nunca na minha vida tive uma assim, começou com o pé direito. Estou extremamente feliz. E eu entendi a sua ironia, eu não tenho um péssimo humor logo cedo, você que é muito irritante. No final da tarde te ligo. Xoxo, Lov u. B."

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