Depois de uma noite praticamente em claro, Suych se levantou e foi dizendo para Kay:

_Cara, quanto tempo falta para chegarmos em Imperor? Não sei direito a distancia. Não sou bom com geografia.

_Pelo que estava escrito no casco do barco ele vai para Portial, no sul do Imperor. Do Ocean House ate lá são quase dois meses.

_Nossa! É longe, hein?! O que a gente pode fazer pra se divertir durante esse tempo nesse barco patético?

_Bem, eu vou treinar. E você faça o que quiser. Só não faça barulho. Hm... melhor, não faça nada.

_Wow! Perfeito! Lutinha com o Kay! Vou treinar com você!

_Não é "lutinha" porque eu vou usar armas e golpes reais. Se você realmente quiser...

Mal Kay terminou de falar e Suych jogou uma foice em sua direção que foi rapidamente desviada pela espada de Kay.

_Então é isso que você faz? Ataca quando o inimigo está distraído? Bom saber.

_Eu ataco quando vejo a chance de ter um ataque bem sucedido!

_Ok. Algo me diz que você vai ser um oponente bem diferente do que eu imaginava...

E dizendo isso, avançou na direção de Suych com a espada em posição de ataque e os dois entraram em combate físico até que Kay pegou a foice de Suych e a encostou na garganta do rapaz, mas, ao mesmo tempo, Suych havia tomado a espada negra de Kay e apontava para o coração do garoto do fogo. Por um momento, Kay pensou que Suych poderia matá-lo, se quisesse.

E vice-versa.

Mas Suych o soltou e caiu na gargalhada!

_Muito bom cara, agente tem que fazer isso mais vezes, é muito divertido! Haha!

Kay também o soltou, mas continuou com a cara fechada e disse:

_Nunca imaginei que meu nível estivesse tão baixo a ponto de empatar com esse ser desprezível...

_Desprezível é você, seu goticozinho metido a machão! Eu sou brincalhão mas sei lutar ta?

_Hm...

_Mas você tem que admitir que foi divertido, Kay!

_É... Pode ser.

E assim se passaram a maioria dos dias dos dois no porão daquele navio, sempre treinando e cuidando para que não fossem ouvidos pelos tripulantes.

E por mais difícil que fosse, vez ou outra Suych conseguia arrancar um sorrizinho de Kay. No fim das contas, eles estavam se tornado amigos, mesmo que Kay nunca admitisse isso.

Numa manhã, Suych pulou na frente da pequena janela do barco e gritou para Kay, quase fazendo com que toda população do navio ouvisse:

_Cara! Estou vendo a Terra! Chegamos!

Kay correu na direção do garoto da água e deu um tapa na nuca dele dizendo:

_Você quer mesmo que eles matem a gene né? Cale a boca!

_Foi mal! Mas olha aí! Será que já é Imperor?

_Pelos grandes piers de pedra, deve ser sim.

_Legal! Chegamos quase uma semana antes do que você disse, seu marinheiro de meia tigela! Hehehehe!

_Eu nunca viajei pra cá, só tomei base nos mapas que li - disse Kay, que já estava um pouco mais falante com Suych.

_Agora, senhor "nerd dos mapas", como a gente desce do barco sem que eles percebam? Já que eles vão descarregar o barco, tipo, agora!!!

_Hm... - pensava Kay enquanto olhava para uns grandes caixotes de madeira - Entra nessa caixa!

_O que?! Como assim, cara? Eu não vou entrar...

Mal terminou a frase e já estava sendo empurrado caixote a dentro.

_Fica quieto aí dentro, Suych! - disse Kay que entrava em outro caixote.

_Kay, - sussurrou Suych - você me colocou num caixote de tomates! Eu estou todo sujo!

_Fica quieto! Quando a gente descer você se limpa.

Kay estava em um caixote com roupas típicas do Imperor. Logo vestiu uma calça marrom, camiseta bege e um colete de couro cru. Suas outras roupas foram parar em sua mochila. Em seguida disse para Suych:

_Rápido! Pega essas roupas e veste! - e jogou uma calça marfim também de couro cru e uma espécie de robe no caixote de tomates de Suych, que cuidou para que as roupas não se sujassem - Veste isso pra se misturar com o povo de Imperor.

_Ok - exclamou Suych.

Assim, os portões de carga do navio foram abertos e os marujos entraram e foram colocando os caixotes em rampas de pedra que deslizavam até a entrada do mercado da cidade de Portial.

Quando pegaram o caixote em que Kay estava se assustaram com o peso das "roupas" mas jogaram a caixa na rampa sem dar muita importância ao fato. O garoto foi sacolejando até chegar na entrada do mercado, onde rapidamente saiu do caixote e procurou se misturar com o pessoal do mercado enquanto esperava Suych. No barco, Suych não conseguiu segurar e emitiu sons de incomodo e desconforto dentro do caixote. Os homens ouviram e o maior deles disse:

_Eu ouvi um barulho nesse caixote!

_Deve ser um rato! É comum virem ratos nos caixotes de comida. Manda pra baixo!

_Mas não parecia um rato... - resmungava o homem.

O garoto desceu, e mesmo meio tonto conseguiu encontrar Kay no meio das outras pessoas, já que a maior parte da população de Imperor tinha os cabelos extremamente lisos, diferentes de Kay, que tinha seus cabelos bagunçados, levemente arrepiados. Suych foi quase cambaleando na direção do rapaz e disse:

_Kay, você tem que dar um jeito de deixar seu cabelo lambido, porque eles podem te reconhecer!

_Como eu faço isso?

_Pera aí - disse Suych tirando alguma coisa da mochila - Isso aqui é gordura de baleia. Vai deixar seu cabelo perfeitamente lambido.

Kay imediatamente foi passando a pasta transparente nos cabelos e Suych fez o mesmo.

_Como estou? Fico lindo de qualquer jeito, né? - Disse Suych fazendo caras e bocas.

_Serve - exclamou Kay.

_Você também ficou muito massa com esse cabelinho lambido!