Os dois jovens foram se encaminhando para fora do mercado, até a saída da cidade.

_Kay, pra que lado fica esse deserto onde está o cara que você tanto procura?

_No centro-leste do país.

_Hm... Longe daqui, né? Pelo o que eu tô sabendo, nós estamos no sul.

_Sim. Há, mais ou menos, uns 700 km... Não tem como ir à pé.

_Ué, eu tenho um pouco de dinheiro. Se a gente juntar pode até dar um cavalo - sugeriu Suych, todo animado.

_Nem se fosse alugado! - exclama o garoto do fogo, despedaçando as expectativas do outro - Nosso dinheiro mal dá pra comprar os suprimentos para essa viagem pelo deserto.

_Então o que a gente faz?!

Kay nem se deu ao trabalho de responder. Em vez disso, seguiu em direção a uma pequena construção bem velha, a primeira vista abandonada, e foi prontamente seguido por Suych.

_Que lugar é esse, Kay?

_É uma loja onde vamos comprar suprimento. Olha a placa aí!

_Ah, é! Nem tinha notado - Suych ri, coçando a parte de trás da sua cabeça.

Eles entram e Kay pede a uma velha gorda que fica no balcão, que lhe traga grãos, pães, carne seca, algumas folhas e principalmente água! O garoto do fogo compra dois galões com vinte litros cada! Em seguida, entrega os dois sacos de moedas para a mulher e divide o peso das compras com Suych: cada um levava um galão d'água e a metade dos sacos de comida.

_Agora você gastou todo nosso dinheiro com água! E que água cara, hein?! Parece suja! Agora... Como arranjamos transporte?

_Água é o bem mais precioso pra quem vem para Imperor. Não se compra agua limpa com facilidade por aqui. E quanto ao transporte, eu sei o que fazer.

Dizendo isto, Kay seguiu pela pequena estrada que havia nas proximidades da loja em direção à uma chácara cercada perto dali. No lugar havia cavalos e mantas, um grande animal que os garotos só haviam visto nos livros. Eram maiores que um elefante, de força inigualável e muito dóceis, mas sua velocidade deixava a desejar. Elas tinham pequenas trombas, orelhas mínimas e olhos tão pequenos que mesmo com o "piloto" guiando-as, elas mal se moviam. As mantas eram utilizadas para carregar pessoas e cargas numa cesta que ficava presa nas suas costas. Elas também eram o animal mais caro daquela chácara, afinal, a manta é um dos 4 animais lendários de Terrian! O animal do elemento terra, símbolo de Imperor. Animal que foi criado inicialmente pelo lendário manipulador da terra

Suych ficou impressionado com as mantas e Kay sussurrou seu plano nos ouvidos do companheiro, que concordou com tudo.

_É o seguinte: eu vou conversar com o dono da chácara a respeito da compra de um cavalo. Vou enrolar o cara longe do cercado das mantas, aí você vai rápido lá, abre uma porteira, tira uma só manta e corre para longe daqui! Longe mesmo! E não esquece da comida e da água!

E assim fizeram. Enquanto Kay conversava com um homem alto e magro dentro de uma salinha fechada, Suych cavalgava um dos grandes animais marrons com seus suprimentos e foi na direção de umas colinas, distantes cerca de 2 km dali.

E depois de muita conversa fiada, Kay "desistiu de comprar o cavalo" e foi embora para o local pré-combinado com Suych. O dono da chácara nem deu falta de uma das suas melhores mantas.

_Hahaha! Para um caladão desses, até que você conseguiu arranjar muito assunto com o cara!

_Quando eu quero, eu falo muito - respondeu Kay com um cara de desprezo.

Ambos se ajeitaram confortavelmente na cesta nas costas do grande animal e foram por uma pequena estrada indicada por Kay. Logo abandonaram a paisagem litorânea e entraram numa espécie de savana com plantas baixas, muitas gramíneas e árvores retorcidas um tanto secas.

Kay não reparou muito de inicio, mas Suych já estava sentindo os efeitos do calor e do tempo seco, sempre suado, muito ofegante e bebendo muita água. Ele tentava disfarçar para manter a pose de "machão", contudo, Kay percebeu logo.

_Você está acostumado com o frio, não é? Este calorão está te torturando. E se você continuar bebendo água desse jeito, nós vamos morrer de sede quando chegarmos ao deserto.

_Que isso, Kay! Eu tô de boa! Sou forte - Suych teimava enquanto litros de suor escorriam por sua testa.

_Tira esse casaco! senão você vai ficar cozido aí dentro!

_Ok. Eu só não gosto desse clima seco. Pouca umidade e muito calor... Parece que minha força diminui bastante nesse clima!

_Acho que a minha aumenta. Nós somos de lugares diferentes, não podemos negar. Mas tem um jeito de você pelo menos se fortalecer nesse tipo de clima.

_Como? - perguntou, ofegante, o garoto.

_É só você treinar mais nesse clima que no seu! Aí quando você chegar no seu clima, vai estar mais forte! Eu faço isso.

_Ok. Vamos lutar - disse Suych levantando-se e atirando uma bola de vapor na direção de Kay.

_Olha só! Até que você é esperto. Sabe usar as vantagens do clima mesmo que elas sejam poucas pra você.

E começaram seu combates de sempre, mas como não estavam no navio, podiam rir, falar alto e, o melhor, podiam usar o máximo de seus poderes! Pela primeira vez em anos, Kay se divertiu de verdade.

E todos os dias, as sessões de treinamentos se repetiam, Suych ia se adaptando cada vez mais ao clima e eles iam passando por paisagens cada vez mais secas e inférteis até chegarem a um local onde só haviam alguns cactos venenosos aqui ou ali.

_Chegamos ao Deserto Central!

_Hahaha! Quer virar locutor, Kay? Eu sei que a gente chegou!

E lá eles andaram por vários dias guiados apenas pelo sol e pelas estrelas. Até que Suych resolveu perguntar:

_Kay, seu mapas acabam onde?

_A alguns metros de um oásis escondido! A partir de lá, teremos que pedir informações.

_Ah tá. Isso é de boa... - Antes de terminar a frase, Suych avistou algo entre as dunas - O que é aquilo, Kay?

_acho que é uma pessoa. Parece que esta desacordada. Deixa, vamos embora.

_Não ta louco?! Temos que ajudá-la! É uma menina! - Suych disse isso correndo na direção dela e levando um cantil.

Chegando onde estava o corpo, Suych deu um pulo para o lado da garota e quase derramou todo o conteúdo do cantil no rosto dela.

Enquanto ela acordava, Kay se aproximava e Suych disse:

_Olha, cara... Como ela é linda!

_Aaaaaaaaaaaah! Me solta! - gritou a garota ao acordar e se deparar com o garoto de cabelos brancos na sua frente.