Sombras escrita por Angel Bell


Capítulo 5
Capítulo 5




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Minha determinação de enfrentar Edward Cullen ia se esvaindo a cada segundo que passava. Uma grande parte de mim queria fugir e adiar aquele encontro inevitável, mas a outra pequena parte – a mais sensata – sabia que não existia motivos para temer. Edward não seria a primeira e nem a última pessoa a me destratar por causa de minha deficiência. Talvez eu nem precisasse falar com ele. Ignorá-lo me parecia o correto a fazer.
O almoço logo acabou e era hora da aula de Biologia. Depois de uma quase queda no refeitório e uma outra rodada de reclamações de Sombra, consegui seguir meu caminho para a sala de aula.
Reunindo toda a confiança que tinha, entrei na sala e caminhei calmamente para a mesa. No fundo dos meus pensamentos, sabia que devia parte do sucesso a Sombra – que ficou me empurrando para que não desistisse na metade do caminho.
Hoje nós estávamos fazendo laboratório com células da raiz de cebola, então ele teria que me descrever verbalmente.
Alguns minutos de silêncio se passaram até que Edward falou, derretendo a fraca confiança que eu consegui reunira:
– Olá, eu não tive a chance de me apresentar corretamente na semana passada. Eu sou Edward Cullen. – Edward falou com articulação perfeita, com a voz plenamente formal.
Senti minhas bochechas corarem e as amaldiçoei internamente.
– Oi – respondi, sentindo o calor ficar mais intenso no meu rosto.
Sombra meio que latiu para mim, mordendo levemente a minha mão. A conhecia muito bem para saber que estava rindo.
– Cala a boca e fica quietinha aí – murmurei, mais envergonhada ainda.
– Você disse algo? – Edward perguntou e pela voz parecia estar se divertindo.
Respondi com um curto e grosso "Não".
Em seguida, senti Edward enrijecer. Garoto estranho.
Em sua formalidade perfeita, Edward descreveu as células da raiz de cebola que estavam mais simples para mim. Lembrava vagamente de fazer algo semelhante, quando tinha quatorze anos. Ele ainda estava um pouco tenso e era muito cuidadoso em não me tocar; fez a maior parte do trabalho – que não era fácil – e, surpreendentemente, terminou cedo.
Tentei não prestar atenção nele, mas estava estranhamente atraída por dentro, como uma mariposa curiosa. Edward bufou de frustração. Depois de alguns momentos o Sr. Banner se aproximou de nós.
– Edward, você deixou Bella participar tanto quanto possível? – perguntou ele.
– Ele descreveu para mim as mais fáceis e eu fiz do meu jeito depois. – respondi e sorri em sua direção. Não seria inferior nessa cidade.
– Bom, muito bom. – ele disse e o ouvi se afastar para outra mesa a minha direita.
– Você não gosta da neve. – Edward disse em tom de conversa depois de um tempo de silêncio.
– Não. – disse simplesmente, afagando a cabeça de Sombra.
– Ou o frio. – acrescentou. Balancei a cabeça ligeiramente. – Forks deve ser um lugar difícil para você viver. – observou.
Sorri, Edward não fazia ideia.
– Por que você se mudou para cá, então? – a curiosidade que estava em seu tom de voz era genuína.
O garoto sentado ao meu lado era um mistério e eu imaginava a beleza que devia ser o cabelo cor de bronze que Jessica havia falado. Mas depois constatei com tristeza que não me lembrava da cor de bronze. Entrei em pânico.
Resolvi tomar algumas respirações fundas e responder a sua pergunta antes que eu tivesse um ataque cardíaco. Isso seria tão irônico...
– É uma longa história – disse.
– Eu tenho tempo.– Edward persistiu com um humor negro evidente em sua voz que eu não entendia. E para me distrair do pânico em que me encontrava, expliquei brevemente a situação com Phil e Renée a ele.
– Então ela que lhe mandou para Forks? – Edward questionou com a voz suave.
Levantei meu queixo um pouco.
– Eu mesma que decidi vir para cá – disse-lhe com firmeza.
– Eu não entendo – Edward parecia exageradamente irritado com isso.
– O que isso te interessa ? – resmunguei, irritada.
– Isso eu mesmo me pergunto – ele disse baixinho, e tinha a sensação de que não era para eu ouvir – Estou sendo chato para você? – Edward perguntou com diversão oculta.
– Não. Eu estou mais irritada comigo mesma, na verdade. Sou muito fácil de ler. – fiz beicinho.
– Pelo contrário, eu acho você muito difícil de ler. E acredite em mim, sou um excelente leitor. – ele disse, soando estranhamente presunçoso.
A aula terminou e com essa mesma brisa inquietante, Edward Cullen se foi.
O resto do dia passou rapidamente também.

Quando Charlie chegou para me buscar resmunguei apenas um "Oi" nada simpático para ele. Sabia que ele não tinha culpa pelo meu desespero pessoal. Afinal, qual pai no mundo tem que enfrentar o pânico da filha que não se lembra de uma cor? Infelizmente ele. Assim que sai do carro – com uma bela de uma empurrada na bunda que Sombra me deu – Charlie me parou em frente a porta.
– Bells, gostaria que você conhecesse alguém – Charlie murmurou e quase pude sentir a hesitação em sua voz.
– Certo, pai, quem? – perguntei, com ares de expectativa.
Sombra fungou e pude ouvir a porta sendo aberta e Charlie bufar, meio divertido ao meu lado.
– Olá, Bella! Eu sou Seth Clearwater, vamos ser grandes amigos!
O tom estranhamente animado na voz de Seth me fez sentir que talvez isso não acabaria nada bem. Mas, ultimamente, a falta que um amigo me fazia era tão grande que ignorei o aviso.
– Oi – murmurei – Acho que você já sabe meu nome.
Seth riu.
– É, acho que eu sei bastante coisas sobre você, Isabella Swan.
Eu ri também e então senti Seth pegar a minha mão e me puxar para dentro da minha casa com uma rapidez impressionante. Ouvi outra voz, jovial e feminina, irritada, repreendendo Seth por ele ser maluco e estranho. Ri mais ainda. Não me lembrava de rir tanto desde o acidente.
– Olá, Isabella, eu sou Leah, irmã deste estranho ser que acha que está na casa dele.
Senti alguém me abraçando e acho que foi Leah.
– Ei, solte ela, Bella é minha – brincou Seth.
– Desde quando uma garota é sua, seu idiota? – Leah zombou – Você ainda faz xixi na cama quando troveja!
Resolvi entrar na brincadeira desses estranhos – estranhos que estavam me fazendo rir depois de anos.
– Hã, sério? Pensei que você fosse um homem!
Leah e eu gargalhamos enquanto Seth resmungava sobre mulheres e seus planos malignos. Vagamente, em meio as brincadeiras, ouvi outra voz feminina dizer:
– Viu, Charlie? Acho que nossos filhos vão ficar bem e serão grandes amigos.
Naquele momento, eu não duvidava disso.
***
Depois de passar horas brincando e conhecendo meus novos amigos de La Push, Leah e Seth, finalmente entendi o porquê desse encontro.
Sue, a mãe dos meus novos amigos, segundo Leah, estava "conhecendo os atributos do Chefe Swan" depois que o marido, Harry, morreu. Leah também me disse que era bom esses encontros de nossos pais, afinal eles estavam bem e livres.
Eu era totalmente a favor da relação.
Charlie havia ficado muito tempo sozinho depois de ser abandonado pela esposa quando a única filha nasceu. E agora que tinha a companhia da filha, possuía mais um fardo a carregar: a cegueira.
Sue era a mulher que eu aprovaria, se precisasse, para tirar meu pai da solidão. Ela era uma mulher doce, mãe responsável de dois malucos e um equilíbrio para a vida de meu pai chefe de polícia. Os filhos dela eram outra história.
Em poucas horas, Seth e Leah viraram meus únicos amigos e confidentes.
Não sabia de onde esta confiança repentina vinha, mas sentia que mesmo quando estava no escuro podia me abrir a eles. Eles não eram normais, e pelo que me contaram, também não eram aceitos depois da morte do pai.
O sofrimento deles era diferente do meu, mas compreensível. Os dois sentiram a dor de perder alguém que amavam enquanto eu senti a dor de perder a minha luz. Nós éramos sobreviventes e não me sentia mais só.
Essa foi a grande diferença para eu poder contar a eles parte da minha história. E quando contei sobre Edward Cullen para Leah, ela não riu. Ela simplesmente gargalhou como se eu tivesse contado a piada do século.
– Leah! – exclamei. Minhas bochechas estavam quente.
– Eu... – ela engasgou – Não... Acredito! – e voltou a gargalhar.
Depois de quinze minutos esperando, Leah finalmente parou de rir.
– Acabou de se divertir às minhas custas? – perguntei carrancuda.
– Ah, Bella, não fique assim – Leah tossiu – Se bem que eu sei o motivo, não é?
– Motivo? Seth, você sabe o que é? – perguntei confusa.
Seth ficou nervoso na hora e murmurou um "Não sei de nada" para mim. Leah aparentemente ficou irritada com a burrice do irmão – e a minha – e disse que tudo (esse tudo dela era Edward e eu) não passava de tesão reprimido e que eu precisava de sexo.
Se pudesse, naquele exato momento viraria um tomate humano de tão vermelha que estava.
Depois que todo o constrangimento foi embora – eu sinceramente acreditava que nunca voltaria a cor normal –, Leah, Seth e Sue tiveram que ir embora. Me despedi de Sue com um simples abraço. Leah me abraçou apertado e disse um simples "Você não está só". Essa pequena frase me emocionou, pois sempre acreditei estar só na minha escuridão.
E quando fui me despedir de Seth, ele pegou a minha mão e colocou em seu peito musculoso, onde podia sentir seu coração batendo, e sussurrou:
– Quando precisar de um amigo, estarei sempre aqui – então se foi.
Enquanto dormia com Sombra na cama grande e fofa do meu quarto, pensei nas palavras de Seth e Leah.
Será que agora eu possuía amigos de verdade?
***
De manhã, indisposição era a palavra chave. Meu coração martelava de tal maneira que parecia querer saltar para fora de meu peito. Essa era uma sensação conhecida, que avisava que hoje algo daria errado. Minha vontade era voltar para cama e dormir o dia inteiro, mas me obriguei a levantar e vestir um simples casaco grande e uma calça jeans.
O café da manhã em silêncio havia virado um hábito entre Charlie e eu. Era bom que fossemos parecidos nesse aspecto. Quando não estávamos a fim de conversar, simplesmente não falávamos e nos envolvíamos em uma bolha de silêncio confortável.
De certa forma, era bom morar com Charlie.
Depois de um passeio também silencioso para a escola, pensei no que podia ser aquela raiva e tensão de Edward na aula. Será que ele era como os outros alunos da minha antiga escola? Será que Edward era como Noah? Talvez ele fosse e isso seria motivo suficiente para me manter afastada dele, mas isso não impedia meu coração de se apertar com desgosto quando pensava nisso. Pensava que em Forks as coisas seriam diferentes.
Tratei de espantar esses pensamentos de minha mente e me obriguei a manter a concentração na tarefa que estava executando. Se caminhar no gelo sem escorregar era difícil para a maioria das pessoas normais, para mim essa tarefa era mil vezes mais complicada.
Caminhava pelo estacionamento, tendo todo o cuidado para não escorregar no gelo. Mas eu deveria saber que, mesmo com todo o cuidado possível, minha falta de coordenação nos membros inferiores sempre falaria mais alto e tombos eram inevitáveis – como o que levei.
Mas minhas falta de azar não parou no tombo.
Tudo aconteceu tão rápido que meus sentidos demoraram para entender o que estava acontecendo. Houve um redemoinho de pneus cantando e vários gritos assustados. No meio da escuridão, mãos frias me empurraram e minha cabeça foi com força contra o asfalto gelado.
Uma conhecida brisa gelada foi a última coisa que senti antes de me entregar a inconsciência.


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Notas finais do capítulo

Eu amo o Seth - se alguém não percebeu....:D
Comentem!