Sombras escrita por Angel Bell


Capítulo 4
Capítulo 4




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Murmurei um "Olá, eu sou Bella", e em seguida ficamos em um silêncio constrangedor.

Sua cadeira fez um som alto, como se alguém a estivesse afastando. Pensei que ele tinha saído da sala, mas uma vez durante a aula, ouvi – o tomar uma respiração irregular. Eu poderia estar confiando muito na minha intuição – uma pessoa cega precisa confiar em seus outros sentidos –, mas Edward parecia muito irritado.

No final da aula de biologia, a cadeira foi afastada ruidosamente alto e senti uma brisa fria e não natural balançar suavemente meus cabelos. Edward poderia estar com raiva de mim? Talvez ele estivesse tão repelido pela minha deficiência que não suportava ficar perto de mim. Não era exatamente isso que Noah vivia dizendo, que as pessoas não me suportavam?

– Então, você mandou seu cachorro morder o Cullen ou o quê? Eu nunca vi ele parecer tão irritado – Mike Newton comentou ao se aproximar de minha mesa, confirmando minha hipótese sobre a irritabilidade de Edward. Dei de ombros. Não havia nada a dizer. – Que aula você tem agora? – ele perguntou, mudando de assunto.

Senti os pontos em braile do meu mapa/guia

– Sr. Banner, Ciências – informei a ele.

– Essa é a minha próxima aula também! – Mike parecia feliz, embora não tivesse passado de uma coincidência em uma escola tão pequena. Aposto que minha antiga escola em Phoenix tinha mais alunos do que toda a população de Forks. Esses pensamentos fizeram com que a saudade de meu vale quente do sol aparecesse.

Guardei minha bengala na bolsa – porque ela era realmente irritante – e educadamente recusei a sua oferta para me levar até a sala de aula. Eu tinha a minha Sombra como companheira e adorava a minha "independência" .

Durante minhas últimas aulas do dia muitas pessoas se apresentaram, mas eu esqueci seus nomes assim que foram pronunciados. Meus pensamentos estavam imersos nas lembranças do misterioso Edward Cullen. Queria tanto saber o que o irritou...

Quando o dia na escola finalmente acabou, fui até o prédio da secretaria onde iria pegar a autorização para ficar com Sombra na escola, contando o número de passos. Minha companheira parecia saber que eu estava ansiosa e deu uma pequena lambida na minha mão. Eu ri, relaxando imediatamente.

Levou cerca de cinco minutos para chegar no escritório através da chuva. O vento estava cada vez mais forte também. Forks estava, literalmente, se tornando o meu inferno pessoal na Terra.

Quando entrei no escritório senti o cheiro de algo maravilhoso. Era algo como mel e lilás, com um toque amadeirado. Minhas bochechas ficaram coradas quando percebi que era o mesmo perfume e a mesma voz de Edward Cullen. E ele parecia muito mais irritado e furioso do que antes.

Edward parecia estar discutindo em sua voz de veludo, masculino e atraente. Pegando algumas partes da conversa, percebi que ele estava tentando mudar a sua aula de Biologia por qualquer outra matéria. Qualquer outra.

– Não existe outra aula? – Edward perguntou, e ouvi o som de seus dentes rangendo em aparente fúria.

Ele se interrompeu abruptamente, provavelmente quando percebeu minha presença na sala pequena e abafada.

– Eu posso ver que vai ser impossível. Obrigado por sua ajuda – Edward estava furioso, pela sutil – mas perceptível – mudança na voz pude perceber isso. Em seguida, ele saiu da sala sibilando.

A porta se fechou atrás dele, e uma brisa gelada balançou os meus cabelos. Sombra me ajudou no caminho até a mesa e peguei os documentos exigidos.

– Como foi seu dia, querida? Foi tudo bem? – perguntou a Sra. Cope, com certeza para uma boa fofoca

– Ótimo. Tudo ocorreu bem – resmunguei fracamente, sentindo minha garganta apertar. Eu já poderia prever a noite de lágrimas.

A secretária da escola fez um grunhido de descrença, mas deixou por isso mesmo.

Sombra me guiou até o estacionamento. Poderia dizer que pessoas me olhavam, mas aquela era a última coisa com o que eu me preocupava. Estava muito ocupada, me segurando para não chorar – e isso era patético.

Enquanto esperava Charlie ir me buscar, travava uma luta incessante contra as lágrimas. Esperava que Forks pudesse ser um recomeço, mas percebi que nem aqui estaria livre do preconceito. Afinal, Edward fizera um julgamento precipitado, como todas as pessoas faziam.

Não pude deixar de perceber que Noah não tinha sempre razão quando se tratavade minha deficiência. Aquele desgraçado de uma...

Charlie apareceu para me buscar antes que eu começasse a xingar Noah até a alma.

– Ei, Bells, como foi a escola? – perguntou ele.

Murmurei uma resposta e Charlie continuou.

– Eu comprei alguns mantimentos. Há outra coisa que você precisa?

– Não, obrigado pai, eu estou bem. – respondi apenas.

Enterrei meu nariz no pescoço de Sombra, querendo mais do que nunca que minha companheira adquirisse o dom da fala para poder me dizer que tudo não passava de minha imaginação. Que ninguém me odiava pela minha deficiência. Que eu era normal.

Mais do que nunca, eu precisava de um amigo.

 

Depois do jantar silencioso com Charlie, fui para a cama cedo. A chuva não dava trégua e senti como se estivesse me afundando em um buraco úmido.

Eu odiava Forks, tal como a minha mãe. Sempre me queixei sobre a chuva incessante e as plantas que pareciam sufocar a cidade. Agora, não teria me importado de ver a sua cor.

O verde era a cor da vida e eu não tinha vida aqui.

A chuva ainda martelava contra a minha janela quando finalmente peguei no sono.

***

Eu não esperava muito para o dia seguinte. E o dia seguinte foi tanto melhor quanto pior.

Melhor, porque o nervosismo do primeiro dia já havia passado. Eu ainda era um tópico de interesse na escola, mas ninguém mais parecia surpreso com minha cegueira. Todo mundo sabia dela e agora eu poderia relaxar. Parecia que eu estava nadando na água agora, não me afogando nela.

E foi pior porque Edward Cullen não estava lá.

Por toda a manhã temi seu comportamento odioso, mas no fundo estava secretamente encantada por ele. Queria poder ouvir sua voz novamente.

No horário de almoço, Jessica me informou que ele não estava presente. Tentei ouvir a conversa do grupo e as brincadeiras, mas me peguei pensando mais em Edward. E pensava no quanto estava confusa por isso.

Mike Newton me acompanhou até a aula de Biologia. Descobri que Edward Cullen estava ausente aqui também. Ele não apareceu naquele dia. Ou no dia seguinte. Ou no próximo.

Me arrastei – ou Sombra me arrastou – pela próxima semana. Áudio-livros, dever de casa, e trabalho doméstico moderado consumiu meu tempo por alguns dias. Meu fim de semana foi agradável, a chuva suave fez com que eu pudesse dormir um pouco. Na segunda-feira seguinte, teve um quiz na aula de Inglês, mas é claro que o meu questionário era em formato de Braille, mas ainda era muito fácil.

Tudo fazia com que eu estivesse começando a me sentir melhor sobre a mudança para Forks. Estava realmente começando a me sentir confortável aqui.

Até o episódio de Edward estava me esforçando para esquecer.

Porque, como Rénee dizia, quando as pessoas não gostam de você, é seu dever não gostar delas também. Esperava que meu fraco coração ouvisse esse conselho.

Quando estava seguindo Sombra – que basicamente latia feliz por algum motivo – entre os edifícios para a minha próxima aula, senti um frio morder minha bochecha.

– Eca, neve – e o meu dia capotou, me deixando mau humorada. Várias pessoas ficaram surpresas com a minha explosão.

– Você não gosta de neve? – alguém exclamou. Dei de ombros, sempre fui estranha.

Estava tão preocupada com as bolas de neve – no que isso significaria para o meu equilíbrio duvidoso – que acabei tropeçando e quase matando a pobre Sombra. Ela latiu como se estivesse me repreendendo e eu ri, o que a deixou mais resmungona.

– Cachorra estressada – murmurei para a escuridão e ouvi aquela cadela traidora grunhir. Isso só me fez rir mais ainda. Para não tropeçar novamente, andei mais cuidadosamente para o edifício, tão rápido quanto era possível sem bater em alguém ou cair de novo.

Durante o almoço, notei que uma garoa de chuva começou de novo, mas as pessoas ainda continuaram a planejar uma batalha de neve. Quase não notei os sussurros.

Ouvi um boato fraco que Edward estava de volta. Perguntei e Angela, que confirmou. Me senti um pouco enjoada ao lembrar da sua raiva irracional, então só tomei um refrigerante de limão.

Como se sentisse que eu estava ansiosa, Sombra afagou minha mão.

– Tudo bem, garota – falei.

– Bella, você tem certeza que está bem? – Eric Yorkie, outro menino que não saia do meu pé, perguntou. Virei minha cabeça para o som de sua voz.

– Não, eu estou bem. – assegurei a ele.

Será que eu poderia exagerar um pouco na minha indisposição e pular Biologia? Internamente suspirei. Fiz uma cara determinada e decidi que não, não havia nenhuma razão para fugir.

Eu fazia o Leão covarde de O Mágico de Oz parecer um exterminador do futuro. Mais eu não iria fugir de Edward Cullen como ele fugiu de mim.


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