– Estão todos aqui? – perguntou Asafe.

– Caspian ainda está tentando convencer Susana – informou Lúcia.

– Você não pode ir lá e apressá-los? – perguntou Asafe.

– Susana está muito frágil no momento, não está pronta pra uma viajem, se ela decidir não ir podemos ir, vamos amanhã – disse Lúcia.

– Não temos esse tempo todo, faltam oito relíquias, oito lugares a que devemos ir, não quero passar a vida toda caçando relíquias – disse Asafe.

– Um dia só não é a vida toda – retrucou Lúcia.

– Por favor, só tente convence-la o.k.? – perguntou Asafe.

– Se Caspian não conseguir eu vou conversar com ela, mas não garanto nada – disse Lúcia.

– Eu converso com ela – disse Camilla.

Asafe e Lúcia olharam estranhos. Camilla nunca foi amiga de Susana, o que ela poderia dizer que convenceria Susana a mudar de ideia?

Camilla entrou na tenda de Susana, ela estava soluçando de tanto chorar, não era para menos, e Susana não fazia ideia do que Camilla estava fazendo ali, elas não eram muito próximas, não o bastante para uma conversa a sós. Mas aí Susana olhou para o rosto dela, uma mistura de culpa e tristeza, Camilla era o Oráculo, ela sabia o futuro das pessoas, provavelmente sabia que isso ia acontecer.

– Você sabia, não sabia? – perguntou Susana com o rosto vermelho e encharcado de lágrimas.

– Sim – suspirou Camilla. – Eu sei o futuro de cada pessoa que conheço.

– Porque você não me contou? – perguntou Susana, não acreditava que Camilla tinha ocultado isso sabendo o tempo todo, não acreditava que ela tinha escondido a verdade todo esse tempo, o que ela ganharia com isso? Ao contrário, Susana foi quem perdeu, perdeu seu bebê quando Camilla já sabia que isso podia acontecer, Susana teria tomado mais cuidado, isso poderia não estar acontecendo.

– Me desculpe, mas estava destinado a morrer, o garoto – disse Camilla muito triste.

– Isso poderia não estar acontecendo, ele poderia estar vivo agora – disse Susana com mais lágrimas escorrendo de seu rosto, mal dava pra respirar direito, ela estava sufocada com o seu coração se torcendo e sendo espremido a cada vez que pensava em Caleb.

– Não é tão simples assim – disse Camilla com finas lágrimas escorrendo no rosto.

– Então, por favor me explique – pediu Susana mal humorada, ainda com uma forte dor no estomago, e sentindo o coração pisoteado.

– No momento eu que te vi pela primeira vez, eu sabia que você estava grávida, fazia uma semana... – disse Camilla.

– E porque não me contou, ou melhor, porque não disse que eu ia perde-lo? – retrucou Susana.

– Eu só soube disso depois, depois que foi anunciado que você estava grávida – disse Camilla.

– E porque não me contou? – repetiu Susana.

– Não me leve a mal, desde pequena eu tenho visões sobre coisas boas e ruins e eu não aguentava ver as coisas ruins, então minha treinadora me informou que eu não precisava contar as pessoas, então eu não ficaria com medo e seria como se não fosse acontecer – disse Camilla. – Talvez, talvez o futuro de Caleb fosse outro se eu avisasse que ele ia morrer, mas estava no destino, como Oráculo eu prezo que a profecia das pessoas se realizem, cada pessoa tem uma profecia quando é concebido, e estava na profecia dele que ele ia... morrer – disse Camilla, seus olhos estavam brilhando de culpa.

– Você é o pior tipo de pessoa que eu já vi – disse Susana ainda chorando muito.

– Coisas piores acontecem quando profecias são desafiadas, acredite, eu fiz bem, é melhor ele nem nascer do que enfrentar uma morte ou acidente pior, não se pode brigar com o destino – disse Camilla, finas lágrimas caíam do seu rosto.

– Eu... eu... poderia protege-lo de alguma forma, tudo seria melhor do que a dor que estou sentindo agora – disse Susana soluçando ainda mais.

– Você não poderia, acredite, sei o que está sentindo agora, mas...

– NÃO! VOCÊ NÃO SABE! E não tem o direito de falar sobre isso! – interrompeu Susana, gritando com muito raiva, mas Camilla estava impassível, apenas chorava um pouco.

– Uma hora o seu filho poderia sofrer um acidente, nascer sem os braços ou coisas pior, isso seria bom? Você preferiria o ver sofrendo? – perguntou Camilla.

A cada segundo daquela conversa Susana só odiava mais Camilla, principalmente agora que ela achava que Camilla tinha razão. Susana começou a soluçar fortemente de novo, a situação dela estava comovendo Camilla e ela tinha que fazer alguma coisa.

Camilla ajoelhou-se bem perto de Susana, como se fossem amigas intimas, mas não eram. Camilla começou a chorar mais.

– Você já ouviu uma lenda sobre para onde os bebês vão? – tentou se aproximar Camilla.

– Se você está aqui para falar sobre uma estupida lenda, pode ir embora – disse Susana reunindo o máximo de gentileza que conseguiu.

– A lenda é mentira, mas eu vou te falar outra coisa – disse Camilla. – Não há como as mulheres engravidarem no país de Aslam, pois todos lá estão mortos, e é impossível nascer alguém já morto, mas mesmo assim eles conseguem ter novos filhos, os bebês que não nascem, como Caleb vão para as mães que não podem ter filhos, tipo uma reencarnação, é meio difícil engravidar no país de Aslam, mas sim, é o método natural, ele não vai parar magicamente na barriga de uma mulher, a mulher tem que fertilizar para receber a criança, e ele surge na barriga da mãe da idade que ele morreu, e o bebê nasce com o sangue dos pais que o conceberam e o sangue dos pais que o hospedaram.

– Então isso quer dizer que...

– Sim, era o destino de Caleb morrer, mas ele está bem, está sendo criado por um belo casal de camponeses, vai ter uma vida de um garoto normal, ele está no país de Aslam, um casal sofreu um acidente em um lago, eles tinham dois filhos uma menina e um menino, ele terá irmãos e será muito feliz no paraíso – disse Camilla.

Susana chorou novamente, mas de felicidade, ela ficou desapontada por saber que seu filho seria criado por outra família, mas ficou feliz ao saber que ele seria feliz, e que talvez algum dia ela pudesse... Encontra-lo! Quando a hora dela tiver chegado e ela tiver ido ao país de Aslam, talvez ela o encontre algum dia.

– Eu vou encontra-lo? – perguntou Susana, já não chorava mais.

– Honestamente eu não sei, não consigo prever algo que vai acontecer em outro mundo e num futuro tão distante, mas quem sabe... – disse Camilla.

Susana a abraçou e rapidamente mudou de humor. Camilla foi embora feliz, pois tinha feito uma nova amiga. Susana voltou a ser feliz, pensar em Caleb sendo criado longe dela ainda doía, mas se as coisas não estavam cem por cento, pode acreditar, elas iriam ficar.