– A hora da vingança – disse ele sorrindo, malicioso.

Fez cocegas em mim até eu chorar de tanto rir. Eu não tinha como me defender! Estava com as duas mãos presas e não estava a fim de chutar ele e ver meu melhor amigo chorar de dor.

Quando ele finalmente me soltou eu voei pra cima dele e dei uns tapas na cara dele. Em vão, é claro, ele não sente dor. "Eu sou fraca", pensei. Soltei-o e cai na cama dele, pois estava cansada.

– Esta cansada não é?– perguntou ele.

– Sim! Vamos dormir? Por favor!– implorei, pois meus olhos estavam quase fechando.

– Claro. Vou pegar uma roupa da minha mãe pra você. Espera ai, gordinha.– sorriu e eu ataquei um travesseiro nele.

Ele saiu do quarto e eu fiquei sozinha la. Em menos de um minuto ele voltou.

– Minha mãe já esta dormindo. Vai ter que dormir com uma blusa minha, mas só a camiseta por que meus shorts vão ficar largos em você.– disse ele.

– Depois eu que sou a gorda... – murmurei.

Ele me deu uma blusa gigante e eu fui pro banheiro me trocar. A camiseta ficou enorme em mim. Mas foi bom, por que não precisava ficar só de calcinha na frente de Vitor. Ele já me viu nua, mas isso foi à muito tempo atrás, e isso seria constrangedor. Sai do banheiro e ele já estava pronto para dormir.

Eu e Vitor sempre dormimos juntos na mesma cama. Isso era normal para nós, já que eramos melhores amigos. Não me sentia constrangida, e sim pelo contrario, me sentia protegida. Sentia que não estava sozinha e que existia alguém, no mundo, que se importava comigo, com a minha proteção, e não com dinheiro.

Deitamos e eu, como sempre fazia quando ia dormir com ele, disse:

– Obrigada por sempre se importar comigo quando ninguém mais se importa.

– Você é minha melhor amiga e eu me importo muito com você. Quando se sentir sozinha, eu vou estar aqui, te esperando. - disse-me.

Uma gota de lagrima tentou escorrer, mas eu me controlei. Vitor deu um beijo em minha testa e ficou acariciando meus cabelos e eu logo adormeci.

Naquela noite, tive um pesadelo. Eu era acostumada a ter pesadelos quando estava sozinha, mas nunca tive um enquanto estava com Vitor. Sonhei que eu estava em uma sala escura, sentada em uma cadeira. Vitor estava na minha frente, eu queria abraça-lo, mas não podia. Alguma coisa estava me afastando dele cada vez mais. Até que Vitor se perdeu na escuridão profunda.

Acordei num pulo. Eu suava frio. Olhei para o lado e ele ainda estava lá, ao meu lado. Dormia igual a um anjo. Olhei para o relógio e já estava na hora de acordar. Me levantei cuidadosamente e fui ao banheiro vestir minha roupa. Vesti-me e, como de costume, sai correndo do banheiro e pulei em cima de Vitor que ainda dormia. Ele acordou de imediato.

– Julia, ta cedo ainda!– disse ele cobrindo o rosto com o cobertor.

– Tenho que ir em casa tomar banho e pegar minhas coisas. Vem,– disse puxando ele para que ficasse de pé - a gente toma café lá em casa.

Ele levantou e vestiu-se para irmos. Deixou um bilhete na mesa da copa para a mãe dele, avisando por que havia saído mais cedo.

Liguei para Paulo e ele foi nos buscar. Em menos de vinte minutos eu já estava em casa tomando meu tão sonhado banho. Vitor estava na sala me esperando então sai do banho só de toalha. Vesti uma roupa simples. Uma camiseta de banda cinza, um shorts jeans curto claro, um salto fechado cinza e uma munhequeira preta com taxinhas. Sequei meus cabelos e passei uma maquiagem leve também. Peguei minha mochila e desci. Fomos para o colégio. Chegamos na escada da frente e eu respirei fundo.

– Vamos lá, ainda falta um ano inteiro.– pensei alto.