Harumi acordou no dia seguinte calmamente e como sempre, levantou-se de seu futon e com muito cuidado e mãos esticadas, foi até o guarda-roupa. Foi apalpando o cabide como se tivesse decorado a ordem das roupas que estavam cuidadosamente separadas por cor na ordem do arco iris, provavelmente pelo pai dela. Pegou um short jeans e uma delicada blusa amarela, sua cor favorita, com alcinhas. Ela sabia que a blusa era amarela, pois estava na parte que era dessa cor e não conseguiu evitar ficar um tanto triste, pois não podia mais admirar sua cor favorita. 

Deixando esses pensamentos de lado, ela trocou de roupa ali mesmo já que estava sozinha e então foi até a sala com a mão na parede para não se perder nem acontecer alguma coisa. Sua casa não era muito grande então não poderia se perder, mas mesmo assim poderia bater na quina dos poucos móveis. Dando alguns poucos passos, ela chegou à baixa mesa japonesa tradicional e ao apalpa-la encontrou seu café da manhã o qual seu pai deixara antes de ir trabalhar. Eram três onigiris bem gordos e um pouco de chá como de costume. Ela comeu, pegou seu violão que estava ali ao lado e foi novamente para o parque.

Todos os dias ela ia para o parque com seu violão, deixava a capa no chão e começava a tocar para arrecadar dinheiro para ajudar seu pai com as dívidas. O grosso da dívida era trabalho do pai pagar, mas depois de um longo e demorado acordo, eles concordaram que seria dever dela pagar o aluguel. Então assim como sempre fazia, ela ia para o parque com seu violão para fazer a mesma coisa.

Sempre tocava no mesmo lugar e cantava e tocava muito bem então algumas pessoas que sempre passavam por ali já a conheciam, a conheciam como a "ceguinha cantora do parque". Nesse dia foi sem seu cão guia, pois ele estava tomando banho e sabia já o caminho até o parque de cor. Talvez por estar sem a proteção de seu cão, fez com que algo de certo modo problemático acontecesse. 

Ainda era cedo então poucas pessoas ouviam a garota cantando, três pessoas a ouviam e entre as pessoas estava um rapaz protegido pelo capuz e de cabelos densamente negros assim como é comum no Japão. As outras duas pessoas foram embora depois de jogar algumas notas para a garota e ao saírem passaram por ninguém menos do que Yusuke que estava justamente indo ver Harumi.

- Hey Har- - disse ele antes de ser interrompido ao ver algo que o deixou irado.

Yusuke ainda estava a alguns metros da garota, mas pode ver perfeitamente quando o rapaz encapuzado se abaixou silenciosamente, pegou grande parte do dinheiro que Harumi havia conseguido, guardou-o no bolso e foi embora.

- HEY!! VOLTE AQUI SEU MALDITO!! - gritou Yusuke.

- Y-Yusuke? - disse Harumi ao ouvir a voz dele.

Yusuke ignorou completamente a garota e foi correndo atrás do rapaz encapuzado que começou a correr também só que Yusuke, apesar da distância, logo alcançou o ser encapuzado, pois era muito rápido, treinara para ser. O homem de capuz tentou entrar numa ruela só que Yusuke o alcançou nesse mesmo momento e deu um forte soco no rosto dele.

- DEVOLVA! DEVOLVA O DINHEIRO DELA AGORA! 

O homem olhava para Yusuke trêmulo de medo e enfiou a mão nos bolsos tirando o dinheiro que havia pego. Yusuke então pegou o dinheiro e guardou no próprio bolso ainda encarando o homem até que o puxou pela gola da camisa.

- Como ousa... - falou ele baixo, mas assustadoramente - como ousa roubar o dinheiro de uma garota cega?

- E-Eu só... e-eu...

- Você só o que? Não existe nenhuma explicação que deixe essa sua atitude menos repugnante.

Yusuke largou o homem no chão e voltou para onde Harumi estava e o homem saiu correndo logo depois. Harumi havia parado de tocar e sentou-se na grama esperando o rapaz, tinha certeza que aquela voz era dele.

- Hey Haru! - disse Yusuke ao chegar perto dela - você devia tomar mais cuidado.

- Porque passou gritando do nada? - perguntou ela.

- Ah um idiota que pegou seu dinheiro - respondeu ele pegando a mão dela e colocando todo o dinheiro que o homem havia pego e mais um pouco na mão da garota.

- S-Sério?! - perguntou ela ao guardar o dinheiro ainda meio incrédula

- Você deveria tomar mais cuidado. - ele colocou a mão na cabeça dela e bagunçou os cabelos da garota - serei seu protetor de agora em diante.

Aquela fala dele e também ele ter bagunçado os cabelos dela, a fez corar deixando-a da cor de um tomate. Ela então abraçou os próprios joelhos e enterrou o rosto lá para esconder o próprio rosto e isso puxou risadas de Yusuke. 

- Agora que voltei pro Japão, - comentava Yusuke - vou vir todos os dias aqui te irritar e te proteger.

Ela deu um pequeno risinho, mas continuou com o rosto lá, pois sentia que estava corada, pois o mesmo estava quente.

- Não sei se agradeço ou fico com raiva por você vir aqui me irritar. - disse ela

- Ora deixe de besteira, você gosta quando eu fico aqui com você.

- G-Gosto nada... - era mentira, ela sabia, mas não conseguiria falar a verdade.

 - Já disse que você é uma péssima mentirosa?

- Ou você acha que tudo que as pessoas falam é mentira.

- Vai, volte a tocar que eu fico aqui sentado na árvore te vendo e te protegendo. Vou ser seu guardião até a hora do almoço.

- Porque só até a hora do almoço?

- Porque eu vou almoçar com você Haru.

Ela se levantou ainda corada, pois quando tinha a chance de voltar à coloração normal, ele a fazia corar novamente. Ela então voltou a tocar o violão para arrecadar o dinheiro que precisava, mas não conseguia deixar de pensar que ele estava ali a escutando e isso a deixava nervosa. 

Enquanto ela tocava, Yusuke ficou a observando com um sorriso no rosto. Não sabia o que era melhor, escutar a doce voz da garota ou admirar o belo rosto que ela tinha. Enquanto as horas se passavam e ele ficava aproveitando o momento, seu celular tocou tirando-o de seu devaneio. Era seu pai.

-Yo.- disse o garoto ao atender o celular.

- Yusuke! - disse o pai meio com raiva - Você nunca está em casa quando estou livre e mesmo que eu peça para avisarem para você para esperar, pois quero falar você... você continua saindo!!

- Foi mal, foi mal.

- Temos um assunto muito importante a resolver. Venha para casa AGORA.

- Mas..

- AGORA!

O pai dele desligou o telefone e Yusuke suspirou ao desliga-lo. Ele se levantou e foi até Harumi.

- Hey Haru.. - disse ele -Gomen... vou ter que ir. vamos ter que deixar o almoço para a próxima baby.

- Tudo bem. - respondeu ela - tem haver com a ligação de agora?

- Tem sim. Amanhã eu apareço de novo por aqui.

Ele deu um beijinho na bochecha de Harumi que corou loucamente novamente e até parou de tocar. Algumas pessoas que viram a cena se entreolharam com um sorriso até que Yusuke foi para casa a passos apressados. Logo ele chegou em casa e encontrou o pai carrancudo na mesma sala de antes. Yusuke então sentou-se na frente dele.

- Yusuke... você já tem 24 anos. Sabe o que isso significa?

- Que próximo ano eu faço 25?

O pai de Yusuke revirou os olhos e jogou para o menino três fotos de três garotas. Uma linda garota ruiva americana com longos cabelos cacheados, uma outra loira russa de cabelos na altura do ombro e fartos seios e uma garota chinesa de cabelos curtos. 

- Está na hora de escolher sua noiva.