Enquanto o Grande Mestre não descobrir escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel, Secret Gemini


Capítulo 12
XII. War


Notas iniciais do capítulo

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#POV Aiolos#

—Estou as suas ordens, Grande Mestre.

Indaguei, ajoelhando-me em forma de reverência. Há tempos o coroa não me chamava para uma audiência, portanto fiz questão de vestir minha armadura completa. Estava grilado, pois na carta de convocação que recebi não havia nenhuma pista sobre o que ele desejava:

—Pode se levantar, Sagitário. – ele falou, com voz meio rouca – creio que não faz ideia pelo que te chamei, não é mesmo?

—Não senhor...

—Pois bem, primeiramente quero comunicar que você será o meu sucessor.

—E-Eu? – falei surpreso, afinal, ele proferiu a notícia sem nenhum rodeio. Eu não era nenhum exemplo de bom comportamento, estava longe disso. Exatamente por esse motivo fui obrigado a questionar – Apenas porque o Saga desapareceu, não é mesmo?

—Na verdade, não... Não vou mentir que Saga era a primeira opção, mas devido a alguns acontecimentos isso mudou. Enfim... Em alguns dias anunciarei isso a todos e de forma oficial, mas por hora, tenho duas outras missões a você.

—Duas?

—Sim...

Ele fez uma pausa e respirou profundamente. Menos de um minuto depois, uma jovem mascarada entrou na sala, porém não usava o uniforme tradicional de treino, mas uma túnica branca, semelhante a das servas, diferenciada por alguns bordados e por ser longa. Sabia que aquela era Marie, sobrinha de Saga que, após o sumiço do geminiano e da traição de seu mestre, Kanon, passou a ser acompanhante de Athena. Algumas servas, enciumadas, diziam que ela tinha alguma relação sentimental com o Grande Mestre, mas eu não acreditava nisso. Ela curvou o corpo diante dele e, depois, ficou a sua direita, com as mãos cruzadas em frente o corpo:

—Como vai, Aiolos? – me cumprimentou – Parabéns pela nomeação.

—O-obrigado, senhorita Marie.

—Chamei Marie aqui, pois ela precisava de um parecer em relação a uma das missões que te darei, Aiolos. Como você sabe, Saga está desaparecido há quase 15 dias. Fizemos várias buscas, porém todas foram em vão. Portanto, só resta um lugar e eu preciso que você vá averiguá-lo para mim.

—E que lugar seria esse, Grande Mestre?

—A casa da garota que vocês costumam frequentar.

Suei frio. Não era possível o velho saber esse tempo todo e não ter nos punido! Ele podia estar apenas jogando um verde, entretanto falou com tanta convicção que eu duvidava que fosse isso. Caso se fosse uma pegadinha, tomaria a punição por Shura, afinal ele é meu irmão de fé:

—Co-...

—Ah, não se espante – me interrompeu – Antes de desaparecer, Saga veio me relatar sobre a traição de Kanon e sobre seu fracasso.

—Fracasso em quê?

—Há seis meses eu dei uma missão ao Saga: descobrir porque você e Shura não estavam rendendo como Cavaleiros. Na primeira vez que ele os acompanhou, me relatou que vocês tinham ido a praia jogar vôlei e, depois, a um parque no píer, porém alegou que os perdeu de vista. Pedi a ele que continuasse a vigiá-lo. Mas, ao que parece, ele acabou dando uma de agente duplo, afinal, como vocês jovens dizem, caiu na curtição. Embora ele até tenha botado um pouco de juízo na cabeça de vocês...

Chinfra desgraçado— pensei, apesar de que a ideia de trabalhar e pedir autorização para sair não era de todo mal – Tudo bem, Grande Mestre. Irei verificar a casa de Fedra. E qual a outra missão?

—Eu precisarei me ausentar por dois dias. Preciso ir até os Cinco Picos, tratar alguns assuntos internos com Dohko de Libra. Arles estará no Santuário, mas deixar-te-ei aqui como um treinamento e também para que Athena acostume com sua presença. Marie também lhe auxiliará nesse período.

—Suas ordens foram acatadas, senhor. – reverenciei-o apenas curvando o corpo – Eu tenho permissão para fazer uma pergunta?

—Claro...

—Alguma atualização sobre o caso do Kanon?

—Há cinco dias uma equipe de busca foi ao Cabo Sunion. Porém, quando chegaram lá, nada foi encontrado... Como sabe, é impossível sair daquela prisão sem que haja vontade divina...

—Compreendo... Bem, precisarei de uma ordem de saída para cumprir minha missão, Grande Mestre.

—Claro... Regresse a Sagitário e se arrume. Em meia hora um soldado a levará para você.

—Sim, senhor. – inspirei profundamente e, após criar coragem, perguntei – Excelência, eu sei que é impertinência minha, mas gostaria de saber por que não puniu ao Shura e a mim por desobedecermos a uma das regras do Santuário?

—Porque eu também já me encantei por uma donzela proibida... E sei como é terrível ter que esconder os sentimentos de todos, em nome da paz no mundo. – respondeu com uma voz tranquila, mas embargada, como se quisesse chorar. Eu gostaria de saber mais sobre esse romance, mas isso já seria atrevimento demais. – Mais alguma dúvida, Aiolos?

—Não, senhor – curvei o corpo novamente – Com a vossa permissão, estarei em Sagitário.

Regressei a Nona Morada, onde tomei um longo banho. Foi um baque muito grande. O desaparecimento de Saga, a minha nomeação como próximo Grande Mestre, o fato do coroa já estar sabendo de todos nossos embalos... Tudo caiu como uma bomba sob a minha cabeça:

—Eu nunca imaginei que ia passar por uma barra dessas... – falei para mim mesmo, saindo do quarto de banho e largando a toalha pelo caminho – Em partes, o velho tem razão. O fato do Saga ter agido como agente duplo, nos levou a um amadurecimento... Posso dizer que sou um novo homem agora.

Pensando nisso, decidi vestir uma básica calça jeans, sapatos marrons e uma camiseta branca, mas mantive minha faixa, afinal, uma mecha do meu cabelo sempre cismava de me incomodar nos olhos, por mais que o cortasse. Enquanto aguardava o enviado do Grande Mestre, passei a pensar em Sofia. Seria complicadíssimo vê-la agora que eu me tornaria o novo patriarca:

—Não quero me afastar da minha Ternurinha, mas não vai ser nada simples virar para ela e falar “Sou um Cavaleiro de Athena e tenho um compromisso sagrado com a deusa. Venha viver comigo no Santuário”. Conhecendo minha Lôra, é capaz dela achar que eu estou baratinado. – expirei – o jeito é aplicar a milonga...

—Com licença, senhor Aiolos.

Era o soldado do Grande Mestre. Peguei a carta, agradeci ao rapaz e saí em disparada pela rota zodiacal. Corri muito, mas como minhas roupas eram discretas, não fui notado. Parei já próximo a casa da ítalo-grega, pois precisava me recuperar o fôlego e não causar nenhum estranhamento por parte da morena. Toquei a campanhinha e esperei um pouco, até uma empregada abrir o portão:

—Ah, senhor Aiolos – me saudou com um sorriso – A senhorita Sofia não está aqui hoje. Na verdade, está apenas a senhorita Fedra.

—Eu vim aqui justamente falar com a morena... Posso entrar?

—Claro... – respondeu – Ela está na biblioteca. Sabe onde fica, não é?

—Sim... Com licença.

Eu mesmo não estava me reconhecendo. Geralmente, chegava invadindo, ainda mais na casa de Fedra. No Jardim, tudo parecia diferente, quieto. Ouvia apenas o canto de alguns pássaros, zunidos de abelhas e o som da bomba de limpeza da piscina. Um estranho silêncio em uma casa que sempre foi alegre:

O pai dela não deve ter voltado à Itália ainda— pensei, enquanto cruzava a sala de estar, como sempre impecavelmente limpa, a tirar pela mesa de centro, na qual estavam um jornal dobrado e uma xícara de café.

Cheguei em frente a porta de madeira entalhada que dava acesso a biblioteca e coloquei a mão na maçaneta, fazendo menção em abri-la,mas hesitei e bati:

—Pode entrar – a voz dela ecoou séria.

Quando abri a porta, estranhei. Fedra estava com os cabelos presos, de óculos e usando o que parecia um vestido vermelho. Na mesa de carvalho, diversos papeis, livros, um cinzeiro cheio de guimbas e uma caneca azul. Ao me ver, seus olhos se arregalaram. Bradando meu nome, saiu de trás da mesa em velocidade assombrosa, derrubando até a xícara de café e espalhando alguns papeis no chão. Após um abraço apertado, disparou:

—O Saga pediu para você vir me buscar? – seus olhos encontraram os meus. Estavam brilhando de felicidade. Um brilho tão singular e cândido que me fez sentir dor ao responder sua pergunta.

—Não...

—Eu... – hesitou, cabisbaixa – Deveria ter imaginado. – em seguida, sorriu e se abaixou, a fim de recolher os papeis.

—Não entendo... – falei, imitando o gesto a fim de ajudá-la na tarefa – Por que ele me mandaria aqui te buscar?

—Ele... Não te falou o que houve entre nós? – sua voz soava triste, quase tão melancólica quanto o Dan McCafferty cantando Love Hurts.

—Na verdade... – eu não sabia o que tinha acontecido entre eles, mas com certeza, haviam brigado. Talvez a reação dela me desse alguma pista – O Quadradão está desaparecido há uns dias. Foi por isso que vim até aqui.

—Pela deusa! – ela levou a mão esquerda a testa, mas foi apenas para tirar uma mecha de cabelo que insistia em cair do penteado – Vocês já enviaram grupos de busca? Pode ter sido um at-... – respirou fundo, se calou, abaixou a cabeça e voltou a pegar os papeis.

—Fedra... Você está me escondendo algo? Sabe de alguma coisa que não sei? Pelos deuses, dendeca! Eu vim aqui porque preciso da sua ajuda... Não me esconda nada, por favor.

Ela terminou de recolher os papeis, respirou fundo e estendeu a mão, pedindo os papeis que eu estava recolhendo. Ao estendê-los para ela, percebi o esboço de um desenho. Não tinha rosto, mas assemelhava-se muito com a Armadura de Gêmeos. Fui obrigado a questionar:

—Acho que a Sofia misturou um dos desenhos dela as suas anotações – ergui as folhas, deixando o esboço de frente para ela – Mas eu gostei. Parece até uma armadura daqueles filmes medievais...

—Aiolos... – falou séria, puxando os papeis da minha mão – Sente-se, por favor. Eu vou pegar café para nós – inspirou profundamente e, antes de cruzar a porta, disse – Preciso conversar seriamente com você.

E saiu, batendo a porta. Não entendi direito, mas tinha certeza que ela poderia me dar uma pista importante sobre o paradeiro de Saga. Pode ser que a briga deles tivesse culminado em algo pior.

A morena não demorou a voltar. Trouxe uma bandeja com duas canecas de café e um pratinho com alguns biscoitos. Colocou-a uma caneca diante de mim, a travessa com os biscoitos, largou a bandeja em uma mesa lateral, deu a volta e se sentou. Deu um gole intenso na sua caneca e, em seguida, decidiu falar:

—Estou sabendo de tudo, Aiolos. – mantinha o tom de voz calmo – Eu sei que você, Shura e Saga não são garçons, que faziam aquilo apenas para ter dinheiro e disfarçar suas reais profissões. Eu sei quem vocês são na verdade.

—Fe-...

—Eu flagrei o Saga lutando contra um cara... Podia ser uma briga comum, se não fosse pelo fato de ambos estarem usando armaduras e tivessem força e velocidade sobre-humanas. – deu um novo gole na caneca – Ele me confessou que é um Cavaleiro de Athena... Que todos vocês são.

—Foi por isso que vocês brigaram?

—Não! Nós não brigamos... Ele teve medo. Medo por mim... Medo que eu me machucasse... Que me machucassem – Ela finalmente esboçou algumas lágrimas. – E agora você me diz que ele está desaparecido... – pegou um biscoito e mordeu com força – Há quantos dias ele sumiu?

—Quinze dias... – respondi ainda perplexo. Não imaginei que ela fosse encarar uma descoberta como essa tão calmamente.

—Então... Ele sumiu logo depois que voltou da Ática!

—Como você sabe que ele foi a Ática?

—Foi lá que eu vi tudo... Ele estava lutando contra um cara de armadura negra... Eu estava lá por causa de um dos diários do meu avô, que citava as ruínas do templo de Poseidon e uma prisão secreta. Havia combinado de verificar a veracidade com o Saga após meu pai voltar a Itália, porém...

—Você não se aguentou de curiosidade e foi sozinha.

—Isso... Cavaleiros também podem ler mentes?

—Eu nunca entendi isso direito, mas algumas figurinhas no Santuário possuem o dom da telepatia. – Percebi na hora ela puxando uma folha e escrevendo depressa, quis rir, mas me segurei – Só que eu não tenho nenhum desses dons, tá? Apenas te conheço bem...

—E realmente existe um Santuário “secreto” – fez aspas no ar – além do Parthenon?

—Fedrinha... Não me leva a mal, mas vamos deixar a Entrevista com o Vampiro para depois? – falei, sorrindo e tomando um pouco do meu café – Preciso que você me conte o que aconteceu na Ática para ver se acho algo que me leve ao Saga.

—Entrevista... Com o Vampiro? – interrogou, arqueando a sobrancelha esquerda.

—Ainda não leu? Um excelente livro de Anne Rice... Enfim... Você o viu lutando contra um Cavaleiro Negro e...?

—Me escondi atrás de uns rochedos e espiei a luta, fazendo algumas anotações. Não escutei ao certo o que eles falavam, na verdade mal vi seus movimentos. Apenas pisquei, um brilho iluminou a praia e, de repente, apenas o Saga estava lá. Quando ele se virou, admitiu quem era... Saga de Gêmeos... Gêmeos... Bem que ele me disse uma vez que a constelação estava agitada porque seu cavaleiro regente estava feliz.

Pela primeira vez, em quase um ano que conhecia a ítalo-grega, a vi chorar. Lágrimas de dor, amor e tristeza. Lágrimas de uma mulher verdadeiramente apaixonada. Ainda em meio aos soluços de seu pranto, revelou que Saga contou-lhe da missão, de como fugiu do Santuário para a primeira festa com a morena, dos efeitos dela em sua vida. Assim como ele, ela estava marcada:

—Olhe para mim... Quando você me veria chorando, usando roupas casuais e sem lentes de contato? Em outros tempos, eu já teria feito um Carpaccio da empregada apenas pelo fato dela ter te deixado entrar sem ser anunciado, mas veja só... Estou segurando sua mão, chorando... Eu posso ter fundido a cuca do Quadradão, mas o que ele fez comigo foi muito além disso...

—Eu prometo que, assim que descobrirmos algo sobre o paradeiro dele, virei te contar... – inspirei – Afinal, verei vocês com menos frequência agora.

Ela assentiu com a cabeça e solto minha mão. Ainda trêmula, tomou um pouco de café e respirou profundamente algumas vezes. Por fim, questionou:

—Por que nos verá menos? Ordens de algum... General?

—Não necessariamente isso... Digamos que agora eu sou esse “General”. Está calma o suficiente para que eu possa explicar algumas coisas úteis para sua pesquisa?

Eutôquetôquenemtôdetantoquetô! – exclamou, puxando um de seus cadernos e estralando os dedos, provavelmente se preparando para escrever muito. – Vamos lá... Conte-me tudo que achar relevante e que não vá te prejudicar. A começar com essa história que você, Aiolos de... Qual sua constelação?

—Sagitário. Aiolos de Sagitário.

—Ok, Aiolos de Sagitário: Como você, um completo goiaba, panaca, pirado, porra louca, totalmente lelé da cuca é uma espécie de General dos Cavaleiros de Athena?! Tá faltando mão de obra competente ou o quê?

—Digamos que seja ordem de sucessão.

—Tipo um império ou algo assim?

—Não... De patente, categoria. Os Cavaleiros são divididos em constelações e hierarquias. 48 de bronze, 24 prata e 12 de Ouro. Isso além dos soldados e servos, que não possuem uma constelação protetora ou uma armadura. – tomei o ultimo gole em minha xícara de café e prossegui – Os cavaleiros de Ouro estão no topo da hierarquia. Quando o Grande Mestre, que é o nosso comandante geral, o porta voz de Athena, decide se aposentar, é escolhido um Cavaleiro de Ouro para sucede-lo. Dessa vez, eu fui o escolhido.

—Repito: está faltando homens nesse exercito? – questionou, aparentemente, inconformada – Desculpa chapa, mas não imagino você comandando nada.

—Eu vou ser sincero com você. O Saga era a principal escolha. Achei que fui nomeado ao cargo apenas porque ele desapareceu, mas não. O Grande Mestre não quis me revelar o motivo, mas parece que o Quadradão não estava apto ao cargo.

—Além de ser um Cavaleiro de Ouro, quais os critérios para ser um Grande Mestre?

—O escolhido deve representar a bondade, a coragem e a justiça.

—Ah... Agora entendi porque você foi escolhido. Apesar de ser um completo imbecil, você é uma das melhores pessoas que conheço.

—Dá pra parar de me desmerecer?

, desculpa, chapa, mas te conheci tontão em um luau imitando o Elvis. Eu NUNCA vou ter uma boa impressão sua! – riu – Mas enfim... E a Deusa Athena? Esse tal Grande Mestre transmite a palavra dela como? É tipo um padre cristão, que faz uma missa e...

—Não, não... A deusa Athena reencarna em forma humana a cada 200 ou 300 anos, sempre que as forças do mal ameaçam a Terra. A deusa já reencarnou nessa era, porém o único autorizado a vê-la é o Grande Mestre... Exceto, é claro, em tempos de guerra.

Ficamos algumas horas conversando sobre o Santuário. Informações leves e incompletas, mas suficientes para que ela confrontasse com a pesquisa de seu falecido avô e com os livros de mitologia. Por fim, antes de encerrarmos esse assunto, me fez um pedido:

—Será que você poderia visitar a Sofi?

—É claro que posso. Aliás, ia justamente perguntar onde ela está e porque não está aqui.

—Depois que meu pai voltou à Itália fiquei devastada com o que aconteceu. Não revelei nada a ela e nem a Agnes, apenas disse que tinha terminado com o Quadradão. Mas você conhece o meu humor, né? Fiquei mais insuportável que o normal. O resultado foi que a Sofi disse que arrumou algumas costuras e zarpou pro apeteó dela, enquanto a Agnes alegou que ia passar uns dias na casa dos pais, porém eu duvido da veracidade disso...

—Eu nem sabia que a lôra tinha um apeteó... Bom, me fala onde fica que vou lá. Queria mesmo vê-la.

—Vá... E, se você souber, faça algo para ela comer. Conhecendo a Sofi, deve estar a dias comendo apenas frutas ou salada. Vou te dar o endereço – ela virou algumas folhas do caderno, começou a escrever, mas parou e disse – Esquece! Eu te dou uma carona. Preciso ir ao mercado... Assim aproveito para comprar algo para você preparar um grude para ela.

Assenti com a cabeça e acompanhei a morena. Anúbis veio em nosso encalço, mas voltou para trás quando a ítalo-grega mencionou que não poderia levá-lo. A morena comprou alguns ingredientes pedidos por mim e até me fez um agrado, comprando um avental e gorro de cozinheiro. Depois, me deixou em frente ao prédio que Sofia residia:

—O Apeteó dela é o 43. – falou, acendendo um cigarro – Não vou te esperar, porque tenho algumas coisas para atualizar na minha pesquisa.

—Positivo e operante, Fedrinha. – indaguei, descendo do Mustang com as sacolas de papel nas mãos – Obrigado pela carona.

—Eu é que agradeço pelas informações e por sua visita. – sorriu, colocando os óculos escuros – Não se esqueça de me avisar se o Quadradão retornar.

E saiu, dirigindo lentamente, mas acelerando ao fim da avenida. Certamente não queria ser notada, pois, sem sombra de dúvidas, Sofia reconheceria o ronco da sua caranga. Subi os quatro lances de escada, sem ofegar – estava mais do que acostumado com escadas – até chegar ao seu andar. Achar sua morada seria complicado, afinal não havia qualquer numeração na porta, porém o som alto de Bee Gees ofuscando uma máquina de costura frenética denunciou onde encontrá-la. Vesti o avental, coloquei o gorro e toquei a campainha várias vezes, até o volume da música dos irmãos Gibb diminuir:

—Mas que inferno! – berrou – Vocês discutem a noite toda e eu não reclamo! Será que posso costurar em paz, porr-... – Ao abrir a porta, se calou por alguns instantes, ficando com uma expressão assustada, mas logo começou a rir – Que isso, meu Raio de Luz?

Mamma mia! Io vim te fazer uma Macarronada, mia bella Ragazza! – disse, fazendo um sotaque italiano fajuto, já entrando.

—Mas... – ficou com a cara mais abismada do mundo, depois riu e fechou a porta – Quem te disse onde eu moro?

Ma foi a ragazza Fedra. – respondi, colocando os ingredientes sobre a pequena bancada de mármore, que separava a pequena cozinha da aconchegante sala de estar – I como você non sabe cucinare, Aiolos Cuoco veio para esta missione.

—Não sabia que seu sobrenome era Cuoco. Pensei que você fosse grego de berço.

—HAHAHAHAHAHAHA! – gargalhei, enchendo uma panela de água e colocando-a no fogo – Eu sou grego. Cuoco é cozinheiro em Italiano. Caspita! – reclamei - Você fez io perder o sotaque... Agora perdeu o encanto.

—Ah, deixa disso! – murmurou, com sua doce voz, me abraçando pela cintura, enquanto eu cortava desengonçadamente um tomate – Você não precisa de um sotaque italiano bocomoco para me deixar encantada. O fato de você aparecer no meu apeteó para me preparar uma bóia já é mais do que suficiente.

—A propósito: desde quando você tem esse apeteó que nunca foi citado? Poderíamos ter poupado muita bagunça na casa da Fedrinha.

—Ah... Eu só costumo usá-lo quando preciso costurar. – respondeu, sentando em um banquinho, encaixando um cigarro em uma piteira e acendendo. Eram raras vezes em que ela fumava, geralmente, apenas quando ia falar de algum assunto que a chateava, portanto, me preparei para ouvi-la – Comprei esse apartamento após terminar a faculdade. Meu intuito era transformá-lo em meu primeiro atelier, afinal, fiz moda na pretensão de ser uma estilista de renome, mas tudo que consegui foram algumas costuras. Ajustar a cintura de um vestido, encurtar a barra de uma saia... Então a Fedra me procurou. Como a ajudei muito na época da Faculdade, ela resolveu retribuir o favor me contratando como estilista dela, para o caso dela ter que acompanhar o senhor Enrico em algum evento do governo... Mas nunca tive meu nome divulgado...

—Isso é realmente complicado, mas não acho que ela tenha feito por mal.

—Intencionalmente não... Mas, dias atrás, consegui uma encomenda grande: uma noiva me pediu um vestido. Você não imagina como fiquei feliz, mas quando falei para a Fedra, ela só faltou jogar o copo de whisky que estava na mão dela em mim e atear fogo! Por isso me mandei para cá e estou costurando o vestido – apontou para um manequim, onde estava a vestimenta – Então, resumindo a historia: esse apeteó é apenas o protótipo de um atelier...

—Sim, um protótipo – eu concordei, já preparando o molho de tomate com almôndegas, uma das poucas coisas que aprendi a fazer enquanto trabalhava na cantina do Carlo – Daqui a um tempo você terá uma grande boutique, bem no centro de Athenas. Imagina só, uma enorme loja de esquina com um letreiro neon bem chamativo “Sofia Archiellis Boutique”.

—Hm... Sabia que você sempre me anima?

—Sim, sei sim! – sorri, dando uma colher embebida no molho para que ela experimentasse – E isso não é modéstia não. É uma das virtudes de um sagitariano.

—Hm... O molho está divino! Não imaginei que você soubesse cozinhar... Achei que só servia mesas lá na Il Palazzo.

—Na verdade, essa macarronada é a única coisa que sei fazer – Ri, mas fiquei sério em seguida – Acabei de perceber que não sabemos muitas coisas um do outro, né?

Podes crer... – sorriu, indo até a geladeira pequena, abrindo a porta e deixando que eu a visualizasse quase vazia. Retirou uma jarra de suco de uva e voltou para o balcão – Que tal conversamos enquanto comemos?

—Excelente ideia – respondi, fazendo um carinho de leve em seus cabelos.

Terminada a macarronada, ajudei Sofia a pegar os pratos, talheres e fazer uma mesa improvisada com o balcão e os dois banquinhos de madeira que ela possuía. Em um mimo, ainda acendi uma vela em um candelabro dourado que achei no canto da sala. Por fim, nos servi a macarronada, que foi acompanhada de suco de uva devido a ausência de vinho na casa de minha loira. Após algumas garfadas e cara de satisfação, tomei a palavra:

—Bem, até onde sei, seu nome é Sofia Archiellis, você fez moda na Faculdade de Athenas e é completamente apaixonada pelos Bee Gees. – ri – Agora me conte o que eu não sei.

—Hm... Não tem muito além disso... Nasci em Metímna, Lesbos, mas vim para Athenas ainda criança, viver com minha avó paterna e estudar. Tenho pouquíssimo contato com meus pais desde então, apenas envio e recebo algumas cartas de vez em quando. Eles acham que “me perdi na vida” – fez aspas no ar – apenas porque fui modelo de biquíni, a fim de pagar algumas dívidas anos atrás. Sabe como são esses pais caretas, né? Bom, mas é isso... Agora é sua vez.

Respirei fundo. Odiava mentir, mas, nesse caso, seria extremamente necessário:

—Aiolos Temistocles, nasci em Athenas mesmo. Minha única família é um irmão caçula, perdi meus pais muito cedo. – Até ai, nenhuma mentira – Moro em um vilarejo tradicionalista nos arredores do Parthernon, um lugar que parece ter saído das paginas dos livros de mitologia, tanto que alguns moradores ainda cultuam os deuses gregos veemente. Quanto aos estudos... – coloquei a mão direita atrás da cabeça – conclui os meus tem pouco tempo... E, hoje, recebi uma carta importantíssima. Eu sempre quis fazer Engenharia Automotiva... Fiz uma prova por correspondência e fui aprovado para um curso nos Estados Unidos.

—Isso é bom... Mas, ao mesmo tempo, triste. – indagou, com os olhos levemente marejados. Na vitrola, os irmãos Gibb cantavam Fanny. – Você vai realizar seu sonho, mas ficará longe...

—Sim, minha lôra. – a essa altura, eu já estava ao seu lado, fazendo carinho em seus cabelos sedosos – Mas sempre vou te escrever, toda semana, se bobear. Só que apenas decorei o endereço da Fedrinha... Faça as pazes com ela. Você sabe que ela não se revoltou com você por conta de uma costura que você conseguiu, não é?

—Ela e o Saga terminaram... Eu sei disso. Só que ela não tinha nada que descontar na Agui e em mim.

—Concordo, mas não vou viajar em paz sabendo que vocês duas estão brigadas.

—E quando você parte para a América?

—Em dois dias. – Eu já estava querendo chorar junto com ela – Porém não sei se conseguirei te ver antes de partir. Então...

Ela interrompeu minha fala com um beijo. Um terno, doce e triste beijo de despedida. Acabamos embolados em meio a linhas e pedaços de tecido branco que estavam espalhados no sofá-cama que ela utilizava para dormir. Quando o sol estava para se pôr, acompanhei-a até parte do caminho até a casa de Fedra e retornei... Para o meu vilarejo tradicionalista.

***

Quando finalmente cheguei ao Santuário, usei a rota alternativa para chegar até o Salão do Grande Mestre e relatei a ele tudo que obtive de Fedra, inclusive o fato de que ela descobriu a verdade sobre Saga e o término do namoro dos dois. O coroa apenas respirou fundo e após alguns segundos de silêncio, falou:

—Bom, algumas vezes somos obrigados a quebrar protocolos, não é? Mas na condição de historiadora, essa jovem saberá como cuidar do nosso segredo.

Ao falar essa frase, o Grande Mestre retirou o elmo e a máscara, me pegando de surpresa. Quando fitei seu rosto, me lembrei do porquê de Fedra ser fascinada pela história dos Cavaleiros de Athena:

—O senhor... O senhor a salvou.

—Salvei quem, Sagitário?

—Fedra Bataglia, o broto... Digo, a namorada de Saga. Ainda criança ela quase se afogou na praia, mas foi salva por um homem de armadura dourada. Um Lemuriano de armadura dourada. Mu ainda é uma criança... Não pode ter sido ele.

—Pois veja como o destino é fantástico. – ele sorriu – Eu me lembro de ter resgatado uma jovenzinha no mar quase 20 anos atrás. Eu havia acabado de regressar do Tibet e observava a praia quando a vi. Estava com um vestido de luto, discutindo com Deus em Italiano. Eu não entendia muito bem as palavras, quando ela trocou o idioma para grego e soltou “Já que não vai devolver minha mamãe, me leva também” e se atirou no mar. Corri desesperado. A armadura revestiu meu corpo sem eu perceber. Quando a retirei da água, ela estava com a respiração curta... Mas bastou alguns movimentos de RCP para que voltasse a si. Ia perguntar algumas coisas, mas vi um homem gritando por ela... Agora que você disse, me recordei que o nome que ele gritou foi “Fedra”. Daí voltei a observar de longe.

—É interessante conhecer o outro lado da história...

—Certo, mas não temos tempo para isso. Agora vou te explicar as funções básicas de um Grande Mestre.

***

#POV Marie#

Há dois dias Shion estava longe do Santuário e eu nunca me senti tão sozinha. Violeta até me fazia companhia, mas não era a mesma coisa. Aiolos também estava por lá. Ele era bem divertido, porém apenas isso. Acho que finalmente entendia o que minha mãe queria dizer com “estar rodeada de pessoas, mas se sentir sozinha”. Era o reflexo da paixão.

Já era noite no Santuário. Teria que aguentar apenas algumas horas sem meu amado por perto. Estava louca de saudades e, uma única vez na vida, agradecia por aquela maldita máscara de prata esconder meu rosto e todas as caretas que eu fazia aos outros, principalmente ao chato de galochas do Arles, no decorrer do dia. Nunca me toquei que ele era tão mala sem alça. Violeta já havia se deitado para dormir e eu, possuída pelo tédio, bordava a barra de uma túnica, quando alguém bateu de leve na porta:

Deve ser as servas me trazendo a ceia— pensei, enquanto me levantava.

Ao abrir a porta, me espantei ao ver o Subcomandante:

—Estão te chamando na cozinha.

—A mim? – me espantei mais ainda – Por que alguém de lá não veio aqui me chamar e fizeram o senhor de pombo correio?

—Por que, ao invés de me interrogar, não vai ver logo o que querem? – questionou, com sua tradicional prepotência – Vá logo, eu fico de olho em Athena.

Dei de ombros e saí rumo à cozinha. No corredor, cruzei com Aiolos:

—Ei, Senhorita Marie! Qualé o grilo?

—Nenhum... Na verdade, não sei. O Senhor Arles disse que estavam me chamando na cozinha, mas estou achando isso meio estranho.

—Ih... Quer que eu vá ver qualé o plá lá pra você?

—Pode deixar que eu resolvo esse bizu, chapa.

que sabe, chuchu...

Dei dois passos e, em um estalo, chamei o sagitariano de volta:

Bicho... – sussurrei – estou com uma sensação ruim no meu coração. Dá pra você, de leve, dar uma espiada na clausura da Violeta, digo, de Athena? Me bateu um mal presságio agora.

—Fica numa boa que dou uma olhada por lá.

Segui para a cozinha e, quando finalmente cheguei por lá, as servas alegavam que não tinham me chamado. Era fato que nenhuma gostava de mim por ciúmes, afinal cheguei como “intrusa” e adquiri um cargo importante, mas daí a me tirar do posto por mera intriga? Porém, quando esbravejava com elas, um grito apavorado de Violeta me fez correr. Quando estava me aproximando a clausura, ouvi um grande estrondo, seguido de gritos do senhor Arles, bradando que Aiolos era um traidor. Não entendi nada, mas fiz questão de entrar no recinto, aonde o Subcomandante, sem elmo, apenas com a macabra máscara azul, ainda gritava:

—Que papagaiada é essa aqui?

—AIOLOS TENTOU MATAR ATHENA!

—E ONDE ELA ESTÁ? – perguntei desesperada. Não me perdoaria se algo acontecesse com ela – DEUSES! EU NÃO DEVIA TER SAÍDO DAQUI...

—Eu não sei... Aiolos quebrou a parede e fugiu! Deve ter levado-a com ele. Eu vou acionar os soldados.

—Soldados? Chame os Cavaleiros de Ouro! – falei irritada – Eu vou procurar por Athena.

Algo não me cheirava bem nessa história. Eu tinha certeza que Aiolos jamais atentaria contra Violeta. Fazia um tempo que notava o senhor Arles estranho. Eu me descuidei! Não deveria ter ido à cozinha, mas lamentar não adiantaria de nada. Eu tinha que achar Violeta. Foi quando senti seu chamado e corri até a área externa do templo e lá estava ela, escondida, com lágrimas nos olhos e apertando a bonequinha de pano que eu havia lhe dado. Abraçou-me com força, ainda apavorada:

—Ai Marie... Que bom – sussurrou, ainda soluçando.

—Consegue me contar rapidamente o que aconteceu?

—O Arles... Ele tentou enfiar uma faca dourada em mim, mas aquele outro rapaz não deixou.

—Aiolos?

—Sim... Precisamos achar ele. Ele estava ferido demais... E acho que o Arles vai matar ele.

—Por que acha isso?

—No meio da luta o Aiolos derrubou a máscara do Arles. Então eu escutei algo como “morra”. Aí eu corri para cá.

—O problema é achar o Aiolos antes dos soldados... Ou dos Cavaleiros de Our-... É ISSO! Ele deve estar a caminho de Sagitário. Vamos, eu tenho um plano.

Com o alvoroço da suposta traição do Cavaleiro da 9ª casa, passávamos despercebidas por todos. Corri pela rota alternativa com a pequena deusa em meus ombros e, como suspeitava, o cavaleiro estava entrando lentamente em sua morada. Entrei sem pedir licença, ofegando um pouco e pude visualizar o grande ferimento que ele tinha no braço:

—Senhorita Marie... Seu mal presságio era real.

—Athena me contou... Escute! Preciso que você a tire daqui. Eu sozinha não vou conseguir e preciso relatar essa história toda ao Shion antes do Arles. Não posso “trair” o Santuário ainda.

—Claro... – respirou profundamente – O que faremos?

—Eu vou criar uma ilusão. – peguei a boneca das mãos de Violeta – Depois prometo que te dou outra, minha querida – alisei seus cabelos – Por sorte, ninguém salvo Shion, Arles, meu tio Saga, você e eu, viu Athena até hoje. Ela pode facilmente se passar por um bebê. Enquanto isso, Violeta e eu escapamos pelo leste do Santuário, em direção ao Parthernon. Você nos encontra lá... Por favor, sobreviva.

—Eu digo o mesmo para vocês. Mas como vai fazer para fugir?

—Irei vestir Violeta como uma aprendiz... Eu tenho uma ordem de saída. Agora vá, rápido, os soldados logo chegarão aqui.

Com a boneca envolta em minha capa e a urna da armadura nas costas, Aiolos fugiu. Dei minha máscara a Violeta, rasguei um pedaço da minha túnica, causei um hematoma em meu rosto e caí de joelhos, ofegando no chão, no exato momento que os soldados chegaram a Sagitário e a pequena deusa se ocultou em uma pilastra:

—Senhorita Marie? – um soldado indagou, talvez me reconhecendo pelos cabelos negros – A senhorita está bem?

—Aiolos foi para lá – apontei na direção oposta – Eu tentei detê-lo, mas ele partiu com o bebê... Tragam-na de volta, por favor!

—Não se preocupe... Shura de Capricórnio foi designado para essa missão. Esse traidor safado irá pagar com a vida.

Shura?! – pensei espantada, mas mantive a pose – Irei à casa das Amazonas pegar uma nova máscara e, logo, regressarei ao meu posto.

Assim que os soldados saíram, puxei Violeta pelo braço e rumei ao local restrito as mulheres. Shura ter sido escolhido para deter Aiolos era reconfortante e assustador ao mesmo tempo, afinal, o capricorniano era um dos melhores amigos do guardião da nona morada, mas também era considerado um dos mais fiéis a confraria – apesar do seu recente histórico de inresponsabilidade.

Ao chegar a casa das Amazonas, restirei minha máscara do rosto de Marie. Por lá, nada diferente, o alvoroço era o mesmo:

—Alguém?! – gritei – eu preciso de um uniforme para essa novata.

Mas fui ignorada. Elas continuavam a ajustar seus uniformes, vestirem armaduras ou apenas conversarem. Foi quando uma passou por mim e, em um ato deveras ridículo, me deu um empurrão. Puxei-a pelo braço:

Qualé a tua, garota?! – retruquei, ainda apertando o braço direito da mesma – Será que vocês são todas surdas ou o quê? Eu preciso de um uniforme para essa garota aqui!

—Desculpa, querida – respondeu, puxando o braço, mas sem conseguir se libertar – Mas a putinha do Grande Mestre não tem voz aqui não!

Todas as outras gargalharam e eu, já irritada o suficiente, não pensei duas vezes: acertei um soco preciso na cara daquela sirigaita, arrancando a máscara dela e calando a boca de todas as outras. Só então tive noção da minha força. Aquela garota era uma amazona de bronze, movia-se a velocidade do som e estava trajando sua armadura. Sendo eu capaz de lhe acertar, mesmo que pegando-a distraída, significava que estava em um nível superior. Não demorou, e outra amazona me trouxesse um uniforme que cabia em Violeta. Ela tratou de vesti-lo depressa e saímos daquele lugar, rumando para a saída leste do Santuário. Era possível ouvir os gritos dos soldados e dos Cavaleiros designados a resgatarem o bebê Athena. Um pouco antes de cruzar os portões de saída, ouvi algo que fez meu coração doer: o Senhor Arles havia liberado o uso de armas. Passei a temer por Aiolos.

Passamos pelos portões sem problemas. Devido o tumulto da suposta traição do Cavaleiro de Sagitário, a saída estava livre, sem nenhum vigia em posição. Chegamos ao Parthenon perto do alvorecer, mas não havia nenhum sinal de Aiolos:

—Pelos deuses... Será que ele não resistiu?

—Ele é forte, Marie – Violeta falou, retirando a máscara toda prateada que usava – Eu sinto que ele está vivo.

As palavras da pequena Deusa estavam corretas. Não demorou muito e o jovem de cabelos dourados surgiu, extremamente ferido, carregando a boneca envolta no lençol e a urna de sua armadura nas costas. Ao nos avistar, deu um sorriso e caiu desmaiado:

—Não! Não é hora de morrer ainda! – me desesperei, chegando perto dele. Percebi que ele ainda respirava. Virei meu olhar para a pequena – Violeta... Você pode fazer algo?

—Eu acho que... – Ela fechou os olhos e colocou as mãos sobre o peito ferido do jovem. Em seguida, uma onda cósmica nos envolveu e ele abriu os olhos – Não pude fazer muito, iria contra o destino... – ela falou séria, perdendo a aura infantil que tinha a pouco tempo – Ele conseguirá me salvar.

—Aiolos... – falei, segurando em sua mão – Eu lhe confio a Violeta. Você a tirou daquele inferno... Agora leve-a para um local seguro, onde ela crescerá forte, para que então retorne e tome seu lugar como Athena.

—Senhorita Marie... Obrigado por confiar em mim. – Ele sorria, mas seu semblante ainda era de dor e sofrimento. – Antes de partir, tenho algo terrível a te contar.

—Hm?

—No meio daquele banzé, eu vi o rosto do senhor Arles...

—E o que isso tem de terrível? O velho é feio igual Iugoslávia x Zaire na Copa de 74?

—Não... É muito pior – ele me abraçou, mas com o único intuito de sussurrar no meu ouvido – Arles é seu tio Saga.

Aquelas palavras me agrediram mais que o deboche feio pelas Amazonas mais cedo. Estava cega de ódio. Eu queria voltar ao Santuário e desgraçar a vida daquele infeliz, mas Violeta me abraçou e voltei a raciocinar:

—Obrigada por tudo, Marie. Eu prometo voltar.

Apenas sorri e vi os dois se afastarem. Decidi não voltar ao Santuário, mas sim ir ao Porto esperar por Shion. Precisava falar com ele antes que o infeliz do Subcomandante tomasse a frente:

***

O sol do meio dia já agredia minha cabeça, quando um navio vindo da China atracou no porto de Athenas. Não demorei a visualizar Shion, usando camisa branca e calças azuis descendo do navio. Ele também não demorou a me perceber, afinal, eu estava sem minha máscara e com a túnica não muito apresentável:

—O que faz aqui, Marie? – perguntou em meio ao abraço.

—Aconteceram muitas coisas nessa sua ausência... E eu preciso te contar antes que... – cuspi – Arles o faça.

Ele fechou os olhos e sorriu. Não entendi tamanha serenidade, até que ele falou tranquilamente:

—Lembra do que eu disse quando decidimos ficar juntos? O destino seria cruel conosco e com o Santuário... Eu sei tudo que aconteceu! Sei que você ajudou Aiolos a fugir, que criou uma ilusão em cima de uma boneca de pano... E sei que seu tio Saga não desapareceu, mas que está ocupando o lugar de Arles.

—Mas... Se sabia de tudo isso, por que não interveio? Por que não impediu toda essa quizumba?

—Porque não se pode ir contra o destino escrito nas estrelas, Marie... – respondeu com a mesma tranquilidade de sempre, me abraçando e fazendo um cafuné.

—Entendi... – falei, afundando-me em seu abraço – eu sei que você não pode falar para que eu não quebre o ciclo do destino, mas ao menos me diga: Violeta está a salvo?

—Ela se tornará uma bela e determinada jovem... E livrará o mundo de todo o mal.

—Que bom... Então vamos voltar... E manter o teatro até essa Guerra acabar.


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Notas finais do capítulo

Dicionário de Gírias

Coroa = velho
Grilado = preocupado
Irmão de Fé = Amigo fiel
barra = situação difícil
Ternurinha = garota bonita
Baratinado = drogado
Aplicar a Milonga = levar no papo
Dan McCafferty = Vocalista da banda Nazareth
figurinha = pessoa estranha
Entrevista com o Vampiro foi lançado em 76, então posso deixar a referência XD
fundido a cuca = confundido
Eutôquetôquenemtôdetantoquetô = estou bem (essa gíria é 100% BR, mas eu PRECISAVA MESMO usá-la)
tontão = bêbado
chapa = amigo
Caspita = Basicamente, a forma italiana de soltar um sonoro "CARALHO", uma vez que a palavra substitui "Cazzo", que é um dos "apelidos" do pênis.
bocomoco = estranho
bóia = comida
caretas = antiquado
chato de galochas = indivíduo inoportuno, mas pior que chato
de leve = discretamente
Qualé a tua = Qual seu problema?
banzé = confusão
Iugoslávia x Zaire na Copa de 74 = A partida acabou em 9 x 0 para a Iugoslávia.
quizumba - Confusão

+++++++++++++++++++++++++++++++++
Feliz Ano novo, pessoal!

Eu não revisei o capítulo direito, então... Caso peguem algo errado, por favor, me informem!!!

O fim está próximo.
Dulces Besos de Chocolate



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