A manhã em Lima começou preguiçosa, enquanto o céu azul escuro se pintava de tons mais claros e se iluminava lentamente pelos primeiros raios de sol da alvorada, a chuva da noite anterior ainda mostrava seus sinais, as folhas tinham leves toques de orvalho em suas superfícies de um verde esmeralda fresco, os pássaros chacoalhavam suas penas levemente úmidas e soltavam as primeiras melodias para acalmar o ar da manhã.

No quarto mais afastado da casa, os raios dourados penetravam pelas cortinas que haviam sido deixadas abertas na última noite, eles retumbavam pela atmosfera silenciosa do cômodo, fazendo com que as partículas de poeira dançassem graciosamente pelo ar, então terminavam sua jornada batendo forçadamente contra o piso de assoalho claro e se espalhavam pelas paredes escuras.

Haviam duas garotas na cama, uma delas tinha os cabelos loiros espalhados pelos lençóis, a pele clara levemente rosada nas bochechas por causa do frio que havia feito durante a noite e os olhos azuis da cor do mesmo céu que cobria a casa naquele momento estavam bem abertos, ela se sentia cansada, e queria dormir, mas você não dorme se tem algo para proteger, e naquele momento, por mais que ela fechasse os olhos e tentasse entrar em um estado inerte que a fizesse melhorar um pouco todo aquele estresse, ela sabia que tinha algo para proteger, ou alguém, velava atenciosamente o sono de Santana, arregalando os olhos a cada sinal de que ela fosse acordar, a latina vinha tendo pesadelos durante toda a noite, ás vezes sussurrava algo intangível ou fazia movimentos bruscos.

Mas toda a capacidade de dormir que ainda habitava no corpo da loira se foi quando, no meio da noite, a morena se debateu e chutou os lençóis, empurrando Brittany com força e brigando com algum agressor invisível, a dançarina a apertou em seus braços e esperou que ela se acalmasse, a morena acordou e caiu aos prantos, sendo amparada pela loira, mas não contou sobre o que tinha sido o seu pesadelo.

Santana acordou alguns minutos depois do sol aparecer lá fora, ela se espreguiçou levemente e encarou a loira com um sorriso cansado, antes de perceber as enormes olheiras da mesma.

- Você passou a noite acordada? - Santana perguntou, arregalando os olhos. - Brittany! Me diz, você dormiu? - a loira apenas balançou a cabeça negativamente e olhou a morena, com uma expressão de dúvida cautelosa. - B, foi só um pesadelo

. A latina abraçou a loira com cuidado, como se ninasse um bebê, enterrando seu rosto nos cabelos dourados e suspirando devagar, soltando todo o ar dos pulmões rapidamente.

- Com o que foi o sonho? - insistiu a loira, olhando o rosto de Santana com seriedade, a hispânica suspirou pesadamente.

- Meu pai, eu sonhei com meu pai. - admitiu.

- Como era o sonho? - Brittany perguntou, segurando o rosto da morena com as duas mãos.

- Ele vinha aqui e... Me levava pra longe de você. - sussurrou, sentindo uma lágrima se formar no canto de seus olhos.

- Nada vai nos separar, San, nada, eu prometo pra você. - pediu, os olhos azuis suplicantes.

- Melhor você dormir um pouco, eu fico aqui com você. - Santana avisou, abraçando a loira, que logo se venceu pelo cansaço e dormiu. A morena a apertou forte e começou a sussurrar vários "eu te amo" enquanto beijava os cabelos dourados e lágrimas saíam de seus olhos, as lembranças do verdadeiro sonho vindo em sua cabeça.

"Ela acordou no chão, estava no meio de uma floresta escura, o ar cheirava a pinho e terra úmida, as árvores cobriam o céu estrelado quase completamente, e ela podia ouvir uma coruja piar longe dali, de repente, atrás de si, um graveto se partiu e ela levantou de uma vez, seus braços estavam rasgados e com marcas roxas, o lábio estava cortado, as roupas rasgadas, e estava descalça.

Começou a andar para trás, vendo um arbusto se mexer, e do meio das folhas, uma figura alta apareceu, os olhos brilhavam em um tom desumano de vermelho, os dentes rasgavam o lábio inferior em um sorriso frio e doentio. Na sua mão, a lâmina de uma faca brilhou na escuridão e o corpo inteiro de Santana tremeu, ela olhou em volta, pensando para onde poderia ir, virou-se e correu o mais rápido possível por entre as árvores.

Seus pés doíam de encontro ás pedras, seu coração batia forte e seus pulmões estavam ficando gelados e rígidos pela sua respiração ofegante, mas, quanto mais ela corria, mais próximo ele chegava, começava a sentir seus joelhos falharem, então o homem pulou em cima dela e a faca se ergueu no ar, Santana percebeu quem era se perseguidor misterioso, o rosto de Antonio Lopez revelou-se na escuridão e ela sentiu o corpo inteiro tremer enquanto a faca descia, pintando sua blusa branca de um vermelho escarlate e fazendo com que um grito fino congelasse o ar."

A morena apertou Brittany ainda mais contra seu peito.

- Eu te amo. - sussurrou, beijando a cabeça dela, sentindo lágrimas descerem por seu rosto, ela se perguntava porque aquilo tinha mexido tanto com ele, porque ela estava com tanto medo, e porque estava com aquela estranha sensação de que talvez, nunca mais fosse ver Brittany, ela beijou o rosto da bailarina demoradamente, fechando os olhos.