Meu Amor Imortal 2 - O Legado escrita por LILIAN oLIVEIRA


Capítulo 36
Capítulo 36 - SÓ TUA PRESENÇA


Notas iniciais do capítulo

Meu sofrimento, nesta madrugada, foi desumano. Sua presença no meu sonho transformou-se em pesadelo, tortura, agonia. Não posso mudar esse sentimento, não quero viver mais de ilusão. Porém não sei como afastar de mim suas lembranças, e curar a infelicidade presente no meu coração. Latumia (W.J.F.)
Latumia.



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(Festival de dança espanhola)











A enorme fogueira no centro da praça, iluminava a noite de Gerona. A lua também contribuía com seu brilho. Estava cheia e brilhante naquele céu, mas estava sozinha, apreciando o espetáculo dos humanos. Não havia nenhuma estrela com ela. Todas pareciam ter se transformado em gente e descido para apreciar a festa mais de perto.







Pequenas barracas de comidas típicas em volta da praça e em ruas de acesso, enchiam ainda mais o local. Restaurantes tinham suas mesas e cadeiras para fora, na calçada em volta da praça principal, para que seus clientes pudessem apreciar o espetáculo da dança. O festival de San Martim del Rey, era um encontro entre a população e os visitantes, que lotavam a pequena cidade de Gerona na Espanha. As mulheres locais vestiam trajes típicos e dançavam a música flamenca em volta da fogueira, acompanhada dos violeiros e seus repentes, que soltavam melodias, horas tristes, horas flamejantes como o próprio fogo da fogueira, do centro da praça.






Lucian olhava tudo, com um brilho de satisfação nos olhos. Jane, ao seu lado, tinha sua mesma fisionomia de indiferença e até irritação, por estar tão próxima dos humanos.


– Vamos caminhar Jane.

Eles seguiram pelas ruas de Gerona. Os turistas enchiam o lugar, rindo, falando alto, cantando e fazendo bagunça. As mulheres humanas que passavam por eles, admiravam a beleza do belo moreno alto e forte, que não passava desapercebido entre a multidão. Lucian tentava não olhar para elas, mas algumas eram ousadas o suficiente, para fingir esbarrar nele.

Ele desviava rápido, para o próprio bem delas. Isso só ia derruba-las no chão. Era um contrassenso, ele e Jane caminhando juntos pela multidão. Lucian, um imã que atraia. E Jane, um repelente. Pois as pessoas desviavam dela antes de encosta-la.

– Pare de sorrir para o gado, Lucian.

Ela disse, em um grave rosnado de desgosto e raiva.

– Lembre-se porque estamos aqui.

Lucian desmanchou o sorriso e olhou com desgosto para Jane. Ele mesmo tinha se prontificado para aquela missão. Não que os assuntos de Volterra tivessem agora para ele, algum interesse. Mas porque se sentia miseravelmente culpado pelas coisas terem chegado àquele ponto.

Nerida tinha fugido do castelo. E isso incendiou de forma perigosa a fúria de Aro, com quem ultimamente estava dividindo minutos ardentes, ao lado dele. Lucian sabia que ela só fez isso por dois importantes motivos. Primeiro, proteger-se de seu próprio pai, no castelo. Segundo, para causa-lhe um ciúme. O primeiro, ela tinha atingido seu objetivo com louvor. Tinha se tornado intocável dentro dos portões do castelo. Mas alcançar o ciúme de Lucian... Isso era impossível. Ele só se sentia enojado pela atitude dela. Mas agora, ela fugira, se colocando em uma situação muito perigosa. Aro tinha enviado Jane e Nahuel para a missão de resgate de Nerida, mas Lucian pediu que fosse, no lugar do híbrido, causando uma pequena discussão entre ambos, que ele não se importava nem um pouco. Humilhar Nahuel, tinha se tornado um esporte para Lucian, que ele praticava por algumas vezes, com imensa satisfação.

– Por que ela fugiu, Lucian?

A pergunta de Jane, logo depois deles terem percorrido toda a praça a passos humanos, para não chamar atenção.

– Não sei!

– Vocês não estão mais juntos. Qual o motivo? Desde que voltou da Espanha, parece que tem andado mais solitário.

Lucian não estava com vontade de conversar com ela sobre isso. E nem poderia, obviamente.

– Não pense que é por sua causa, Jane. Eu e Nerida só chegamos a um empasse, onde eu só poderia oferecer aquilo a ela. E ela deveria desejar algo mais para si.

– Ela correu para Mestre Aro. Acho que isso define muito bem que tipo de criatura ela é. E o que ela quer para si.

– Fazemos coisas estupidas, ice girl. Você, mais que ninguém, deveria saber disso.

Ela parou, encarando Lucian. O obrigando a parar, e olhar para ela também.

– Não me arrependo das coisas que fiz. Nenhuma delas. Nunca, Lucian.

Lucian se desfez do aperto dela, em seu braço.

– Aí está uma das nossas inúmeras diferenças. Eu sim! De muitas coisas, na verdade. Pelo pouco tempo que tenho de vida... Isso já está bom pra mim. É lamentável que você não pense assim.

Jane o olha com mais intensidade. Buscando a verdade naqueles olhos de tempestades, que a cada dia se tornavam mais sombrios e escuros. Mesmo temendo a pergunta que iria fazer, a faz, mesmo assim.

– Do que se arrepende... De nós?

Lucian fecha os olhos, incomodado com as lembranças que veio a mente, e abre em seguida, olhando em volta as pessoas andando e comemorando, rindo felizes. Alheias a conflitos assim. Ser imortal era isso. Sentir tudo, ao mesmo tempo, de forma intensa e também sobre-humana. Os humanos são mais simples. Feliz, triste, amor, ódio... Os opostos não ficavam juntos no mesmo espaço da mente.

– Não temos um futuro, Jane. Você é complicada demais.

– E você, não?

Ela rebateu, rápida como sempre.

Lucian teve que sorrir com isso. Ele era uma versão de tudo que se define de complicado.

– Sim, sou. Tem razão.

Jane novamente tocava seu braço. Só que de forma mais suave.

– Somos perfeitos um para o outro, Lucian. Entenda isso, e pare de se questionar por coisas sem sentido. Vejo você tão claramente. Você e eu juntos, Lucian, seríamos intocáveis, poderosos e indestrutíveis. Não vê isso?

Lucian engoliu sua própria saliva nessa hora, e ela desceu com o gosto amargo.

– Você me quer, mas luta tão ardentemente contra isso. Por que, Lucian?

Lucian sabia o porque. Olhou para seu braço, e a mão de Jane que o tocava. Seu toque frio e sem vida. “Vida.”

– Não posso ser como você, Jane. Isso me destruiria. Eu sei que está satisfeita onde está. Mas isso para mim, perdeu todo o sentido.

– Do que está falando? Que vai embora?

– Se eu for... Viria comigo, ice girl? Largaria seus mestres amados e viveria comigo? Do meu jeito? Como eu vivo?

– Por quer isso? Você é um príncipe, Lucian. Você pode governar Volterra um dia. Eu estaria com você, do seu lado... Seria perfeito! Nações de vampiros iam temer, ao ouvir nossos nomes. Juntos, Lucian. Você e eu. Por que largar isso? Para onde iriamos?

Lucian sorriu, desviando os olhos, dos de Jane.

– É só uma bobagem. Eu não vou a lugar nenhum.

Jane não acreditou nisso. Apenas ficou na ponta dos pés, para poder alisar o rosto de Lucian, em um carinho, que ela jamais poderia dar a nenhum outro. Somente ao lobo.

– Eu amo você, Lucian de Volterra. Para meu desespero eterno. É você, o senhor do meu coração, se é que tenho algum, ainda. Eu sei, que de alguma maneira, você é meu também. Pelo menos, uma parte de você é minha. A sombria. Aquela que você esconde. Essa parte me ama também. Eu sei.

Lucian retirou as mãos frias que cobriam seu rosto, devagar, lentamente, incomodado por receber declarações de amor de Jane...

– Talvez tenha razão, Jane. Mas eu faço as minhas escolhas, e não vou contra ao que eu sou, nem vou me transformar naquilo que eu mais desprezo. Nem mesmo por você, ou por esse sentimento estranho que desperta em mim.


Lucian saiu dali, e Jane não fez menção de segui-lo. Ele caminhou sozinho pela praça principal, e sentiu que Jane se afastava em outra direção.



A praça de Gerona, cada vez estava mais cheia, e Lucian logo percebeu que seria impossível, que Nerida pudesse estar ali, no meio de todo aquele povo. Desistiu de encontra-la e começava a sentir a música do local penetrar em sua cabeça. Olhou para o centro da praça. Mulheres lindas. Morenas dançavam a música espanhola, ao som dos violeiros e com o ritmo de suas castanholas. Seus pés batiam de forma ritmada, em um tablado de madeira, colocado ali para que elas batessem seus pés e ditassem o ritmo da dança. Belas espanholas, legitimas em suas saias rodadas, que mostravam de forma sensual, algumas partes de suas cochas, quando faziam alguns movimentos. Algumas tinham rosas prendendo seus cabelos em um firme coque. Umas, com pequenas coroas e outras de forma selvagem, deixavam seus cabelos soltos. Seus movimentos lembravam as labaredas da própria fogueira ao centro. Mulheres de fogo, dançando em volta da chama. Lucian se perdeu ali. Não sabia se era pela música envolvente, ou pelo estranho e familiar cheiro que invadia seus pulmões. Agora, fechou os olhos, só para apurar seu olfato e audição. “Canela, misturado com terra molhada.” Abriu os olhos, e seu corpo levou um choque com isso. Sua pele começou a esquentar e tremer de um jeito, que seu coração começava a sentir. Lucian tocou o peito, só para confirmar que seu coração começava a bater em um ritmo estranho, como as castanholas das dançarinas. O cheiro o despertava de forma quase elétrica. Olhou em volta, para entender quem estava ali. Quem estava brincando com ele assim...



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– Leah? Leah?



Cruz tentou de novo, chamar sua amiga. Mas ela parecia em algum tipo de transe. Não se mexia, e olhava o espetáculo da fogueira, parecendo hipnotizada.





Cruz se colocou à sua frente, sacudindo seus ombros com força.





– Acorde, Leah!


Leah olha para Cruz, como se estivesse vendo-a pela primeira vez.

– O quê?

– Parece que dormiu em pé. Sei lá!

Leah olha em volta. Tinha algo ali. Algo estranho e não humano. Estava entretida, olhando as mulheres dançando tão lindamente, com suas castanholas ritmadas, que pareciam em outra dimensão. E o cheiro, que estava a atraindo, de algum lugar naquela multidão. Se sentia quente, como se sua transformação tivesse vindo. Mas era diferente. Mais acolhedor. Quase sensual.

“Que merda é essa?”

– Temos que sair daqui, Cruz.

Cruz estranha. Mas concorda, com a cabeça.

– Pensei que estivesse gostando da dança.

Leah olha de novo para as dançarinas e os violeiros. Triste por ter que sair dali, e não poder apreciar o final do festival. Mas tinha algo ali. Uma presença estranha, que não tinha como ser ignorada. Ela não sabia se era um vampiro ou outra coisa. Não ia ficar para conferir. Não ali, no meio de todas aquelas pessoas. Não era controlada, ao ponto de não deter uma transformação quando via um sanguessuga. Ainda mais sem um bando. Seus instintos de preservação falariam mais alto.

– Vamos, Cruz! Vamos voltar para o hostel.

– Vamos por aqui. Tem um caminho mais curto.

Cruz pega Leah pela mão, e as duas vão passando em meio a multidão, desviando da confusão que estava na praça.

Leah sente suas pernas pesadas, e seu corpo parece brigar com sua mente. Algo estava a puxando para outra direção, mas se concentrou em seguir Cruz. Provavelmente, o perigo estava justamente onde seu instinto queria seguir tão avidamente.

Cruz continuou sua marcha, e horas tinha que forçar a passagem pelo povo da praça.

Um homem aparentemente embriagado, se posicionou na frente delas, e Cruz mandou ele sair, em espanhol. O home só sorriu, se aproximando delas, esfregando ainda mais seu corpo em Cruz.

– A dónde vas con tanta prisa, hermosa niña?

Leah fica alerta, já temendo a reação de Cruz, pois o coração acelerado da garota denunciava que ela estava nervosa.

– Fuera de mi camino, idiota!

Leah não entende o que eles estão falando um com o outro, mas era óbvio que uma briga estava para começar.

– Ele esta bêbado, Cruz. Não vale à pe...

Antes de Leah conseguir terminar a frase, Cruz derruba o copo de bebida do homem nele mesmo e xinga ele várias vezes.

– Yo lo decía salir de mi camino, idiota, cuerno, hijo de puta.

O homem fica vermelho de ódio, e parte para cima. Mas Leah empurra Cruz, para que ela desvie do golpe e agarra a mão do homem no ar. O homem não entende a força daquela mulher, e tenta mais uma vez acertar ela com a outra mão. Mas cai, tropeçando nas próprias pernas e vai de encontro aos outros, que o empurram. Começando com isso, um caos generalizado, onde uma briga estava sendo armada. Homens começam a se socar. Mulheres histéricas a gritar. Cruz olha a tudo assustada e sem entender como aquilo tinha começado. Leah não espera, e a tira dali, a puxando rápido pela mão. As duas começam um correria pelas ruas de Gerona, fugindo da confusão.

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Lucian tenta alcançar algo, mesmo sem saber o quê. A sua procura só se torna mais desesperada, quando percebe que o cheiro está mais fraco e seu coração já voltava ao ritmo normal. À frente, uma confusão se arma. Uma briga, com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. Garrafas voam pelos ares. Cadeiras eram quebradas, uns nos outros. Socos e xingamentos, em meio a uma gritaria, e pessoas que corriam sem rumo por toda a praça. Logo sentiu a presença de Jane ao seu lado de novo.


– O que ouve aqui?







Lucian rosna para ela, sem saber o motivo daquela reação. Mas o fato dela estar perto do que ele estava procurando, o incomoda de forma quase irracional.







Jane olha sem entender para ele. Mas apenas balança a cabeça com desgosto.



– Se controle, cão! Quer arrancar minha cabeça, por que?

Lucian não saberia responder. Mas tenta se concentrar de novo.

– Não tinha ido embora, Jane?

– Sim, mas logo essa confusão me chamou à atenção. Pensei que fosse você.

– Vamos embora daqui. A polícia está chegando.

Sim, era verdade! Logo as sirenes das autoridades foram ouvidas e a multidão foi dispersando. Jane e Lucian seguiram calados, para outra direção.



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Leah e Cruz ainda corriam pelas ruas, mas logo as pernas de Cruz começaram a queimar pelo esforço que estava fazendo. Parou, soltando-se da mão de Leah. Ela se encosta no muro, tentando recuperar o ar que parecia ter sumido. Leah para, encarando-a.





– Preciso de ar, Leah.







Cruz pede, com a mão no peito, e se encosta no poste à sua frente. Começa a passar mal e vomita. Leah segura seus cabelos, e a menina quase cai no chão, tonta.





– Calma, Cruz! Se segure em mim, garota. Assim!


Leah a ampara, e a menina tenta se recompor.

– Caramba, Leah... Onde aprendeu a correr assim? Era maratonista na América, ou o quê?

Leah sorri sem graça para Cruz, que já parecia estar se recuperando.

– Eu só queria saber o que disse para aquele cara.

Cruz ri e faz cara de falsa braba.

– Eu só disse que ele era um corno filho da puta. Foi você que quase arrancou o braço dele e eu achei isso o máximo.

Leah riu com a cara que Cruz fazia.

– Vamos para casa, sua maluquinha. Já chega de emoções por hoje.

– Não! Vamos voltar e começar mais uma briga. Eu bato dessa vez ...

Cruz tentou, mas Leah já puxava a garota de volta para o caminho do hostel.

Olhando para elas, do alto de uma construção antiga, parecendo um gárgula na ponta do prédio. Uma figura as observa em silencio, enquanto elas se afastam. Usando luvas negras e uma capa de couro, tendo seus cabelos presos em uma firme trança. Nerida as observa se afastar. Se estica um pouco mais na batente do prédio. Mas se esconde de novo. Quando percebe que Leah parou e se virou, encarando o escuro onde estava escondida.

– Leah!

Cruz a chama, e ela caminha de volta à amiga, que a aguarda na frente.

– O que foi?

– Nada. Só achei que tinha alguém nos olhando.

Nerida sorri satisfeita com sigo mesma. Tinha encontrado algo bem interessante nas ruas de Gerona.

– Uma lobinha perdida do bando. Que bonitinho...

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