Meu Amor Imortal 2 - O Legado escrita por LILIAN oLIVEIRA


Capítulo 30
Capítulo 30 - DESPERTAR


Notas iniciais do capítulo

É muito difícil fazer sua cabeça e
seu coração trabalharem juntos.
No meu caso, eles não são nem amigos.
Woody Allen

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Para entrar na Vibe de Lucian em Volterra , sugiro escutem -Skank - Sutilmente Deixei alguns trechos em negrito no decorrer da estoria onde a musica melhor se encacha



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( Sarah )


– Droga guando isso vai parar?

Alisava mais uma vez meu rosto, com a vaga esperança que isso fosse sair como uma maquiagem. Mas como se arranca a própria pele indestrutível? Meus olhos estavam maiores, minha boca mais carnuda, as bochechas pareciam duas metades da maçã. Sentada naquela, que era desde sempre minha pequena penteadeira infantil, me senti tão inadequada e deslocada. Uma figurinha fora do álbum, perdida na gaveta de meias. Preciso mudar tudo. Dizer adeus a minha cama de princesa e meus brinquedos. Só esse pensamento já me deu um desânimo, que atingia minha alma. Era como dizer adeus a velhos amigos queridos. Mas a sensação de se estar inadequada a tudo ali, me impulsionava a seguir em frente.

– Preciso de caixas. Muitas caixas! Que falta faz Alice nessas horas. Cadê você, minha fada madrinha?

Uma batida na porta. Sarah desviou sua atenção para lá e sorriu de orelha a orelha, com a mão na boca e lágrimas, que já ameaçavam a cair.

– Foi daqui que chamaram o serviço de fada madrinha?

Sarah se jogou nos braços de uma alegre e saltitante Alice, que saltava também ao seu encontro.

– Alice!! Eu não acredito! Quando chegou?

– Agorinha. Corri pra cá com Jass, que está lá embaixo com Edmond. Ei, o que é isso? É pra ficar feliz ao me ver, não chorar como uma bica vazando.

Sorri com o comentário de Alice, que secava minhas lágrimas com o lencinho que estava na penteadeira. É... Ali era o lugar definitivo deles, devido ao meu contínuo uso de lencinhos. Do babador aos lencinhos kleenex´; de papel. Quem disse que eu não estou evoluindo?

– Senti tanto sua falta, Alice. Quero ir com você na próxima vez. Não importa para onde.

Ela me olhou desconfiada e duvidosa de minhas palavras desesperadas.

– Vamos, pare com isso Sarah, e me conte o que está acontecendo, minha flor.

– Como, tia? Olhe pra mim! Eu estou toda errada, não vê? Uma criança, no corpo de uma menina de doze, treze... Sei lá qual é minha idade. Só sei que toda vez que me olho no espelho, não sei quem eu vou encontrar lá.

– Calma, Sarah! Precisa ter paciência com seu corpo, querida. Sua mãe também passou por isso. E você está linda, querida. Linda, mesmo.

– Foi diferente, tia. Eu sei que foi. Ela sempre foi bonita e tinha meu pai… Que já a amava.

Eu não tinha como não pensar em Seth. Em seu imprinting. Mas ele não me via. Não parecia nem mesmo querer me ver de outra forma. Eu crescia a cada dia, mas ele ainda me tratava como criança. Nunca mais conversamos sobre aquele dia no penhasco e tudo que aconteceu lá. Mas eu nunca vou esquecer. Aquele dia está gravado em minha mente, com uma marca feita por um ferro em brasas.

Sentei desolada na minha poltrona rosa. Alice afagou meu cabelo, se sentando aos meus pés. Encostou seu rosto lindo e perfeito nos meus joelhos, e lembrei quando era eu a ficar assim com ela.

– Sabe o que precisa, não sabe?

A imagem de Seth invadiu minha mente de novo, nessa mesma hora. Sim, eu sei o que preciso. Mas é claro que isso era como querer uns diamantes para fazer de lustre. Mas olhei para ela com esperança, aguardando suas mágicas palavras de solução. Seus olhos brilhavam como estrelas, e eu sabia exatamente o que aquela mente brilhante maquinava. Falamos juntas, na nossa cumplicidade íntima.

– Compras!!!

Rimos, unindo nossas testas. Em um salto, ela se colocou de pé, graciosa como sempre.

– Vamos logo, então. Sua mãe e Rose vão com a gente. Vai ser como os bons tempos, ouvindo músicas de meninas no rádio e cantando ao vento, a todo volume. Vamos torcer para que Charlie não nos pare, nem nos multe. Agora vai se arrumar. Vou organizar tudo para nossa pequena aventura.

Alice olhou para o quarto em volta, e soltou um gemido de desgosto.

– O que seria de vocês sem mim? Este quarto já era, amor. Hora da segunda temporada.

Saiu saltitando e eu ouvi ela lá em baixo como um general. Totalmente transformada, dando ordens a todos. Podia imaginar a cara do meu pai, Edmond e tio Jass, agora.

(( Vamos Jake. Preciso de caixas. )) (( Edmond, você também. Ajude seu pai. Ele é um morrinha. ))(( Jass, amor. Quero aquele quarto vazio até a hora de chegarmos. )) (( Sim, Nessie! Tudo deve sair. Espero que a sua garagem esteja vazia, pois nada ficará naquela quarto. )) (( Vamos ao shopping, à loja de moveis e decoração. Preciso de Esme e Bella aqui. Elas vão trocar a cor do quarto. Cortinas, toda a parte de acabamento... Trocar tudo. Estou entre o beje ou o verde. O que acha Nessie? Chega de rosa. Parece que ela dorme dentro de um algodão doce. ))

(( Alice, foi você que decorou da última vez, lembre-se. ))

(( Tenho memória seletiva, Nessie. Memória seletiva. Isso me impede de lembrar coisas que não tem mais a menor importância. ))(( Aff! ))

Sorri, ouvindo tudo que acontecia lá em baixo. Assim como meu corpo, meus sentidos também tinham dado um salto pra frente. Eu agora tinha que usar sutiãs. Nada comparado ao das meninas da mesma idade, que eu era. Quase um nada, segurando coisa nenhuma. Mas era estranho ficar sem, de qualquer jeito. Já tinha uma pequena insinuação de algo ali. Ridículo, mas eu não tinha escolhas a fazer quanto a isso. Meu corpo e minha mente tinham um sério problema de comunicação. Indo para o banheiro, para um banho rápido. Eu me sentia feliz agora. Alice era como um mini furacão. Sabia que tudo seria feito com a rapidez de um estalar de dedos. Ela colocaria todos em estado de loucura. Mas todos corriam para atende-la. Era um dom que ela adquirira com o tempo, eu acho. Continuei ouvindo toda a movimentação (( Edmond, preciso saber como está seu quarto. Por favor, não me diga que está com aquela decoração de lobinhos de antes, e aqueles poster horrorosos, com bonequinhos estelares medonhos ---- silêncio ---- Como vai arrumar uma namorada assim, moleque? )) (( Não vai entrar no meu quarto, tia Alice. Mãe! MÃE!!! ))

(( Desculpe, filho! Eu… Não posso controla-la. Acho que ninguém pode, na verdade. )) Ouvi passos correndo e uma porta batendo com força. (( Não vai entrar aqui, tia Alice!! )) (( Garoto tolo! É só uma questão de tempo. Uma porta não vai me impedir. )) Tia Alice entrava de novo no meu quarto, com uma expressão de vitória no rosto. Sorrindo satisfeita com sigo mesma. Eu colocava um vestido laranja, com saltos pretos e uma bolsinha tipo carteira. Ela avaliava meu look com aprovação nos olhos, me encarando através do espelho.

– Minha afilhada! Você me enche de orgulho.

Antes mesmo de eu poder olhar, ou me lamentar pelas coisas que teria que dizer adeus, meu quarto foi invadido. Meu pai e Tio Jass, que veio falar comigo, me abraçando e girando comigo em um abraço, vinham para executar as ordens da pequena general. Parecia um programa como estes da TV. Sua casa, seu estilo, ou Cada coisa em seu lugar. Ela era o próprio Thom Filici* ou a Nice Nash*, dando ordens de como tudo devia ser retirado. Suas pequenas mãos na cintura e seu pézinho batendo no chão, era sinal da sua impaciência, por querer que tudo fosse feito mais rápido.

– Acho que precisamos de mais mãos aqui. Nessie ligue para Edward e diga para ele vir com Emmet. Músculos! Precisamos de mais músculos.

Rezei para que na volta, não encontrasse uma venda de garagem no quintal. Me aproximei do meu pai e o toquei no ombro, me comunicando.

“Salve minhas coisas. Preciso ver depois o que quero guardar.” Ele piscou, me deixando mais tranquila.

– Estará tudo na garagem, para você escolher o que quer guardar. Não se preocupe.

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(Mansão dos Cullens//Sarah )


Eu olhava a estranha criança de olhos cor de mel no berço. Seus cabelos quase loiros, de um castanho mais leve. Sua pele era amorenada. Tão diferente! Não era fria. Era quente como minha mãe. Ela dormia tranquilamente, com sua roupinha de princesa que compramos para ela, no shopping. Quase pirei quando tia Alice me contou dela.



– Por que ela não é branquinha como minha mãe, vô?


Carlisle tinha esperado até a pequenina dormir para colher uma amostra de seu sangue. Ele foi tão rápido em fazer isso, que eu acho que ela nem tinha se dado conta.

– Não tenho certeza, Sarah. Mas é provável que sua mãe tenha sido alguém de origem hispânica, mais morena.

– Ela tem a mesma cor dos quileutes. Eu gosto. É bonita!

Ela é mesmo linda. Uma boneca.

– Acho que Soy vai perder sua babá.

Sorri para minha mãe. Ela sabia que eu amava bebês e seus cheirinhos. Amo Soy, e agora amo minha priminha Aurora.

– Eu amo as duas. Vamos ser grandes amigas quando elas crescerem. Seremos inseparáveis. Aurora vai crescer rápido como você e Ed, e logo logo vamos passear por La Push.

– Sem pressa para isso.

Tia Rose falou, meio tensa. Eu e minha mãe nos olhamos e rimos da cara dela. Sabíamos que ela não se simpatizava em nada, com a ideia de ter lobos em volta de sua filhinha. Sim! Ela finalmente tinha seu bebê. Como isso tinha acontecido, eu não sei. Largada em um bosque, em meio a Espanha. Uma híbrida! Aquilo mais parecia um conto de fadas.

– Acha mesmo que eles desistiram dela, Rose?

Minha mãe perguntou, alisando a cabecinha de Aurora. Rose a olhou nessa hora, e uma sombra passou em seus olhos. Eu vi claramente isso. Ela não estava contando toda a verdade, mas minha mãe não percebeu. Aceitou o silêncio dela, como se uma apreensão de que os pais, um dia poderia revindicar esse bebê. Continuei encarando minha tia. O que ela estaria escondendo? Sai dali incomodada. Não gosto disso. De ver pessoas mentindo. Em especial, alguém tão próximo como minha família. Fui para o quarto de Alice. Ela cantarolava, colocando as roupas novas que tínhamos comprado no shopping, no closet. Parou com um sorriso no rosto assim que me viu.

– O que foi, Sarah?

Tentei dar a ela um sorriso fraco. Olhei para a porta, para sentir a aproximação de alguém, mas não vinha ninguém. Estavam todos espalhados pela casa, minha mãe com minha tia Rose no quarto, de Aurora , ainda zelando o seu sonho de anjo.

– O que estão escondendo, tia Alice?

Ela não esperava por essa, e seu sorriso sumiu de seu rosto de fada.

– O que esta falando, Sarah?

– Aurora. Como ela chegou a vocês?

Alice sorriu e me fez sentar em sua cama. Começou a contar a mesma história de que eles estavam caçando e ouviram um choro de criança. Ela é uma boa contadora de histórias muito habilidosa. Mas em nenhum momento me enganou com aquilo. Terminou, juntando as mãos de forma tranquila. Eu sorri fracamente e dei um beijo em sua bochecha, mas sussurrei em seu ouvido a seguinte frase. “Muito boa a história, mas eu preferia a verdadeira.” Ela fingiu não entender, e aquilo me magoou. Mentiras! Suspirei fundo, indo para o segundo andar. Ed trancado no escritório com Carlisle, obviamente analisando a pequena amostra de sangue de Aurora. Mais uma pequena cobaia para eles. Bella e Esme na cozinha, preparando coisas para um lanche. Emmet e Jass jogando pôquer na sala, em uma aposta absurda de grandes fortunas, que eu nem quis pensar muito. Sai dali, procurando as duas peças que faltavam naquela cena, e os encontrei afastados gradativamente a passos lentos, de uma caminhada estranha, paralelos.

Meu avô e meu pai, em uma conversa baixa e sussurrada. Olhei para dentro da casa. Ninguém parecia ter notado eles se afastando cada vez mais, como se tivessem algo secreto para falar... Minha mente costumava me levar para certos lugares fantasiosos. Eu tinha que ficar sempre atenta a isso. Mas eu não estava fantasiando. Eles estavam andando para cada vez mais distante, para uma conversa privada... O segredo vai ser revelado naquela conversinha. Sorri travessa, em minhas conclusões de Sherlock. Ok, eu podia fazer isso. Saí da casa. Tirei os sapatos de saltinho, deixando eles em um cantinho, escondidos na varanda. A grama fazia cócegas gostosas nos meus pés. Eu poderia facilmente ser vista por eles, mas eu tinha que ficar contra o vento, para não ser denunciada pelo meu cheiro. Uma pequena distância, eu tinha que manter para eles não ouvirem meu coração ou respiração de longe. Não vão pensar que sou eu. Vão achar que é um animal da floresta. A cabana. É para lá que estavam indo. Não entraram. Se sentaram no banco de tronco que havia ali em frente. Eu me esguiei em meio a árvores, subindo em uma, ficando no alto como um posto de observação. Ri internamente na minha pequena traquinagem infantil. Mas o que eu ia fazer? Eles tinham segredos agora e eu sou curiosa. Não me digam para guardar segredos, ou não tentem esconder nada de mim. Isso não funciona muito bem.

– Era ele? Tem certeza Edward?

A voz do meu pai, eu quase não reconheci. Falou tão baixo, sem seu tom grave. Parecia triste.

– Sim, era ele Jacob. Precisamos encontrar um jeito de contar isso a Nessie. Não sei! Tenho um mal pressentimento quanto a isso.

– Não posso esconder coisas da Nessie, Edward.

Meu avô lançou um olhar de descontentamento para meu pai. Eu nunca tinha visto eles brigarem antes, mas Ed tinha me contado que nem sempre tinha sido assim. Eles já foram inimigos declarados. Não sabia muito sobre isso. ED tinha começado a me contar, mas eu nem tinha dado muita atenção. E agora isso... De quem eles estavam falando?

– Jacob, preciso de sua ajuda. Ela não vai reagir bem se ouvir que ele já é um homem e está andando por ai. Ela não vai entender porque ele ainda não voltou para casa.

Meu pai tinha o rosto enterrado nas mãos e uma postura de apreensão e dor, e isso oprimiu meu peito. Eles estavam falando de Jason. Ouvi mais que queria. Depois disso, meu avô contou que fora ele, quem praticamente deixou meus tios trazerem a pequena Aurora. Mas a única coisa que eu conseguia pensar era nas palavras de meu pai que vieram depois disso. Ele levantou-se e encarou meu avô. Seus olhos mais escurecidos. Seu rosto em uma expressão que eu nunca tinha visto antes. Meu corpo começou a tremer levemente, e um quentura passou por toda a minha espinha. Nessa hora, quase caí da árvore onde estava, mas minhas mãos viraram garras, me mantendo ali.

– Isso não pode mais continuar, Edward. Eu não vou mais esperar meu filho aparecer aqui. Eu vou busca-lo.

A voz do meu pai, seus olhos escurecidos e sua frase que ecoou como um chamado de guerra. Fizeram meu corpo esquentar. Mas era de um jeito estranho. Eu não queria isso. Minha mente parecia que tinha uma explosão de uma supernova lá dentro, e isso não estava correto. Meus olhos se fecharam. Eu caí. Mas não no chão, espatifada. Caí com a precisão de um gato, e isso causou um barulho que chamou atenção deles. Eu não poderia correr. Isso me denunciaria. Meus pés na grama e nas folhas iriam fazer barulho.

– Sarah!

Meu pai me chamou e eu fiquei imóvel. Ele usou a voz de pai brabo, e isso era algo que tínhamos que respeitar.

– Sou eu, aqui.

Disse bufando. Eu mesma me denunciei. Tão eu! Isso é que era patético.

– Escutando nossa conversa, Sarah?

Era uma pergunta. Eu achei que não valia a pena responder, já que ele sabia que sim. Eu estava mesmo.

Lamentei com um gesto. Ele e meu avô se olharam de forma preocupada.

– Eu não vou contar para ela. Mas vou com vocês buscar Jason.

Falei da forma mais firme que pude. Meu pai sorriu me abraçando e beijando o auto da minha cabeça. Meu pai se afastou um pouco de mim. Talvez estranhando a quentura em meu corpo, mas não disse nada.

– Ainda não temos certeza disso, Sarah.

Meu avô disse e eu olhei para ele junto com meu pai, desfazendo nosso abraço.

– Temos que falar com todos. Se tivermos que buscar ele, iremos todos. Prometi à minha filha, há alguns anos atrás, que se aquele garoto não voltasse por si mesmo, eu iria busca-lo. Vou cumprir minha promessa.

Meu pai e ele apertaram as mãos e sorriram. Mas eu não conseguia compartilhar desse mesmo espírito de otimismo deles. Eu sabia da profecia de Claire. Jason deveria voltar por si mesmo. Estávamos interferindo, e isso não poderia ser um bom sinal...

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( Enquanto isso em Volterra. )

Alec saiu, me deixando com a cara arrastando no chão e muita coisa para pensar...

Eu tinha que tomar consciência. Aqueles corredores de pedra não era um castelo. Era uma prisão. Alec é prisioneiro. Eu sou prisioneiro. Príncipe! Não! Isso era um belo engodo...

“Nem só nas masmorras vivem os prisioneiros Lucian.”

Alec me avisou. Em vários momentos ele me disse. Mas eu estava cego. Minha obsessão pela verdade sobre minhas origens me cegavam. Eu tinha ficado tão obcecado em saber de onde vim, que não percebia as coisas em minha volta. Onde eu estava exatamente? Que lugar de horrores era aquele? “Volterra não era o que eu pensava. Não era um palácio da justiça. Ali morava a cobiça, o ódio, a inveja e a ganância.” E eu era o príncipe daquilo tudo? Não! Não mesmo. Quando o momento de despertar me veio? Eu provavelmente já estava desperto, mas é como alguém em coma, que pode ouvir e sentir, mas não consegue se mover ou falar.

Mas aquilo ia mudar. Não ia mais ficar assistindo a tudo pacificamente. Acatando a ordem de reis enlouquecidos. Sim! Eles estavam loucos. Apoiar isso? Pesquisas com humanos. Se associaram a um vampiro lunático...

Me sentia energizado. Me encaminhei à sala dos tronos. Eu sabia que eles tinham retornado. O castelo tinha um outro ar quando eles estavam presentes, como uma névoa de poder que eles emanavam.

Eu abri a porta, que foi quase arremessada pelos ares. Estava tão furioso, que o lobo dentro de mim rugia como um louco e começava a querer sair. Meus dentes trincaram. Eu não queria me transformar. Queria explicações. Mas o lobo parecia querer sair e matar a todos. Algo tinha despertado ele, de forma selvagem. Não sei se era a minha consciência, de que tudo que eu acreditada estava caindo, ou se o fato da lembrança dos vampiros de olhos dourados estarem me consumindo. Tenho tanta certeza que eu os conhecia. Que os meus sonhos se misturavam a essa realidade insana. Eu caminhava em paços tão pesados, que os guardas do castelo começavam a marchar atrás de mim, em fila. Olhei para eles desafiadoramente e ele recuaram, voltando para suas posições.

Mas todo meu ódio caiu por terra, quando vi quem também estava ali. A porta foi aberta antes que eu chegasse até ela, naquela sala. Jane e outro vampiro, que mesmo sem ninguém precisar dizer nada, eu soube de quem se tratava. Joham.

Eu olhei em volta. Nerida parecia encolhida em um canto da sala. Nahuel me olhava com olhos especulativos.

Aro saiu de seu trono, vindo em minha direção.

– Que bom, meu príncipe, que veio se juntar a nós. Parece ter ouvido nosso chamado. Estávamos aqui, falando de você.

Eu não me movi. Meus olhos pairaram sobre Aro. Mas logo me desviei para Jane, parando em Joham. Ela tinha encontrado ele. Seguiu sua caçada sozinha. Obstinada e cruel. Eu estava mesmo atrapalhando ela. Mas eu tinha outras preocupações no momento.

– Quero aquele vampiro morto, Aro.

Disse, apontando para Joham, que ergueu as sobrancelhas com um ar de desentendimento.

– Por que, meu príncipe?

Aro perguntou, unindo as mãos.

Franzi o olhar com o centro dos olhos.

– Isso é alguma piada, Aro?

Marcus pigarreou, sentado em seu trono. Ele deu ordem para que todos saíssem da sala.

– Saiam deixem-nos com Lucian. Jane mostre a Joham, suas novas instalações para as pesquisas.

Caius disse. E sua voz soou estridente e raivosa. Ele estava contrariado com o meu comportamento. Eu estava me lixando para essa merda. Eles tinham mesmo intenção de continuar com aquilo?

– O quê esta acontecendo aqui, Lucian?

Aro perguntou

– Me digam vocês. O quê vão fazer com aquele vampiro?

– Isso não compete a você.

Caius falou de seu trono. Aro estende a mão em direção a Caius, para que ele entenda que esse não é o caminho para começarem essa conversa.

–Não é isso que Caius está dizendo, Lucian. Ele apenas disse que isso é complicado. Precisamos de Joham. De seu conhecimento e estudo. Ele avançou na pesquisa de evolução, de uma maneira que nenhum outro conseguiu... Lucian meu príncipe, vivemos em um era diferente. Evolutiva, onde os humanos estão a projetar armas de destruição em massa. Depredando o planeta em que vivemos sem a menor preocupação com as gerações futuras. Precisamos, meu querido, tomar a frente desse mundo. A era que vivermos nas sombras está no fim. Mas antes disso, precisamos nos preparar. O futuro é algo que se montra entre a tecnologia e a genética. Temos que estar um passo à frente dos humanos.

Minha mente absorvia aquelas palavras. Eu não sou um ogro ignorante. Volterra tinha me ensinado. Eles tinham me ensinado que os humanos estavam caminhando para sua própria extinção, destruindo o planeta e tudo que há nele. E sem humanos. Sem planeta. Os vampiros tinham a imortalidade. Precisavam de ambos, planeta e humanos. Mas o que ele estava sugerindo afinal?

– Está me dizendo que vamos nos mostrar. Que os humanos vão saber de nossa existência? O que eles vão ser para nós? Escravos, ou algo assim?

A indignação tomou conta da minha voz. Eu não podia aceitar isso. Algo dentro de mim começava se revirar de novo. O lobo bufava enlouquecido, querendo arrancar a cabeça de Aro. Ele percebeu e se afastou. Mas manteve sua aparência tranquila e despreocupada, como se não tivesse percebido que eu estava no limite do meu controle, ali.

– Não ainda. Mas num futuro próximo, Lucian. É isso sim, que vai acontecer. Para isso, precisamos de Joram. Para avançar em suas pesquisas. Para que entendamos como controlar melhor vampiros novos e novas formas de vampiros. Estamos em uma busca, Lucian, da qual nossa existência precisa. Os humanos. Os outros vampiros que não entendem que precisa ter uma ordem em tudo. Eles terão que ser controlados, e até mesmo exterminados. Decisões difíceis, que precisam ser tomadas, jovem Lucian. E nós somos os regentes. Cabe a nós as decisões difíceis. Nem sempre serão vistas com bons olhos. Mas tem que ser assim, para que possamos continuar e perpetuar a nossa sobrevivência.

Eu olhei os olhos de Aros saltados para fora, em uma expressão quase doentia. Sua expressão era algo que lembrava a de ditadores, como talvez Napoleão ou Alexandre. Um tirano! Eu desviei dos olhos dele, para Caius. Ele parecia uma estátua fria e entorpecida. Mas claramente concordava com Aro. Marcus tinha as mãos juntas, formando uma pirâmide. Mas nada nele parecia concordar ou discordar do que Aro dizia. Indecifrável.

– Por isso não vai mata-lo. Nem mesmo um julgamento por seus crimes.

Era uma constatação dos fatos. Eu não estava perguntando. Sabia que nada ia ser feito. Eles queriam Joham, para que ele continuasse sua pesquisa ali no castelo, embaixo dos olhos deles. Para que possam controla-lo e manipular tudo a sua maneira.

– Precisamos dele.

Foi tudo que ouvi de Aro.

Eu confirmei com a cabeça, me retirando do salão dos tronos. Não havia mais nada o que fazer ali. Eu tinha ímpeto de matar todos eles. Meus reis, a lei que eu tinha conhecido como a única regente no mundo dos imortais. Mas tudo isso não se encaixava comigo. Eu repudiava tudo aquilo. Aquilo me enojava. Queria fugir dali e não voltar mais. Abandonar aquela vida, aquele castelo. Vi o rosto de Alec, Chel, Felix, Nerida e até mesmo da minha odiada amante. Eles eram minha vaga ligação de família, minha distorcida família e amigos . Para onde eu iria? Um lobo solitário, vagando pelo mundo dos humanos, fugindo de Volterra. Sim, provavelmente eu iria ter que fugir. Abdicar daquele lixo não me parecia algo opcional algo que eu simplesmente poderia dizer . Não!vão todos para o inferno e me deixem em paz. Estava lá eu e meus demônios, em uma briga interna seria , mas tive que parar já não estava mas sozinho.

Minha visão periférica avistou ela me espreitando por entre os corredores da ala oeste. Parei.

– Pare com isso, Jane. Eu não estou com clima para seus jogos agora.

O simples fato de eu ter dito seu nome, e não um de seus apelidos carinhosos, me causou estranheza, e a ela também. Pude ver pela expressão de seu rosto, quando finalmente saiu das sombras, para me encarar.

– Não estou fazendo jogos com você. O quê está pensando, Lucian?

¨E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste¨

Esperei a frieza de meu corpo vir, mas ela não veio. O lobo estava em alerta máximo e eu sorri com isso. Ele não gosta dela. Ele sempre queria mata-la. Me aproximei dela, e ela se encostou na parede, acuada como um coelho.

– Que ficou bem melhor sem mim, caçando Joham. Eu realmente estava atrapalhando ice kid. Isso prova que eu e você somos totalmente incompatíveis.

Ela desviou seus olhos de sangue de mim.

– Está me olhando do mesmo jeito que me olhou na casa dos Salvatore. Quando me expulsou.

¨Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti ¨¨

Sua voz arrastada. Um sussurro sofrego. Droga! Eu odeio vê-la assim. Eu não sei lidar com ela assim. A assassina é fácil, a louca psicótica é fácil... Essa Jane, não. Ela me esfria. O maldito vampiro em mim gosta dela. Ela desperta minha sede por isso. Por que o vampiro em mim gosta da pequena megera do mal... Mas hoje, o vampiro estava debaixo da pata do lobo, sendo esmagado como um inseto. Eu não esfriei, mesmo me sentindo atraído por ela. O lobo ainda estava com raiva, querendo matar cada vampiro naquele castelo.

– Isso acabou, pequena Jane.

Disse, tentando ficar mais calmo. Ela não estava me atacando. Não ia ataca-la assim, descontrolado, do jeito que estava, ela ia morrer com certeza, e isso ia ser uma tormenta depois.

– Eu não achei Joham. Ele se entregou a mim. Desistiu, quando viu que não tinha mais para onde ir. Estávamos perto, Lucian. Iriamos conseguir. Juntos, você e eu. Era só uma questão de tempo. Não me olhe assim, Lucian. Eu... eu...

Ela estava barganhando. O quê é isso agora? Me aproximei mais. Queria toca-la, mas não. Fechei a mão em um punho e me afastei dela. Aquilo tinha que acabar, e esse era o momento. Eu tinha que aproveitar que o lobo estava ali. Que ele não ia me deixar recuar. Ele não ia me deixar mergulhar naquele mar de sangue, que são os olhos dela, de novo.

– Acabamos na Espanha, Jane. Bem no alto daquela igreja.

¨Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti¨

Me afastei dela, porque queria manter distância e porque passos rápidos vinham em nossa direção. Nerida! Eu já sentia seu perfume de oceano invadindo o corredores onde estávamos. Ela voou para meus braços, ignorando Jane à minha frente.

– Meu querido, preciso de você. Aquele homem... Não acredito que ele está aqui.

Seu corpo tremia levemente em meus braços. Jane olhou para nós e desviou,

seguindo para outra direção. Eu fiquei vendo ela se afastar, com Nerida em meus braços, soluçando um choro de desespero... O que ela tinha, afinal?

=================================


– Está calado, Lucian. Estranho desde que chegou da Espanha. Está distante de mim. O que está acontecendo, meu querido?



Nerida estende os braços em volta do corpo de Lucian, que apenas a recebe, sem demostrar qualquer emoção. Eles estão no quarto sobre a cama. Nerida passava todas as noites com ele. Embora o aparente distanciamento de Lucian, ela se sentia segura estando ao seu lado. Ter seu pai circulando nos corredores do castelo, podendo a qualquer momento cruzar com ele, era algo que ela tentava evitar a todo custo.


Lucian se desvencilha dos braços de Nerida, indo para o closet, à procura de um roupa. Nerida o segue, observando-o.

– Não vai me falar o que atormenta você, meu príncipe?

– Não me chame assim, Nerida. Por favor.

Lucian disse de modo seco, que Nerida não entendeu.

– Onde vai?

– Sair com Felix.

– Vai caçar?

Lucian estava cansado de explicar a ela que ele não caçava humanos, mas deu os ombros apenas concordando para que ela parasse de fazer perguntas.

– Quando volta?

Lucian a olha e respira profundamente, se aproximando dela. Segura sua cabeça entre as mãos, para que ela o encarasse, mas tenta ser o mas gentil possível. O que ele ia dizer iria magoa-la. Ele sabia. Mas aquilo tinha chegado ao fim.

– Não podemos mas ficar assim Neri. Isso não vai dar certo.

Nerida se afasta dele.

– O que está dizendo?

– Acabou Nerida.

– Não pode fazer isso comigo, Lucian.

– Nunca te enganei, Nerida. Sabe disso.

Ouve vários xingamentos depois disso, da parte de Nerida. Lucian apenas ouviu tudo, sem falar nada. Seus últimos dias tinham sido um plágio de si mesmo. Ele estava lá fisicamente, mas sua mente não, ia e vinha para outro lugar longe daqueles muros. Quando achou que finalmente Nerida tinha terminado, ele saiu em busca de Felix e de sua noite de torpor. Ia mais uma vez se entorpecer nas noites de Napoli. Fugir! Ele estava em uma fuga de si mesmo, sem saber quem era na verdade. Sem saber para onde ir .

¨E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe¨¨



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Notas finais do capítulo

http://letras.mus.br/skank/



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