Meu Amor Imortal 2 - O Legado escrita por LILIAN oLIVEIRA


Capítulo 10
Capítulo 10 - UM AMIGO PARA SARAH


Notas iniciais do capítulo

Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar...
O Teatro Mágico



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/314968/chapter/10

( Sarah primeira parte )

O sol que batia através das cortinas rosas do meu quarto, parecia um caleidoscópio de múltiplas cores. As borboletas de vidro que estavam espalhadas, presas na cortina, dava seu toque final. Parecia um mundo de fadas. Sorri, despertando com essa imagem. Estiquei meu corpo, numa preguiça gostosa. Mas espera... Esfreguei os olhos para ver melhor. Meus pés estavam fora da minha mantinha azul, e pareciam grandes demais para minhas meias de ursinho. Estou sonhando ainda. Não acordei. É isso Estou em algum sonho, tipo Alice no País das Maravilhas, que comeu algo e cresceu demais. Ou Cachinhos Dourados, dormindo na cama errada. Sorri em expectativa, esperando o coelho passar com seu relógio antigo, apressado, ou os ursinhos reivindicarem suas camas. Esperei… Esperei, mas nada aconteceu. Realmente aquele era meu quarto. Aqueles pés eram meus. Olhei de novo, na esperança deles terem voltado ao normal. Mexi os dedos através das meias, que estavam começando a me apertar. Definitivamente, são meus pés. Puxei a coberta até me esconder debaixo dela, e pude ver lá embaixo meus joelhos e... coxas?? O que é isso?? Agora minhas mãos? O quê? Me encolhi, agarrada aos joelhos, sem tirar a coberta de cima, que agora parecia mais uma caba ninha comigo lá em baixo... O que é isso??? Fiz a única coisa que poderia me salvar nessa hora...

– Mãe! Mãe!

Gritei com toda a força, mesmo sabendo que nem precisava. Mas eu estava nervosa. Não entendia muito bem o que tinha acontecido. Eu sei que tinha dormido na minha caminha. Meu pai tinha me trago. Contou minha estorinha da princesa, que beija o sapo e ele se transforma em um lindo principezinho. Me encolhi toda perto da cabeceira da cama. Comecei a contar de um a mil ao contrário. É como eu consigo me acalmar, sem causar um aneurisma nas pessoas. Mas nem tinha começado minha contagem e minha mãe entrou como um raio porta à dentro do quarto.

– Sarah, o que foi, meu bem?

Me descobri, saindo de baixo da manta. Edmond veio logo atrás, com sua cara de sono e cabelo desgrenhado. Estava só com a calça do pijama e me encarava de mal humor.

– O que a pirralha está fazendo agora, para chamar a atenção...?

Ele calou a boca rapidinho, quando olhou pra mim. Minha mãe tapava a boca aberta, para o ar não entrar, ou para o grito não sair. Eles não estavam me ajudando em nada, com suas caras de assustados. Onde está Seth, quando preciso dele? Trabalhando. Ele agora vive trabalhando.

– Sarah, venha até aqui, querida, para eu te ver melhor, meu amor.

Minha mãe disse, sentando na beirada da cama. Eu estava tão encolhida no canto da cama, que parecia uma bola. Fui deslisando pela cama, até minha mãe, que me esticava os braços com carinho. Não me contive e me joguei neles, chorando.

– Calma, amor! Fique calma. Ainda está contando?

Balancei a cabeça, que estava enterrada em seu peito, confirmando.

– Pode parar, amor. Se concentre apenas em se acalmar agora.

– Posso dizer para ela ficar calma, mãe.

Olhei furiosa para o sequelado do meu irmão, que tinha essa mania de querer usar o seu poder em toda as ocasiões, mas sempre é impedido por meus pais. Minha mãe olhou com paciência para ele.

– Vá se arrumar, Edmond, e dessa para tomar seu café.

– E perder o show? Nem pensar. Quero olhar a pirralha. Olha o tamanho dela! Dormiu bebê e acordou uma garota magrela de doze anos. Você nem sabe crescer direito, fedelha.

Aquilo foi demais. Voei pra cima dele, me desvencilhando dos braços de minha mãe. Ela tentou me agarrar, mas eu pulei como um gato rápido demais. Mas a peste to meu irmão, também é rápido e se desviou. Caí de quatro, derrubando minha linda casinha de bonecas. E ela se espatifou como um castelo de cartas. Oh não!! Sentei desconsolada, olhando ela toda destruída, pela minha força. Eu tinha tanto carinho por minha casinha de bonecas. Biso Charlie tinha me dado. Sentei, tentando encaixar as paredes do lugar, mas elas caíram sem demora. Estavam espatifadas. Minha mãe sentou ao meu lado, tirando as peças das minhas mãos, alisando meu cabelo em um afago carinhoso. Me sentia assim como a minha casinha... Espatifada e com as paredes desmoronadas.

– Não tem problema, amor. Seu pai conserta ela pra você, meu anjo.

E a mim? Quem vai consertar? Queria perguntar. Ela deu um beijo carinhoso na testa e olhou para Edmond, que saiu do quarto manso como um gatinho. Aquelas olhadas de dona Renesmee não eram para ser ignoradas. Eu sei muito bem. Geralmente, eram lançadas à mim.

– Mãe, o que aconteceu comigo? Olha pra mim! Fui dormir com quatro anos e acordei essa coisa.

Me desvencilhei de seus abraços e fui me olhar no espelho. Eu tô horrorosa. Pareço uma lombriga. Tô com o corpo de uma menina magricela de onze anos. Minha camisolinha, parece uma blusinha. Olhei pra dentro dela e quase gritei de novo. Parecia o peito de Edmond. Nem seios de menina eu tenho. O que é isso? Alguma metamorfose mutante? Olhei minha mãe, que sorria pra mim. Ela está sorrindo! Ela só pode está rindo da minha cara.

– Filha, calma! Eles vão crescer.

– Mãe, olha pra isso! Não tem nada aqui. Já que eu cresci, podia pelo menos ter vindo o pacote completo. Cadê meus seios?

Ela prendeu os lábios contendo o riso.

– Filha, tenha calma. Logo eles vão crescer e sairemos para comprar lindas lingeries pra você, amor.

Bufei derrotada, ainda me olhando no espelho.

– Olha minha pernas, mãe! Meus joelhos. Tenho dos gravetos! Edmond vai me perturbar com isso..

Me virei, só pra comprovar o que eu já previa. Nada! Nem uma bundinha sequer.

– Mãe, acho que vocês se enganaram. Eu sou um menino. Olha. Se eu prender o cabelo assim. ( puxei todo o meu cabelo pra trás) Vocês podem dizer que tiveram três meninos.

Minha mãe me olhava indignada, soltando meus cabelos das minhas mãos, arrumando eles sobre os meus ombros. Eu não conseguia desmanchar o bico, e ela me imitou. Tive que sorrir com isso. Nossa cara ficava idêntica quando fazíamos isso. Por isso, papai nunca resistia quando eu fazia igual.

– Não fique assim, amor. É normal!

– Não ter seios ou bunda, nem quadril. Ah! Isso deve ser bem normal, claro.

– Você cresceu um pouco nesta noite. Mas ainda está com o corpo de uma criança. Vamos ver vovô Carlisle no hospital, depois do café. Mas ele vai dizer que está tudo bem, amor. Venha. Deixa eu medir você na parede.

Minha mãe tem disso. Nos mede na parede e marca com um lápis, o dia que crescemos e quanto crescemos. Edmond, geralmente é que faz mais as medidas. Eu estava seguindo tranquilamente minha infância. Olhei mais uma vês minha casinha destruída, e lágrimas escorreram por meu rosto. Minha mãe marcou com o lápis na parede, acima da minha cabeça, o quanto eu tinha crescido. Mas me olhava pelo cantos dos olhos, seguindo minha direção.

– Ainda pode brincar, amor. Não precisa parar de ser criança, só por que cresceu um pouco.

Olhei esperançosa pra ela.

– Não!?

– Claro que não. Olha Edmond. Tem a aparência de um menino de quinze, mas ainda brinca como um garotinho.

– Brinque, meu anjo. Não precisa perder sua infância por isso.

– Você brincava, mãe, quando ficou como eu?

– Sempre! Eu brincava sempre, amor. Mesmo quando já estava bem maior que você.

– E já tinha seios?
– Mas que obsessão é essa por seios, Sarah?

– Quero seios iguais aos seu . Você é minha mãe. Devia ter seios iguais aos seus e não iguais aos do meu pai. Só falta nascerem pelos.

– Sarah!! Não deve ficar falando de seios. Só ira constranger as pessoas.

Ela disse com um tom de repreensão.

– Eu sou a constrangida aqui. Sou uma tábua de passar roupa. Quer maior constrangimento que esse?

Minha mãe não segurou mas o riso. Gargalhou com vontade agora, e eu desfiz o bico, me juntando a ela. Riamos como bobas. Eu ria da minha triste sina. Antes bebê da casa. Agora a menina-menino.

( No mesmo dia, mais tarde. )

Tirava minha roupas novas de dentro das sacolas, fazendo uma bagunça no quarto. Minha mãe tinha ido comigo ao shopping depois da consulta com o vovô. Todos ficaram me elogiando, dizendo que eu estava bonita e coisa e tal... Mas pelo meu talento especial, eu sabia que meus avos só diziam isso para me animar. Vovô Carlisle fez todos os exames de praxe, sem encontrar nada de mais. Só os genes lupinos que começavam a se manifestar, mas muito lentamente ainda. Nada comparado a Edmond, que a cada dia crescia mais. O que eu tive, foi mas como uma explosão de algumas células que aceleraram meu processo, mas que aparentemente, já estavam estáveis de novo. Eu sou totalmente diferente de meus irmãos. Meu avô tinha recolhido nosso material genético assim que nascemos e acompanhava o crescimento. Sabia exatamente qual a idade real de nossos corpos. Por isso, era ele que dava as notícias pra minha mãe, sobre o crescimento de Jason, nosso irmão. Mas mesmo assim, ele dizia que isso poderia ser alterado por algum estímulo. Por exempto, Edmond pode a qualquer momento explodir em lobo, se for provocado ou se por algum motivo, se sentir em perigo. Mas se isso não acontecer, sua transformação só seria daqui a uns quatro anos ou mais, de forma normal. Se é que pode se chamar uma transformação de menino para lobo de normal. A minha era imprecisa. Poderia ser na puberdade, ou depois. É difícil precisar até mesmo, se eu me transformaria, devido à baixa quantidade de genes lupinos que eu tenho. Por isso, meu crescimento mais lento. Mas ele estão lá dentro de mim. Minha nova aparência é a prova disso. Eu e minha mãe ficamos a tarde toda no shopping. Eu amo isso! Minha mãe só me acompanhava para me fazer feliz, mas mesmo assim, comprou roupas para todos na casa. Geralmente, eu ia com tia Alice. Ela sim, sabe tudo de moda. Mas ela está em Tóquio, com o restante dos meus tios. Nos falamos todos os dias pela web cam. Ela , me mostrava coisas lindas, que estava comprando pra mim. Fiquei triste, só de lembrar que a maioria das coisas eu provavelmente não poderei nem mais usar. Coloquei um vestido bem bonito de alcinhas. Era verde. Minha mãe entrava no quarto toda curiosa, para saber se eu queria ajuda.

– Já que eu cresci, preciso aprender a me arrumar sozinha, mãe.

– Há! Eu não me importo, meu bem. Deixa eu pentear, pelo menos, seus cabelos?

Ela me deu um olhar pidão e eu não resisti. Também adoro que penteiem meu cabelo. Não é nenhum sacrifício. Ela saltou com a escova na mão, quando viu que eu não tinha discordado. Já ia prendendo em um rabo de cavalo infantil.

– Não, mãe! Deixa solto como o seu, caído pelos ombros.

Ela estranhou, mas fez o que eu pedi. Pequei meu batom de framboesa com brilho e passei. Ela sorriu, toda desconfiada pra mim.

– Pra que isso tudo, dona Sarah? Sabe que seu pai não gosta que use batom.

– Mas agora eu posso, né mãe? Já só uma mocinha.

– Só esse bem fraquinho, filha. Sabe que seu pai ainda não te viu e está louco de vontade de vê-la, mas vai ficar com aquela cara dele de “Hum”.

Ela imitou a cara de desgosto que meu pai sempre fazia, quando me via de batom ou com qualquer outro acessório mais adulto. Neste instante, ouvimos os sons deles chegando. Corri aflita pra janela, para comprovar. Eram eles! Vinham conversando, e o carro parou na entrada. Edmond já corria para os braços de meu pai, que saia do carro e já levantava ele no colo. Seth descia do banco do carona e só ria pra eles. Mas desviou o olhar pra minha janela e eu me escondi atrás das cortinas. Meu coração batia numa disparada louca, e minha mãe me observava, enquanto guardava minha bagunça no closet. Olhei mais uma vez sorrateiramente pela cortina, mas eles já estavam dentro de casa.

Minhas mãos suavam e eu estranhei o fato. Geralmente, não suamos. Sequei as mãos em um lenço de papel, que estava na minha penteadeira.

– Qual o plano? A princesa vai ficar escondida em sua torre?

Minha mãe perguntou e eu a olhei assustada.

– Cadê minhas meninas?

Ouvimos a voz do meu pai, rouca e grossa, vir do andar de baixo. Minha mãe correu ao seu encontro, me deixando sozinha . Mas o que está acontecendo comigo? Por quê estou assim, agitada deste jeito? Me olhei no espelho e abaixei os olhos triste da vida. É duro olhar pra mim neste corpo estranho e sem graça. Me joguei na cama, sem coragem para descer. Mas já ouvia os passos de meu pai vindo em minha direção. Ele bateu devagar na porta, e eu disse um entra, de má vontade. Ele não entrou. Só colocou metade do corpo pra dentro, me olhando com cuidado e carinho.

– Cadê minha princesa? Por quê ela não veio falar com o papai?

Bufei, fazendo bico, indo em sua direção.

– Ei... Olhe pra você, amor! Está enorme. Ontem eu coloquei um bebê na cama... Mas agora olhe pra você. Está linda, meu amor!

Olhei pra ele, para ver se era mentira o que ele dizia. Ele tinha seu sorriso lindo de sempre. É claro, que pra ele eu poderia me transformar no pé grande, e ele ainda me acharia linda. Ele se abaixou pra ficar na minha altura e eu o envolvi em seu pescoço. Ele me pegou no colo, me dando um beijo na bochecha. Encostei minha cabeça em seu ombro.

– Estou horrorosa, pai. Nem tenho coragem de descer para ver o Seth.

– Acho melhor descer, se não, ele vai subir de qualquer jeito. Sua mãe está distraindo ele com comida, mas ele já está impaciente.

Suspirei pesadamente, no ombro de meu pai.

– Vamos descer então, se não tem jeito.

Ele riu da minha cara, me colocando no chão.

– Por que está de batom? Vai sair?

– Ah, pai! Me deixe!

Ele riu, mas ainda descendo as escadas, comigo atrás. Me escondia o máximo que pudia, atrás de seu corpo. Pude ver de relance, Seth rindo na cozinha, de alguma coisa que Edmond mostrava pra ele. Minha mãe também ria, servindo o jantar. Edmond me olhou e ia falar mais uma de suas gracinhas, mas minha mãe deu mais uma olhada fatal pra ele. Era a segunda de hoje. Estava quase batendo meu recorde. Já não tinha mais como me esconder atrás do meu pai, quando ele se sentou na mesa, para jantar. Fiquei lá parada na porta, que nem uma idiota. Seth se virou, me olhando com seu sorriso perfeito, e meu coração batia tão rápido, que achei que ia saltar do meu peito.

– O que foi, princesa? Não vai me dar um abraço?

Como resistir a isso? Corri pra ele, o abraçando. Ele não me olhava com surpresa. Nem mesmo parecia ter notado meu crescimento. Me olhava do mesmo modo de sempre. Eu estava em seu colo, tentando ver alguma coisa em seu olhar, que denunciasse que ele estava tentando me enganar. Mas, nada...

– Sarah, sente no seu lugar. Deixe Seth comer.

Olhei triste pra minha cadeirinha, que estava em um canto da sala. Edmond quase se engasgou com a gargalhada que soltou, quando viu meu olhar de desolação.

– Chega, Edmond.

Minha mãe falou firme.

– Sente aqui, amor, do lado do papai.

Dei língua pra Edmond, e ele riu disfarçando, pra minha mãe não ver.

–------------------------------------------------------------------

Sentei em meu balanço. Ele tinha meu nome gravado na madeira do assento. Seth tinha feito ele pra mim. Agora ele não precisava mais me empurrar. Meus pés acalçavam o chão, mesmo as pontas do dedos. Tirei minhas sandália. Gosto de sentir a terra fria nos meus pés. Respirei o ar que vinha da floresta e se misturava com a maresia do mar. Estava distraída, cantarolando uma musiquinha infantil. A da borboletinha, é claro! Mas logo me vi puxada em meu balanço, por mãos grandes, que empurravam com cuidado, para me balançar. Ri e ele já cantava pra mim, minha música.

– Pare, Seth! Não precisa mais me empurrar. Eu já consigo sozinha. Não vê? Meus pés já alcançam o chão. Pelo menos, a ponta deles.

– Estou vendo, mas ainda posso empurra-la mais alto e mais alto.

Ria nervosamente agora. Ele segurava o balanço quase na sua altura, para pegar impulso. Me soutou e eu ri, com a adrenalina que invadia meu corpo. Ele me agarrou no ar, me tirando do balanço sem o menor esforço, rindo comigo. Me segurava em seus braços fortes. Ele é quase tão grande, quanto meu pai. Me segurava sem a menor dificuldade nos seus braços. Ainda me sentia a mesma garotinha de quatro anos. Olhei fundo em seus olhos castanhos. Me vi presa neles e perdida. Alisei seu rosto perfeito demais. Parecia talhado em uma madeira linda.

– O que foi, Sarah? Está me assustando, me olhando assim. Está tentando ler minha mente, por acaso?

A voz de Seth me fez despertar.

– NÃO! Claro que não! Eu só fique confusa... eu não sei. Você não disse nada de mim, como eu estou diferente. Não percebeu?

Ele me colocou no chão, se abaixando na minha altura.

– Não vejo nada de diferente em você, princesa. Está linda como sempre. Com esses olhos, que parecem guardar os segredos do mundo.

Me afastei dois passos dele, e ele me olhava sem entender. Me sentia estranha. Me sentia ligada a ele, e isso era assustador.

– Eu não guando os segredos do mundo, Seth. Só os do meu coração.

Saí correndo dali. Eu tinha que ma afastar do meu melhor amigo. Do meu Seth! Porque as coisas que eu estava sentindo naquele momento, eram muito estranhas e assustadoras pra mim. Corri como um raio, sem olhar pra nada, chegando até meu quarto. Meu refúgio. Me joguei na cama, ofegante. Minhas mãos tremiam de novo. Era a segunda vez no dia. Começava a contar do mil até um. Minha mãe logo estava ao meu lado me abraçando com força, afagando meu cabelo e me puxando para seu colo.

– Mãe, o que tá acontecendo comigo? Eu não estou bem. Eu acho que estou doente. Meu peito dói, como se alguém o estivesse esmagando com as mãos. Me sinto angustiada. Não consigo ficar perto do Seth.

– Calma, amor. Talvez, esteja na hora de você saber, meu anjo.

Meu pai entrava no quarto, e vi Seth parado, indeciso na porta. Me encolhi mais no colo da minha mãe. Não queria olha-lo, de jeito nenhum. Meu rosto queimava. Todo meu corpo estava quente agora.

– Edmond, diga pra ela se acalmar. Ela está ficando muito quente .

– Não, mãe. Não! Eu estou bem!

– Não, Nessie! Não precisa.

Seth deu um passo à frente, olhando suplicante pra minha mãe, que me olhava firme.

– Então tente se acalmar, Sarah.... Para podermos conversar com calma, sem que você fique neste estado, meu amor.

Sentei na cama de maneira mais comportada, ajeitando meu cabelo, organizando minha mente. Mas continuava minha contagem silenciosa. Tinha que readquirir minha dignidade perdida, com todo esse show desesperado.

– Estou calma agora. Pode falar, mãe.

Meu pai sentou na minha poltrona cor de rosa. O palhaço de Edmond, no meu cavalinho de madeira. Ele ia quebrar, com aquele corpanzil desestruturado. Mandei este pensamento pra ele, mas ele se endireitou mais ainda, forçando-o a ir pra frente e pra traz, me provocando. Eu me calei. Minha mãe estava atenta a mim. A cada gesto meu. Ela não estava pra brincadeiras, quando disse que Edmond me manteria calma com seu dom. Não podia demonstrar o meu nervosismo. Continuava minha contagem silenciosa ..

– Seth, você quer falar com a Sarah a sós?

O quê? Minha mãe enlouqueceu. Eu disse a ela que não estava conseguindo ficar perto dele. Ela não me entendeu?

– Não! Não, mãe!!

Gritei desesperada. Eu não queria ficar sozinha com Seth. Eu estava me sentindo muito estranha perto dele. Um bolo começava a se instalar na minha barriga. Nem olhar pra ele, eu conseguia.

– Calma, Sarah. É melhor, amor. É ele que deve te contar.

Meu pai suspirou pesadamente, batendo o pé no chão. Eu sabia muito bem que ele estava se sentindo incomodado com isso.

– Não precisam sair. Fiquem. Sarah se sente melhor com vocês aqui. Não saiam.

Eu queria muito mesmo olhar pro Seth, mas meus olhos me trairiam, eu sabia. Ouvia sua voz. Ele estava triste de me ver assim, louca. Eu só posso estar louca. Só tem essa justificativa, pro que eu estou sentindo neste momento. Pro meu comportamento desesperado. Pelo fato, de eu nem mesmo conseguir olhar pra ele, sem deixar de sentir minha cara queimar. Apertei a mão da minha mãe. Ela me olhou, e eu disse a ela nesta hora, Eu disse olhando-a, em meio às minhas lágrimas:

– Eu amo ele, mãe. Eu acho que estou apaixonada pelo Seth. Por favor, tire ele daqui. Tirem todos daqui.

Minha mãe me olhou, de boca aberta. Seth ia começar a falar alguma coisa e eu sabia que era importante. Mas eu não podia, nem mesmo ouvir sua voz, sem querem chorar .
Ele ia me achar uma aberração. Ia correr de mim. Uma criança louca e estranha, apaixonada por um homem, que tem quase idade para ser meu pai.

– Sarah... Voc

– Depois, Seth. Agora não. Não é o momento!

Minha mãe disse, se levantando da cama. Ouvi um suspiro aliviado do meu pai. Edmond parou de se balançar no meu cavalinho e olhava frustrado. Ele estava ansioso pra ver no que aquilo tudo ia dar. Queria mais era ver o circo pegar fogo, esperando ter a chance de usar seu dom em alguém.

– Saiam todos. Vão, saiam. Sarah e eu vamos conversar sozinhas. Edmond, já pra cama. Está tarde!

– Ah, mãe. Seja...

– Nada de, ah mãe. Jake saia com Seth. Vão tomar uma cerveja, jogar basquete na garagem, não sei... Saiam daqui . Nada de ficar escutando nossa conversa.

Papai saiu com Seth, que parecia indeciso, sem saber o que fazer.

– Vamos logo, Seth!

Meu pai disse, empurrando Seth pra fora do quarto.

Eu não conseguia encara-lo. Balançava minhas pernas em cima da cama, nervosamente. Mas ouvi, quando eles saíram do quarto. Agora, era a pior parte. Ter que encarar minha mãe, com a verdade que ela já sabia. E com o vergonha e constrangimento que eu sentia.

– Mãe, eu sinto muito. Eu não sei o que aconteceu. Eu só sou uma criança. Ele é um homem. Eu não sei. Se meu pai descobrir, eu acho que ele me manda pra um internato e manda jogar a chave fora, e só vai me tirar de lá, quando eu estiver com cinquenta anos, em idade humana.

Falava descompensadamente, atropelando as palavras. Minha mãe me ouvia, sem dizer nada, me deixando louca.

– Filha, calma! Não fique assim, amor. Isso tudo é muito complicado, eu sei.

Fiquei chocada, com a calma da minha mãe.

– Como... Eu devo ser algo estranho, mãe. Eu estou nervosa com isso. Eu quero brincar com minhas bonecas. Eu quero sentar na minha cadeirinha de comer e não sentir isso que eu estou sentindo.

– Filha! Seth é um lobo, você sabe. Você também sabe que tem algo sobre isso. Você conhece as histórias, amor. Tio Sam sempre conta na fogueira, lembra?

– O que isso tem haver comigo, mãe?

– Você tem uma ligação especial com Seth. Deve deixar ele te contar, amor. E talvez, você entenda melhor o que está acontecendo com você.

– Eu não devia estar sentindo essas coisas, mãe.

– Isso, deve ser por causa do seu crescimento acelerado, amor. Isso apressou as coisas um pouco. Mas não deve ter vergonha, amor. É só ter paciência com você mesma, e esperar até as coisas se acalmarem no seu coração. Converse com Seth, e tudo vai fazer mais sentido pra você.

Fiquei pensando nas palavras da minha mãe, tentando entender o que elas significavam. Mas o fato de me sentir estranha... Uma coisa esquisita. Nem menina, nem mulher. Uma criança com idade indefinida. E sentindo coisas estranhas por meu amigo, impediam minha mente de pensar com clareza. Eu só queria ficar quietinha, com meus brinquedos.

– Mas agora não, mãe. Quero ficar aqui no meu quarto, quietinha. Traga meus ursinhos, pra dormir comigo.

Ela riu, me dando um beijo na testa. Me colocou em pé na cama, me trazendo meu pijama novo. Levantei os braços, para ela me vestir. Ela riu, me entregando o pijama.

– Vista! Já é bem grandinha pra isso.

Fiz bico, me vestindo sozinha.

Ela catou meus ursinhos pelo quarto, jogando todos na minha cama. Eu os arrumava em volta de mim. Rimos! Me deitei, e ela me cobriu, me dando um beijo na testa.

– Agora durma, amor.

Ela já ia saindo, quando eu pedi meio envergonhada.

– Diga a Seth, para vir me dar um beijo de boa noite, mãe.

Ela parou, me olhando com um sorriso nos lábios.

– Eu peço, amor. Pode deixar.

Sorri satisfeita, me abraçando com meus ursinhos fofinhos. Logo, pude ouvir seus passos pesados e a porta se abrindo devagar. Queria fingir que estava dormindo, mas meu coração acelerado denunciava que isso era impossível. Ele me deu um beijo na testa e já ia sair. Eu abri os olhos, e ele me olhou com carinho, com um sorriso fraco nos lábios. Vê-lo assim, é de partir o coração.

– Eu sinto muito, Seth, pelo meu comportamento descontrolado de hoje. Sei que tem algo importante pra me dizer. Pode falar agora, eu estou mais calma.

– Agora não. Outro dia, princesa. Eu prometo! Agora durma, meu anjo. Foi um dia muito cansativo pra você, bebê. Está tudo bem.

– Obrigada, Seth. Eu... Eu... Eu amo você!

Os olhos de Seth se iluminavam, toda vez que eu dizia isso.

– Também te amo, bebê.

Claro, bebê! É o que eu sou. Um bebê. Ele saiu e eu me encolhi, com meus bichinhos de pelúcia. Caí no sono completamente.

____________________________________________________________________________


(Dia seguinte)



Tomei meu café correndo. Minha mãe me olhava assustada, estranhando toda aquela pressa já de manhã. Enfiava um pedaço generoso de panqueca na minha boca.


– Calma, filha. Assim vai se engasgar, amor.

– Quero acabar logo. Vou ver o vovô Carlisle e vovó Esme.

– Por quê, amor?

– Saudades.

Ela não ia engolir essa. Mas era o melhor que eu tinha no momento. Ela desviou seu olhar especulativo de mim para Edmond, que lia uma revista científica, devorando sua tigela de cereais.

– Edmond, leve sua irmã para casa de seus avós.

Edmond bufou, abaixando a revista da cara.

– Ah, mãe! Ela já está grande, pode ir de bicicleta. Não precisa que eu a leve.

Minha mãe o olhava com desaprovação. Ele revirou os olhos.

– Tá! Eu levo.

– Eu posso ir sozinha. Não precisa mesmo, Edmond. Eu vou com seu skate.

Eu sabia muito bem, que era mais fácil eu conseguir sair daqui montada em um elefante, do que no precioso skate dele.

– Nem pensar, garota.

Como pensei, é claro!

– Qual é, Edmond? Eu sei andar melhor que você.

Disse, desafiando ele.

– Vai sonhando.

Ele me olhou provocando, e eu saltei da mesa correndo mais rápido que pude. Mas ele foi mais rápido. Saltou na minha frente, pegando seu skate. O que me restou foi a bike, mas eu ignorei completamente a minha antiga, que é rosa e tem rodinhas na lateral. Pequei a dele, que é vermelha e de adulto. Ele parou com o skate, me olhando em desafio. Minha mãe já estava na varanda. Jogou um capacete pra ele e outro pra mim.

– Não corram muito. Cuide dela, Edmond.

– Claro, mãe!

Ele colocou o capacete e eu colocava o meu. Minha mãe entrou. Olhamos pra trás e ela não estava mais nos olhando. Tiramos os capacetes e jogamos em uma moita. Iriamos pega-los de volta, quando voltarmos. Era um exagero dela. Não precisávamos disso. Somos à prova de bala, a prova de quedas e nem resfriado pegamos. Edmond pode correr muito mais rápido sem o skate, mas ele usava para fazer piruetas malucas, sem meus pais verem. Eles iriam ter um troço se soubessem as maluquices que a gente apronta, quando eles não vêem. Corríamos como loucos, passando pela rodovia. Edmond pegava carona com o skate, segurando na bicicleta e eu pedalava com toda minha força. Riamos, sentindo toda a adrenalina. Chegamos na casa dos nossos avôs, e vovô Edward já estava na porta nos esperando. Ele lia a mente de Edmond, mas a minha não. Pulamos, abraçando ele ao mesmo tempo. Ele ria, nos abraçando de volta.

– Ei! A que devo essa visita calorosa?

– Sarah , quer falar com Carlisle, e eu quero desafia-lo a um jogo de xadrez.

– É pra já, garoto. Pronto pra perder pela milionésima vez?

– Você rouba, vô. Não pode ler minha mente. Vou pedir para vovó Bella me proteger, com seu escudo. Quero ver você me ganhar agora, velhote.

– Como é que é? Velhote? Acabou, garoto! Você está ferrado, agora.

Entramos animados. Vovó Bella estava na cozinha, com Esme. Falamos com elas, que estavam preparando algo na cozinha. O cheiro era bom, e já estávamos animados.

– Estamos preparando bolinhos de chuva pra vocês. Começamos a preparar, assim que Edward leu a mente de Edmond.

Vovó Esme falava, colocando mais um bolinho pra fritar. Bella preparava um suco. Eles sempre tinham comida em casa, para quando os Black chegassem. Somos esfomeados. Por mais que comíamos, precisamos comer mais. Quase sempre, Edmond é pior que eu, mas eu estava indo pelo mesmo caminho.

– Carlisle está no escritório, Sarah. Sua mãe me ligou, falando que você queria conversar com ele.

Bella me deu uma piscadinha cúmplice, e eu roubei dois bolinhos já prontos, correndo para a biblioteca. Carlisle estava lá, lendo um livro que eu não prestei atenção qual era. Meus olhos se viraram de imediato para o quadro que ele tem lá. Eu e Edmond sempre ficamos encarando aquele quadro, com pavor. São os três reis de Volterra, com meu avô ao fundo. Fiquei ali, estática como sempre, encarando aquele quadro.

– O que foi, Sarah? Bella disse que queria me ver.

Fui até ele, abraçando-o de forma carinhosa. Ele me colocou em seu colo, esperando que eu falasse.

– Quero que me examine de novo.

– Como? Eu examinei você ontem, Sarah. Você está sentindo alguma coisa?

Bufei contrariada, levantando, indo me sentar na mesa de exames.

– Tem alguma coisa errada comigo, vô! Eu não estou me sentindo bem.

Ele logo se levantou, abrindo meus olhos e jogando aquela luzinha dentro deles.

– O que exatamente está sentindo, Sarah?

– Dor no peito. Palpitação. Mãos suadas. Boca seca. Muita quentura no corpo. E... eu não tenho seios, como os da minha mãe. Pareço um menino! Souu reta, como uma tábua de passar roupa...

A lista já estava bem extensa, e resolvi calar a boca.

Carlisle parou, me olhando com um sorriso divertido no rosto.

– Do que esta rindo, vô? Eu não sou como Edmond. Eu sou um elo perdido… Eu sou como Leah. É isso! Eu sou como ela. É isso, vô? Por isso sou assim. Eu não posso ter bebês, também? Deve ser por isso, que não tenho seios e nem bunda. É isso. Sou a aberração das aberrações. Sou pior que Leah, pois nem loba eu sou.

Carlisle agora, me olhava confuso.

– Não é um elo perdido, Sarah. Você só está crescendo. É assim mesmo. Logo terá corpo como sua mãe, e como todas as mulheres, querida. Está com o corpo normal, de uma menina de onze anos.

– Mas eu me sinto velha, vô. Estou sentindo coisas estranhas por meu melhor amigo.

– Seth?

Só a menção do nome dele, já fazia meu estômago dar um nó.

– Isso vai passar, Sarah. Está apaixonada. É seu primeiro amor. E o primeiro amor de uma menina, é algo bom e bonito. Não é uma doença, querida.

– Mas ele é um homem, vô. Meu pai vai me matar.

– Calma, querida. Provavelmente, ele matará o Seth. Nunca você.

Agora ele fazia piadas, e isso não é o seu forte.

– Para, vô. Não vai me examinar? Nem me dar um remédio ruim? Prometo tomar desta vez.

Ele me pegou pela cintura, me tirando da maca de exames.

– Nada de remédios pra você, mocinha. Mas pode ir comer os bolinhos de chuva de Esme.

Saí do escritório de Carlisle desanimada. Ele era minha última esperança. Edmond jogava sua partida de xadrez com meu avô Edward. Pareciam absorvidos por aquilo. Vovó Bella protegia ele com seu escudo, e isso estava dando a ele alguma vantagem. Sentei na mesa da cozinha. Vovó Esme servia bolinhos com suco pra mim. Sinto falta de tia Alice. A mansão fica silenciosa sem meus tios. Até a gargalhada de Emmet era gostosa. O mal humor charmoso de tia Rose. A paz que sempre sentíamos perto de tio Jass.

– Quando os tios voltam, vovó?

Eu e Edmond sempre chamávamos ela e Carlisle de vó e vô. É muito estranho chamar eles de bisos. Só Charlie era o biso, já tem seus cabelos brancos. É mais fácil acreditar que ele é um biso, mesmo ainda não sendo tão velho pra isso.

– Eles devem vir somente pro natal, meu amor.

– Há! É verdade. Tia Alice disse na última vez que nos falamos.

Comi mais um pouco de bolinho. Estão uma delícia. Enfiei alguns nos meus bolsos, para comer mais tarde, antes que Edmond viesse e acabasse com tudo. Corri para a varanda. Queria ir até o lago, que fica nos fundos da mansão. Sempre tem borboletas voando por lá. Queria vê-las. Corri pra lá, mas não tinha nenhuma borboleta. Caminhei mais pra dentro da floresta. Lembrei do chalé, e fui até lá. Faz tempo que não via o chalé. Adoro o cheirinho aconchegante que tem nele. Sempre acolhedor e com jeitinho de lar. Ele é pequeno, se comparado com a mansão, ou com nossa casa em La Push. Mas é tão fofinho. Parece a casa de biscoito de João e Maria. Lamentavelmente, está tudo trancado. Queria rever meu antigo quarto. Sentei no banco de tronco de árvore, que fica do lado de fora, em frente à floresta. Estava lá, deitada, pensando na minha atual condição de criança apaixonada, despetalando uma margarida em bem-me-quer, mal-me-quer. Quando ouvi uivos baixos. Um chorinho muito sutil. Olhei em direção a mansão, para ver se alguém vinha de lá. Será que ouviram esse lamento vindo da floresta? Oque poderia ser? Um animal ferido?

Oh, não! Ele deve estar sofrendo, talvez Carlisle possa ajuda-lo. Mas ele vai se assustar quando me ver. Preciso de Edmond. Novo uivo. É um lobo! Minha mente não conseguiu mais pensar em nada. Corri a toda, em sua direção. Não demorou muito para eu acha-lo. É um lindo lobo preto. Não é muito grande. Está agachado, uivando baixinho, encostado em uma árvore. Ele se levantou, me notando. Quando se levantou totalmente, eu pude ver sua total beleza. É lindo! Um lobo negro, mas tem duas patas, de um marrom mais escuro, como se estivesse de meias. Sorri com isso, e ele rosnou, sem entender. Parecia assutado. Olhei em volta. Ele não devia estar sozinho. Deveria ter alguém com ele, provavelmente é um lobo novo. Mas aí, eu lembrei meu pai não deixava mais os meninos se transformarem sozinhos. Só quando um lobo mais velho estava com eles. E todos os lobos experientes estão trabalhando nessa hora. Tentei me aproximar e ele rosnou de novo. Mas isso não me deteve. Nasci com lobos. Sei quando estão assustados, com medo e quando realmente eles atacariam. Meu elo mental não funcionaria com ele. Este lobo está muito assustado. Lembrei dos meus bolinhos de chuva no bolso. Peguei, estendendo à ele, que cheirou. O cheiro de vampiro está nele. Ele sentiu e se afastou.

– Não quer? Não sabe o que está perdendo. Estão uma delícia. Foi minha vovó Esme que fez. Ela é uma vampira, por isso o cheiro.

Comi um, para mostrar a ele que não tinha nada demais neles. Ele me olhou desconfiado, mas se aproximou curioso, cheirando minha mão. Eu o toquei e ele se abaixou, estranhando o contato. Me senti mais confiante e me aproximei mais. Ele pegou o bolinho em minha mão, mastigando e já engolindo. Me olhou e cheirou minha cabeça. Se abaixou e apontou com o focinho, para meu bolso.

– Você quer mais?

Dei os últimos dois bolinhos que tinha, e ele os devorou. Afaguei seus pêlos macios e ele se abaixou, gostando o afago.

– Por quê não volta à forma humana, para eu ver quem é você?

Ele me olhava, sem entender.

– Não sabe como?

Ele soutou um ganido. Entendi como se fosse uma confirmação.

– Deve se acalmar. Deixar bons pensamentos invadirem sua mente. Coisas boas e tranquilas. Alguém que você goste, ou um momento feliz.

Me afastei dele, virando de costas, para deixa-lo mais a vontade. Demorou bastante, mas finalmente seu coração começava a bater mais lentamente. A respiração dele antes acelerada, agora parece mais normal. Continuei de costas, só acompanhando suas alterações, pelo sons que faziam.

– Quem é você?

Ouvi sua voz. Como eu pensei. É um garoto! Pude confirmar, quando finalmente me virei pra vê-lo. Ele se escondeu em um arbusto. Só podia ver seu rosto e peito. Deve ser um pouco mais velho que Edmond. Uns quinze anos, talvez. Mas é forte, como todos os lobos quileutes.

– Me chamo Sarah. Deve conhecer meu irmão Edmond.

– Você é irma de Ed? Mas ela só tem quatro anos.

Sorri envergonhada, sem saber o que dizer. Se ele conhece meu irmão, então sabe o que nós somos.

– Coisa de lobo, eu acho.

Disse, tentando parecer despreocupada.

– Você não é uma loba.

– Não! Mas tenho o sangue de um lobo, e isso faz muita diferença. Já sabe quem eu sou, mas eu não sei quem é você.

– Meu nome é Makilam. Mas pode me chamar de Maki.

– Você é o filho de Sam e Emiliy.

Ele abaixou a cabeça, quando eu falei o nome de seu pai. Não pude deixar de notar. Lembrei que ele estava sem roupa. Poderia entrar pela janela do chalé. Deve ter roupa do meu pai lá. Ficarão enormes, mas é melhor que deixa-lo nu, na floresta.

– Fique aqui. Eu já volto, Maki.

Ouvi um onde vai, mas não parei minha corrida. Corri de volta pro chalé . Olhei em volta. Havia uma pequena varanda no andar de cima, que tem uma porta de vidro que nunca fica trancada, pois não tem tranca. Fui pra traz, para pegar impulso. Eu não sou boa nisso de saltar e pular. Mas ia fazer o possível, para ajudar meu mais novo amigo. Pulei, e fiquei pendurada com as mãos, só me segurando com a ponta dos dedos. Vamos lá de novo. Empurrei meu corpo pra frente e para trás, pegando mais impulso. Um mortal. Eu provavelmente ia me espatifar lá embaixo, mas não. Eu consegui, e ainda cai com estilo. Sorri, feliz. Se eu treinasse, poderia ficar tão boa quanto Edmond. Por que não? Entrei, encontrado o que eu queria. Um short de meu pai, que provavelmente ele nem lembrava mais. Voltei pelo mesmo caminho, dando um salto lindo e perfeito. Corri para onde estava o menino. Ele estava no mesmo lugar que eu o tinha deixado. Joguei o short para ele, que o agarrou no ar, estranhando o tamanho.

– Lamento, mas meu pai é meio gigante.

Ele se vestiu, saindo de trás dos arbusto. O short tinha ficado grande, mas ele deu um jeito de amarra-lo bem, para que não caísse. Pude vê-lo melhor. É um menino bonito. Um pouco mais alto que Edmond. Sua pele é do mesmo tom moreno de Sam, mas seus olhos são como os de Emily, gentis e doces.

– Obrigado, Sarah, pelos bolinhos e pelo short… Por me ajudar.

Seu olhar era tão profundo e triste, que eu demorei a responder, como se estivesse tentando entender o que tinha ali dentro, escondido em seu olhar triste.

– Não foi nada. Foi a primeira vez que se transformou?

Ele escureceu os olhos ainda mais, e percebi que prendia o choro.

– Foi. Eu briguei com meu pai. Mas eu não esperava virar um lobo por isso.

Ele se culpava pela transformação,

– É assim mesmo. Não é algo que você poderia ter evitado. Ia acontecer mais cedo, ou mais tarde. Qualquer briga pode fazer o lobo acordar. Se ele está aí, uma hora surgirá.

Ele me olhava com profundidade, absorvendo cada palavra. Parecia meio hipnotizado. Sei lá porque. Não disse nada. Só ficou me olhando.

– Mas não devia ser assim, não é mesmo? Deveríamos ser normais. Sem isso de lobos e vampiros. Isso é muito louco. Não parece real.

Encolhi os ombros, sem entender. Esse é o meu mundo. Não conheço outro. Pra mim, os humanos eram estranhos e complicados demais. Meu mundo é La Push, Forks na casa de Biso Charlie, na mansão dos Cullen e na reserva. Nasci entre vampiros, cresci, ou mais ou menos crescia entre lobos.

– O que é normal, Maki? Não queria ser um lobo?

– Não. Eu quero sair daqui. Ver outras coisas.

Ele olhou ao longe, como se visualizando algo muito mais distante dele agora.

– É por isso que briga tanto com seu pai?

– Ele não entende. Quer que eu seja como ele.

– E o que você é, Maki?

Com essa pergunta, ele me encarou, franzindo de leve as sombrancelhas.

– Não sei ainda.... E você Sarah, sabe o que é? Vampira, loba ou uma vampiloba?

– Quem é que sabe hoje em dia?

Balancei os ombros, rindo, sentando numa pedra. E ele ria, se divertindo com minha cara de dúvida.

– Bem, Sarah... Independente de sabermos quem somos, ou o que queremos ser, podemos pelo menos ser amigos.

Olhei pra ele admirada. Ele quer ser meu amigo. De mim! Uma pirralha, que deve ter mais a cara de um bebê. Meu irmão tem vergonha de andar comigo pela reserva. Só saio de casa com Seth, ou meu pai e minha mãe. Eu não tenho amigos. Constatei isso, tristemente. Meu único amigo é o Seth, que eu nem mais poderia chamar de amigo, por causa desses sentimentos malucos e estranhos que estão dentro de mim. Eu poderia ser amiga dele. Seria como um irmão. Ele deveria ser meu irmão. Ele podia ser Jason, meu irmão perdido. Supriria a falta que sinto dele. O vazio que sempre está em mim, mesmo estando ao lado de toda minha família.

– Sarah?! Terra chamando Sarah.

Maki estalava os dedos na minha frente e eu olhava o nada. Depois, agarrei suas mãos e ele se sobressaltou com o meu gesto repentino. Mas eu não as soltei, olhando firme em seus olhos, agora arregalados e surpresos

– Claro, Maki ! Podemos ser amigos. Podemos nadar na cachoeira, ir na praia, andar de skate. Você sabe surfar? Me ensina a surfar? Pular do penhasco? Já pulou alguma vez? Podemos ir na fogueira juntos. Eu não vou à escola. Você poderia me contar como é lá?

Agora ele ria, como se eu fosse uma louca. Soutou minhas mãos, alisando meus ombros. Ele é mais alto que eu, e me senti meio ridícula, quando ele falou como se estivesse falando com uma criança dentro da loja de doces.

– Calma, Sarah. Calma! Eu tô ficando tonto.

– Desculpa. Eu me empolguei, eu não tenho muitos amigos. Eu acho que percebeu, né?

– Eu percebi sim. Mas e o Seth? Ele é...seu amigo?

Ele parecia me analisar, quando disse isso. Ele sabia algo sobre Seth? E o fato dele ser meu amigo. Talvez ache estranho ele ser amigo de uma criança. Ele poderia me achar uma criança esquisita, se eu falasse que sentia que Seth é meu. Esbocei algumas palavras, que saíram sem sentido, e nem eram palavras na verdade. Eram grunhidos, de uma gagueira momentânea. Minha amizade com Seth tinha que acabar definitivamente. Tinha que acabar agora mesmo. Seth não poderia ser mas meu amigo. É muito estranho. Eu sou estranha por isso, e aquilo acabava ali.

– Seth é amigo do meu pai, Maki.

Dizer isso, me fez sentir uma fisgada no peito, como se eu tivesse dito que Seth não era meu amigo. Que ele não era nada, além de um amigo do meu pai, era negar o sentimento que eu carrego no peito. Mas era isso que eu ia fazer, pois era errado sentir isso. Eu não devia estar sentindo essas coisas pelo Seth.

– Tá bom!

Maki disse, estranhando meu olhar.

– É melhor eu ir agora, Sarah. Nem devia estar aqui, perto da casa dos Cullen.

– Meus avós não vão fazer nada com você.

– Mas eu posso fazer, e isso ia ser muito ruim. Não podemos machuca-los. Você sabe do tratado.

– Deveria conhece-los. Eles vão gostar de você. Tem mais bolinhos lá.

Ele sorriu de forma linda, desviando seus olhos dos meus. Eu devia estar sendo ridícula. Uma criança, desesperada por um amigo, mas eu estava mesmo.

– Eu já os conheço, Sarah. Do hospital da reserva.

– Mas nunca foi na casa deles. Ed está lá. Podemos jogar o videogame do meu tio. Ele não se importaria.

– Outro dia, Sarah. Eu preciso voltar pra casa. Minha mãe deve estar preocupada comigo.

– Tá bom! Não deixe tia Emily preocupada, então.

Ele se afastou, sorrindo indo em direção a reserva. Eu ia em direção contrária, mas ele me chamou.

– Sarah Black!

Olhei pra ele, confusa.

– Nos veremos de novo.

Não foi uma pergunta. Foi uma afirmação clara que nos veríamos.

– Makilan Uley, com certeza nos veremos de novo. Não vai se livrar mais de mim.

– É uma promessa?

Eu fiquei sem saber o que dizer àquele menino sorridente. Balancei os ombros, em sinal de falta de entendimento.

– Acho que sim.

Por fim falei, e ele correu, sumindo em meio à floresta.

–------------------------------------------------------------------------------------------

Voltamos para casa. Subi para meu quarto, saltitante e feliz. Estava esfuziante de felicidade, pelo meu mais novo amigo. Não contei a ninguém sobre ele, nem mesmo a Edmond. Era como ter um amigo secreto, do qual ninguém sabe. Eu sei que é bobagem minha, mas tive medo de contar a Edmond, e ele me roubasse o amigo. Edmond é tão inteligente carismático. Todos ficam encantados com ele. Se Maki ficasse amigo dele, logo eu seria deixada de lado. Sou desinteressante. Não tenho assuntos inteligentes como Edmond. Ainda brinco de bonecas. Esse pensamento, me fez lembrar da minha casinha de bonecas, que estava destruída. Olhei em sua direção, tristemente, mas ela não estava mais destruída. Agora está arrumada. Toda perfeita, em seu devido lugar. Quando papai fez isso?

Deixei meu pensamento chegar até minha mãe, que entrava em meu quarto, com um sorriso nos lábios.

– Não foi seu pai que consertou, querida. Foi o Seth.

Olhei intrigada para ela.

– Ele esteve aqui na hora do almoço e consertou. Viu que você estava triste, por tê-la quebrado, e ajeitou. Ficou boa, não é mesmo?

Olhei pra casinha, sem saber o que fazer. Seth...

– Por quê ele não me esperou, mãe?

– Ele tinha que voltar ao trabalho, filha. Ficou triste quando não viu você aqui, mas ficou de vir à noite, com seu pai.

Andei pelo quarto. Encarei meu mural de fotos. Todas minhas, com minha família e alguns amigos de La Push, e uma minha com Seth. Alisei a foto. Sei que minha mãe me olhava com atenção, mas eu não tinha segredos pra ela. Ela sabia o que eu sentia pelo meu amigo. Tirei a foto do mural. Abri a gaveta da penteadeira e a enfiei lá dentro. Eu ia tirar esse sentimento de dentro de mim. Isso não é normal. É doente e errado. Olhei minha mãe, que tinha o centro do rosto franzido, sem entender minha atitude. Mas eu sorri pra ela, mostrando quase todos os meus dentes, e ela me olhou sem entender nada, mais ainda.

– Vou brincar na praia, mãe!

Corri para o closet, para pegar meu maiô. Vesti rapidamente, pegando meus brinquedos de praia e correndo pra frente de casa. Edmond estava lá. Fincou sua prancha na areia e encarava o mar desanimado. Estava tranquilo e sem ondas. Ele não poderia surfar. Olhei pra trás. Minha mãe nos observava da varanda. Edmond percebeu minha aproximação e sorriu, olhando meu maiô novo.

– Está uma nadadora perfeita, Sah.

Não entendi. Não sou tão boa nadadora assim. Ele riu ainda mais, da minha confusão.

– Nada! Nada de frente, nada de costas. Nada de nada. Minha prancha tem mais curvas que você.

Abri minha boca chocada, e ele ria mais ainda.

– Você! Você é cruel Edmond! Alguém, um dia vai dizer coisas horríveis assim para você.

Chutei a areia em cima dele, correndo para o mar. Estava tão magoada com seu comentário cruel, que nem percebi minha mãe me gritando. Nadei, nadei... Mergulhava, sentindo meu corpo ser dragado. Eu podia ficar bastante tempo na água submersa, mas eu ainda sou fraca. O mar começava a puxar meu corpo pra mais fundo. Levantei a cabeça, tentando respirar. Tomei um pouco de ar, mas o mar me puxou de novo. Parecia me reivindicar para si. Ouvia de longe gritos e o que pareciam braçadas fortes de alguém nadando. Uma mão me pegou, mas logo me soltou. Não conseguia me pegar de volta. Mais fundo eu ia. Já começava a ficar tudo escuro ao meu redor. Nenhuma luz. Tentei me mexer, mas meus braços pareciam moles e cansados. Não me obedeciam. A água salgada, começava a entrar pela minha boca. Sentia seu gosto salgado, queimando minha garganta. Esse foi meu fim. Depois disso, só a escuridão...



































































































































































































































































































































































































































































































































Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Amor: 4 Letras, 2 Vogais, 2 Consoantes e 2 Idiotas
Bob Marley