Meu Amor Imortal 2 - O Legado escrita por LILIAN oLIVEIRA


Capítulo 9
Capítulo 9 - NOS ENCONTRAMOS NOS SONHOS


Notas iniciais do capítulo

Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!
Fernando Sabino



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Borboletinha tá na cozinha
Fazendo chocolate para a madrinha
Poti, poti
Perna de pau
Olho de vidro
E nariz de pica-pau (pau, pau)

– Oi!

Nada... Ela nunca falava comigo. A música era um eco, que eu ouvia na minha mente. Seus imensos olhos verdes se abriram, surpresos em me ver. Mas assim que me viu, ela desceu do balanço. Tinha enormes tranças. Uma de cada lado, do seu cabelo negro. Mas estava um pouco maior, dês da última vez que eu a vi. Ela abaixou os olhos, para os sapatos vermelhos e brilhantes que usava. Cruzou os braços atrás das costas. Parecia indecisa em me olhar, desviando, sempre sem me encarar. Mordeu o lábio inferior com uma cara triste e choraminga.

– Quer que eu vá embora?

Ela me olhou, dessa vez com estas palavras. Seus olhos lindos, de um verde absoluto me eram tão familiar. Ela se aproximou meio vacilante, me estendendo uma de suas mãos, para que eu a pegasse. Me levou até o balanço, se sentou e olhou pra mim de novo.

– Quer que eu empurre você?

Ela sorriu confirmando .

– Ok!

Empurrei e ela gargalhou auto, em sua risadinha infantil e doce. Quantas vezes eu a tinha visto? Sim, muitas. Mas ela nunca falava nada. Brincávamos juntos quando era menor. Ela me mostrava imagens lindas de borboletas e lobos. Adorava isso. Ficávamos ali por by Browse to Save">horas, naquela floresta silenciosa e úmida. Seu vestido azul, cheio de babados e fitas, balançava no ar. Suas gargalhadas, eram como músicas doces. Parei de balança-la, e o balanço foi parando com ela, lentamente. Sentei na grama, admirando sua figura e ela sorria pra mim, com seus olhos brilhantes. Ela me analisava, reparando cada detalhe, como se me decorando ou gravando na memória. O balanço parou. Suas pernas não acalçavam o chão ainda e ficaram balançando penduradas no ar.

– Quer ajuda pra sair dai?

Ela fez que não com a cabeça, apenas me olhando. Mas isso não me incomodava. Éramos amigos. Ela estava estranhando meu by Browse to Save">crescimento. Já parecia quase um garoto de dezesseis anos e ela ainda era a mesma menina. Ela crescia, mas era normal. Eu deveria estar como ela. Com quatro anos.

– Estou muito diferente?

Perguntei. Ela confirmou com a cabeça.

– Você também cresceu um pouco. Só um pouquinho assim.

Fiz um mínimo com o indicador e o polegar e ela revirou os olhos, esticando o polegar e o indicador, mas muito mais. Sorriu provocando.

– Rá! Até parece! Não tem fita métrica na sua casa, pirralha?

De novo seus olhos ficaram escurecidos e tristes. Ela olhava os sapatos vermelhos de novo.

– Por que está triste hoje?

Ela suspirou pesadamente, saltando do balanço de forma tão graciosa, que lembrava suas borboletas. Alisou o vestido, consertando o amassado imperceptíveis e sentou ao meu lado na grama, encostando seu rosto em meu braço. A enlacei em um afago e ela se aconchegou mais.

– Por que nunca fala comigo, menina? Nem sei seu nome.

Ela pegou minha mão, abrindo de maneira que ficasse espalmada. Minha mão era gigante comparada à dela tão miúda. Mas seu toque era sempre quente. Quase como o meu. Ela começou a escrever com o dedo indicador o contorno de uma letra “S”. Me olhou, como se confirmasse se eu tinha a entendido.

– S?

Ela confirmou com a cabeça, em um meio sorriso.

– Hum! S de…? Samanta? Sabrina? Samara?

Negativas e mais negativas com a cabeça. Ela agora de divertia com a brincadeira de adivinhar seu nome. Ela encolheu os ombros, olhando a floresta, fazendo um ar de mistério infantil.

– Vamos! Me dê outra dica. Não é justo. Eu já lhe disse o meu nome.

Ela me olhou de relance, como se duvidasse.

– É Lucian… Não lembra?

Ela franziu os olhinhos e fez um muxoxo com a boca aborrecida.

– O quê? Não gosta do meu nome?

Mas ela não estava mais prestando atenção em mim. Ela levantou bruscamente, olhando a floresta ao redor. Me foquei para ouvir algo, mas nada tinha ali. Era a mesma paisagem de sempre. A floresta molhada, eu e ela. Sempre quando sonhava era assim. Eu e ela. Mas ela continuava focada no nada. Mas não era o som que ela tentava ouvir. Era outra coisa, como se pudesse ouvir outros.

– Quem está aqui, S?

Chamei sua atenção, e ela se virou pra mim, com o indicador nos lábios, em um pedido de silêncio e correu. Correu até sumir.

Me vi ali, parado, olhando o caminho pelo qual ela tinha sumido. Já ia dar as costas e voltar, quando me ocorreu que um sonho. Não é? Então, por que não correr até ela? Ela é uma criança. Quanto mais longe ela poderia estar. Minha mente estava em processo ainda, mas meu corpo já trabalhava, correndo na mesma direção que ela tinha sumido.

A floresta começava a mudar conforme eu corria. Era mais passada. Mais fria e úmida, com um imenso rio cortando um vale, e eu a vi ainda correndo pelas árvores. Parou à frente, quando encontrou um menino, que ficou de joelhos para falar com ela. Me escondi, não querendo ser visto, mas me aproximando lentamente pelas árvores. Fiquei em uma posição que poderia ouvi-los, sem ser visto.

– Onde estava?

O menino perguntou a ela, com o semblante preocupado. Ela pareceu se envergonhar e olhava de novo para os próprios pés.

– Que lugar é esse, Sarah?

Sarah! Finalmente o nome dela. Me aproximei mais, e o menino se levantou, olhando ao redor. Teria me visto? Impossível, mas ele me olhava fixamente agora, e Sarah se encolheu ao lado dele, agarrando a ponta de sua blusa, assustada. Ele tinha me visto. Como? Eu estava atrás da árvore. Estava escuro. Cheguei ao óbvio, é claro! Ele não é humano. Só podia ser isso. O que é isso? Quem são eles, afinal?

– Quem está aí?

Foi a pergunta dele. Eu saí das sombras do meu esconderijo, o fitando. Ele deu um passo pra trás, segurando Sarah pelo braço, de forma protetora. Parei os olhando. Sarah abaixou a cabeça, se lamentando, e pude ver que chorava.

– Não deveria falar com ele, Sarah.

O menino não me olhava. Tinha abaixado os olhos assim que eu me mostrei à eles.

– Por que ela não deve?

Perguntei aborrecido. Ele me olhou de relance, e pude notar que estava aborrecido e apertou mais o braço de Sarah.

– Não deve falar com ele, Sarah. Devemos sair daqui.

Sarah me olhou. Seus olhinhos tristes e lacrimosos eram um pedido silencioso de desculpas. Um pânico tomou conta de todo o meu coração nessa hora. Eu não a veria mais. Ela nunca mais apareceria em meus sonhos. Era um adeus. Ela me disse isso em seu silêncio lamurioso. Olhei para o menino, que novamente não me olhava. Tinha os pés descalços, firmes no chão, como se tivessem sido enterrados ali.

– SOLTE-A.

Ele me ignorava solenemente e olhou para Sarah, como se só ela estivesse ali.

– Mande-o embora, Sarah. Sabe que deve.

Ela secou as lágrimas, ajeitando a postura, e minha cabeça girou e girou, com um rodopio. Mas eu estava parado, girando e girando. Me obriguei a ficar bem ali, a olhando firme nos olhos. Era ela . Ela fazia isso. Ela parou, me olhando confusa. Meus olhos estavam presos nos dela, e uma forte dor de cabeça quase me derrubou no chão. Nessa hora, meu corpo vacilou e caí de joelhos. Segurei minha cabeça com ambas as mãos, me concentrando. A dor era absurda, quase como se tivessem amassando cada célula do meu cérebro.
– PARE!!!

Gritei, mas minha voz saiu estranha. Grave e parecia uma trovoada. Coloquei a mão na garganta, sem acreditar que tinha sido eu a falar. Mas foi eficiente. Na mesma hora, a dor cessou. E eles me olhavam sem entender.

– Mande-oooo embora, Sarah!!!

– Não posso! Ele me bloqueou, Ed. Não consigo!

Ela sabia falar. Eu achava que ela era muda. Droga! Ela nem mesmo era humana também. Nenhum humano teria todo esse poder. Mas por quê...

– Vá embora… Por favor.

Eram palavras calmas e claras. Ele estava tentando ser gentil, mas nem mesmo me olhava.

– Quem são vocês?

O menino se sobressaltou, empurrando Sarah para trás, mas vindo a dois passos em minha direção e me olhava agora. Seus olhos eram incríveis, como os da mulher que eu via sempre. Me perdi em pensamentos, e ele se aproximou mais e mais, ficando a um palmo de distância somente. Seu corpo era quente, mas frio também. Tinha o cheiro de um vampiro. Era um vampiro, mas o calor que vinha dele era de seu sangue. Ouvi seu coração. Era rápido, como o meu.

– Vá emborra! < Você quer ir embora agora. >

O quê é isso? Minha mente estava sendo penetrada. Era ele. Tive que sorrir, sem mostrar os dentes, levantando as sobrancelhas, negando com a cabeça.

– Lamento, garoto. Mas estas coisas dão defeito comigo. Não vai funcionar.

Ele fechou os dois punhos, e olhei pra ele. Ele vai mesmo tentar me golpear? Droga! Isso era um sonho bem diferente agora. Olhei para a menina. Ela tinha se agachado, segurando os joelhos. Seu corpinho balançava pra frente e pra trás, em sinal de angústia e dor.

– VÁ EMBORA!!!

Ele gritou, me fazendo encará-lo. Seus punhos estavam fechados, mas seus olhos tinham lágrimas. Ele sofria… Não! Ele não iria me bater. Ele só queria que eu fosse embora.

– Eu sinto muito!

Ele disse, e uma lágrima fugiu de seus olhos. Mas ele não se importou. Eu me afastei um pouco, andando de costas, sem me desviar de seus olhos perturbadores e ele esticou o braço, como se quisesse me alcançar, arrependido. A dor que vi em seus olhos, era tão forte, que me fez parar. Eu estava preso a ele, como sempre me senti preso a ela, que agora vinha pra junto de nós, pegando na mão do menino e eu peguei a outra mão dele, que ele manteve estendida. Foi como choque percorresse meu corpo, assim que eu toquei nele. Uma corrente. Uma ligação. Nós estávamos sentindo. Eu pude sentir nas minhas veias. O sangue deles. Seus corações. Seus sentimentos. Eles me amavam e eu a eles, como se fossemos uma coisa só. Ambos choravam e eu os abracei. Queria retira-los daquele estado de angústia, que estavam sentindo, daquele estado de dor.

– Está tudo bem.

Me obriguei a dizer à eles.

– Estou bem. Eu vou ficar bem.

Eu tinha que dizer a eles que eu estava bem. Vê-los sofrendo, era devastador, como se alguém estivesse enfiando uma faca quente e ácida em meu peito. Nos soltamos.

O Menino segurou em meu rosto, com ambas as mãos, me fitando com a força do seu olhar.

– Precisa voltar pra nós. Volte pra nós.

Não! Não! Me senti sendo sugado, como se um aspirador gigante tivesse sido ligado a toda força.

Eles tentaram me segurar. Eu tentei ficar com eles, mas não consegui. Lutei com todas as minhas forças. Soquei o ar. As nuvens negras me levavam. Olhei para tentar vê-los pela última vez, mas eles estavam abraçados um ao outro, chorando desesperados. Eu queria ir com eles. Precisava estar com eles. Um redemoinho se formou e meu corpo estava dentro dele, sendo girado e rodado para todos os lugares. Senti que me chocava sobre algo maciço, como uma parede de pedra, mas era frio. Era alguém. Não! Era mais de um. Eram dois ou três. Um estrondo. Algo se chocou. Uma pedra foi jogada longe. Me obriguei a abrir os olhos, mas quando eu tinha os fechado?

– Lucian, tente se acalmar. Fale comigo, Lucian.

O quê? O castelo? Eu estava no meu quarto, eu acho. Felix segurava meu braço e meu dorso com seu corpo em cima de mim. Chelsea estava no chão, toda descabelada. Eu nunca tinha visto ela assim. Ela não era disso. Andava tão alinhada, como qualquer soldado. Alec também estava ali do meu lado, segurando meu outro braço. Droga! Ele também estava todo bagunçado. Felix se levantava, desconfiado, me olhando de banda, como se eu fosse atacá-lo e pude ver que seu rosto tinha uma rachadura. Eu tinha feito isso com ele.

– Lucian.

A voz de Alec de novo. Tranquila e macia, me acalmando, como sempre.

– O que ouve, Ala?

– Você teve um pesadelo, eu acho.

– Hã! Fala sério! Ele teve uma convulsão catatônica, isso sim. Olha a Chelsea! Foi arremessada a dois metros do chão e meu rosto parece ter sofrido um terremoto de 3.2 na Escala Richter. Se tiver outro desse garoto, teremos que colocá-lo nos calabouços, acorrentados, com as correntes especiais.

– Duvido que isso o segure. Olhe pra nós. Três vampiros antigos. Quase fomos destruídos, e ele estava dormindo. Isso é humilhante demais. Se contar isso a alguém, eu arranco seu pescoço, grandão.

– Fiquem quietos! … Como está, Lucian? Está bem agora?

– Sim. Estou só com dor de cabeça agora. Desculpem! Eu sinto por isso, Chel. Você também, Felix. Foi mal.

– O que estava sonhando, afinal? Era uma batalha?

Felix perguntou. Claro que foi ele. Alec o olhou furioso nessa hora, e Felix deu um passo para trás, arrependido. Alec nunca permitia que eu falasse dos meus sonhos. E esse, seria mais um a ser guardado. Mas esse, tinha sido o mais esquisito de todos. Era a primeira vez que eu via o menino e a garotinha finalmente tinha um nome. É Sarah! Eu queria falar com alguém. Queria falar com Alec.

– Alec eu preciso lhe falar.

Alec desviou seu olhar de fúria de Felix pra mim. Sua expressão era de cansaço e desânimo. Forte sombras estavam em seu olhar. Como se ele estivesse com sede de muitos anos. Ou se estivesse sem dormir por várias noites. Me senti de novo péssimo. Um peso pra ele. É isso que eu sou. Um problema, pelo qual ele tinha que constantemente cuidar. Mesmo que eu já tenha o libertado disso, ele permanecia ali. Por quê?

– Não quero saber do seu sonho. Ninguém aqui quer. Só importa que está bem, Lucian.

Me ajeitei no travesseiro, me cobrindo com a manta. Era inútil, mas era bom. Me sentia aconchegado com ela. Precisava de mais calor. Sempre precisava de mais calor. Ali, tudo é frio. Eles eram quentes. As crianças do sonho eram quentes. Quando os abracei, me senti tão bem. Tão aquecido, em completo. Como se sempre fosse esse o problema, de eu me enroscar nas cobertas. Era a falta deles. Queria senti-los perto de mim, como se fosse uma parte do meu próprio corpo, minha coluna e meus braços.

– Estou bem! Vou ficar bem.

Foi a segunda vez que eu dizia isso a alguém. E as duas vezes, eram uma bela mentira. Nada estava bem. Era tudo uma merda. Uma fodida merda.

Olhei para Alec nessa hora, como se ele tivesse podido me escutar xingando mentalmente. Ele odiava quando eu falava palavrão. Me fazia, escrever cópias sobre leis jurídicas de todas as áreas, até o lápis acabar.

– Tá tudo bem mesmo, Lucian?

– Tá! Vão embora, fazer o que faziam antes do terremoto. Sumam daqui logo. Antes que todos saibam que eu tive uma crise ou algo assim.

– Ninguém vai saber.

Alec disse de forma firme, e eu olhei para os rostos à minha frente. Chelsea tentava ajeitar o cabelo com a mão, em um coque. Mas seu olhar preocupado sobre mim, era uma confirmação que nada seria dito por ela, a menos que Aro sugasse por si. Felix tinha uma expressão divertida. A rachadura em seu rosto já começava a cicatrizar, mas ele também não falaria. Não por vontade própria, também. Eu não tinha certeza de certas coisas, mas sempre desconfiei que o fato de Alec nunca querer saber dos meus sonhos, ou fugir das minhas milhares de perguntas era isso. Aro! Ele não podia saber, e somente minha mente guardava segredos ali. Era o único no castelo que ele não podia ler. Mas eu também não tinha intenções de contar nada disso para ele. Por quê? Ele é meu amigo. Mentor em vários assuntos. Ninguém entendia melhor de arte, música ou estrategia de guerra como ele. Temos conversas intermináveis todos os dias sobre esses assuntos. Me trata como um filho. Sou seu bambino, como ele carinhosamente me chama. Mas eu não sentia o mesmo. Não. Claro que gosto dele. Mas por sua mente brilhante, seu intelecto, sua força em conduzir o mundo dos vampiros... É algo que eu admiro muito. Mas pai, não. Ele não podeira nunca ser como um pai. Seu olhar frio e obsessivo em muitos aspectos, me distanciavam dele e eram um sinal de alerta máximo, como se ter um escorpião de estimação e ele morasse dentro dos seus sapatos.

– Bem! Já que está tudo bem. Vamos, Chelsea.

Felix disse, de maneira bem sugestiva a ela, que o olhou de forma furiosa e aborrecida.

– Vamos para onde? Onde pensa que eu vou com você? Você vai para o inferno e eu para o mais longe possível de você. Não seja impertinente. Durma bem meu piccolo*. Sonhe comigo e não terá mais pesadelos. Tá bem?

Chelsea me deu um beijo da bochecha, bagunçando meu cabelo mais ainda, saindo dando os ombros e virando o rosto para Felix, que só me piscou um dos olhos, indo atrás dela.

– Esses dois são …

– Bons amigos.

Completei a frase. Alec que me olhou preocupado, negando com a cabeça.

– Não! Vampiros não tem amigos. Parceiros, cúmplices, aliados, sócios... Mas nunca amigos. Nada de amigos vampiros, Lucian. Não cometa esse erro, pode custar sua vida.

Alec saiu do quarto, me deixando com meus pensamentos, de como eu tinha em uma única noite ter chegado a varias conclusões. De que eu tinha sim amigos. Mesmo que em sonhos. Que eu não podia falar nada com ninguém por causa de Aro. Que eu tinha descoberto que nunca me enganara em não confiar totalmente nele. E que vampiros não tinham amigos, o que era irônico, e eu não sabia se podia concordar totalmente. Gosto de Chelsea. Ela é amável. Sempre preocupada e carinhosa, mesmo que discretamente,

como se fosse um crime demostrar afeição ali. Gosto de Felix e seu jeito bonachão e debochado. Quando estávamos sozinhos e ele relaxava. É muito divertido. Gosto de Marcus, com seu jeito sério e triste. Me dá aulas de literatura, me obrigando a ler para ele Shakespeare e Platão, mesmo eu tendo certeza que ele tinha decorado cada frase deles a séculos. Gosto dos guardas. De vê-los treinar. Me escondia para que Nahuel não me visse e me botasse pra correr. Amo, como se fosse um avô, o bom Felipe, que engomava minha camisas ele próprio. E tenho certeza mesmo, nunca tendo visto, que ele mesmo lava minha roupa e a cuida com as próprias mãos. Lustra meus sapatos, até quase eles virarem um espelho. Não era só porque era seu trabalho que ele fazia, mas porque era prazeroso a ele, como se me servir fosse um presente. O que é um absurdo, mas me fazia afeiçoa-lo ainda mais por sua lealdade, caráter e dignidade inábil. E Alec, o que eu posso dizer? Eu o amo como um irmão, pai, mentor e amigo sim. Ele não podia estar se incluindo, quando disse isso. Claro que não! Ele disse isso de forma dura e cruel, para que eu entendesse e acreditasse em suas palavras, é claro. Típico dele. Ser mordaz, para que o recado fosse dado e entendido.

Ri sozinho da confirmação do fato. Ele é um líder. Deveria ser tratado como tal. Por que ainda se comporta como se fosse um segurança, pronto a tomar um tiro por mim, como se fosse possível uma bala fazer tal coisa.

Tentei dormir, mas o olhar do menino não me deixava. Aqueles olhos perturbadores. As nossas mãos unidas. Estiquei a mão, e ainda sentia nossa ligação poderosa, quando os três se uniram em uma ordem decrescente numa escada, como elos de uma corrente indissolúvel. Quem são eles, e quando os verei de novo? O olhar da pequena menina, me atingiu, e eu sabia. Nunca mas os veria de novo. Não em sonhos.

“- Precisa voltar pra nós. Volte pra nós.” Foram as palavras do menino. Voltar como? Eu nem sabia que tinha partido. Voltar para o sonho? Mas como? Eu nunca sabia quando ia sonhar com ela. Mesmo desta vez, tinha se passado bastante tempo sem vê-la. Como se controla os sonhos? Será que é a menina… Não! Não é ela. Ela me pareceu bem surpresa por me ver lá, hoje. Não é ela que faz isso. Ela estava triste, mesmo antes de me ver. Cantava, mas estava triste. E todas as vezes que eu a vi, era eu que estava triste e me sentindo sozinho, então ela vinha para ficar comigo. Ela estava triste, então eu fui até ela. Nos encontramos quando precisamos um do outro. Mas que droga! Que merda é essa?????

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(Edmond )


Eu despertei com a cara no chão. Tinha caído da cama? Mas que droga! Tentei levantar, segurando a testa com uma das mãos. Uma forte dor de cabeça parecia me cortar em dois.


Sarah!!!

Tentei levantar, mesmo cambaleante de dor. Me escorava no móveis do quarto, até o quarto de Sarah. Como pensei. Se eu estava naquele estado por causa do sonho, ela estava muito pior. Encolhida no canto do quarto, segurando os joelhos contra o peito, se balançando de um lado para outro e tentando se focar em uma contagem de números de trás pra frente. Seus lábios se mexiam sem som. Seus olhos fechados fortemente, evitando focar em algo.

– Sarah!

Me aproximei devagar, para que ela percebesse que era eu. Não queria ser arremessado pela janela.

– Sarah, sou eu. Sah! Calma, pequena.

– Ed, o que aconteceu com ele?

– Não sei.

Ela abriu os olhos, me encarando com tristeza e culpa.

– Como chegou lá?

– Não sei. Eu só estava procurando você.

– Ouvi quando me chamou.

Sua cabeça caiu sobre o queixo, e lágrimas vinham deslisando sobre seu rostinho.

– Não queria machuca-lo, Ed.

– Não o fez. Não foi você.

– O que foi então?

– Não sei. Talvez ele tenha sido despertado, não sei.

– Você viu ele, Ed. Ele está enorme, quase como papai.

Abaixei a cabeça, com um sorriso concordando. Sentei ao seu lado e nos abraçamos.

– Não deve ir até ele, Sarah. Sabe disso.

– Não fui! Ele veio dessa vez. Foi ele, Ed. Não foi como antes. Eu não ouvi ele me chamar, como das outras vezes.

– Você o chamou. Foi você, Sarah. Me chamou também. Foi por isso que eu fui. Você me chamava.

– Não percebi o que fazia. Eu só me sentia tão triste e sozinha.

– Por quê?

– Não sei. Meu peito dói, Edmond. Me sinto estranha.

Sim. Ela estava estranha. Muito quente. Mais quente que o normal, e seu coração batia descompassadamente em seu peito.

– Vamos de volta pra cama.

– Fique comigo, Ed.

– Eu fico. Mas no meu quarto. Não vou dormir de novo, nessa cama de menina.

Ela riu sapeca, levantando em um salto.

– Tive uma ideia, Ed.

– O quê?

– Me segue.

Ela saiu saltitante pelo corredor, indo…

– Sarah, não.

– Venha. Eles não ligam. Faz tempo que não fazemos isso.

– Estamos grandes, Sarah, para isso.

– Fale por você, garoto puberdade.

Ela é impossível. Correu. Já estávamos na escada que dá para o quarto deles. Ficamos parados ali por um tempo. Nenhum sinal que eles estariam acordados. Sarah abriu a porta devagar e entrou, se jogando na cama deles, que abriram espaço para recebe-la, como sempre faziam. Já virava as costas para sair dali. Meus dias de dormir com eles tinham acabado e eu sabia muito bem disso.

– Onde vai, Edmond?

A voz potente de meu pai ecoou no quarto escuro. Não tinha maneira de não congelar, quando ele falava assim.

– Já pra cá, amor. Fique aqui conosco.

A voz melodiosa de minha mãe era quase um canto de sereia. Se existissem, elas falariam assim como ela.

– Não, mãe. Estou bem. Foi Sarah que me acordou, com mais um de seus pesadelos.

– Também tive um pesadelo hoje.

Meu pai falou, com voz preocupada. Eu fiquei curioso. Sem perceber, fui indo até ele.

– Sério, pai? Não sabia que tinha pesadelos.

– Tenho. Claro que tenho, garoto.

Sarah se aninhou mais nos braços de minha mãe, e um vão estava aberto bem ao lado dela, me chamando para estar ali, sentindo todo aquele calor acolhedor e protetor.

– Quer que eu fique aqui com você, pai?

– Por favor, Edmond. Sabe como é... Posso precisar de ajuda. Foi um pesadelo horrível. Caras maus tentavam pegar sua irmã e sua mãe.

– Sério, pai?

Ele me puxou para seu lado, me colocando na cama sem o menor esforço, e eu o abracei. Sarah veio para mais perto, e estávamos ali, protegidos e seguros com eles.

– Conta mais, pai. Do pesadelo.

Pedi, em um bocejo de sono.

– Amanhã eu conto garoto. Agora vamos dormir, Ed.


( Piccolo – pequeno em Italiano*)



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Notas finais do capítulo

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
Fernando Pessoa



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