Quando O Amor E A Morte Se Encontram escrita por Lia Reis


Capítulo 6
Capítulo 6 -


Notas iniciais do capítulo

N/A: Gente, só avisando.. Eu citei um trecho de um texto que não é de minha autoria. É o trecho em itálico, que indicam os pensamentos da Samantha xD O texto é de Mário Dias, eu vi no meu tumblr e achei tudo a ver.



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Eu esperei ele terminar, os braços cruzados e um enorme tédio.

- Vida. 

Subitamente minha expressão e postura mudaram. Endireitei-me e soltei os braços, empalidecendo. Aquela pequena palavra me atingiu em cheio, foi como uma tapa na cara. Deixou-me totalmente sem fala. 

- Isso você não pode negar.

Jesse não esperou resposta, logo se retirou da sala. Deixando-me sozinha com meus fantasmas. Não, isso eu não posso negar... Você ainda está aqui, Jack. Não fisicamente, mas dentro de mim. Por que diabos você não vai embora? Não aguento mais isso. É torturante, devastador, dói demais. Você se foi, mas aqui ainda continuou tudo, as  promessas não cumpridas, os momentos não vividos, o amor que nunca chegou a ser amor da sua parte. Falar pra esquecer tudo isso é inútil, eu não consigo nem tentando. Às vezes sinto raiva de você, às vezes sinto raiva de mim. Só quero arrumar essa bagunça dentro de mim, vou enlouquecer! 

 Não estava prestando muita atenção por onde passava, só estava tentando desaparecer lentamente. A unica coisa que me fez parar foi Angêla, que surgiu à minha frente e eu não a vi. O que gerou uma colisão entre nós duas, fazendo-nos cair no chão.

- Ai garota. Vê se presta atenção por onde anda.

- Desculpa Ângela. –ajudei-a a recolher seus livros.

-Hum. –ela apenas resmungou.

Ângela já ia embora, mas eu resolvi perguntar uma coisa que nunca entendi desde que nos conhecemos.

- Hey Ângela. –ela olhou para trás com aquela mesma pose esnobe, o nariz arrebitado e os olhos verdes mais afiados do que nunca. Na verdade, eu nunca entendi direito o que Jack viu nessa garota. Está certo que ela era linda, cabelos negros compridos e cheio de ondas, olhos verdes ameaçadores, a pele tão branca quanto a minha. Mas o que ela tinha de linda, tinha de nojenta.

- Por que você tem tanta raiva de mim?

- Por que você tirou o Jack de mim duas vezes. Apenas isso. –disse ela simplesmente me dando as costas. Agora não havia quase alunos na escola. O campus estava praticamente vazio.

- Não. Eu... Não tirei. –ela parou.

- Sim Samantha. Pelo que eu lembre você que ia ao baile de primavera com ele, não eu. Eu deveria ir Samantha. –agora ela estava gritando.

- Mas... Você... Você não queria mais nada com ele.

- Rá. Para de bancar a bobinha a toda hora. Você não tem mais 16 anos, não é tão ingênua quanto todos pensam. Você deixou de ser a “princesinha” do Jack há muito tempo.

- Ângela... Você não pode responsabilizar os outros pelos seus atos...

- Você. É a única responsável pela morte do Jack. Não tente se convencer do contrario, por que você mesma sabe que é verdade.

- Não... –foi a única coisa que consegui dizer. Meus olhos já transbordavam lagrimas, não pude encontrar minha voz.

- Se não fosse por você ele teria ido ao baile comigo e não teria de pegar aquele arranjo idiota. Não teria morrido naquela tarde. Você tirou o Jack de mim. Matou ele. Eu te odeio Samantha. Odeio.

***

Eu podia ouvir os gritos do corredor, reconheci a voz de Ângela e não era difícil deduzir com quem ela estava discutindo. Fui até elas imediatamente.

Encontrei Samantha e Ângela na cobertura, ainda nos domínios da instituição. Samantha estava de costas pra mim, por isso não pude ver como ela estava já Ângela se encontrava completamente descontrolada. Com os olhos borrados pelas lagrimas.

Não interferi na discussão, essa era uma coisa que as duas tinham de resolver sozinhas, mas logo percebi que nada ali seria resolvido já que Ângela só gritava, enquanto Sam continuava paralisada, com os ombros rígidos e punhos fechados.

Chegou uma hora que eu tive de intervir, foi quando Ângela agarrou Sam pelos ombros e a jogou contra a parede de concreto.

- Ei ei meninas. Parem com isso. –Ângela me olhou assustada. Afastou-se e enxugou o rosto. Apenas olhou pra Sam com certo rancor e foi embora, antes que eu pudesse falar com Samantha ela correu portão afora.

As palavras de Ângela ecoavam na minha mente, me causaram uma dor tão grande que toda a fachada de ‘estou bem’ caiu em um segundo. Eu me sentia destruída. Não conseguia pensar em mais nenhum lugar a não ser onde ele estava. Jack.

Logo anoiteceria, fechariam os portões do cemitério em breve. Cemitério. Essa palavra ainda me provocava arrepios. Não conseguia imaginar Jack dentro daquele caixão, servindo de hospedeiro para todos aqueles vermes.

Sentei-me junto ao seu tumulo, fazia algum tempo que eu não chorava tanto. De alguma forma, tudo o que Ângela disse fazia sentido. Se não fosse por mim Jack ainda estaria vivo.

De repente uma coisa surgiu na minha cabeça. Corri para casa. Enquanto abria a porta rapidamente, tive a impressão de ter ouvido alguém chamar meu nome. Olhei para trás. Era Jesse. Ele estava a uma distancia razoavelmente grande, não esperei por ele.

Parecia que ele havia desvendado minhas intenções por que assim que eu pus os pés dentro de casa ele me olhou alarmado e correu em minha direção. Não me preocupei em trancar a porta, não tinha tempo. Pulei os degraus da escada, primeiro chequei os cômodos do andar de cima, minha mãe não estava em casa como imaginei.

Fui para o meu quarto, larguei minha bolsa no chão e tranquei-me no banheiro. Peguei um dos frascos do meu remédio. Minhas mãos estavam tremulas e meus olhos embaçados pelas lagrimas que caiam insistentemente.

Contei uma a uma, olhei-me no espelho, eu só via tristeza. Em seguida dirigi meu olhar para minha mão direita, cheia de comprimidos e a outra o frasco de remédios vazio.

Conforme eu aproximava os comprimidos dos lábios eu sentia algo estranho. Como se não estivesse mais sozinha naquele banheiro, como se algo quisesse me impedir de fazer aquilo. Logo a sensação se misturou com gritos de Jesse, batendo na porta, pedindo para que eu a abrisse e não fizesse nenhuma loucura. O que só me fez ficar mais perturbada.

- Sam, por favor, não faça nada. Deixe-me entrar. –ele suplicava repetidas vezes, mas eu não dava ouvido. “Não”. Outra voz gritava na minha cabeça.

- Não Sam. –agora as duas vozes se misturavam, um estupor de dor e desespero me invadiu.

- Parem! –gritei descontrolada colocando as mãos nos ouvidos, em uma tentativa de fazer tudo cessar. O que pareceu fazer Jesse ficar mais desesperado, já que agora empurrava a porta, tentando forçar a entrada.

De uma só vez engoli as pílulas, que desceram arranhando a minha garganta. De alguma forma, inexplicavelmente, Jesse pareceu saber o que havia acontecido.

Sentei-me no chão do banheiro, esperando a morte chegar. Esses remédios poderiam me fazer dormir por mil anos. Pude sentir meu corpo todo gelado, minhas mãos tremiam. Uma sonolência incontrolável tomava conta de mim. Quando vi já estava deitada no chão. Imóvel. A respiração lenta e difícil, os olhos fixados em um ponto qualquer na parede.

Havia me desligado quase que totalmente do mundo ao meu redor, tudo parecia tão distante, passava como um borrão.

Em uma hora estava de pé, em outra, nos braços de Jesse que me forçava em manter os olhos abertos, mesmo que uma parte de mim já estivesse caindo na inconsciência. A sua voz embargada falava freneticamente ao telefone com alguém, mas tudo parecia tão irreal. Eu podia ouvi-lo, mas nada era nítido, não conseguia responder aos seus chamados, sequer me mover.

- Você está tão gelada Sam. – eu a abraçava mais, colocando seu corpo contra o meu. Era difícil vê-la naquele estado, quase insuportável. Ela estava tão sem vida, com o olhar perdido e a respiração imperceptível. As mãos não mais tremiam, ela não emitia ação alguma, parecia ficar mais pálida a cada instante. Seus lábios já sem cor. A pele alva, agora numa aparência desesperadoramente doentia.

Cada minuto parecia uma eternidade, a espera pelos paramédicos era perturbadora. Cada segundo era uma parte de Sam que morria. E que me matava. Agia inconscientemente, se a abraçava era um instinto, se chorava era uma força oculta que tomava conta de mim. Eu não podia perdê-la. Recusava-me a imaginar uma vida em que ela não estivesse presente. Negava-me a pensar na possibilidade de não poder ver aquele sorriso que tanto almejava. Por que eu não ligo se ela não ligar e não brilho se ela não brilhar.


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