*Ponto de vista do Adam

"Lori, fala comigo, por favor..." eu pedi a ela pela quinta vez. Ela estava sentada na cama, a cabeça encostada na janela, olhando para o nada lá fora. Ela ficava linda quando estava nervosa, mas aquele silêncio estava me destruindo. "Lo, não faz isso. Eu já pedi desculpas." Insisti. "Você quer que eu te traga alguma coisa da cidade?"

Ela olhou para mim de repente. O rosto rígido, os olhos castanhos estavam vermelhos e inchados. Eu não havia notado que ela estava chorando. Senti meu estômago se revirar.

"Sério, Adam?" ela disse com a voz rouca e meio carregada. "A esta altura do campeonato você está tentando me comprar?"

"Eu não estou tentando te comprar." protestei. "Eu só quis te fazer um agrado, já que você não aceita minhas desculpas."

Ela bufou e revirou os olhos ironicamente.

"É por isso que eu não aceito suas desculpas, Adam! Você fala da boca pra fora. Você não se importa com nada!"

"É claro que eu me importo, Lori. Por que está dizendo isso?" perguntei sinceramente preocupado e um pouco ofendido.

"Porque o que você está fazendo é imperdoável!" gritou ela chorando novamente.

"Imperdoável?" repeti a palavra mais para mim mesmo do que para ela. Comecei a me sentir confuso e machucado. "O que está querendo dizer?"

"Eu estou cansada disso. Cansada desse seu comportamento. Eu larguei tudo o que eu tinha, abri mão da minha carreira, da minha família por você." ela agora soluçava. "Você acha que eu não pensava em ter uma casa e filhos? Abri mão de tudo isso por você, Adam! E como você retribui? Me levando de volta para o lugar que mais me faz sofrer no mundo e sem dar a mínima quanto a isso."

Eu absorvi cada palavra que ela disse e aquilo surtia efeito em mim como se uma centena de balas tivessem atravessado meu peito. Havia algo estranho acontecendo dentro de mim. Algo que não acontecia há anos. Parecia que havia um nó em minha garganta, meus olhos começaram a arder e ficou difícil respirar.

Imaginei a Lori, segurando um bebê sorrindo para ela e ela estava acompanhada de alguém. Mas esse alguém não era eu. E isso era porque eu nunca poderia dar a ela a felicidade que ela merecia.

"Quer saber?" eu disse me levantando da cama de repente. "Eu nunca pedi isso a você. Nunca pedi para você abrir mão de nada! Eu nunca nem prometi nada a você. Foi você que escolheu isso, não eu. E se estiver arrependida de ter escolhido viver comigo, a porta é bem ali." Apontei para a porta do quarto, sentindo aquelas palavras queimarem em minha boca.

Lori olhava para mim assustada, provavelmente tão descrente quanto eu em relação ao que eu havia dito. Senti meu corpo pesar, como um enorme fardo nas costas. Encostei-me à parede encarando meus próprios pés e ouvindo minha respiração pesada ecoar em meus ouvidos. Eu desejei voltar atrás, desfazer o que eu havia dito, abraçar a Lori, beijá-la e ouví-la dizer que está tudo bem. Mas não estava tudo bem. Estava dito e estava feito. Caminhei em direção à porta do quarto, chutei uma cadeira com toda a força que eu dispunha e esta colidiu contra a parede e se quebrou em pedaços de madeira velha.

Grunhi de raiva e saí porta afora. Eu precisava beber. Precisava esfriar a cabeça e pensar no que aconteceria a seguir. Talvez aquele fosse o meu fim. O fim de tudo o que eu realmente tinha em toda minha vida.