*Ponto de vista de Mark Cortez

Eu já estava ficando impaciente. Aquela era a segunda vez naquela semana que minha ex mulher marcava de me encontrar e não comparecia. Confesso que muitas vezes me senti tentado a acabar com aquela vadia desgraçada. Só não o fazia porque ela tinha uma filha de quatro anos. A menina já não tinha o pai (para o bem dela escolhi não fazer parte de sua vida). Não seria justo que eu fosse o responsável pela ausência da mãe dela, tendo em vista que por minha culpa ela não tem um pai.

Minha ex mulher já tentou se casar outra vez. Na verdade, cinco vezes. E eu afugentei todos eles, um a um. Digamos que eu tenha alguns problemas em ver na mão de outros algo que já foi meu. O pior é que depois do terceiro homem que minha ex perdeu, ela percebeu que era obra minha e agora fica se divertindo marcando encontros como esse para me extorquir. Como se os locais que ela escolhe não fossem ruins o bastante. Desta vez, ela escolheu um maldito Diner.

Fiquei ali, esperando, por quase uma hora e nada daquela prostituta aparecer. Levantei-me do meu lugar para ir embora quando...

"...Tudo o que temos é um homem gordo e aturdido que perdeu a mão e que acha que ouviu o nome do suposto criminoso." Disse alguém ali perto.

Quando ouvi aquilo, congelei no lugar. Comecei a suar frio. Aqueles caras eram policiais e estavam falando sobre o dono da oficina... O homem cuja mão eu arranquei. Eu precisava sair dali naquele instante. Eles pareciam saber o nome do culpado. O meu nome!

"Adam..." o policial mais novo disse.

Senti meu corpo relaxar um pouco. Minha mente girou, confusa. Engoli em seco e decidi ficar. Eu precisava de mais informações sobre aquilo. Sentei-me ao balcão, a uma boa distância dos policiais e pedi à uma das garçonetes um café. 

Conforme eles foram falando, eu fui ficando animado. eles suspeitavam do Adam. Eu não o conhecia, mas sabia quem era... O safado tinha uma boa fama no submundo em diversos estados distintos no país, e era só um moleque. Não devia ter nem trinta anos ainda. De repente, o policial mais velho começou a gritar com o mais novo. Segurei o riso e voltei ao foco dos meus pensamentos.

Pelo que ouvi, parecia que eles 'chegaram' até o Adam na investigação porque o gorducho caloteiro da oficina ouviu o nome dele. Tracei uma linha do tempo na minha cabeça, tentando me lembrar... Claro! O telefonema. Chad havia me ligado naquele momento para falar do assalto a um cassino em Nova York e que já tinha a confirmação dos membros da gangue formada: JoJo, Mitchel e obviamente, o Adam.

Eu estava sorrindo loucamente quando meu café chegou. Sem tempo para aquilo, tomei meu café num só gole, deixei uns trocados em cima do balcão e fui em direção à saída do Diner discando um número no celular.

"Alô, Chad?" chamei ao telefone, olhando para trás para ter certeza de que ninguém me ouviria, e continuei andando para longe do restaurante e daqueles policiais.

"Fala, Mark." respondeu o Chad do outro lado da linha.

"Ainda tem lugar para mim em Nova York?" perguntei. Ouvi o cara gargalhar e esperei.

"É claro que tem, seu filho da p***!"

"Ótimo, ótimo..." respondi mascarando minha felicidade. Mas ainda faltava saber de algo. "E quanto àquele cara, o... Adam! Ouvi dizer que ele esteve por aqui em Ohio."

"Oh, não. Da última vez que falei com o cara, ele estava em West Virginia." disse ele. "Mas ele já está a caminho de Nova York. Deve partir de Grafton na sexta pela manhã."

"Tudo bem," respondi. "Espere por mim em Nova York. Estarei lá."

Desliguei. Olhei para a tela do meu celular.

"Terça-feira." eu disse para mim mesmo. "Perfeito."