Logo quando recebi alta, resolvi ficar em casa por uns dias absorvendo o ocorrido. A ideia de voltar para a escola me deixava com medo, na verdade eu estava apavorado. A cidade era pequena, não tinha muitos comércios e só havia uma escola. Não sabia o que iria acontecer comigo ao voltar para aquele lugar, um adolescente estuprador? Eles não perdoariam. Tive dó de mim. Dias entravam, noites saiam e eu só conseguia pensar no que faria para destruir cada um que me derrubou. O que faria com cada pessoa que me deu as costas quando mais precisei. Aquelas pessoas que eu esperava que acreditassem em mim e nem sequer me deram ouvidos. A campainha da minha casa tocou, era algo incomum depois de tudo que havia acontecido. Ninguém queria entrar na casa do adolescente de 15 anos que havia estuprado uma garota de 18. As pessoas tinham medo de mim e aquilo me apavorava, mas ao mesmo tempo eu gostava daquilo. Desde crianças a anciões, as pessoas me temiam. Alguns andavam pela calçada e atravessavam a rua quando passariam pela minha casa. Apesar de todo medo, tinham alguns meninos da minha idade me provocavam via internet, não acessava mais minhas redes sociais por causa dos comentários que havia ali e só me faziam sentir ódio daquelas pessoas da minha escola. Mesmo com toda essa aflição, nenhuma lágrima nunca descia do meu rosto. Eu estava seco de sentimentos. E quando os tinha, era para fazer o mal. Certo dia minha mãe entrou no meu quarto e não foi para deixar comida. Em um tom melancólico ela me disse: - Matriculamos você em um internato na Suíça. A assistente social do seu colégio estava aqui e nos disse que essa é a melhor saída, tanto pra nossa família quanto pra você. Pelo menos você indo embora ele irá poder tentar se reeleger prefeito daqui da cidade, acho que isso não seria possível com você por aqui. Me desculpe. Nós também não queremos que você sofra os horrores do colégio. Unimos o útil ao agradável, você vai se dar bem na Suíça. O internato que você vai é ótimo, a diretora é minha amiga de infância. Amanhã pela manhã você irá à sua escola buscar o seu histórico escolar. Você tem que enfrentar os seus medos com a coragem de um homem. Amanhã lhe acordo ás cinco. Durma bem filho. — Desde que eu fui acusado daqueles horrores minha mãe me tratava com uma espécie de arrependimento, como se ficasse perguntando-se onde errou, mas ela me respeitava e eu notava que ela sentia falta do meu antigo eu, o antigo Richard. Desde que eu havia saído do hospital, estava acuado no quarto. Apavorado com os olhares fuzilantes do meu pai e do meu irmão.

Logo pela manhã ouvi os passos pesados pela escada. Era o Robert. Ele abriu a porta do meu quarto violentamente. Na hora, fechei os olhos pra fingir estar dormindo, senti um forte jato de água gelada no meu rosto. Ele estava com um sorriso sarcástico no rosto e disse: - Acorda estuprador! Veste uma calça e uma camisa e vai ao colégio buscar o histórico. Anda!! A mamãe que mandou te acordar. Disse para melhorarmos nosso relacionamento antes de você ir embora. Vê se pode? Por sua causa as pessoas me olham torto e cochicham quando eu passo. Você pensa que isso é fácil Richard? Você tem sorte de ter a Mamãe por você, caso contrário você teria hora marcada pra levar uma surra todos os dias. — Naquele momento só conseguia sentir ódio e pavor. Quando aquele pesadelo iria acabar? Talvez passasse logo quando eu fosse para o internato e estivesse longe de todos da casa. Minha mãe falou gritando do andar inferior da casa: - Robert, se arrume logo para levar o seu irmão ao colégio com você! Anda menino! Ele vai viajar hoje de tarde, temos que correr contra o tempo! — Ele esmurrou o corredor, totalmente descontrolado e disse: - Não vou levar esse maldito a lugar algum. No meu carro ele não entra! — E não entraria mesmo. O Robert me odiava tanto que nem sei como cabia tanto ódio em uma pessoa daquela forma. Ou talvez soubesse. Troquei de roupa e fui ao colégio de ônibus. No ônibus todos me olhavam da cabeça aos pés. Sentei ao lado de uma senhora e ela simplesmente se levantou e saiu. Eu estava andando igual a um zumbi. Estava um pouco apreensivo com o que me esperava naquele lugar que antes representava a minha vontade de ser alguém nessa merda de vida. Logo quando cheguei estava Julie e suas duas fieis escudeiras (ou capachos mesmo) na porta do colégio. Elas me olhavam reprovadamente, me detonavam com os olhos. Me senti bombardeado. Julie, Annie e Carly eram as maiores vadias do colégio. Acho que competiam para descobrir quem era mais burra (ou vadia). Logo quando entrei no colégio, estava o meu irmão com os seus amigos, Jimmy e Terry. Eles eram inteligentes ao contrário do meu irmão, o Robert. Terry namorava a Carly. Eles eram aquela espécie de casal perfeito que toda escola tem, sabe? Ou nem todos os colégios tem. Jimmy era loucamente apaixonado pela Julie. Isso não era segredo para ninguém. O sinal tocou e todos estavam entrando na sala. Jimmy passou por mim e esbarrou no meu braço para me intimidar. Saí caminhando em direção à sala da diretoria e ele gritou no meio do corredor: - Não viu que eu esbarrei em você? Tem coragem de estuprar mulher, mas não tem de puxar briga com macho, não é? — Todos pararam tudo que estavam fazendo e começaram a me empurrar para cima do Jimmy. Enquanto me empurravam, gritavam incansavelmente: - Briga, briga, briga! — Não queria brigar com ninguém. Naquele momento pude ver o Robert se afastando daquela rodinha e dando as costas para mim. Na hora que virei o olhar, o Jimmy estava tirando algo do seu casaco. Na hora que ele retirou percebi que era um soco inglês. Na hora que ele estava colocando-o, se aproximou de mim e disse num tom de sussurro ao meu ouvido: - Agora você vai ver a morte bem de perto. Bem pertinho mesmo. — Não esbocei nenhuma reação. Fechei os olhos e senti os socos no meu rosto e nas costelas. Ele esmurrou muito minha barriga repetidamente e quando parou, só consegui colocar mão na barriga e logo depois tudo estava escuro. Despertei alguns segundos depois, ele me olhou com desprezo e cuspiu na minha cara. A Annie me olhou de cima e deu um forte chute nos meus testículos. Quase desmaiei de novo de dor. Após dar o chute, ela sorriu e disse: - Isso é pela minha melhor amiga. — A Carly pegou-a violentamente pelo braço e disse: - Você está louca? Já teve violência demais por aqui! Você parece que não sabe o que o irmão dele fez com ele! — Carly me ajudou a me reerguer e me levou até a sala da diretoria. Todos a olhavam reprovando a atitude dela. E ela apenas revirava os olhos para eles.

A diretora sorriu para a Carly e me puxou para dentro da sua sala. Ela me olhou da cabeça aos pés e disse: - Se não houvesse apenas uma escola nessa cidade você seria expulso. Estupro é demais, Richard. Essa escola da Suíça é muito boa. Você tem sorte. — Falou a diretora Simmons, mãe de Jimmy Simmons. Ela começou a anotar alguns documentos e me olhou com uma expressão de pena e continuou: - Espero que você fique bem. — Sorriu discretamente e me entregou o meu histórico escolar. Na hora que ia saindo da sala, ela disse: - Olha Rich, nós sabemos quem é a Julie e do que ela é capaz. E por mais que eu não possa fazer nada pra mudar o que ocorreu, eu acredito em você. — Abaixei a cabeça, sorri e acenei despedindo-me. O corredor estava completamente vazio, todos pareciam estar em suas respectivas salas. Olhava para todos os lados para ver se não havia nenhum daqueles monstros ali. Na hora que estava saindo do colégio, senti algo gosmento na minha cabeça. Alguém havia jogado um ovo em mim. Na hora que olhei para cima vi que havia sido o Terry. Ele sorriu sarcasticamente e disse: - Já vai tarde projeto de estuprador! — Maldito. Já tinha uma listinha enorme de pessoas que odiava. Não iria ter pena de ninguém. Nada iria impedir a minha vingança. Quando cheguei em casa, meu pai já estava no carro me esperando. Quando estava entrando em casa, ele disse: - Você está mais podre do que já é. Suba e tome um banho. Rápido. Ficarei esperando aqui no carro. — Fiz como ele ordenou e na hora que estava subindo as escadas pra tomar uma ducha, a minha mãe me segurou pelo braço, sorriu e me deu um abraço. Em seguida, ela acariciou o meu cabelo (um pouco duro devido a clara do ovo seca) e disse: - Não deixe nunca mais que coisas assim aconteçam. Lute pela sua inocência. Prove a todos a vadia que a Julie é. Eu acredito em você, e vou convencer essa família a acreditar em você. Quando você voltar da Suiça, tudo vai estar nos seus respectivos lugares. Você vai ser feliz de novo. Eu amo você Rich. — Ela me deu um longo beijo na testa e disse: - Agora, vai tomar um banho que você está fedendo muito, de verdade. —Tomei uma longa ducha e chorei como uma criança. Odiava chorar, mas se eu amava alguem, esse alguém era a minha mãe. Precisava me purificar, transbordar tudo que tinha pra transbordar e ir pra Suíça de cara limpa. Vida nova. Quando saí do banho e estava pegando alguns acessórios, vi um porta-retrato da minha família inteira, todos pareciam felizes. Uma lágrima escorreu, era inevitável. A partida torna as pessoas mais sensíveis. Isso ia passar, ia sim. Era hora de se renovar, me tornar mais frio e lembrar-se de todos que me deram as costas no momento que mais precisei. No momento que entrei no carro e estava vendo a minha casa sendo deixada pra trás, foi a pior parte, eu realmente amava aquele lugar. Durante a trajetória para o aeroporto, meu pai sintonizou em uma rádio de musica gospel. Nenhuma palavra foi proferida. Quando chegamos ao aeroporto, nem tchau ele deu. Apenas me deixou lá na porta e pronto. Sair de Westview era um pouco triste, apesar dos pesares. Estava com a minha mala e as passagens em mãos. Suíça é um lugar legal, mas eu mal podia esperar para voltar e me vingar de todos aqueles que me humilharam.

Continua...