Imprinting escrita por Ana Flávia Mello


Capítulo 4
Capítulo 2 - Jacob


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Não esqueça de comentar o que achou!



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O resto da semana foi uma droga. Provavelmente tinha pegado a doença da minha irmã. Eu já não conseguia comer nada de tanto vomitar. Até forcei ir para escola. O que não é muito minha cara – geralmente eu tento pegar uma brecha em qualquer desculpa pra poder não ir para aquela selva. Eu sabia – inconscientemente – que tinha alguma coisa por trás disso, só não queria admitir. Afinal, eu a conhecia há apenas uma semana… Definitivamente Nessie não era o motivo pelo qual eu tinha me forçado a ir à escola. Pelos menos eu tentava dizer isso a mim mesmo.

No sábado eu já estava me sentindo bem melhor. Leah não tinha me visto durante toda a semana e insistia – na verdade, eu que insisti mais que ela – que queria me ver. Não seria um encontro ou qualquer coisa parecida, então marquei na praia de La Push mesmo, pela manhã.

Como sempre, eu tinha chegado primeiro. Leah só chegou quinze minutos depois.

- Oi – ela deu um beijo na minha bochecha. Encostei meu rosto no dela, procurando seus lábios, porém, estranhamente, ela desviou. – Tudo bem com você, Jake?

Olhei para baixo.

- É, eu melhorei. Mas não precisava ligar a cada duas horas para minha casa. – sorri.

- Eu tinha que saber se o meu bebezinho estava bem! – ela apertou minha bochecha, como se fazia com uma criança.

Às vezes eu pensava se Leah só me via assim: como um bebê. Mas se ela estava comigo né…

Peguei sua mãe e começamos a passear.

- Como foi sua semana?

- Legal. A faculdade é bem legal. O ruim é que só posso voltar para casa no fim de semana. Você não faz ideia do quanto senti falta de todo mundo daqui! – ela apertou minha costela. – Mas é legal mesmo assim. Por enquanto não tenho parceira de dormitório… E nem entrei em nenhuma fraternidade, mas com o futuro…

Olhei para ela.

- Não pense em entrar em fraternidades. Eu sei o que acontece lá dentro, viu?

- Acho que você foi influenciado demais por American Pie.

- Como se eles não retratassem a verdade – baguncei o cabelo dela.

Já estávamos bem perto das piscinas naturais. Eu adorava aquele lugar. Antigamente gostava até mais, por que tinha sido ali que eu conhecera Leah. Era meu refugiu preferido com ela. Mas naquela época eu estava cego por ela, louco de paixão. E agora… O quê? Eu não estava mais? Não sabia responder. Eu ainda gostava de Leah, disso eu tinha certeza. Mas será que da mesma maneira?

- O que foi, querido? – Leah tocou a minha nuca, tirando-me dos meus pensamentos.

- Nada… – senti a água do mar gelada bater no meu pé. A maré estava enchendo.  Virei e levantei Leah pela cintura. Ela gritou, e agarrou meu pescoço enquanto eu andava em direção ao mar.

- Jake! Jacob! Me coloque no chão! Jake! Jacob! – ela puxou meu pescoço com força.

Fingi que ia lançá-la na água. Leah debateu e puxou meu pescoço.

- Jacob! – eu ri. Voltei com ela para a areia e a coloquei de pé. – Nunca mais faça isso, se não eu… – puxei-a pela cintura e dei um beijo nela. Durou 30 uns trinta segundos. – Você comeu chocolate hoje? – perguntou, sem fôlego.

- Sim… como você sabe?

- Sua língua está com gosto de chocolate.

- Então está com um gosto bom – brinquei. Leah estirou a língua dela para mim e depois sorriu. Seus olhos não estavam tão felizes assim.

- O que foi, Lee? – perguntei.

- Nada. Só que… Jake… – dei a volta e a abracei pelas costas, enterrando meu rosto em seus cabelos. – Obrigada – ela disse. Eu levantei meu rosto.

E vi Renesmee.

Renesmee? Pisquei algumas vezes. Era ela sim. Estava a uns dez metros de distância, parada, olhando para mim com o rosto surpreso.

No mesmo instante soltei Leah. Um movimento repentino. Dei alguns passos para frente, planejando falar algo, mas só conseguir gaguejar:

- Nessie… – lembrei de Leah ao meu lado – Renesmee?

O rosto de Nessie não transparecia nenhuma emoção. Leah se apoiou em meus ombros e olhou por cima.

- Oi! – acenou.

- Olá – Renesmee acenou de volta.

Puxei Leah pelas mãos e me aproximei de Nessie.

- O que está fazendo aqui? – Dã, Jacob, seu idiota, é claro que ela está passeando.

Ela sorriu, olhando em volta.

- A praia é privada? – Ela riu. – Estou só caminhando. Eu venho aqui de vez em quando.

Como eu nunca tinha conseguido esbarrar com ela? Que tipo de cara azarado era eu?

- Jacob, pare de ser mal educado e me apresente! – Leah brincou, cutucando minhas costas. – Oi, sou Leah.

- Oi, sou Nessie… Renesmee. – Elas apertaram as mãos.

- Acho que nunca escutei um nome assim. – Leah riu.

Eu quis repreender Leah. Que falta de educação dizer isso. Mas Nessie não pareceu se importar.

- As pessoas me dizem isso. Mas foi uma homenagem há minhas avós…

- Ah, qual o nome delas? – o celular de Leah tocou. – Alô? O quê? Mas eu não… – Leah girou e saiu andando com o celular no ouvido.

Apesar de ficar feliz por ter um tempo para falar a sós com Nessie e em paz, eu achava esses telefonemas de Leah irritantes. Quase toda vez que estávamos juntos ela recebia ligações, e muitas delas a faziam ter de deixar nosso encontro para ir a outro lugar. Pela cara que ela fazia agora – quase gritando com a outra pessoa na segunda linha –, teria de sair para resolver esse problema. De novo. Eu tinha vontade de perguntar se ela era fada madrinha ou algo parecido.

- Não sabia que você tinha namorada – Nessie disse.

Por alguma razão do além, eu quis na hora dizer “e não tenho”.

- Ah, não achei que era importante falar. – Não tinha nem lembrado desse pequenino detalhe quando estava perto dela. Pelo menos não ao ponto de dizer que tinha alguma namorada.

- E nem é. – Ela disse de forma distorcida, com um sorriso de lado. Algo nessa resposta não encaixava.

Leah retornou ao nosso encontro, a cara enrugada e os lábios franzidos. E eu já sabia que…

- Jacob, preciso ir. Kim ligou agora e… – eu nem precisei terminar meu pensamento, e nem ela.

- Não precisa explicar. Kim é tão estressada quanto você. Pode ir. Mas eu vou deixar você lá, para não ir sozinha. – Eu não queria realmente ir deixá-la na casa de Kim, mas eu tinha de dar exemplo de bom namorado. Eu queria ficar e conversar mais com Nessie.

- Não precisa, é perto, dá pra ir sozinha mesmo. E não vai querer deixar a Renesmee sozinha, não é? –Primeiro ponto no placar para Leah!

Nessie ficou vermelha.

- Mas eu já estava indo – ela falou de um jeito calmo, que não dava para entender se era verdade ou se era apenas uma desculpa para não ser um empecilho.

- Já? – choraminguei. – Tudo bem Leah, pode ir. – Leah passou correndo por nós. – Já vai Nessie?

Ela olhou para baixo.

- Tenho que ir…

- Mas…

- É sério. Tchau, Jake. – ela beliscou de leve meu braço e voltou sua caminha. Esperei que ela olhasse para trás, mas ela não olhou.

Droga de Leah! Além de me fazer de bobo mandava minha amiga embora.

Peraí, Nessie tinha me chamado de Jake?

Eu não sabia se ia atrás dela ou não. Estava claro que ela ia em direção as piscinas naturais, mas talvez eu a incomodasse indo junto.

Fiquei remoendo se ia ou não ia por quase dez minutos, até que desisti e corri na direção por onde Nessie tinha ido. Será que ela sabia como andar por aquela floresta que tinha no caminho para as piscinas? Ela já não estava mais à vista, então provavelmente já estava lá dentro. Avancei a corrida, com medo de ela estar perdida.

Mas ela não estava. E quando cheguei novamente na praia, Nessie estava sentada em uma grande rocha, brincando com a água de uma piscina.

Ela me encarou por um momento e depois sorriu.

- Eu não esperava que me seguisse até aqui.

- Mas eu já estava vindo para cá antes. É um dos meus lugares preferidos. Como encontrou a saída da floresta tão rápido?

Nessie deu de ombros.

- Costume. Já vim aqui muitas vezes. Não é lindo? – ela apontou para um peixinho azul-marinho que nadava em círculos.

- É sim. Aqui também é um de seus lugares favoritos?

- É. Esse lugar e uma campina na floresta, que fica perto da minha casa.

Sentei-me do seu lado.

- Onde você mora? – passei a mão na água. Estava congelando.

- É quase saindo da cidade. É difícil de descrever.

- Ah. – o assuntou fugiu por algum tempo.

 Nessie mantinha um sorriso em seu rosto enquanto observava os bichos na piscina. Dava vontade de sorrir só de ver aquele sorriso, de tão lindo que era.

- Faz quanto tempo que você namora a Leah? – perguntou-me.

- Dois anos.

Ela pareceu surpresa.

- Uau. Mas… ela parece ser mais velha. Ela estuda com a gente?

- Não. Ela entrou pra Universidade de Washington esse ano.

- Universidade? Nossa. Ela tem o quê? Dezenove, vinte anos?

- Ela é três… quatro anos mais velha. Mais ou menos isso. Faz vinte anos em outubro.

Nessie deu um meio sorriso.

- Ah. Mulher mais velha, legal. – ela não parecia achar tão legal assim.

- Nem tanto. Às vezes… – Eu podia me abrir com ela? Decidi que sim. – Às vezes acho que ela me trata demais como criança.

- Não… achei. – Ela parecia meio indecisa.

- Eu estou pensando em terminar. Não dá mais certo. E Leah esconde alguma coisa de mim, eu sinto isso.

- Odeio términos. – disse, olhando fixamente o mesmo peixinho azul, que ainda rodava em círculos.

- Já passou por muitos? – Não queria pressionar, talvez ela pensasse que eu era curioso demais.

- Não. Alguns. O que eu mais sofri… bem, foi a dois verões atrás. – Ela finalmente olhou para mim. Seu rosto era sério. Talvez ela ainda gostasse do cara.

- Como foi… ah, esquece. – era melhor eu calar a boca, a coisa que eu menos queria era deixá-la triste.

Nessie sorriu.

- Ah, não tem problema. Isso não me deixa mais magoada. Eu nem gosto mais do menino. Na verdade, eu nem o vejo mais. Acho que ele mudou pra Flórida. – deu de ombros.

Alguma coisa na frase “nem gosto mais do menino” me fez sorrir.

- Como você o conheceu?

- Ah, minha família é do Alasca, e todo verão eu vou para lá visitar minhas primas. Foi num desses verões que eu o conheci. Fiquei totalmente “louca de paixão” – ela fez aspas com os dedos – e em menos de duas semanas começamos a namorar. Era tudo meloso e perfeito como naqueles filmes água-com-açúcar enjoados, até que eu o peguei me traindo. Eu fiquei péssima durante todo o verão. Só relaxei quando ele caiu num rio congelado, no fim das férias. Acho que ali eu tive minha vingança. – Nessie sorriu sinistramente. Eu gargalhei.

- Menina má. – brinquei.

- Nada, nem fui eu quem o empurrou no rio. O idiota ficou pulando em cima do gelo. – ela gargalhou.

Nessie se projetou pra frente e seu pé escorregou. Consegui puxá-la antes que caísse na água, mas eu não tive a mesma sorte. Senti como se facas estivessem perfurando meu corpo. Congelando era pouco.

- Jacob? Meu Deus! – Nessie tapou a boca com as mãos. – Desculpe…

Balancei o cabelo molhada de um lado pro outro.

- Que isso, nem tá tão fria a água.

- Jacob, seu lábio está roxo.

- Eles não são assim? – disse ingenuamente.

Nessie se agachou e estendeu a mão.

- O.k, venha. – pediu. Eu segurei sua mão. Ela estremeceu um pouco com a frieza da água, mas me puxou para cima.

O vento parecia vidro batendo contra meu corpo. Eu comecei a tremer.

- Calma, Jake, eu tenho uma toalha grande e uma canga aqui na bolsa. – Nessie me puxou para baixo. Ela pôs a toalha e a canga em volta de mim.

- Obrigado.

- Pra quê servem os amigos, não é? Mas vamos, você não pode ficar nesse vento. Vai ficar doente. O coral lhe cortou? – Ela era tão fofa preocupada. Nossa, que meloso.

- Não. Acho que não. É melhor irmos mesmo. – pulei da rocha para a terra e estendi a mão para ela.

- Obrigada. – agradeceu com um sorriso. Covinhas apareceram em suas bochechas.

Nessie insistiu em me acompanhar até em casa, e disse que pediria para a mãe ir buscá-la lá. Quando a mãe dela chegou, eu não estava preparado para dizer tchau.

- Acho que eu tenho que ir – ela disse.

- Obrigado pela toalha.

- De nada Jake.

- Você agora me chama de Jake.

- É o que parece. – ela riu. A mãe dela buzinou. – Té mais. – e fez algo que me surpreendeu: deu um beijinho de leve na minha bochecha.

- Tchau, Nessie.

Fiquei olhando ela partir, com um sorriso no rosto. 


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