Imprinting escrita por Ana Flávia Mello


Capítulo 3
Capítulo 2 - Renesmee


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Capítulo 2 - Nessie


Eu não conseguia ficar quieta quando cheguei em casa. Estava elétrica demais. Precisava ir para um lugar calmo, só meu. Peguei uma bolsa e soquei uns livros dentro. Fui até o canil e peguei o meu lobo de estimação – Colin – e o coloquei na coleira. Colin era enorme e tinha um pelo avermelhado muito bonito, e que me lembrava da cor de Jacob.

Suspirei e segui em direção à floresta. Alguns anos depois que eu nasci, minha família construiu uma ponte no rio que ficava atrás da propriedade. Atravessei a ponte e entrei no mar de arvores, escutando o barulho dos bichos que curtiam as últimas horas de sol do dia. Ao longe dava para se ver uma camada de nuvens roxas se formando, então amanhã o tempo voltaria ao normal. Caminhei por uns quarenta minutos, atrás da clareira-campina que antes era o refugiu de meus pais. Esse lugar ainda em tirava o fôlego toda vez que o visitava.

Finalmente eu vi uma abertura nas árvores e me apressei um pouco, pulando as raízes e os galhos caídos junto com Colin. O lugar estava do mesmo jeito. Um círculo perfeito, o solo recheado de grama verde salpicada por flores brancas, amarelas e roxas.

Prendi Colin num galho e estirei uma manta que eu tinha trago dentro da bolsa. Tirei Um Morro dos Ventos Uivantes de dentro da bolsa e o coloquei em cima da manta delicadamente. Era um exemplar surrado, de quando minha mãe o comprara, e muitas páginas estavam marcadas e amareladas. Não sei onde ela o guardava, mas se eu inspirasse perto poderia sentir o cheiro de seu perfume nele. Apesar da história do livro não me agradar muito, resolvi lê-lo para entender a tão grande satisfação que minha mãe possuía por essa história trágica. Eu ainda estava no começo, mas já estava ficando cansada de lê-lo.

Até que eu tentei me concentrar na história, no que a empregada da família narrava com tanto afinco, mas eu simplesmente não consegui. Minha mente vagava entre Jacob e Colin, que gania toda vez que uma borboleta aparecia em frente a seu focinho.

Mas porque diabos eu estava pensando em Jacob?

Tentei reorganizar meus pensamentos, colocar pingos nos is. Eu o mal conhecia, éramos algo como amigos, se tanto. Ele não pareceu surpreso por escutar o nome Cullen, como todo mundo fazia quando era mencionado, ou talvez não tenha prestado atenção quando a professora disse. Eu realmente não entendia porque as pessoas ficavam surpresas de ter um Cullen entre elas. Éramos uma família normal. Mamãe dizia que era pior na época que ela se mudou para a casa de vovô Charlie, dezessete anos atrás. Os Cullen tinham acabado de se mudar do Alasca e eram o assunto da cidade. Pelo visto, Jacob era a única pessoa normal que não via nada demais num nome.

 Eu nem o conhecia direito. Mas eu sentia falta dele. Talvez porque eu sempre fui muito reservada em questão de amigos durante toda a minha vida, e o que eu mais me aproximei com facilidade foi ele. Ou não. Mas isso não importava. Eu poderia conversar mais com Jacob amanhã na aula.

Essa probabilidade me deixou mais feliz. Voltei minha atenção ao livro de novo, e não sei quantas páginas eu li direito, mas quando dei uma olhada no relógio em meu celular, já era tarde demais. Olhei para o céu. As nuvens roxas já estavam quase totalmente em cima da clareira, e a pouca vista do céu que ainda se dava para ver estava escura.

Guardei minhas coisas e soltei a coleira de Colin do galho. Dessa vez eu queria correr. Não era seguro ficar na floresta a essa hora. Colin corria tanto a minha frente que eu era arrastada por ela. Não demorou muito tempo e avistei a ponte de madeira escura. De longe eu conseguia ver a garagem e uma ponta do telhado da casa. O Rio Sol Duc estava escuro como breu, refletindo a lua no céu.

- Onde você estava? – perguntou Emmett quando entrei na casa.

Ele era definitivamente o tio mais legal de todos. Por mais que Jasper fosse divertido, Emmett era bem mais. Ele me pegou no colo e me girou. Fiquei sufocada dentro de seus braços musculosos e enormes.

- Na clareira… lendo. – e lá se foi meu último suprimento de ar. – Tio? Pode me colocar no chão? Não consigo… respirar…

Emmett riu e me pôs de pé.

- E foi sozinha?

- Levei Colin. – eu disse.

- Não faz muita diferença.

- Você mesmo disse que ela consegue arrancar a perna de uma pessoa com os dentes. – ri.

- Tanto faz – Emmett deu de ombros.

Escutei o som de panelas e o cheiro de comida vindos da cozinha. Minha avó Esme estava cozinhando.

- O que vamos ter para o jantar de hoje? – perguntei a Emmett.

- Não sei. Esme não disse… – Emmett era um dos únicos que não chamava Esme de mãe. Apesar de todos os filhos de vovó Esme serem adotados – Emmett, Rose, Alice, Jasper e papai –, todos chamavam ambos Carlisle e Esme de mãe e pai.

Caminhei lentamente até a cozinha, cansada de ter corrido pela floresta.

- Oi vó. – dei um beijo nela.

O.K, Esme era nova demais para ser chamada de vó por alguém, mas era o que ela era e não parecia se importar com isso.

- Está com cheiro de grama. Foi para a campina de novo? – ela jogou um tempero dentro da panela.

- Talvez. – eu disse.

Esme suspirou e pôs a colher grande em cima do balcão de mármore.

- Não é seguro, Renesmee. – sua voz era dura. 

- Mas…

- Não é bom você ir lá sozinha! Edward!

Eu gelei. Não queria que meu pai me colocasse de castigo. Ele apareceu na cozinha, com o cabelo molhado num tom bronze escuro.  Ele estava apenas vestido com shorts.

- O que foi? – ele perguntou, jogando uma toalha por cima dos ombros. – Oi querida.

- Oi pai.

- Edward, sabe que sua filha foi se enfiar na floresta mais uma vez? Naquela campina? – Esme que era geralmente tão doce estava séria. Engoli em seco.

- Sério? E como está lá filha? Ainda tá bonita?

Eu suspirei aliviada e Esme bufou, voltando-se para o fogão.

Jantares em família eram sempre divertidos. Eram os meus preferidos. Mas hoje tinha sido sem graça. Alice e Jasper foram jantar juntos num restaurante em Port Angeles e vovô estava de plantão no hospital do Condado. Rose e Emmett foram junto com Alice, então só sobrou eu, vovó, meu pai e mamãe. E não éramos o tipo de gente mais falante, então o jantar foi silencioso e rápido.

Eu quase não consegui dormir, ficava me mexendo e girando na cama de cinco e cinco minutos. Só consegui dormir depois da 00:00 e lá no fundo eu sabia que estava assim porque iria ver Jacob amanhã.

Jacob não apareceu. A aula de espanhol passou e nada dele. Durante o almoço, perguntei a Quil onde estava ele. Ele apenas disse que Jacob tinha pegado uma doença e que ia volta amanhã. Tentei me confortar.

Realmente, no dia seguinte, Jacob apareceu. Ele parecia meu abatido, quando perguntei o que tinha acontecido ele apenas disse que passara a noite vomitando. Ele também não ficou até o final da aula, depois de vomitar na hora do almoço ele voltou para casa.

Foi assim a semana inteira. Ele reapareceu na quinta feira novamente, mas ficou enjoado o tempo todo. Eu estava começando a ficar preocupada.

Então era sábado e para descontrair um pouco da semana, avisei a minha mãe que ia dar uma caminhada na praia.

- La Push?

- Claro! – sorri.

- Ah, é lindo lá. – ela disse. – Cuidado, ok? Vou lhe deixar lá. De que horas te busco lá?

- Eu ligo.

Não pus biquíni, apenas uma blusa folgada e shorts. Joguei algumas coisas dentro de uma bolsa e – depois de muitos pedidos da minha mãe – o protetor solar, apesar de lá fora não estar nada claro.

Desci do carro na frente da praia. Em alguns pontos se via uma abertura nas nuvens e o sol refletia na água do mar, em outros só se via a escuridão das nuvens de chuva.

- Tchau, mãe.

- Cuidado – apenas disse isso.

Eu gostava muito de ir à La Push. Era como a Campina. Eu me sentia relaxada andando descalça pela areia, escutando o barulho das ondas do mar. E eu adorava as piscinas que se formavam entre as rochas.

Era mais fácil pensar nas coisas aqui. Eu estava surpresa de nunca ter esbarrado com Jacob nos dias em que eu vinha caminhar. Talvez eu tenha passado por ele e não o visto. Séria bem difícil.  Jacob era um monstro gigante e bonito. Não se esquecia de pessoas assim. Jacob, Jacob, Jacob. Estava ficando cansativo pensar nele.

Escutei vozes ao longe. Duas sombras brincavam na frente da água, o menino levantando a menina e ameaçando de jogá-la no mar. Ela se agarrou ao seu pescoço e ele a levou de volta a areia, então deram um longo beijo. Mesmo estando de longe, eu estava sem graça. Não era muito de afeto em publico. No máximo abraços e leves carinhos. Beijos e coisas desse tipo eram pessoais demais.

Pensei em retornar, mas eu queria visitar as piscinas e teria de passar por eles. Caminhei sem graça, olhando para o chão. De vez em quando eu escutava um pássaro acima de mim. A maré estava começando a subir e de onde eu estava a água fria já batia em meus pés.

Com a distância menor, pude distinguir mais um pouco o casal. A menina era alta a pele morena, os cabelos lisos nos ombros. O menino eu não via bem. Ele era mais alto que ela, mas não muito. Tinha cabelos lisos e escuros como os dela, e percebi que ambos eram da reserva.

Estava a uns dez metros deles agora, e já os podia ver com clareza. O menino estava de costas, mas a menina estava de frente, e seu rosto era belo. Um sorriso branco surgia em seu rosto de tempos em tempos, mas seus olhos estavam meio tristes. Então o menino virou para abraçá-la por trás.

O menino era Jacob.

Parei. Fiquei na exata posição que eu estava quando vi o menino se virando. Minha boca estava aberta e eu encarava a cena com incredulidade.

Jacob tinha namorada? Desde quando? Se tinha, porque não me contou? Amigos diziam essas coisas uns para os outros, não diziam? E porque eu estava me importando com isso? Tanto fazia ele ter ou não ter namorada, não importava. 

- Nessie… Renesmee? – ele perguntou.

A menina colocou a cabeça por cima do ombro dele.

- Oi! – acenou.

Eu acenei de volta.

- Olá.

Jacob puxou a menina junto a ele e caminhou em minha direção.

- O que está fazendo aqui?

Olhei em volta sorrindo.

- A praia é privada? – ri. – Estou só caminhando. Eu venho aqui de vez em quando.

- Jacob, pare de ser mal educado e me apresente! – brincou a namorada. – Oi, sou Leah.

- Oi, sou Nessie… Renesmee. – estendi a mão. O aperto de Leah foi leve e delicado.

- Acho que nunca escutei um nome assim. – ela riu.

- As pessoas me dizem isso. Mas foi uma homenagem há minhas avós…

- Ah, qual o nome delas? – o celular de Leah tocou. – Alô? O quê? Mas eu não… – e ela foi se afastando de nós aos poucos, com o telefone no ouvido.

O silêncio perdurou um pouco, enquanto eu e Jacob observávamos Leah ir de um lado para o outro, gesticulando e quase gritando ao telefone – com quem quer que ela estivesse falando, estava a ponto de virar uma briga.

- Não sabia que você tinha namorada – falei, casualmente.

- Ah, não achei que era importante falar. – admitiu.

- E nem é. – sorri.

Leah voltou. Seu rosto estava enrugado e com raiva.

- Jacob, preciso ir. Kim ligou agora e…

- Não precisa explicar. Kim é tão estressada quanto você. Pode ir. Mas eu vou deixar você lá, para não ir sozinha.

- Não precisa, é perto, dá pra ir sozinha mesmo. E não vai querer deixar a Renesmee sozinha, não é?

Eu fiquei vermelha.

- Mas eu já estava indo.

- Já? – Jacob perguntou repentinamente. – Tudo bem Leah, pode ir. – Leah passou correndo por nós. – Já vai Nessie?

- Tenho que ir…

- Mas…

- É sério. Tchau, Jake. – belisquei seu braço e retomei minha caminhada, dando as costas a ele.

Só que dessa vez eu fiz de tudo para não olhar para trás.


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