Imprinting escrita por Ana Flávia Mello


Capítulo 2
Capítulo 1 - Jacob




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Essa podia ser a tarde mais tediante de todo o meu verão. Caminhando sozinho na areia de La Push e esperando Leah. Aliás, onde estava aquela garota? Era para estar aqui há mais de 40 minutos! Isso estava me tirando do sério já.

Peguei uma pedrinha no chão e joguei no mar, observando uma águia beijar a água e subir de volta com um peixe na boca. Joguei mais outra pedra.  E mais outra. Estava pensando em jogar um daqueles troncos secos para ver se descontava a raiva, quando uma voz aveludada sussurrou no meu ouvido.

- Oi, Jake!

Fechei minha cara para Leah. Oi? Ela estava uma hora atrasada e ainda tinha essa cara feliz no rosto?

- Onde você estava? – perguntei.

Leah abaixou os olhos, fazendo uma cara tristonha. Ao mesmo tempo eu quis não ter falado com tanta rispidez, não suportava vê-la triste. Eu tinha quase certeza de que a amava. Mesmo assim continuei firme em meu posto.

- Estava em casa… Fazendo um trabalho da escola…

- Leah, você já terminou o ensino médio. – bufei.

- Era para a faculdade…

- Você também já foi aceita na faculdade de Washington.

- Mas eu tinha que fazer! Jake! Por favor, vai… – ela tentou me beijar, e eu cedi de vez.

Caminhamos pela praia de mãos dadas. Era uma coisa que ambos gostávamos de fazer, e que fazíamos desde o começo de nosso namoro, há quase dois anos atrás. Leah era uma ótima companheira, mas eu sentia que não estava sendo totalmente sincera comigo. Toda vez que ela parecia esconder algo de mim, eu sentia uma pontada na cabeça, como se dissesse que era algo ruim.

- Sabe que esse é meu ultimo dia livre de verão, não sabe? – perguntei.

- Claro, meu namorado é um bebezinho, três anos mais novo. – ela riu.

Fechei a cara para Leah. Eu era quase três vezes o tamanho dela, e ela ainda insistia em dizer que eu era um bebê.

- Muito engraçado. E porque você não arranja um namorado da sua idade então? – brinquei, mexendo em seus cabelos lisos.

Leah fechou a cara e ficou estranhamente quieta, olhando para cima. Depois de um tempo, voltou ao normal.

- Vou sentir sua falta todo dia – beijei a bochecha dela.

- Jake… – ela puxou meu rosto.

Antes dela falar qualquer coisa, uma chuva pesada caiu sobre nós, nos encharcando em segundos. Eu comecei a rir, mas Leah estava séria, e se não estivesse chovendo, poderia dizer que vi uma lágrima caindo pelo canto de seu rosto.

- Está chorando? – pisquei várias fezes para a água sair de meus cílios, mesmo assim eu não enxergava muita coisa.

- Não! Está chovendo, não é? – Leah sorriu sem muito entusiasmo.

- É… – a peguei pelas pernas e joguei seu corpo em cima do meu ombro. – Vou te levar para casa.

- Jake! Me solte! – ela riu.

- Não! – corri com ela pela praia, pisando em poças e enchendo meus tênis de areia. Quando a deixei em sua casa, Leah parecia um gato ensopado. Não conseguir conter o riso.

- Pare de rir! Sei que estou horrorosa! – ela bateu em meu braço esquerdo.

- Está linda! – beijei o alto de sua cabeça. – Até mais.

- Tchau Jake…

Tive a impressão de que estava numa situação pior ainda do que a de Leah quando cheguei em casa.

- Jacob, você não vai entrar em casa desse jeito. – Rebecca falou.

- Não poderia ser mais legal? Só vai ficar por aqui mais dois dias.

- Alguém tem de colocar limites nessa casa, agora que a mamãe não está mais aqui.

Ela tinha que tocar no assunto! Nem Rachel, nem eu e principalmente papai gostávamos que o assunto “mamãe” fosse mencionado. Ainda doía muito para todos nós. Mas Rebecca continuava fria como sempre. Talvez fosse um jeito de se manter inteira, lembrar dela como se ela ainda estivesse ali… Mas eu não conseguia fazer isso.

- Pode pegar uma toalha para mim?

- Você está muito exigente para um garoto de 16 anos. – ela sorriu.

 - E você está muito chata, mas eu acho que é a idade.

Rebecca estirou a língua para mim e entrou na casa, segundo depois estava de volta com uma toalha puída e vermelha. Fechei a cara. Era a toalha da mamãe.

- Rebecca, por favor. – ela me ignorou e jogou a toalha em meu rosto.

Não tinha nada para fazer, então fui tentar dormir. Primeiros dias de aula me cansavam e amanha não seria diferente. Apesar dos importunos pensamentos sobre o que Leah me escondia, eu adormeci fácil fácil.

                                                            ***

Eu me sentia mais ou menos como um zumbi pela manhã. Apesar de ter dormido cedo ontem – não eram nem sete horas ainda quando caí no sono – meu corpo se rejeitou a sair da cama por pelo menos vinte minutos. Só depois que Rebecca jogou em cima de mim um copo de água com gelo foi que eu tive coragem para me levantar da cama. Eu estava com raiva dela por aquilo.

Não tinha muita gente na escola da reserva quando eu cheguei. Na verdade, eu contara apenas seis pessoas espalhadas pelo campus. Não tive coragem de olhar que horas eram, mas tomei nota mentalmente de perguntar a Rebecca porque ela tinha me acordado tão cedo.  Fiquei sentado em alguns bancos da entrada da escola, esperando que algum dos meninos aparecer.  O primeiro foi que deu as caras foi Quil, como sempre.

- Eai, cara? – toquei meu punho no dele.

- Com sono. Alguma novidade Jake? E Leah? 

- Nada de novo. Tô levando as coisas com Leah… mas não sei se vai durar muito tempo, na verdade. Sinto que ela anda escondendo algo de mim.

- O que uma boa noite de sexo não faz, é o que eu digo. Já tentou isso?

Bufei e dei um soco no ombro dele.

- Menos Quil. – pedi.

- Vocês ainda não…

- Quil! – salvo pelo gongo. Embry agitou os braços em nossa direção. – Oi rapazes. Andou malhando Jake?

- Não. E você? – perguntei. – Como vai?

- Nada de novo. Emily mudou lá para casa, acredita?

- Sério? – Quil quase pulou da cadeira. Apesar de Emily ser quase cinco anos mais velha que ele, Quil mantinha uma paixão por ela fazia uns dois anos. – Nossa! Isso é ótimo!

- Não pense que vai dar em cima dela. Ah, e ela se mudou junto com a irmã mais nova, a Claire.

- Claire… Aquela menina de oito anos? – perguntei.

- Agora Claire tem doze. Já está bem grandinha. Mas elas estão só por um tempo. Emily pensa em se mudar de volta para o Oregon.

Quil praguejou.

A escola foi enchendo gradualmente. Jared, Seth – irmão mais novo de Leah – e alguns outros amigos se juntaram ao nosso grupo.

Percebi que hoje era um daqueles raros dias em que fazia sol em Forks. Talvez significasse que o ano escolar que estava por vim não seria tão ruim.

Eu a vi assim que cruzou meu campo de visão.

Uma menina de uns 1, 58 de altura, com longos cabelos cor de bronze com cachos que caíam até a cintura. Sua pele parecia refletir de tão clara ao sol e seus olhos castanhos cor de chocolate eram gentis e doces. Ela trazia um papel em suas mãos, mas parecia estar com problemas em alguma coisa. Sua testa se franziu e ela voltou o olhar para frente, cruzando-o com o meu. Desviei meus olhos, tentando disfarçar. Senti meu rosto ficando quente sem motivo algum.

Então a garota se aproximou do nosso grupo.

- Oi…  – sua voz era leve e suave, pareciam sinos.

Todos a encaravam, mas percebi que ela só olhava para mim.

- Desculpe, eu estou um pouco… perdida.  Onde fica a secretaria?  - ela gesticulou o papel para mim.

- Naquela direção. – apontei.

- Ah, muito obrigado. Seu nome é?

Eu ainda encarava seu belo rosto, meio perdido.

- O quê?

- Seu nome. – ela sorriu.

- Ah, sim, Jacob. Jake – estendi a mão.

- O meu é Renesmee. – ela apertou meus dedos. Senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo. Que nome estranho ela tinha. – Nessie. 

Eu pensei em dizer mais alguma coisa, mas resolvi deixar para lá. 

-Até mais Jacob.

- Até mais Nessie. – continuei encarando-a enquanto ela andava na direção que eu apontei.

Não sei quanto tempo eu fiquei olhando o nada.

- Terra chamando Jacob! – alguém sacudiu meu braço.

- Sim? – disse, voltando a realidade.

- Se abrir mais a boca vai babar, Jake – Embry riu.

- Ei. – o empurrei.

- Está perdoado Jake. – Quil riu. – Ela era realmente linda!

- Tente a sorte então – disse a ele. Mas algo nessa frase não pareceu correto.

- É o que eu vou fazer.

Apenas dei de ombros. Eu não me importava.

O efeito Renesmee  - pelo amor de Deus, quem tinha um nome assim? – tinha passado rápido. Provavelmente eu tinha sido pego de guarda baixa, tinham poucas meninas realmente bonitas na escola e essas não davam muita bola para mim. Porque eu não deixava. Mas porque diabos eu estava refletindo isso? Eu tinha uma namorada. Leah. Eu a amava. Não, eu não tinha certeza disso. Talvez eu a amasse. Eu só sabia que gostava muito dela.

E ela me amava?

A coisa toda de Leah voltou para minha cabeça no mesmo instante e junto a aquilo a pergunta se ela me amava.

- Seth, Leah estava bem ontem à noite? – perguntei ao irmão mais novo dela.

- Não vi Leah em casa ontem à noite. Ela dormiu na casa de uma amiga, mamãe que disse.

- O.K. – Leah não havia me avisado nada, e isso me deixou mais desconfiado ainda. Pensei em ligar para ela, mas devia estar na aula da faculdade.  Deixaria para falar com ela depois da aula.

De tão estressado mentalmente que eu estava, não escutei o sinal bater. Saí aos tropeços para a primeira aula, de espanhol, e quando cheguei aquela bruxa gorda da Sra. Sanchez já estava começando sua aula.

- Senhor Black, não queremos atrasos no primeiro dia de aula, queremos? – ela disse com aquela voz enjoada.

Deu vontade de mandar ela à merda e sair da porta da sala, porém apenas assenti. Tentei fazer a cara mais controlada o possível, já que toda a sala de aula me encarava agora.

- Desculpe, Sra. Sanchez – tentei dizer da forma mais educada que consegui. Não prestei atenção no que ela falou, só me toquei que apontava para uma cadeira no meio da sala quando ela olhou para mim impaciente.

Era coincidência?  Renesmee se encontrava sentada ali, ao meu lado. Seu rosto estava sério, e ela olhava para mim com um pouco de humor nos olhos, talvez. Que ótimo. Agora eu era uma piada para ela. Depois de brigar comigo mesmo por minha idiotice até a cadeira, tentei descobrir porque ser um idiota para ela ou não importava.

- Oi de novo – ela disse em meio a um sorriso largo.

Cara, ela era realmente linda. Senti minhas bochechas esquentarem.

- Oi, Nessie, não é? – Que perfeito Jacob, agora ela vai achar que você não se lembra dela.

- É. Jacob, não é? – ergueu uma sobrancelha.

Como assim? Ela não se lembrava de mim?

- Isso mesmo. Mas se quiser pode me chamar de Jake. – Forçado demais? Esperei ver a reação dela.

- Tudo bem – sorriu.

Tentei prestar atenção no que aquela bruxa em forma de professora  dizia na frente da sala, mas acabei no tédio. Estava cada vez mais caindo de lado, quase dormindo. Renesmee não parecia se importar com o fato de eu estar cada vez mais perto dela. Ela parecia com calor, algumas gotas de suor se projetavam em sua testa. Ela deu um suspiro longo e numa rapidez impressionante, prendeu o cabelo com uma caneta. Seus cachos penderam acima do pescoço.

- Seu cabelo é bonito – comentei casualmente.

Renesmee virou o rosto para mim, suas bochechas estavam vermelhas. Eu tive vontade de rir.

- Obrigada…

Sorri abertamente, mas ajeitei rápido a minha expressão. Girei para frente de novo, ajeitando meu corpo, deixando-o ereto na cadeira. Não trocamos muitas palavras a mais durante o restante da aula. Leah invadiu meus pensamentos mais uma vez, e me distraí novamente. Quando o sinal para o segundo tempo tocou, eu estava cansado de pensar em Leah. Ela estava esgotando o resto de toda a minha paciência, que já não era muita.

- Sabe onde é sua próxima aula? – perguntei a Nessie quando terminou a aula.

Ela sorriu, duas covinhas se formando em suas bochechas.

- Na verdade, não.

É claro que eu me ofereceria para deixá-la lá. Puxei de suas mãos o papelzinho de seus horários e os estudei por um momento.

- A sala da minha próxima aula fica no caminho dessa. Quer que eu lhe mostre onde é? – sorri. Estava sorrindo muito hoje.

Renesmee pareceu um pouco fora do ar por um momento, ela apenas me encarava. Que estranho.

- Seria ótimo. – disse. Algo naquele ótimo me fez sorrir mais uma vez.

Durante o pequeno caminho até a sala, falei sobre tudo o que me vinha a mente. Percebi que estava deixando Renesmee meio encabulada.

- O que foi?

- Está me achando antipática? – perguntou.

- Não, nem pensar – disse apressado. - Você é bem legal, sabe? Para uma novata. – isso pareceu um tipo de insulto, mas ela não pareceu se intimidar.

- Você é legal também. – Paramos em frente a sala. – Obrigado, Jacob.

Ela era tão formal. Não entendia porque continuava a me chamar de Jacob.

- Porque não me chama de Jake? – perguntei.

Renesmee estava olhando para a classe.

- Não sei. Até mais Jacob.

- Até mais, Renesmee.

Eu queria passar mais algumas aulas com Renesmee. Ela era uma ótima companhia. Mas não pude fazer isso. Nossa única aula juntos, ao que parecia, era a de espanhol. E não era a mais divertida para mim.

Durante o almoço, fiz com que Renesmee se senta-se em minha mesa. Meus amigos foram bastante receptivos com ela, principalmente Quil. Apesar de eu saber seu plano de conquistá-la, comecei a achar um saco ele roubar toda a atenção da garota quando eu tinha algo para falar. Renesmee pareceu encantada com ele, e por uma fração mínima de segundo, pensei ter perdido minha nova amiga para Quil.

A aula seguinte do almoço era a de Inglês. Que, para minha surpresa, Embry, Quil e Seth estávamos no mesmo horário.  Sentei ao lado de Quil, com Seth e Embry sentados atrás de nós.

- Está bem amigo da Renesmee, não é? – Quil perguntou.

Ah, não.

- Por favor Quil, é só o primeiro dia. – bufei. – Não vai começar com isso.

- Você sempre ganhava todas as garotas – comentou ele.

- Eu tenho namorada. Esqueceu? E você realmente pensa que eu trairia Leah? Por uma garota que eu conheci hoje? – argumentei.

- Uma garota linda, simpática, legal… – lancei um olhar para Quil. Iria brigar com ele se continuasse com isso. – Tudo bem, eu sei que você jamais trairia Leah. Acho que só me lembrei dos anos passados.

Não queria comentar isso. Era uma história nebulosa. Antes de namorar com Leah, eu ficava com qualquer garota que quisesse ficar comigo. Eu não era insensível, só não estava gostando de ninguém. Uma dessas vezes eu fiquei com uma menina chamada Lucy, e não fazia ideia de que Quil estava apaixonado por ela. Quando ele soube, brigamos e demoramos mais de meses para voltar a amizade. Desde então, procuro me manter o mais longe das meninas que Quil faz amizade. Ele não é um cara muito aberto, e provavelmente não me contaria se gostasse de uma delas.

Mas não gostávamos de comentar sobre isso, então eu fiquei em silêncio depois.

O resto da aula foi cansativo. Eu queria saber onde estava Renesmee. Ela era uma pessoa diferente, uma nova companhia, e enquanto eu não enjoava dela – se isso fosse acontecer – eu queria realmente me tonar amigo dela.

Graças aos céus, encontrei-a na frente da escola na saída das aulas, esperando por alguém.

- Então, acho que por hoje é só, Nessie. – comentei. Ela deu um leve pulinho ao me escutar atrás dela.

- É. Está quente hoje, não é? – ela mordeu os lábios com tanta força que pensei que fosse sangrar.

- Um pouco… Mas quem não gosta de um pouco de calor, não é? – sorri. Ela fez uma cara meio duvidosa.

- Meu pai chegou… – ela apontou para um Volvo prata e lustroso a alguns metros de distância. Uau.

- Tudo bem. Tchau, Nessie. – eu queria que ela ficasse mais.

- Tchau, Jacob. – antes de entrar no carro, ela deu mais uma rápida olhada para trás. Eu continuava sorrindo e acenando como um idiota, e só parei quando o carro sumiu de vista.

Entrei no meu Rabbit e o liguei. O dia realmente tinha sido bom hoje. Nessie era  ótima. E eu mal esperava para encontrá-la amanhã de novo.


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