Outsider - A Estrangeira escrita por Bruna Guissi


Capítulo 15
Inverno


Notas iniciais do capítulo

Aoo!!Finalmente mais um capítulo, né minha gente? Mas espero que você estejam prontos e prontas, porque tem história nisso.Dedico esse cap a umas mocinhas que eu gosto muito, sabe, e para a nova leitora RÇ um Beijo Ida ♥Um beijo pra vocês e para sua paciência, e uma ótima leitura!



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O ar congelava nos pulmões e dificultava a respiração. Mesmo assim, Annita saboreava aquela visão linda dos campos de Hogwarts que só a janela de uma torre tão alta quanto a de seu quarto poderia proporcionar; floquinhos de neve caindo, formando chumaços e mantos de neve que cobriam a grama outrora verde.

Ela sentia-se mais calma observando a imagem. A janela sempre a ajudava a pensar melhor nas coisas; por horas e horas nas últimas semanas passou sentada naquela mesma janela, acariciando as penas macias de Lamona.

Um dia Mona chegara no quarto, e dera de cara com a menina sentada na janela com a mascote, que acabou não reconhecendo. Lamona crescera tanto, que agora Annita não conseguia mais segurá-la apenas na palma da mão. A coruja tornara-se uma das melhores companhias das quais podia desfrutar sem entrar em um dilema.

Dilema. Palavra que sempre aparecia na cabeça da garota nos seus momentos de reflexão. Sentia-se boba por ter evitado seu (provavelmente) melhor amigo. Annita não estava acostumada com o conceito, não era realmente o tipo de pessoa que socializava com frequência em seu país. Mas ainda assim não conseguia deixar de sentir-se traída, ainda mais nessa época do ano.

Agora era praticamente natal, e ela não sabia o que iria fazer. Provavelmente ficaria no castelo, mesmo depois da insistência de Rose e Alvo para que ela passasse o feriado prolongado n’A Toca. Usou como desculpa o treino de Quadribol que o Capitão “propôs” para aqueles que iriam permanecer no castelo; mesmo que alguns fossem para casa, o número de pessoas que ficou era suficiente para treinar o que quer que fosse naquele tempo frio. Somente Alyann e Laureen voltariam para casa.

Além do mais, Annita não tinha certeza em que pé estava sua relação com o garoto Potter. Rose achava que ambos estavam enrolando demais para começar algo de verdade, uma vez que eles já haviam deixado claro que se interessavam um pelo o outro.

Mas Rose, com toda sua “cabeça-durísse”, não compreendia o fato de que Annita era tomada por um medo gigantesco de entrar em um fiasco de relação e perder a amizade de alguém que estimava tanto. E Alvo partilhava desse receio.

Os dois levaram dias para tocar no assunto novamente, e chegaram a tratar a situação como “inesperada” (Rose dera risada disso, a garota achava mais que óbvio e esperado os dois ficarem juntos). Só que Alvo, não tivera a iniciativa de tentar algo novamente, e Annita realmente não se sentia a vontade para tentar também.

Enfim, nada acontecera. Até hoje. Annita olhava o céu escuro da noite, lembrando-se da promessa do garoto.

**Início do Flashback**





A plataforma estava lotada; praticamente todos os alunos estavam partindo para suas casas.







Alvo e Rose já haviam pegado uma cabine bem quente, com os outros parentes, e desceram para fora para se despedir de Annita.





Empacotada dos pés à cabeça, a garota abraçou os dois, e desejou boas festas, pedindo que eles lhe mandassem cartas recheadas de notícias. Ambos concordaram vigorosamente, até que o primeiro apito tocou.

Rose correu rapidamente para dentro, mas Alvo se conteve. Chegou a virar as costas para Annita, mas no último instante virou-se para ela e a beijou. A garota ficara ainda mais vermelha, e praguejou mentalmente contra o frio, por fazê-la ainda mais enrubescida.

Quando Alvo se afastou, colocou a mão enluvada de leve no braço da menina.

–Quando eu voltar, vamos resolver isso.

O garoto sorriu para ela com aquelas esmeraldas gigantes e partiu para o trem que apitava, fazendo a segunda chamada dos alunos.

**Fim do Flashback**

O sono foi tomando conta dos pensamentos da menina, e aos poucos, adormeceu com Lamona no colo, obediente e protetora.





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O vento frio ainda não era pior do que a nevasca do dia anterior. A janela agora deixava passar um corajoso feixe de luz que batia diretamente no rosto adormecido de Annita.





A menina levantou lentamente da cama, esfregando os olhos. Lamona havia dormido em seu quarto, e se encontrava empacotada em uma cama improvisada com um cobertor, em cima de seu baú.

Annita seguiu em direção ao banheiro, sem mais ninguém no quarto para disputar o uso. Todas as colegas haviam voltado para suas casas, deixando o quarto todo para a menina.

Escovou os dentes e lavou o rosto. Voltou para o quarto para se trocar, quando se deu conta do dia que era. Respirou lentamente, pensando no que faria nesses dias de folga.

Tinha treino hoje depois do café, e mais tarde iria colocar os estudos em dia. Tinha um resumo de feitiços que tinha de terminar, além do relatório semanal da monitoria. Não era muita coisa, afinal.

A garota desceu correndo, pois acordara tarde para o café. Comeu algumas torradas e engoliu a xícara de chocolate quente, deixando a mesa quase vazia.

Correndo pelo corredor em direção à saída para os campos da escola, Annita trombou com alguém que não reconheceu perto da escada. Desdêmona que passava por ali no momento, e acabou parando para ajudar ambos os alunos no chão.

O garoto nem se deu ao trabalho de responder se ele estava bem ou não, saiu correndo pelo corredor carregando pilhas de livros em direção à biblioteca; ele tinha aquele olhar bitolado dos septanistas, todos estudando para os N.I.E.M.’s.

Annita deu de ombros, preparada para voltar ao passo rápido quando notou as malas em volta da mulher.

–Vai viajar também, professora?

Desdêmona fez que sim com a cabeça, explicando:

–Vou ter de resolver alguns assuntos fora do país, mas voltarei no início das aulas. – disse, pegando as malas novamente.

–Entendo... – disse a garota – Bem, feliz natal, professora. – acrescentou Annita, virando-se para a saída.

De repente A mulher lembrou-se de alguma coisa, e começou a remexer em sua bolsa. Quando achou o que queria, chamou a menina e a entregou um pacote comprido.

–Feliz natal, Annita. Lembrei-me que você fez ótimos desenhos para o relatório da última aula, e achei que pudesse gostar disso. – explicou a mulher.

Surpresa, a garota só conseguiu agradecer ao presente, enquanto Desdêmona apertava o passo saindo do castelo.

Quando ela saiu de sua visão, Annita abriu o pacote, e achou um bloco de desenho inesgotável e um estojo com grafites e carvão para desenho.

Um sorriso se espalhou por seu rosto, sendo interrompido pela lembrança de estar atrasada para o treino de Quadribol.

Ela colocou o pacote sob o braço, e correu em direção ao campo.

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A manhã estava fria, como se espera de uma manhã de natal.

Ele levantou sem muito entusiasmo, e desceu de pijamas para a sala de jantar, onde seus pais costumam tomar café. Mas a mesa não estava posta como esperava; estava vazia. Intrigado, caminhou lentamente até a cozinha com os braços cruzados por causa do frio, e ouviu o tintilar de porcelana.

Quando entrou, viu sua mãe tomando café na pequena mesa da cozinha, molhando um biscoito no chá quente, lendo o jornal. Quando notou a presença do filho, um pequeno sorriso se formou em seus lábios.

–Feliz Natal, Scorpius.

O garoto recebeu a frase como um convite para sentar-se a mesa, e assim o fez. Meredith, a cozinheira da casa, apareceu com uma xícara fumegante de chocolate quente com pequenos marshmallows em cima e deu para ele, com um sorriso simpático.

–Feliz Natal, Senhor Scorpius. – o garoto sorriu em resposta, entendendo o que os marshmallows significavam.

–Ele não está casa. – disse em voz baixa para sua mãe, agora que a bondosa senhora saíra da cozinha.

–Não, não está. – disse a mulher com os olhos no jornal do dia.

Ele já sabia que o pai provavelmente sairia de casa a trabalho, mas os marshmallows (que eram uma coisa tipicamente trouxa) só confirmavam a suspeita. Seu pai sempre reclamava quando o filho pedia o doce junto com o chocolate.

Ele dizia que não era coisa de um bruxo de classe pedir. Mas Scorpius sabia que o pai se incomodava mesmo é com o fato do filho ser apegado a algumas manias trouxas.

Então ele parou de pedi-los na frente do pai.

O garoto seguiu seu café, cortando um pedaço de bolo de chocolate (outra comida tipicamente trouxa, a qual sua mãe gostava muito) e colocou em seu pequeno prato. Tirou alguns biscoitos de leite da vasilha e começou a comer.

O silêncio, diferentemente de quando seu pai estava em casa, era tranquilo. Mesmo depois da bronca e das reclamações que tivera de ouvir de sua mãe, ela continuava sendo o parente mais próximo que tinha, aquele por quem o garoto mais tinha apreço.

Mesmo com a postura fina e quieta, Astoria era uma mulher muito bondosa e calma; doce até. Os criados da casa eram muito bem tratados por ela, e tinham um apreço especial por Scorpius, que sempre fora uma criança muito doce em sua infância.

Quando sua mãe terminou o café, levantou-se da mesa para sair do recinto, mas não antes de passar a mão pelos cabelos do filho e chama-lo para ver seu presente.

O garoto sorriu de imediato. Normalmente, seus pais davam-no algo sério, meio sem graça. Mas agora era sua mãe que estava lhe dando um presente, seria algo que seu pai não escolheria para ele.

O garoto levantou-se da mesa e seguiu a mãe até a sala. O lugar tinha uns móveis escuros, mas finérrimos; pouca coisa mudara na casa dos Malfoy depois dos anos, mas ainda assim fazia uma diferença. A sala não era mais obscura e friorenta; era bem iluminada, e agora tinha uma grande estante que continha uma tv, um pequeno rádio antigo no canto, e diversos livros de literatura bruxa e trouxa misturados.

A mudança se deu parte pelo apreço que Astoria tinha por literatura, e parte pelas aparências. O que diria um trouxa se entrasse naquela mansão ricamente decorada e não encontrasse uma televisão sequer? Em pleno século XXI, uma casa sem televisão era um absurdo.

Mas quando o pai não estava, o garoto percorria os canais para se maravilhar com a tecnologia que esses trouxas eram capazes de inventar. A casa tinha até telefone e energia elétrica.

Então, ele notara o embrulho preto embaixo da pequena árvore de natal simplesmente decorada. O garoto seguiu lentamente até o presente, vendo seu nome escrito na caligrafia angulosa da mãe. Era um videogame.

O garoto sorriu involuntariamente. Sua mãe deve ter tido uma breve discussão com seu pai para que pudesse trazer isto até sua casa.

–Obrigado. – murmurou ele.

Astoria acenou levemente com a cabeça, incentivando o garoto a continuar a inspeção.

Enquanto ele abria e estudava o aparelho, a mãe o observava atentamente.

–Você sabe que seu pai tem dificuldade em lidar com isso, não sabe? – o garoto suspirou, entendendo onde ela queria chegar – Scorpius, eu não irei contar ao seu pai o que aconteceu, mas você entende que isso exige um acordo, não é?

O garoto virou para a mãe, sentando-se no chão.

–Eu não fiz isso para puni-lo. – disse ele com o cenho franzido – Tenho outros motivos...

–Não importa, Scorpius. O que você fez saiu do controle. Foi uma tremenda sorte não relacionarem você ao ocorrido. Você sabe como esses escândalos são desgastantes para ele. – interrompeu a mãe, com a voz calma.

–Eu tive a prudência de não mandar a coruja da família e nem assinar as cartas. Você sabe que e-

–Não, não sei. – disse uma terceira voz na soleira da porta, se aproximando do local – Mas adoraria saber os detalhes dessa empreitada a qual desconheço.

A voz grave de Draco Malfoy instaurou o silêncio na sala naquela manhã de natal.

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O vento dera uma trégua durante a manhã; agora Annita podia enxergar o campo com mais clareza. Ninguém estava lá.

–Não acredito... – murmurou em negação. A garota continuou se dirigindo até o campo, para ter certeza de que não estava alucinando – NÃO TEM NINGUÉM AQUI, PÔ! – gritou ao confirmar suas expectativas.

O som de sua voz ecoou por alguns segundos, fazendo com que a exasperação se esvaísse aos poucos. Talvez ela tivesse chegado muito cedo.

Ela nem fez questão de se dirigir ao vestiário, iria esperar alguma alma viva aparecer para trazer a bela notícia de que todos iriam treinar. Mas aí então percebeu que pelo menos uma das pessoas já furara o treino. “Alicia.”, pensou furiosa. A companheira também acabara indo para casa.

Bom, ela sabia que o capitão iria sim treinar, mas é estranho ele não ter sido o primeiro a chegar. Então sentou-se em uma das arquibancadas e começou a rabiscar no novo bloco de desenho.

Agora que tinha tempo para admirar o artefato, o caderno era muito bonito; as folhas creme de um canson duro eram encapadas por um pedaço de couro de dragão resistente, tendo um fecho na base.

Enquanto rabiscava, notou uma pessoa se aproximando do campo. Provavelmente era o Capitão, trazendo o baú das bolas do jogo. Annita sabia que era ele, pois duvidava que mais alguém conseguisse carregar aquela caixa de madeira pesada sozinho.

Ele pareceu não notar a presença dela. Ele se dirigiu ao vestiário e voltou poucos minutos depois, sério como sempre.

A carranca tradicional estava diferente hoje; ele não estava com aquele olhar superior típico. Na verdade, seus olhos selvagens pareciam ainda mais ameaçadores e brilhantes.

Quando a garota se levantou da arquibancada, ele virou para ela, como se tivesse ouvido o barulho.

–Desça logo. – disse ele voltando-se para a caixa.

Annita não discordou, e fez o que ele pediu, desceu dos bancos de madeira e foi até ele, no meio do campo. Ao se aproximar, conseguiu notar como sua expressão parecia carregar algo a mais, além da selvageria constante. Dor.

Ele tinha cortes leves no rosto e no pescoço, e percebeu que Annita estava o encarando.

–O que foi? Por que ainda não está pronta? – perguntou, quebrando o transe da menina.

–Desculpe. Eu já volto.

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No fim do treino, já na hora do almoço, somente os dois haviam comparecido ao treino, o que subentendia que os demais participantes do time teriam voltado para casa para evitar o frio no campo.

–Banho, batedora. – disse mandão.

–Sim, senhor Capitão! – respondeu a garota, batendo em continência, conseguindo arrancar um sorriso pequeno do rapaz.

–Você deveria sorrir mais. – disse a menina, sem conseguir conter-se. Deu meia volta e saiu dali o mais rápido possível, esperando que o comentário não irritasse o rapaz.

E não irritou. Quando ela saiu do vestiário, novamente envolta por todas suas blusas, deu de cara com o rapaz na porta, esperando-a.

–Desculpe a demora. – antecipou a menina.

O garoto só balançou a cabeça, menosprezando o assunto.

Ambos foram caminhando lado-a-lado pelos jardins, até que Annita não conseguiu conter a pergunta:

–O que aconteceu com você? – disse indicando os ferimentos no rosto.

Num primeiro instante ele pareceu recusar responder, mas a garota não estava sendo só curiosa; parecia verdadeiramente preocupada.

Mas não era do interesse dela.

–Eu me machuco com frequência. – respondeu ele, sem dar mais explicações.

A garota não tentou puxar assunto novamente, e acabaram seguindo em silêncio para o Salão Principal vazio.

A garota olhou em volta, e percebeu que ele já ia se distanciando para a ponta vazia da mesa, quando teve a brilhante ideia de chama-lo para almoçar com ela.

–Vamos, não é nada demais. Ambos estamos sem companhia. – disse dando de ombros. A ideia pareceu esquisita, mas ele aceitou, também dando de ombros.

Eles se sentaram de frente um para o outro e comeram em silêncio. Na porta do salão foi possível observar o pequeno fluxo de alunos que entrava e saia, incluindo Ian.

–Oh! Ele ficou? Mas por que não foi ao treino?

–Ele avisou que não poderia aparecer. – respondeu o garoto em sua frente, tomando a deixa de Annita para falar – Algo sobre um relatório de monitor.

–Ah, sim... – compreendeu ela.

Ian, que notara ambos os colegas sentados no meio da mesa, e se dirigiu até eles.

–Olha só, quem diria que a garota aqui conseguiria a ilustríssima presença do Capitão para almoçar. – comentou ele sarcástico.

–Ian. – cumprimentara o rapaz, parecendo fazê-lo a contragosto.

–Como assim? – quis saber Annita, sentindo que estava sendo mais lenta do que o normal.

Ian somente dera de ombros, fazendo com que a garota ficasse ainda mais confusa, e se juntou a eles para almoçar.

Alguns minutos depois, o Capitão se levantou da mesa, e em silêncio saiu do salão.

Ian pareceu achar o fato engraçado, o que fez Annita ainda mais curiosa.

–O que quis dizer com aquilo? – perguntou ela, dando um tapinha no braço do garoto a sua frente para que ele prestasse atenção – O que quis dizer?

–O que eu disse. – respondeu simplesmente, mas completou ao notar o olhar cético que a garota lhe lançava – Ele não costuma aceitar companhia, Boderdad. Bem, até agora.

A menina continuou olhando para ele, que parecia achar graça demais em tudo isso.

–Para de rir. – pediu ela, beliscando o braço dele.

–AI! – exclamou ele, dando um tapinha na mão dela – O quê!?

Annita simplesmente encarou o garoto com uma expressão que só podia ser cômica, porque ele desatou a rir. Depois de poucos minutos de escândalo, o garoto se recompôs, certo de que teria irritado a garota.

–Não entendo você. – disse a menina, pronta para se levantar.

–Só espero que seu amado Potter não fique chateado.

A garota olhou para ele, por um segundo sem entender a referência.

–Vai se ferrar. – murmurou ela ao sair da mesa.

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A monitoria da noite passada fora vazia e silenciosa. Annita vagara pelos corredores, pensando sobre os últimos meses, inquieta e sozinha. Mas, diferentemente dos últimos dias, conseguia pensar com mais clareza agora.

Ela sentia-se até boba quando seu coração se acelerava.

Ainda mais quando o motivo era o menino Potter. Muitas vezes ela balançava a cabeça e deixava a sensação se esvair aos poucos de seu corpo.

A garota caminhava pelas masmorras quando ouviu o barulho vindo de fora. Um grito doloroso e desesperado. E assustadoramente familiar.

Correndo até a janela mais próxima, tentando achar a causa do som terrivelmente agoniante, Annita fora surpresa por uma voz muito grossa próxima à sua orelha dizendo um “bu”. Ela acabou estapeando por reflexo a orelha da pessoa, e se abaixou perto da janela com os braços sobre a cabeça.

O garoto reclamou do tapa, mas começou a gargalhar com a reação da menina.

Annita, com os olhos assustados, finalmente olhou para cima, reconhecendo Ian. Inesperadamente, para ele, seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela se levantava, furiosa e assustada, para sair dali.

–Espera! – gritou ele, tentando contê-la.

–Sai daqui! – gritou em resposta, correndo ainda mais rápido.

Annita!

–SAI DAQUI!

O garoto só fez parar de tentar alcança-la. Annita voltou para o dormitório mais cedo naquela noite.

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“IDIOTA. IDIOTA, IDIOTA, IDIOTA, UM IMBECIL.”

Foi a única coisa que a menina conseguiu escrever sobre a noite passada. Agora de manhã, sentia mais raiva ainda de Ian.

Com passos pesados, seguiu até o banheiro para seu ritual matinal de “acordar bem e diluir o ódio”. Ela ficou dentro do lugar por mais de meia hora, quando ouviu uma batida na janela.

Curiosa, seguiu para o quarto e notou uma coruja que segura dois envelopes. Um de Rose e um de Alvo.

Ela começou lendo a de Rose, que contava como uma nova safra de gnomos tinha se alojado no jardim de sua avó, mas não menos interessante que e um “PS” que dizia: “Alvo não quis mandar a carta junto. Acho bom você me explicar direitinho o que está ‘rolandinho’ por aí.”

O que levava Annita à próxima carta. Ela não tinha certeza se queria mesmo ler; tinha medo das possibilidades que aquele pedaço de papel poderia trazer. Mas para sua surpresa, que ela nãos abia se era boa ou ruim, a carta só dizia o seguinte:

“Annita,

Gostaria de saber onde você vai passar as férias de verão; estou te convidando para passar aqui, com a gente. Não precisa responder agora, podemos falar disso depois.

PS: Meus pais adoraram a ideia, e gostariam de te conhecer.

Alvo.”

Depois de alguns silenciosos minutos, um pequeno sorriso se formou no rosto dela.

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O dia seguinte passara num borrão. Annita mal tinha terminado de estudar poções quando o relógio bateu sete horas da noite. Apressada e atrasada com os estudos, a menina somente engoliu a janta e voltou para biblioteca, para dali poucas horas ter de monitorar o castelo novamente.

Andando pelos corredores, ela pensava nas cartas que recebera; não só as de Alvo e Rose, mas também de Mona, que dissera que o jantar de fim de ano seria uma “festa absurdamente ridícula em uma mansão absurdamente grande”, ao qual ela estava convidada a ir.

Apesar da incerteza sobre o convite, Annita deixou-o passar ao descobrir que era na mansão dos Malfoy. Mona não insistiu mais depois disso.

Embora nenhum dos três colegas tenha perguntado, todos sabiam que Annita não estava falando com Malfoy, e ninguém quisera mesmo saber o motivo. Ela fingia que não o via nos corredores, e ele fazia o mesmo, ambos nunca se olhando nesses últimos meses.

Quando se deu conta de que estava próxima a torre de Astronomia, Annita apressou-se em sair dali, e evitar as lembranças amargas e tolas que insistiam em entrar em sua cabeça. Principalmente as que vinham em pesadelos desconexos.

Quando mal saiu dali, ouviu seu nome sendo chamado no fim do corredor, logo a sua frente.

Boderdad! – ouviu ecoar seu nome algumas vezes, até visualizar Ian no fim do corredor.

Um misto de raiva e humilhação preencheu a garota, que chegara a conclusão de que teria de fazer algum tipo de curso de controle de raiva somente para lidar com ele.

Ele chamou novamente, agora vendo-a. Ela não respondeu; começou a apertar o passo, a ponto de estar correndo em direção ao menino.

–Boderdard? – perguntou ele, um pouco antes de entender as intenções da menina – Pode parar por aí!

Eu vou te matar! – vociferou ela. Quando chegou perto dele, não diminui a velocidade, apenas a usou com impulso para empurrar o menino.

Ian somente rira quando seu corpo mal balançara com o impacto. Furiosa, ela começou a estapear o braço dele e todas as regiões alcançáveis com suas mãos, mantendo o ritmo por alguns minutos, até se cansar.

–Chega, né? – perguntou ele, pronto para começar a falar.

Mas não antes de levar uma pisada forte no pé.

–AI GAROTA! – gritou ele, fazendo-a sorrir por finalmente ter arrancado algum som de dor dele.

É para você deixar de ser palhaço! – gritou em português – Imbecil! – acrescentou.

Mesmo entendendo somente a última palavra, o garoto suspirou, tentando relevar a dor que sentia no pé.

–Olha aqui, eu não queria te assustar daquele jeito! – vociferou ele - Me desculpa, não foi tão intencional assim! – acrescentou com a voz mais baixa.

Annita fechou a cara, mas não saiu dali.

–De verdade. – disse o menino, agora mais tranquilo, se aproximando da garota.

–Espaço pessoal, Belvedere. – pediu a menina estendendo a mão, afastando-o, já acostumada com as manias de aproximação que ele tinha.

Ele simplesmente pegou a mão dela e pareceu examiná-la, o que deixou Annita inquieta. Ele continuou segurando sua mão, como se contasse os dedos. Ele parecia pensar em alguma coisa muito profundamente.

–O que foi? – perguntou a menina, finalmente com coragem para quebrar aquele silêncio estranho.

–Nada, só que eu estive pensando. – disse ele.

–Uau. – disse ela com sarcasmo, fazendo-o sorrir.

–Acho que demorei demais, não é, Annita?

–O quê? – perguntou a menina, ainda sem entender, com um sorriso meio confuso no rosto.

–Me desculpe por isso.

–Pelo qu—Mas ela fora interrompida.

O garoto puxara-a para a frente, trazendo seu rosto em sua direção. A mão da menina ficou presa na outra mão dele, que ainda a segurava firmemente em seu peito.

Quando seus lábios se tocaram, Annita ficou completamente imóvel. De novo, aquela sensação conhecida, de choques no estômago, por ter sido pega de surpresa.

Finalmente, ela se lembrou de sua mão presa e de como movimentá-la, e conseguiu empurrá-lo para trás, libertando-se do garoto. Ele nem oferecera resistência. Ficou simplesmente olhando para o chão, com um sorriso triste no rosto.

–Me desculpe por isso. – disse ele, ainda sorrindo daquela maneira.

Annita somente olhava para ele, à alguns passos de distância, com uma das mãos na boca.

Eu não imaginava... – sussurrou ela, perdida em pensamentos.

As palavras incompreensíveis para Ian, pareceram surtir algum efeito nele, e despertá-lo daquela figura tão diferente dá costumeira arrogância que ele carregava.

–Bem você sabe. – disse ele, com um sorriso sacana – Eu não podia deixar você passar sem um presente, não é?

Sem saber bem o motivo, Annita ficou extremamente irritada.

–Seu idiota! – disse a menina, com a voz ofendida – Como ousa achar que isso é só uma brincadeira?

As palavras da menina não pareceram afetá-lo; na verdade, ele parecia achar cada vez mais graça da situação.

–Eu não disse que era brincadeira. Só não espere que eu me apaixone por você. – respondeu ele, sarcástico.

O som estridente do tapa no rosto dele fez sua expressão ficar surpresa por um segundo. Ele colocou a mão sobre o rosto e riu de leve.

–Nunca mais fale comigo. Nada além do necessário. – disse a menina, que parecia ter cem anos com aquela expressão indiferente no rosto. – Bom dia não é necessário.

Ela virou as costas e saiu dali sem falar mais nada, deixando Ian para trás.

O garoto continuou encarando a menina, com um sorriso esquisito no rosto; algo parecido com vitória.

–Talvez Nott saiba uma coisa ou outra.

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Dia vinte e oito, dia vinte e nove, trinta e trinta e um. Finalmente o fim do ano chegara, e Annita mantivera seus deveres prontos a tempo.

Fora liberada da monitoria até o dia dois, quando os alunos voltavam e ela teria de voltar aos relatórios compridos. Passou o dia inteiro estudando o resto das matérias, e adiantando os relatórios do semestre seguinte, que mal teve tempo para treinar.

O jantar fora tranquilo, em ritmo de comemoração; McGongall enfeitiçou as velas para que formassem a escrita “Feliz Ano Novo”, e o teto mostrava estrelas que na verdade estavam cobertas por nuvens no céu lá fora.

Comera bem, e seguira para o quarto vazio. A garota já estava começando a sentir os efeitos de não ter companhia, como jogar suas roupas em cima da cama, e deixar seu caderno aberto em cima da mesa.

Começou imediatamente a arrumar suas coisas, lembrando que dividia o quarto com outros quatro seres humanos, e que um deles era imperdoavelmente perfeccionista.

Alyann. – murmurou de leve, fazendo uma careta cômica ao pronunciar o nome.

Enquanto dobrava suas roupas de trouxa, a menina fora distraída por uma batida leve na janela. Indagando-se de quem seria aquela coruja (uma vez que Lamôna passara o feriado praticamente todo em seu quarto, fazendo Annita deixa-la sair para caçar), uma vez que não esperava cartas naquele dia.

–Mona. - disse ela ao reconhecer a caligrafia da menina – Mas o quê..?

“Annita,

Aconteceu alguma coisa com os Malfoy. Scorpius não apareceu durante todo o jantar, e só desceu para cumprimentar meus pais.

Tem alguma coisa errada?

Mona.”

–Malfoy. – murmurou ela. Será que as coisas estavam tensas em casa? Annita não fazia ideia do tipo de pessoa que o pai do garoto era.

Ela pegou uma pena e começou a escrever.

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–Ela respondeu? – perguntou Rose, entrando no quarto do primo.

–Sim. Ela mandou uma carta só para nós dois. – disse ele, estendendo o papel.

–Você a convidou! – disse a menina, exultante – Era isso, Al? Quer dizer, vocês se acertaram no fim das contas?

O garoto hesitou um pouco.

–Al, você pode me dizer tudo.

O menino suspirou, sorrindo.

–Disse que iríamos resolver tudo amanhã. – disse dando de ombros, ficando vermelho.

Rose sorriu com a atitude do primo e o abraçou.

O garoto só sorriu, afastando a prima.

–Para. – murmurou sem graça. Rose somente gargalhou do primo saindo do quarto para comer.

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Dois de Janeiro de dois mil e vinte.

A neve dera uma trégua, apesar do lugar estar todo branco com os resquícios da noite anterior. Annita teve de andar bem devagar para chegar à estação de Hogsmead.

Encapuzada dos pés a cabeça, a ansiedade corroía a garota. A cada minuto que passava, ela sentia uma borboleta a mais no estômago.




“Ai, ai...” pensava consigo mesma.

Até que, bem ao longe, ela começou a enxergar a fumaça do trem. Em menos de um minuto, o trem já estava diminuindo a velocidade para parar na plataforma.

Quem desceu primeiro foi Rose, que correu e abraçou a menina no frio. Depois de algumas risadas, Rose se dirigiu ao trem novamente, para ajudar o irmão mais novo a tirar as malas.

E então ele desceu.

–Alvo... – murmurou ela. E ele pareceu entender, pois sorriu aqueles dentes brancos imediatamente ao olhar para ela.

Ele murmurou um “Annita”, e começou a caminhar em sua direção.

A menina não conseguia parar de sorrir; era aquela sensação que insiste em ficar presa nas bochechas, fazendo você parecer uma grande idiota.

Dois passos de distância. Alvo largou as malas no chão, e se aproximou de Annita; agora mais de perto, era possível ver o rosto doce do menino um pouco vermelho.

–Olá, Annita. – disse ele, um segundo apenas antes de trazê-la para mais perto e beijá-la.

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–Conseguiu achar o que queria? – perguntou a mulher mais velha, naquela sala fria.

–Não, não consegui. – respondeu a outra, coçando a cabeça – Mas achei algo interessante.

A diretora virou para encarar a mulher no escritório, confusa com o comentário da mulher.

–E o que seria?

–Esse emblema. – disse a mulher, estendendo o objeto – Um emblema do Ministério da Magia. – disse – Inglês.

A diretora olhou para o rosto contorcido de pesar da mulher mais jovem na sala.

–Desdêmona... – começou, mas não soube terminar.

–Sempre soube que foram eles. – disse a outra, dando de ombros. Seus olhos carregavam algo indecifrável – Vocês, na verdade.

–Não, Desdêmona. Nós não fazemos parte diss—

–Não importa. – interrompeu a outra, mantendo uma calma que chegava a baixar a temperatura da sala – Nós já sabemos o que aconteceu, não é?


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Notas finais do capítulo

É minha gente, pode ir segurando as rédeas aí, porque ainda tem coisa pra acontecer nessa bagaça.Como sempre, espero que tenham aproveitado a leitura, e se tiverem qualquer dúvida, sugestão, comentário, correção ou um carinho para dar, é só comentar/deixar uma review!Espalhem amor por aí, e divulguem a fic minhas gente!!Um beijo pra vocês!!



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