Outsider - A Estrangeira escrita por Bruna Guissi


Capítulo 14
Cegueira


Notas iniciais do capítulo

AAAAOOOO
FINALMIENTE, não é meu povo?
Me perdoem por toda a demora, como sempre, vida ocupada :
Mas não vou me estender aqui hoje, quero postar esse capítulo que me saiu meio dramático, romântico, diferente(?).
De qualquer jeito, mando meu abraço feliz da vida para Mip, que favoritou essa fic.
Seja bem vinda ao barco, e aproveitem todos vocês este capítulo!

OBS: Adicionei uma imagens que eu fiz a mão, no momento que lerem, vocês vão entender.
OBS2: Tem uma parte escrita em inglês, bem curta, mas não tem tradução; embora eu acredite que não haverá dificuldades, acho que jogando no tradutor tudo se resolve!

Boa leitura!



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Foi um esforço intelectual total. A mulher falava alto, mas não perdia a classe. Estava claríssimo o descontentamento com a situação e as atitudes do filho, mas ela jamais poderia deixar que aquela fosse a decisão final. Que ele fosse expulso.

E não poderia deixar que isso vazasse, também. A mulher estava ciente de que o garoto não tinha amizades, por isso, ninguém saberia da própria boca que foi ele quem armou uma das maiores balbúrdias do século.

E o pior era que problema maior não seria manter seu filho matriculado, ou deixar a imprensa desinformada sobre o arquiteto do feitio da noite anterior.

Não.

O mais complicado seria lidar com o pai dele. Se aquilo chegasse aos seus ouvidos...

McGonagall parecia irredutível durante a manhã, mas Astoria era bem persuasiva. No fim da discussão, trouxeram seu filho de volta para o escritório, e já passava das cinco da tarde. Felizmente, poucos alunos puderam notar a movimentação próxima aos corredores da diretoria, uma vez que McGonagall liberou os alunos pelo resto da semana para voltarem às suas casas.

O garoto, apesar de não ter se apresentado voluntariamente, não negou absolutamente nada, e assumiu toda a responsabilidade pelo que tinha feito. Ele fora encontrado sentado ao lado das estufas, quieto.

Parecia que sua intenção era se entregar, apesar da expressão gélida.

Quando Astoria chegou, foi o único momento em que ele de fato pareceu sentir algo, e seu cenho franziu.

Depois de passar a tarde em uma sala próxima a diretoria, esperando, dois monitores o chamaram. Ambos carregavam um olhar frio e repreensivo no rosto; como se esperassem exatamente aquilo dele.

Quando ele adentrou o escritório no fim da tarde, e recebeu sua sentença, Malfoy sabia que as coisas seriam bem diferentes dali para frente. Mas ele não se referia à escola, pelo menos não somente.

Continuaria vendo as aulas, mas fora proibido de ir às visitas à Hogsmead. Teria de prestar serviço todos os fins de semana com o guarda-caça professor Hagrid, o que para ele não era de fato um sacrifício. Umas das piores partes foi saber que o professor de Herbologia fora ligado às suas ações, embora ele tivesse negado veementemente que o homem bondoso tivesse alguma relação com o ocorrido.

Mas no final das contas, o garoto se preocupava com algumas poucas pessoas, que, no fim das contas, ele descobrira gostar. Potter, Weasley e até mesmo a Zabini. Malfoy sabia que a relação seria muito tensa agora, isso se houvesse algum tipo de relação.

E mais importante ainda, Boderdad. Ele jamais poderia se sentir na permissão de vê-la novamente. Ele nem sabia se algum deles sabia da sua situação atual de “novo perigo em potencial de Hogwarts”.

Mas era exatamente assim que aqueles dois jovens monitores o olhavam agora. Como um típico Malfoy.

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A respiração da mulher era lenta. Carregava uma tensão que, se fosse transformada em força, seria capaz de derrubar um trasgo adulto.

Mas a respiração era assim; lenta.

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A luz parecia que não entrava direito pelas janelas, como se as nuvens do lado de fora estivessem ali sem querer, mas cientes de que impediam a passagem da luz do sol.

O corredor vazio fazia com que a sensação de solidão fosse ainda maior.

A diretora havia liberado sua volta para a casa, mas Scorpius não quisera ir. Apenas acenou cordialmente para ambas as mulheres no escritório e saiu da sala.

Sua mãe somente observou o menino sair pela porta, com o olhar vago, perdido.

Voltou seu olhar para a diretora depois de uns instantes, pensando.

–Obrigada. – decidiu por fim, falando – Por tudo.

McGonagall somente abanou a cabeça, como se estivesse cansada.

–Sra. Malfoy, a senhora sabe que isto é o máximo que posso fazer por seu filho. – disse ela – O que fiz foi por respeitar imensamente a capacidade acadêmica dele, e por respeitar sua família, Astoria. Mas sinto dizer que nada posso fazer a respeito da imprensa, caso algo sobre esse assunto vaze.

A mulher fechou os olhos respirando fundo, concordando.

–Sim eu sei. Mas eu posso fazer. – respondeu ela – E vou fazer o que estiver dentro e fora do meu alcance para minimizar as repercussões, Minerva. Tanto para nós, quanto para escola. Dou isso em troca. Eu não poderia fazer menos.

Sua cabeça voltou para o corredor mal iluminado a sua frente. Era difícil se concentrar em alguma coisa, seus pensamentos eram tomados por um torpor intenso, impedindo que as coisas ficassem claras em sua cabeça.

Só se podia ouvir o barulho de sua respiração e dos seus passos.

E por um tempo, foi nisso que sua mente se prendeu.

Seus pés o carregavam por conta própria para os terrenos do castelo, pelos campos e pelos jardins.

Aquele sol sufocado pelas nuvens ainda conseguia atingir a grama verde em algumas colunas de luz.

Involuntariamente, talvez até mesmo sem perceber, ele evitava as partes mais claras do caminho que fazia.

As mãos pendiam ao lado do corpo, sem muito se mexer com os passos lentos do rapaz.

Ele não tinha pressa alguma, pois não sabia para onde estava indo, de qualquer jeito. Só soube quando chegou.

Encostou-se à madeira úmida, escorregando as costas da camisa até se sentar na grama molhada. A água era absorvida por sua roupa, escurecendo o tecido e deixando-o frio.

–Choveu... – murmurou com pouca emoção na voz.

Na sua frente, o lago refletia a luz alaranjada do sol de fim de tarde, deixando todo o horizonte colorido.

Mas ele não conseguia notar, não conseguia pensar ou raciocinar, porque tinha se esquecido de como se fazia isso.

Enquanto ele caía no sono, pôde ouvir um bater de asas, bem distante dali.

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Ela abriu os olhos pela segunda vez naquele dia. Acabara caindo no sono novamente após o almoço, tendo nada para fazer.

A enfermaria já estava vazia àquela hora da tarde, com exceção de uma pessoa que agora estava deitada na poltrona ao lado de sua maca, com o pescoço pendendo para trás de uma maneira desconfortável.

Annita achou graça. Ele parecia diferente, parecia menor, mais magro.

–Ian? – chamou ela baixinho, mas não obteve resposta.

Ela franziu o cenho intrigada, e levantou da maca, agora mais disposta. Deu alguns passos mancando de leve por causa da dor nas costas, mas ignorou isso.

Ela chegou até o outro lado da maca, perto da cadeira. A posição parecia desconfortável, mas o garoto dormia profundamente.

–Ian? – sussurrou novamente, agora incerta se era ele mesmo que estava ali.

Ela chegou a um palmo de distância, e notou as vestes que ele usava.

–Alvo? –disse ela em voz alta, acordando o garoto. Assustado por ser tirado do sono, ele trouxe o corpo todo para frente em um só movimento, fazendo com que Annita recuasse e tivesse que se apoiar na maca para não cair.

O garoto olhou assustado para frente, espremendo os olhos para enxergar.

Tirou então do bolso um par de óculos, daqueles antigos e quadrados.

–Annita! – disse ele assim que a enxergou – Você acordou!

Um sorriso se espalhou pelo rosto dele. O menino estendeu a mão para ajuda-la a firmar-se de pé. A garota se ajeitou em cima da maca, sentando-se de frente para ele.

–Alvo, o que faz aqui? – perguntou ela confusa, mas feliz, com a presença do amigo – Não que eu não queira você aqui, - adicionou depressa – é que eu achei que fosse outra pessoa... Você usa óculos? – perguntou, finalmente notando o item no rosto dele.

Alvo sorriu um pouco, compreendendo a surpresa.

–Eu costumo usar lentes, mas minha mãe não teve tempo de passar na loja trouxa par buscar as novas. – respondeu ele. Então ele sorriu desajeitado – Como o grau é muito alto, eu tenho que mandar fazer.

Annita sorriu achando graça.

–Acho que fica muito bem em você.

–Obrigado.

A garota voltou a se deitar na cama, mas somente para espreguiçar-se. O garoto continuou observando, agora um pouco mais seriamente.

–Você está melhor? – quis saber ele, quando o corpo da menina finalmente relaxou.

–Hm-hm. – soltou a garota de olhos fechados.

Depois de alguns instantes, Annita quebrou o silêncio:

–Por que está tudo tão quieto, afinal? – disse levantando-se.

–Ah, a diretora liberou os alunos para irem para casa nesse final de semana.

–Nossa.

Os dois continuaram em silêncio, até que Annita começou a andar em direção à porta.

–Aonde você vai? – quis saber o amigo. Ele coçou os olhos embaçados e a seguiu.

–Tomar um banho, tirar essa roupa. Quer ir junto? – perguntou ela, virando-se para trás.

–Ah...

Alvo ficou parado pensando na subjetividade da pergunta, e infelizmente ele corou.

–Ah!... – compreendeu Annita – Não... Eu q-quero dizer..., se quer ir para o meu Salão Comunal. – concertou depressa, coçando a testa.

–Ah.. é-é claro q-que sim. Intendi. – disse ele mais sem graça ainda – Mas tem certeza que não tem problema? Bom... sabe, entrar lá?

Annita ponderou, mas fez um muxoxo em desconsideração.

–Vai estar vazio, você mesmo disse que a diretora liberou os alunos. Além do mais, nem todos os sonserinos mordem.

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–Se pelo menos eu conseguisse achar o Alvo... – murmurou a garota enquanto caminhava em passos rápidos pelos corredores.

Ela tinha certeza que estava certa. Aquela garota tinha alguma coisa estranha. E pela sua intuição, não era nada bom.

Infelizmente, sua intuição era certeira.

Ela sempre suspeitara; desde o momento em que a conhecera, com seu jeito frio e calculista. Alyann não era confiável.

Mas por algum motivo, ela viera provando o contrario, sempre uma garota quieta, e que mal se envolvia nas coisas.

Bom, pelo menos até a noite anterior.

Aquele maldito sorriso.

A garota continuou seu raciocínio, remoendo-se por dentro tentando entender por que aquele sorriso era sinal de merda.

Seus passos ecoavam pelo corredor, vazio. A garota avisara sua mãe de que talvez não voltasse no fim de semana, mesmo ela insistindo para que a garota fizesse o contrário.

Mas se tinha uma coisa que a garota Weasley herdara do pai, era sua teimosia.

Finalmente, como que adivinhando que a outra estaria lá, Rose entrou na biblioteca, e foi diretamente às saletas de estudo em grupo, onde certa vez a encontrara.

Lá estava ela; sentada na beirada da janela, com o queixo apoiado nos joelhos, olhando para fora.

Aquele sorriso...

A ruiva esperou que fosse notada, e assim foi.

Alyann virou levemente o rosto para a menina, sem parecer surpresa.

–Olá, Weasley.

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A garota perguntara se o menino queria esperar no quarto, mas ele recusou. Certa vez quando pequeno, sua tia lhe contou que seu pai e seu tio tentaram subir as escadas do seu dormitório, quando estavam no segundo ano.

E sabia o que aconteceria se algum garoto tentasse subir as escadas de qualquer dormitório feminino. Por isso resolveu esperar no Salão Comunal.

Mesmo o lugar estando praticamente deserto, Alvo não pôde evitar o frio na barriga que o fez tirar sua capa da Grifinória e colocar seus óculos, para tentar passar despercebido.

Lá em cima, no banheiro, Annita deixava a água escorrer lentamente pelo corpo. Ela sabia que Alvo a estava esperando, mas ele entenderia. Foi uma noite muito difícil, afinal. E ela mal se lembrava das coisas.

A água ajudava a sensação de dor diminuir, relaxando cada músculo do seu corpo. Depois de longos vinte minutos, Annita saiu do banheiro com uma toalha enrolada no corpo e outra na cabeça.

Era relativamente cedo, e ela estava com fome, então colocou uma roupa qualquer e um chinelo nos pés para descer.

Uma vez que os alunos não estariam na escola durante o resto da semana, McGonagall não tinha motivos para ser rígida com a vestimenta.

Enquanto penteava os cabelos, Annita ouviu pequenas batidas na janela, encontrando Lamona do lado de fora.

–Gordinha!

Annita deixou-a entrar, e a corujinha ficou piando alegremente em cima de seu baú ao pé da cama, enquanto ela terminava de se arrumar.

A pequena ave veio até o colo da menina, e esfregou a pequena cabeça na garota, que a acariciou de bom grado.

Annita continuou mexendo em algumas coisas no quarto, até se lembrar que deixara Alvo esperando no Salão abaixo.

Saindo do quarto a toda, deixando alguns biscoitos para sua mascote mastigar, Annita desceu fazendo o barulho dos chinelos ecoarem pelo lugar vazio.

Alvo olhou para cima quando ouviu o barulho, e não deixou de engolir em seco quando viu a quantidade de pernas expostas da menina.

O garoto sentiu uma vontade imensa de saber se era macia a pele ou não, mas conteve-se em somente desviar os olhos.

–Vamos comer algo? Você está com fome? – perguntou a menina, jogando-se na sua frente na grande poltrona.

O garoto concordou, e ambos saíram do lugar às pressas, praticamente apostando corrida para ver quem chegaria primeiro ao Salão Principal.

Na brincadeira, Alvo quase se perdeu, e Annita teve de voltar para encontra-lo. Ele estava sentado olhando um quadro, esperando ser encontrado pela menina.

A garota fez algum comentário sobre conhecer o castelo melhor que ele, e ele riu.

Sentia-se uma criança empolgada novamente.

Annita perguntou a ele se sabia onde estava Rose, e ele respondeu que ela estaria no castelo, mas que não sabia onde ela se encontrava no momento.

Os dois jantaram até ficarem fartos e estufados, e ambos foram para as escadas que davam para o jardim. Como já estava escuro, Annita sabia que McGonagall não aprovaria que saíssem do castelo, então ficaram sentados na porta, atrapalhando o transito de alguns alunos apressados.

Todos os que ficaram no castelo no fim de semana ficaram para estudar, principalmente os alunos do sétimo e do quinto ano. Algo sobre exames absurdos.

Ambos quietos somente observavam os campos, recebendo o vento fresco no rosto.

–Annita... – começou Alvo.

A garota olhou pra ele com uma expressão serena, calma, talvez até risonha, por saber exatamente a pergunta que se passava pela cabeça do amigo.

–Não, Alvo, não me lembro de nada. – respondeu ela, tranquila – Bom, só de antes da batida, na verdade. – acrescentou, coçando o leve galo em sua cabeça.

Alvo suspirou, concordando com a cabeça. Ele parou por um momento para observar a garota de esguelha, na segurança do escuro da noite para não ser notado.

O corte no seu rosto era comprido, e quase não dava para se notar. A enfermeira chefe era uma ótima curandeira, o corte não passava mais de uma linha comprida no rosto, que brilhava de leve com a luz da lua.

Sem se conter, o garoto tocou de leve com o dedão a cicatriz, fazendo Annita virar-se um pouco.

Os olhos dele eram tristes... Como se de alguma maneira ele fosse culpado por aquilo. A garota segurou a mão do menino abaixando-a.

–Não foi sua culpa. Você não poderia evitar nada disso. – disse a garota séria.

–Quem disse? – retrucou o garoto pesaroso - Se eu estivesse com você no moment-

–Mas você não estava. – retrucou a garota – E nem vai estar lá vinte e quatro horas por dia Alvo. Isso não é culpa sua. Para com isso.

Alvo fez menção de retrucar, mas a garota segurou suas bochechas.

–Shhh. – falou ela.

Ele não pode evitar de sorrir um pouco, fazendo a sorrir em também.

Os dois começaram a rir de leve juntos; Annita fez uma careta com o rosto dele, e ele começou a rir mais, puxando a mão dela longe do rosto.

O movimento trouxe Annita mais para perto de si, que ainda sorria de leve.

Então ele sabia o que fazer. E fez.

Foi um beijo rápido, um pouco mais que um estalinho.

A garota congelou por alguns instantes, mas nunca oferecera resistência. Na verdade, ela mal podia acreditar que ele fizera aquilo.

E ela percebeu na hora que estava querendo aquilo há algum tempo. Que torcia, toda vez que ficavam a sós, para que ambos tivessem a chance de se aproximar.

Fora tão natural quanto respirar. E Alvo nem sequer corou ou desviou o olhar.

Ele continuou olhando para os olhos escuros da menina. Aquele verde intenso que parecia estar medindo a situação.

Annita estava com a boca levemente aberta, como que pensando profundamente.

Então ela estendeu a mão firme para o rosto do menino, que fechou os olhos por uns instantes, só esperando.

Annita tirou seus óculos, bem lentamente, deixando que ele percebesse o que ela fazia. Ele abriu os olhos novamente; aquele par de esmeraldas sinceras encarou a menina como se perguntasse o que ela queria.

Então ele colocou a mão forte no rosto dela, e a trouxe pra perto novamente. Dessa vez de maneira calma, lenta.

Com o braço apoiado no chão de mármore, Annita deixou-se levar pelo movimento, pela situação. O estômago agora se agitava, como se as borboletas ali dentro estivessem acordando novamente, dando a ela aquela sensação jovial e insegura que ela tanto desconhecia. Seu... primeiro beijo.

Ele a beijou calmamente, de maneira suave; uma mão apoiava docemente a nuca dela, e a outra tocava de leve a mão na qual ela se apoiava.

Os dois se afastaram alguns milímetros, abrindo os olhos, ambos com a respiração um pouco mais superficial do que o normal. Continuaram próximos, e ele aproveitou para tocar de leve seus lábios novamente, como se selasse a situação.

Annita baixou suas pálpebras novamente, vivenciando a sensação que experimentara. Era doce, era tranquila, era... conhecida. De alguma maneira, Annita sentiu que conhecia aquela sensação, aquele calorzinho bom nos lábios, o que não deixou o beijo menos agradável.

Só a deixou intrigada. Mas ela tirou aquilo da cabeça por um momento, experimentando a nova situação em que se encontrava.

E em como ela se sentia feliz naquele momento.

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A noite já tinha caído quando ele abriu seus olhos novamente.

Sentia o corpo pesado, por causa de toda a umidade da roupa, e frio por causa do vento fresco que agora batia nas suas costas.

Ele ia caminhando em passos lentos até o portal, não queria mais saber de ver a diretora ou qualquer outra pessoa por estar ali àquela hora.

Alguns alunos passavam pela escadaria, carregando embrulhos, pergaminhos e livros que provavelmente foram comprados de última hora.

Quando ia chegando à escadaria, notou um casal sentado nos degraus, rindo de leve.

Ele não queria ter que passar por eles e por toda a sua felicidade, e criar mais olhares gélidos sobre si. Resolveu que passaria rapidamente por eles, não dando tempo para opiniões.

Conforme ia se aproximando, aquela dupla no alto das escadas ia ficando silenciosa, quieta.

Intrigado, ele parou perto dos arbustos próximos, para entender o que estava acontecendo.

–Annita... Potter. – notou.

E como se aquela invasão de privacidade fosse imperdoável, ele presenciou algo que ele preferia não ter visto.

Seu corpo foi atingido por uma faca gelada, que queimava dentro estômago, e feria tudo até o orgulho.

Como uma punição por ser quem era, Malfoy teve de presenciar o beijo que os dois dividiam.

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A noite estava fresca, mas ainda carregava algumas nuvens no céu.

A mulher quase cochilara sentada perto da janela. Conjurara para si uma cadeira de madeira, daquelas que tem em casas de verão, e sentou-se ali, esperando. Jamais gostara daquelas cadeiras retas que tinham na sala dos professores.

Ela fechou os olhos por um instante, pensando. Quem passasse por ali poderia pensar que ela caíra no sono ali mesmo, tranquilamente.

Mas ao contrário da expressão calma que seu rosto passava, sua mente fervia com pensamentos. Suas tentativas de realmente se acalmar era vãs, então ela se contentou em apenas aparentar tranquilidade. Já estava de bom tamanho.

Ela estava sentada ali naquela saleta, que agora estava vazia, esperando o momento certo de sair.

Finalmente, algo pareceu despertá-la do seu sono. A mulher sabia exatamente para onde ir, sabia exatamente onde encontrá-lo.

Começou a caminhar em passos rápidos, seguindo em direção à torre de astronomia.

Lá estava ele. Encolhido no frio. Ela desejava que seus ossos congelassem até a medula, para que ele sentisse apenas metade da dor que ela sentira. Metade do desespero. Uma pequena punição por seus atos.

Para ela estaria de bom tamanho. Sua respiração começou a acelerar, e a mulher fez de tudo para controla-la.

Ela se aproximou lentamente, parando a poucos metros de distância. Ela faria de tudo para se deixar clara, mas não podia quebrar sua promessa para McGonagall.

–Fique longe dela. – disse sua voz inexpressiva. Isso só a fazia soar mais feroz – Sabe que podia tê-la matado. Sabe que podia ter matado qualquer um.

O garoto se virou rapidamente, com a expressão assustada no rosto, nadando em incompreensão.

A mulher atrás dele se encontrava encostada descontraidamente em um pilar, com os olhos dizendo nada além de interesse.

–Professora Salvi...? – murmurou o garoto, com os fios de cabelo lhe caindo sobre os olhos. Ele ainda não entendia o que a mulher queria com ele.

Ela, por sua vez, não fez menção de se explicar, somente suspirou, como se aquilo exigisse mais do seu interesse do que realmente teria.

–Não é um pedido. Vai ficar longe dela, Malfoy. – disse ela como se explicasse uma matéria deliberadamente óbvia em sala de aula – Longe de todos os seus amigos, longe de qualquer rastro deles.

O garoto já não tinha mais certeza se queria entender o que ela estava falando.

–Longe do Potter, da Weasley. Da Zabini. – continuou – E longe da Boderdad. – acrescentou ela – Você só consegue fazer isso, Malfoy. Ferir os outros. Sabe que estou certa. – acrescentou no final, com um sorriso simpático no rosto.

Cada palavra acertava o garoto como um tapa, um chute de realidade que ele vinha tentando evitar desde o ocorrido.

Mas lá estava ela; uma mulher que ele jamais pensou que se envolveria com algo, ali na sua frente, pedindo para que ele fizesse aquilo que ele mais temia.

Ficar sozinho.

O vento soprou mais forte, como se alguma porta estivesse aberta em algum lugar perto dali.

–Eles não saberão de nada por mim, garoto. – terminou ela, ajeitando-se em pé – Mas nunca mais... Faça algo assim.

O garoto ainda sentava no chão, com a boca levemente aberta com os braços envolvendo si mesmo, quando ela partiu.

Ele ficara ali, encarando o vazio, esperando que as consequências que ele achara que podia lidar parassem de cair sobre seus ombros.

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Ela imaginou ter visto ele em algum ponto. Esquisito. Ele parecia que não queria ser visto.

Ela estava voltando para seu Salão Comunal quando notara os passos rápidos no fundo do corredor. A garota o seguiu, perdendo-o durante o caminho.

Ficou alguns minutos pensando onde ele poderia ir àquela hora, e o que se passava em sua mente.

“Scorpius...”

Ela começou a caminhar distraidamente, quando passou perto da torre astronomia. Ela conteve seus passos quando notou uma pena longa ao pé da escada em espiral que levava ao topo da torre.

–Será...?

A garota foi subindo lentamente, por causa do escuro. Passou por uma porta fechada e segui para cima. Quando chegou perto do local onde eram feitas as aulas, ela ouviu algum barulho, e conteve-se.

Uma voz abafada falava calmamente em um tom tranquilo lá em cima.

–... nada por mim, garoto. Mas nunca mais... Faça algo assim.

Então a garota ouviu passos descendo em sua direção; comprimiu-se contra a parede, longe da porta, esperando não ser notada.

Um vulto passou ao seu lado, com muita pressa, mas sem nota-la ali no canto.

Quando a menina achou que fosse seguro, ela subiu alguns degraus, e viu o garoto ali. Ela não podia ser vista, mas sabia claramente que era ele ali.

“Algo assim...”, pensava ela.

Até que compreendeu.

A garota colocou a mão na boca para conter a própria surpresa.

Ele tinha feito aquilo. Ele tinha feito tudo aquilo.

A garota ficou perdida por alguns segundos, sem conseguir se tirar do torpor daquela descoberta.

Seu melhor amigo... Havia estragado tudo pelo que trabalhara... Justo agora que ela começava a se sentir em casa...

Justo ele.

A decepção, a vergonha e diversos outros sentimentos de culpa e remorso tomavam conta da garota.

Como podia ter sido tão lerda!? Como pôde ser tão cega!? Cega ao ponto de se deixar levar, de se deixar acreditar que aquele garoto não era exatamente o que as pessoas diziam!

Que era exatamente a decepção que ela não podia ter.

Annita nunca correra tão rápido.

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Notas finais do capítulo

Ah, por favor, não me matem ou coisa do tipo.
Eu sei, eu sei, sofrido esse fim né? Quando você se dá conta d tempo que passou e tudo mais.
Mas de qualquer jeito, espero que tenham gostado desse capítulo!
Vou tentar manter a fic, agora que sou a mulher mais ocupada do universo!
Não esqueçam de deixar um carinho, um comentário, uma opinião, ou dúvidas!
Se acharem erros, também não deixem de me avisar!

Um abração pra todos os leitores, um cheiro e por favor, compartilhem essa história com amigos, amigas e o universo todo, incluindo marte, or favor.
Até!