-Hora de acordar, preguiçosa.

Simplesmente fingi que não ouvi e continuei parada na mesma posição, até que senti um arrepio nas costas, e vi que era Grimmjow passando os lábios entre meus ombros.

-Hmmm...

-Acorda, vamos...

-Tá, tá...

-Vou pegar alguma coisa pra comer, espera um segundo.

Enfiei a cabeça em baixo do travesseiro, sentindo o cheiro dele. Era estonteante demais. Esfreguei os olhos, tentando me acostumar com a claridade vinda da janela. Levantei, jogando o cabelo para o lado, e olhei ao redor. O quarto estava uma bagunça, mas uma bagunça adorável. Pulei até o banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes rapidamente, e Grimmjow chegou com nossa comida. Como sempre, estava delicioso.

-Que que foi? Porque está tão triste hoje?

-Triste? Não estou triste.

-Está sim, me conta.

Passei meus braços ao redor dele e me joguei em cima, franzindo as sobrancelhas.

-Yumi, já disse que...

Grimmjow parou de falar de repente, e arregalou os olhos. Segundos depois, eu também senti. Algo como uma perturbação na atmosfera, uma onda de energia fez o chão tremer e as paredes vibrarem. Eu sabia exatamente o que era.

-Grimmjow...

-Eles chegaram.

Foi a única coisa que ele disse, então me olhou, apertando-me mais contra ele.

-Eles estão aqui, não estão? - perguntei, saindo de cima dele – Ichigo...

Uma explosão soou, então o garoto levantou e foi até a janela. Ele rosnou.

-Grimmjow, você não precisa ir. - tentei falar, mas meu peito estava apertado.

-Preciso sim. Tenho contas a acertar com o Kurosaki. - ele virou para mim de novo.

-Por favor.

Como explicar que, se ele fosse, provavelmente seria destruído por Ichigo? Eu, por um lado, queria que Ichigo ganhasse para poder me tirar daqui, mas por outro... Eu queria que Grimmjow não morresse. Queria ficar com ele. Se ele for, uma batalha acontecerá, e muito provavelmente Ichigo ganhará. E Grimmjow morrerá.

-Vista-se. Vou te levar até seu quarto.

Ele estava muito sério.

E eu, com medo, fiz o que ele pediu.

Quando terminei de arrumar meu cabelo, ele estava sentado na beirada na cama de costas para mim, pensativo. Engatinhei até ele e o abracei pelas costas. Eu não quero perdê-lo.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao sentir que a respiração dele estava acelerada.

-Por favor... - sussurrei, mas tudo o que ele fez foi soltar meus braços e levantar em silêncio.

Foi até a porta e a abriu, abrindo espaço para que eu passasse. Passei o dedo em baixo dos olhos, e o acompanhei de volta ao meu quarto. Grimmjow não proferiu uma única palavra o caminho inteiro. O palácio tremia de vez em quando, e eu sentia algumas reiatsus sendo levadas pelo vento. O clima estava cada vez mais pesado, que nem meu coração.

Entrei no meu quarto, então sentei na cadeira e olhei para a porta. Ele estava lá, parado, olhando para o corredor. Ele, então, virou e saiu andando.

-Grimmjow! - berrei, quase pulando da cadeira atrás dele.

-Que é? - ele voltou.

O olhar dele. Meu Deus, aquele olhar estava me matando. Era uma mistura de raiva, dor e mais alguma coisa que eu não sabia identificar. Eu sentia o ar esmagando meus pulmões. Por algum motivo, ele parecia cansado e até mesmo alguns anos mais velho.

-Por favor, por favor, você não precisa ir, Grimmjow! A gente pode arrumar um jeito, eu prometo. Por favor, não me deixe sozinha aqui. Grimmjow, você não precisa lutar, fique aqui comigo, nós...

-Yumi. - ele me interrompeu, e uma única lágrima escapou dos meus olhos – Eu tenho que resolver umas coisas agora. Acredite, eu ficaria se eu pudesse. - ele desviou o olhar, e meu coração se partiu ao meio – Eu ficaria com você, é claro que ficaria. Como você disse, não posso fazer você escolher entre mim e seus amigos. Simplesmente não posso.

Minha garganta se fechou, e eu mal podia respirar. Tentei ao máximo me controlar para não chorar. Agarrei a borda da cadeira com tanta força que eu sentia minha pele sendo rasgada. Eu queria pular pra cima dele, mas ao mesmo tempo deixá-lo ir.

-Fique aqui até que eu venha te buscar. Eu já volto.

Ele me deu um sorriso confiante, então fechou a porta.

Não falei nada. Não senti nada. Não chorei. Somente fiquei sentada naquela cadeira, esperando e esperando por horas a fio, sempre encarando a porta, esperando sentir um mínimo que fosse da reiatsu dele. Eu conseguia ouvir muitos barulhos pela janela. Meu coração batia tão rápido que eu estava prestes a ter um infarto. O cheiro dele ainda estava nas minhas narinas, o toque da pele dele na ponta dos meus dedos, os lábios nos meus. Eu podia ver até mesmo os olhos dele se eu fechasse os meus. Não sei quanto tempo fiquei esperando, só sei que eu já estava dolorida de ficar naquela cadeira, esperando impacientemente que ele voltasse.

BOOM! A porta explodiu e uma nuvem de poeira cobriu minha visão.

-Ela tá aqui, ela tá aqui! - ouvi a voz gritando – Yumi! Você está bem?

-I-Ichigo! - exclamei, enquanto meu peito se comprimia. Se ele estava aqui, quer dizer... - Você... Você...

-Sim, eu derrotei o cara que tomava conta de você! Vamos pra casa – e me mostrou um sorriso.

Forçando um sorriso falso o suficiente para cobrir minha dor interna, eu disse:

-Vamos sair desse lugar de uma vez.

Observações: Uma pantera, como pudemos ver, é um animal belo e perigoso, que adora e necessita de carinho e atenção. Porém, é um animal selvagem. Se seus instintos dizem que ela deve ir, você deve deixá-la ir. Não faz parte da natureza de uma pantera ficar presa em um cativeiro. Se ela quiser ser livre, faça o que for preciso. Obrigada por ter lido o manual até o fim, espero que consiga um dia domar a sua própria com essas dicas. Até a próxima.