5 Sentidos

Capítulo 04: Olfato

Natsu e Lucy

Já se passava de uma hora da manhã e Lucy não conseguia dormir. E não era por falta de tentativa. Havia algo em sua mente que parecia assombrá-la como um fantasma e simplesmente não sabia como se livrar dele. Toda vez que fechava os olhos, a única coisa que aparecia em sua mente era Natsu.

“Tão como seu nome expressa, quente como o verão”, Lucy pensou.

E com tal pensamento não pôde evitar corar. No que ela estava pensando? Mas para começar, por que não pensar? Afinal, isso tudo era culpa dele.

Lucy Heartfilia já não pensava normal em relação aos seus sentimentos e bastara um toque de Natsu Dragneel para que isso piorasse ainda mais. A loira não fazia ideia do que Natsu sentia por ela, mas sempre pensou que não passava de amizade. E agora só tinha uma palavra que definia a relação dos dois: Estranha.

Horas atrás Natsu tinha invadido seu apartamento — o que não era muita novidade — e dessa vez estava sozinho e para piorar — ou melhorar, ela jamais poderia dizer— ela tinha acabado de sair do banho. A maga já estava acostumada com aquele tipo de situação, só que tinha sido diferente dessa vez.

O jeito que ele a olhou, como se fosse devorá-la, e ela teve que tentar ao máximo disfarçar aquela sensação quente que se alastrou por todo o seu ventre.

— Ah, é você Natsu — murmurara tentando ser indiferente. — Eu já não disse para não invadir meu apartamento? E para não entrar pela janela? Na verdade, por que eu ainda tento, se sei que você nunca me escuta? Argh! — resmungou indo pegar uma muda de roupa, depois de um suspiro, ela continuou: — E afinal, o que você está fazendo aqui?

— Eu estava com fome — respondeu com um tom que Lucy jamais ouvira.

A maga estelar corou até a raiz dos cabelos sem nenhum motivo aparente, agradeceu por estar de costas para ele, pois assim ele não poderia ver seu rosto em chamas. Ela continuou mexendo nas gavetas e fingindo estar irritada.

— E minha casa virou restaurante por acaso? — indagou, ignorando o tom de malícia na voz dele.

Estaria ficando louca?

Natsu ficou encarando as costas seminuas de Lucy, sentindo uma coisa estranha passar pelo seu corpo. Ele levantou da cama e andou silenciosamente até ela que parecia nervosa com algo. O dragon slayer não sabia o que estava acontecendo com seu corpo, porém havia algo em Lucy Heartfilia que o atraia como um imã, que o excitava de uma forma que nem uma competição conseguia e o fazia sentir coisas que ele não entendia e que jamais havia sentido.

Quando ele se aproximou o suficiente para tocá-la, hesitou. Será que Lucy ficaria com raiva? Duvidava. Ela ficaria possessa! O mago de fogo tentou se afastar, mas o seu cheiro doce o arrebatou por completo. Natsu acabou com a distância entre os dois e passou os braços em torno da silhueta feminina e a prensou contra seu tórax com força.

Surpresa, Lucy arquejou sem fôlego. O que era aquilo?

Tudo que ela sentia era calor. Nem em mil anos pensou na hipótese daquilo acontecer. Sua mente estava nublada e sua garganta seca. Sua respiração estava descompassada e ela não sabia como reagir, o que falar.

Natsu a segurou com força e enterrou a cabeça em seu pescoço, aspirando toda a essência de Lucy, afundando-se ainda mais nela, ficando próximo da perdição e ela apenas deixou que ele o fizesse.

— Você tem um cheiro tão bom, Luce — sussurrou pertinho da orelha da loira, fazendo com que cada centímetro do corpo dela se arrepiasse.

— Natsu... — ela gemeu seu nome de uma forma que nunca achou que seria capaz e isso fez com que Natsu grunhisse. — O que...

— Você é maravilhosa — deixou que as palavras saíssem sem nenhuma preocupação.

E então, Natsu Dragneel finalmente parou. Tinha demorado, mas ele finalmente percebeu que Lucy significava muito mais para ele do que imaginava. Ele respirou fundo e sorriu. Soltou-a de repente e sem mais, disse:

— Eu tenho que ir.

Ela se virou para ele segurando a toalha com força sem entender nada e em seguida corou até a raiz dos cabelos. Aquela, com certeza, era uma situação constrangedora.

— Até amanhã, Luce — disse já saltando a janela como se nada tivesse acontecido.

Lucy respirou fundo e desabou em sua cama totalmente atônita. Mais que raios tinha sido aquilo?

E desde então, ela tentava dormir e não conseguia, porque cada vez que fechava os olhos, Natsu invadia sua mente com seus sorrisos. Tudo que ela conseguia pensar, era como encararia o dragon slayer depois do que tinha acontecido naquela noite.

N&L

Para Lucy, a ideia de Natsu gostar de alguém com segundas intenções era impossível. Ele era a personificação da inocência. E essa era uma das coisas que ela gostava nele, pois tinha a certeza que ele não seria capaz de agarrá-la de repente, mas às vezes essa característica era deveras irritante. Ele era tão inocente que não percebia as investidas dela, pelo menos era o que ela achava até aquilo acontecer.

Balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos, mas sua face queimava de vergonha apenas de se lembrar do que tinha ocorrido.

— Por que você está tão vermelha, Lucy? — Mirajane perguntou de repente, tirando-a dos seus devaneios nem tão inocentes assim.

— Be-bem, não é nada — respondeu, amaldiçoando-se por ter gaguejado. Notando isso, Mira soltou uma risadinha maliciosa e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Lucy completou: — Está apenas um pouco calor aqui.

— Sei — Mira murmurou apoiando os braços no balcão. — Tem a ver com o Natsu?

— Ah, como você consegue? Isso não é justo! — resmungou e tapou o rosto com as mãos.

— É como dizem, apenas um tiro certeiro — falou com tranquilidade. — Mas e aí, o que foi dessa vez?

— Isso é constrangedor... Como eu posso dizer...

— Com a boca! — resmungou impaciente de tanta curiosidade.

— O Natsu invadiu meu apartamento ontem e me agarrou! — falou tudo de uma vez fazendo a boca de Mira ir ao chão.

— Finalmente! — exclamou, dando pulinhos de felicidade atrás do balcão.

— Como assim; finalmente?

— Ah, como vocês são lerdos! Francamente, Lucy, você nunca sentiu nada a mais pelo Natsu? Algo como, o coração bater mais forte quando o vê, ou até mesmo um ciúme absurdo quando qualquer outra garota chega perto dele, além de você e da Elza? Eu sei que sim! — declarou, soltando uma risada em seguida. — Eu vi na semana passada! Você vermelha de ciúme quando viu o Natsu e a Lisanna brincando com os barris. Não negue!

Lucy grunhiu fuzilando Mira com o olhar, fazendo com que a albina risse ainda mais.

— Isso só mostra que ele sente o mesmo que você, aproveite isso e vá em frente. Eu sei do que estou falando!

— Falou a pessoa que disse que o Gray gostava de mim — murmurou em um muxoxo desviando o olhar da amiga.

— Lucy! — resmungou com um olhar assassino, fazendo a loira se tremer inteira. — Eu estava brincando!

— Hai, Mira-san!

— Lucy! — Natsu berrou perto da porta.

A maga estelar engoliu em seco e olhou na direção do “amigo”, engoliu em seco mais uma vez e disse:

— Oi?

— Você poderia vir aqui? Eu preciso falar com você! — gritou novamente, atraindo a atenção dos membros presentes na guilda.

— Vai lá! Boa sorte! — Mira encorajou com um sorriso fazendo um “joinha”.

— Estou indo! — respondeu e levantou da cadeira, indo em passos hesitantes na direção do dragon slayer.

Quando estavam próximos o suficiente, Natsu sem um pingo de vergonha, passou o braço em torno de seu pescoço e a puxou para perto, falando em seguida:

— Vamos conversar lá fora!

— Certo! — respondeu, totalmente corada.

Ele a arrastou até a borda do rio e depois sentou na grama, indicando para que ela fizesse o mesmo.

— E então...? — Lucy começou.

— Você está com raiva de mim? Sabe... Pelo que aconteceu ontem?

— Bem... Eu... Eu não sei — respondeu com sinceridade, sem conseguir encará-lo. — Estou confusa. O que exatamente foi aquilo?

— Bem, era sobre isso que eu queria falar! Tem uma coisa que eu preciso te dizer! — disse, um rubor quase imperceptível preenchendo sua face.

— E o que seria? — perguntou ansiosa, dessa vez virando para olhar em seus olhos que eram de um verde tão escuro que pareciam negros.

— Você é especial para mim Lucy. Não especial como os outros — declarou fitando-a intensamente, depositando seus verdadeiros sentimentos em suas palavras. — Mais especial. Eu não sei descrever, mas eu sinto, aqui! — terminou, colocando a mão de Lucy no lugar que ficava seu coração.

Um sorriso tímido brotou nos lábios femininos, enquanto sua mão continuava no peito de Natsu. Tomou coragem e aproximou-se um pouco mais, até sua mão livre alcançar o rosto masculino e acariciar levemente, e com as palavras mais doces, murmurou:

— Você também é especial para mim, Natsu, de uma maneira que eu não sei explicar. Mas eu também o sinto, aqui, no meu coração.

— Eu entendo. Tem algo em você Lucy, que me fascina, que me atraí — sussurrou, chegando perto de seu pescoço — a sua voz, o seu cheiro. — Cheirou sua pele e soltou um som de prazer. — Eu poderia sentir o seu cheiro para sempre, Lucy!

Ela sorriu docemente, encabulada e satisfeita. Não era de todo mal Natsu ser inocente de vez em quando.