5 Sentidos

Capítulo 03: Visão

Juvia e Gray

Era sempre uma dádiva poder vê-lo. Seu coração palpitava fortemente e sentia suas bochechas esquentarem de forma descomunal. Juvia Lockster nunca perderia esse hábito, observar — stalkear — Gray era um dos seus hobbies favoritos e achava que nunca deixaria de sê-lo.

Mais uma vez estava o observando atrás de uma das pilastras da guilda. Gray brigava com Natsu mais uma vez naquele dia e Juvia estava ali torcendo por ele, quase secretamente se não estivesse segurando uma plaquinha em que estava escrito: Vai Gray-sama!

— Gray-sama é tão bonito brigando — murmurou para si mesma, com corações nos olhos vendo seu amado já sem as calças.

Na verdade, não importava de quantas maneiras Juvia o visse, ele sempre seria belo, másculo, atraente e sensual. Mordeu o lábio inferior e começou a ter devaneios pervertidos. Como seria a sensação de ter os lábios do mago de gelo nos seus? Suas mãos a envolvendo de forma possessiva enquanto seus lábios passavam por seu pescoço e...

— Juvia?

— “Kya!” — a maga gritou espantada por ter sido pega desprevenida. Era a pessoa que ela mais amava que tinha a chamado. — Gray-sama! — exclamou no meio de um suspiro, sentindo as bochechas arderem ainda mais.

— Nossa, você está muito vermelha! — comentou “inocentemente”, colocando a mão na testa dela. — Você está bem? Não parece estar com febre. Se bem que eu não sou bom pra ver essas coisas.

O Fullbuster começou a se aproximar consideravelmente do rosto da jovem que simplesmente não acreditava naquilo. Ele iria beijá-la? O sonho dela estava finalmente sendo realizado?

— Gray-sa-sama — gaguejou totalmente desconcertada. Ela fechou os olhos com força, até sentir a testa dele encostar na sua e a respiração dele bater em seu rosto.

Ela abriu os olhos e se deparou com o par de olhos negros a encarando com seriedade. Preto e azul. Azul e preto. Momentaneamente, Gray se esqueceu do porquê estava fazendo aquilo e deixou-se perder nos olhos de Juvia.

Ainda não tinha reparado, mas a maga da água tinha belos, profundos e escuros olhos azuis. Sorriu matreiro e apreciou aquela visão por um instante.

— Assim também não dá pra ver se está com febre — Gray murmurou sem se afastar.

Nessa hora, Juvia já estava completamente “em chamas”.

— O-o-o-que-quê... — Juvia tentou formular alguma coisa, mas era demais para seu coração. Gray estava perto demais, era demais para ela.

E desmaiou.

O moreno a segurou antes que fosse ao chão. Olhou para os lados para ver se alguém tinha presenciado a cena, mas todos pareciam alheios aos dois. Deixou um sorriso escapar enquanto a segurava.

Alguns hábitos nunca mudavam.

E aquele hábito que ele possuía de querer vê-la sempre que estava distraída, nunca mudaria. Afinal, por que não apreciar uma bela visão?

J&G

Gray andava de um lado para o outro na sala de sua humilde residência. Quanto tempo levaria até Juvia acordar? Já fazia duas horas que ela estava desmaiada e até aquele momento não dera nenhum sinal que acordaria. De certa forma, ficava feliz com isso. Porque sabia que isso era um efeito que apenas ele causava nela e que apenas ele continuaria causando.

Porém, isso também era um problema. Se ela desmaiava apenas quando ele chegava perto, imagina se ele a beijasse ou a tocasse de outra forma? Ela morreria!

Já fazia algum tempo que Gray estava pensando em como admitiria os sentimentos que pulsavam dentro de si em relação à maga da água. Tinha imensas dificuldades em mostrar o que realmente sentia e que se importava, e que não era simplesmente um cara egoísta que não tinha sentimentos.

Achava que aquele era o momento. Ele tinha a carregado até sua casa para poder conversar com ela, mas não pensou muito no que diria até aquele momento. Estava nervoso, mas um nervoso bom. Uma ansiedade crescendo dentro dele enquanto imaginava como ela reagiria, o que aconteceria depois. E essa sensação, por mais que fosse esquisita, era melhor do que o ciúme que sentia cada vez que Lyon se aproximava de Juvia.

O mago tinha vontade de arrastar a cara do irmão no chão e fingir que ele era um skate. Depois da ultima vez em que se encontraram, decidiu que não deixaria essa situação se demorar por mais tempo, Juvia seria apenas dele, oficialmente!

Ele parou de andar de um lado para o outro quando viu Juvia se mexer no sofá e soltar um suspiro. Talvez fosse a hora de Gray tentar acordá-la. O rapaz se agachou próximo a ela e a balançou suavemente tentando acordá-la.

— Juvia... Acorde. Juvia... — murmurou, chegando mais perto do rosto da maga.

Juvia estava se sentindo tão bem, não queria acordar nunca. Estava deitada em algo muito confortável e cheiroso, tinha o cheiro do seu Gray-sama. Além disso, estava tendo um sonho tão bom, em que Gray a beijava com paixão e dizia que a amava e que teriam trinta filhos. Sentiu alguém a balançando e resmungou para que a pessoa a deixasse em paz. Depois de um tempo, acabou sendo vencida e abriu os olhos.

Inicialmente, a maga levou um susto e tentou se levantar achando que estava alucinando. Novamente, Gray estava perto demais! Quando ela tentou ficar em pé novamente, o mago a segurou pelos ombros e a manteve sentada no sofá, deslizou para o lado dela, fez isso tudo sem deixar de encará-la.

“Perto demais, perto demais. A Juvia vai desmaiar de novo”, Juvia pensava eufórica, sentindo seu coração bater muito forte, suas mãos suarem, as pernas ficarem moles e algumas gotas de suor descer por seu pescoço.

Estava nervosa demais. Gray nunca chegava tão perto dela, não estava acostumada.

— Não desmaie — Gray pediu com a voz rouca atraindo a atenção dela quase imediatamente, fazendo-a se esforçar para se manter lúcida e não desmaiar novamente. Ela apenas assentiu sem deixar de fitá-lo.

Os dois ficaram se encarando por um tempo que parecia infinito. O mago tomou a iniciativa e se aproximou ainda mais dela, colocando uma das mãos em seu rosto e a outra na cintura delgada. De repente, todo o nervosismo que ele estava sentindo inicialmente sumiu e ele sabia exatamente o que fazer, como fazer.

— Venha aqui — praticamente ordenou com a voz grave e sensual, estava possuído por uma força quase selvagem. Juvia tombou a cabeça para o lado confusa, não acreditando no que ele dizia. Eles já não estavam perto demais? Como assim ele queria que ela fosse até ele? Só se fosse... Ele sorriu mostrando seus caninos, aquele sorriso único que apenas Gray possuía e deslizou a mão para a nuca da maga e seus dedos longos entraram no emaranhando dos seus cabelos azuis. — Isso mesmo, Juvia.

Naquele momento, Juvia teve vontade de rir, mas não o fez. Com certeza aquele era mais um dos seus sonhos pervertidos, aquilo não aconteceria de verdade nem em mil anos! A maga passou a língua nos lábios os umedecendo, sua garganta estava seca e por isso engoliu em seco. Seus olhos cor de safira brilhando de forma felina e Gray não perdeu nenhum desses detalhes.

Puxou-a para cima de si de forma rápida e brusca, o que fez com que ela se assustasse um pouco. Suas pernas torneadas estavam em volta de seu quadril másculo. Ao mesmo tempo em que Juvia estava assustada por aquela atitude de Gray, estava sentindo-se excitada, molhada.

Céus, o que era aquilo? Era real demais para ser um sonho!

— Não é um sonho — Gray murmurou como se tivesse lido a mente dela, puxando a cabeça dela suavemente para trás para cheirar-lhe o pescoço alvo. — Não é mais um sonho — sussurrou e voltou a encará-la, enquanto seus dedos continuavam a deslizar pelos cabelos azuis e lisos da maga.

— Então faça Juvia acreditar que não é — sussurrou de volta baixinho, de forma quase sensual.

Era a primeira vez que ela falava durante todo aquele tempo, e por isso sua voz saiu arrastada.

Ele sorriu, sentiu-se como se tivesse sido desafiado. Sem deixar de segurá-la em seus braços, murmurou:

— Você não vai desmaiar?

— Juvia não vai — ela afirmou com convicção.

Tinha certeza que não iria. Sua pele formigava e por mais que seu coração estivesse batendo mais rápido do que deveria, sabia que não desmaiaria. Tinha esperando tanto tempo por aquele momento, tinha sonhado tantas vezes como seria a sensação de quando ele a tocasse, e ela sabia que nada poderia ser melhor que aquilo.

Gray puxou o corpo de Juvia para mais perto ainda, fazendo com que seus corpos ficassem praticamente grudados um no outro. No início, foi apenas um roçar de lábios, lento e tortuosamente delicioso. Juvia teve vontade de gemer, mas segurou. Em seguida, os lábios dele capturaram os dela de forma voraz.

Não foi um beijo calmo e pacífico como ela tinha imagino que seria.

Foi muito melhor.

Era intenso, voraz, sensual. Os lábios de ambos explorando o desconhecido. Naquele momento, Juvia percebeu que aquela era a forma dele dizer que a correspondia, que também a amava. No fundo, sempre soube disso, mas tinha medo. Quando os dois se separaram, os olhos da maga ainda brilhavam sedentos por mais beijos, sua respiração ofegante e a coloração vermelha em suas bochechas, denunciava sua excitação.

— Essa é a minha forma de dizer que eu também te amo — Gray disse em voz baixa. — Desculpe por te fazer esperar tanto, desculpe por fingir não te enxergar — murmurou enquanto roçava seu nariz na pele suave dos ombros descobertos da maga. — Eu amo você.

— Juvia também te ama, Gray-sama — declarou, sentindo-se a mulher mais feliz do mundo.

E enquanto eles se beijavam mais uma vez, Juvia pensou que valeu a pena todo aquele trabalho em observá-lo. E ela teve certeza, que a visão, era um dos bens mais precioso que ela possuía. Pois assim, apenas assim, poderia continuar vendo o seu agora, oficialmente, Gray-sama.

E claro, Gray poderia manter Lyon longe, mostrando para todos, que Juvia era apenas dele.