Fugindo De Um Erro escrita por Luana Brasil


Capítulo 5
Capítulo 5 - Doutor Lourdes K. abrigo




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Chegamos lá e um dos policiais me acompanhou até a sala da coordenação do Doutor Lourdes K. Abrigo. Entrei sozinha. Sentei-me um uma cadeira em frente à mesa onde se encontrava a coordenadora.

-Olá querida. Tudo bem com você?

Eu a olhei e disse:

-Eu preciso mesmo responder?

-... Não. Você vai ficar aqui até que seja resolvido o processo do seu irmão. E enquanto isso você vai ficar no quarto 483. Suas coisas já estão lá é só se acomodar garanto que logo você vai se adaptar.

Ela entregou-me a chave do quarto e o policial me guiou para o meu “quarto”.

-Aqui estamos -Ele declarou- quarto 483. Eu sentei na cama, escorei meus cotovelos em minhas pernas e cobri o rosto com as mãos.

-Como vou viver minha vida aqui?... Eu tenho sonhos, eu tenho... Outra vida.

-Posso te dizer uma coisa mocinha?-Eu o olhei e fiz com um gesto de cabeça que sim - Não quero ser inconveniente nem nada, mas se você está aqui significa que o seu irmão não pode cuidar de você.

Lágrimas desciam pelo meu rosto.

-Não. Se eu estou aqui, a culpa é minha.

-Olha, não importa se a culpa é sua ou de quem seja. Você não precisa se preocupar. Pense apenas o que você quer fazer a partir do agora. Deixe o passado para trás. Deus vai iluminar o seu caminho, porque eu e Ele sabemos que você é uma boa garota. - o olhei e ele sorriu para mim- Espero que você volte para o seu irmão.

Ele sorriu de novo e saiu. Eu juntei minhas mãos e fiz uma oração pedindo perdão a Deus por tudo de errado que eu havia feito. Quando terminei olhei para frente e pude ver o banheiro, mas uma coisa me chamou mais a atenção: um espelho. Como fazia já algum tempo que eu não me olhava no espelho fui ate o banheiro. Ao chegar lá olhei bem no fundo do reflexo de meus olhos e não havia nada que eu pudesse ver. Nada além de um erro olhando de volta para mim. ²

 Deitei na cama e com uma lágrima no rosto e tentei dormir para tentar esquecer uma dor que eu sentia há muito tempo.

Ao acordar ouvi um recado eu saia da caixa de som que havia encima da porta do meu quarto:

-“Todos os abrigados estão liberados para irem até o pátio. Obrigada”

Eu que agradeço.

Como eu não tinha nada melhor para fazer fui até o pátio.

_______________

² Trecho adaptado de P5shing me A*wy por Linkin Park

O pátio era uma área grande, com um caminho feito de cimento e sua maior parte era composta por um gramado, algumas árvores e pouco mais de cinco bancos. Sentei-me em um desses bancos e comecei a observar os outros abrigados e procurei algum com o qual eu pudesse fazer amizade. Observei que havia uma garota sentada no gramado e com as costas escoradas em uma árvore.

Ela possuía olhos verdes, pele clarinha e cabelos pretos. Quando levantei para conversar com ela, três garotas apareceram e começaram a atazanar-la.

-O que você ta fazendo?- Ela continuava na mesma posição que estava antes e nem sequer olhava para as outras garotas.

-Ela te fez uma pergunta sua infeliz!- A outra gritou.

Percebendo que ela não ia responder a terceira garota chutou a perna da que ainda estava sentada e gritou:

-Responde!

Eu não pude ver aquilo calada. Levantei-me e disse alto:

-Quem vocês pensam que são para tratar ela assim?

Elas viraram-se para mim e a que parecia ser a “líder” disse:

-Olha meninas... Não é a novata?-Ela dizia num tom falsamente amigável e mudou para o tom agressivo. - E você quem você pensa que é?

-Ei Ginger- Uma das garotas que estava ao lado de Ginger disse- Ela não é a garota que o irmão corre o risco de perder a guarda dela? Aquela que os pais e os avos morreram?

-É ela mesma. - Ginger confirmou- Eles devem ter morrido de desgosto. Quem iria querer uma garota dessas na família?

-Aposto que o irmão dela deve tá doido para que ela fique por aqui até completar dezoito anos.

Essas palavras estavam fazendo com que eu tivesse a sensação que o meu rosto estivesse vermelho de raiva.

-Desista novata. Você nunca vai ser alguém. Sabe por quê? Porque os seus pais não eram ninguém!

Eu dei um soco no rosto de Ginger fazendo-a cair e gritei:

-Você não é ninguém! Você não tem direito nenhum de falar assim da minha família!

Ela levantou-se, segurou-me pela gola da minha blusa e nós começamos a brigar. Eu estava dominando-a, mas as duas amigas dela vieram e puxaram-me para o chão. Não tive tempo de reagir e Ginger colocou um dos pés sobre a minha barriga e pressionou com força.

-Agora você vai aprender.

Alguém pulou sobre a Ginger e derrubou-a, mas quem a derrubou não caiu.

-Não! Quem vai aprender é você!- Era a garota que estava escorada na árvore- Eu estou cansada de ver você me atazanar e atazanar as outras pessoas aqui que você considera mais fracas que você. Mas eu não vou sofrer calada e digo mais: se você mexer comigo, com ela- A garota apontou para mim- Ou com qualquer outro aqui a cobra vai fumar pro seu lado.

Os abrigados que viam a confusão comemoram a declaração de uma garota que todos achavam que não podia enfrentar ninguém.

-O que está acontecendo aqui?- A coordenadora perguntou- Vocês três – ela disse a Ginger e suas amigas- para a minha sala agora.

A garota saiu do pátio depois disso. Eu estava cheia de marcas vermelhas da briga.

-Você está bem?- A coordenadora perguntou-me.

-Já estive melhor.

Eu voltei ao meu quarto e fui tomar um banho.

Mais tarde um pouco fui a uma sala que tinha alguns instrumentos musicais, mas um chamou a minha atenção: um piano. Minha mãe havia me ensinado um pouco sobre o piano e eu descobri o resto sozinha. Depois que ela morreu o nosso piano fica lá em casa juntando pó, pois nem eu nem o Rick tínhamos vontade de abri-lo e relembrar os momentos que Ângela, nossa mãe, nos ensinava a manusear aquele lindo instrumento. Isso muito nos doía.

“Será que ainda sei tocar isso?” pensei.

Sentei-me no banco do piano e toquei uma música que não ouvia há tempos: a nona sinfonia de Betholven, e até que eu toquei bem.

A garota que eu havia defendido mais cedo apareceu e disse colocando as mãos no piano:

-Você toca muito bem- Ela sentou-se ao meu lado – Muito obrigada pelo que você fez. Ninguém nunca se importou comigo.

-Que nada. Eu que tenho que agradecer. Se você não tivesse empurrado aquela garota não sei com meu rosto estaria agora. Muito obrigada.

-Que isso. Não foi nada.

Nós saímos da sala de instrumentos e seguimos conversando no corredor.

-Eu sou Lindsay. E você?

-Megan. Onde é o seu quarto?

-Eu durmo sozinha no 479.

-No meu quarto tem uma cama sobrando. Se você quiser se mudar para lá. Esteja à vontade. Meu quarto é o 483.

-Claro que quero.

-“Caros abrigados”- Uma caixa de som transmitia a mensagem da coordenadora- “amanhã a tarde todos vocês irão ao central park. Sairemos às 02h15min. Obrigada.”

-Graças a Deus!- Lindsay comemorou.

-O que foi? É só uma visita ao central park.

-Você não entende. Nós só vamos ao central park a cada três meses. Estou feliz que já seja amanhã. Bom, eu vou recolher as minhas coisas e te encontro no seu quarto.

Fui ao meu quarto e a Lindsay não demorou a aparecer com suas coisas. À noite, antes de dormir conversamos bastante e descobri que ela estava no abrigo porque quando ela tinha dois anos sua mãe a abandonou e o pai dela possuía epilepsia generalizada ³,  e uma vez ao abusar muito da bebida e  privar-se do sono por duas noites teve um ataque tão forte que seu cérebro parou. E depois disso ela foi obrigada a permanecer no abrigo até os seus dezoito anos ou até uma família a adotar. Senti muita pena dela, pois, apesar de tudo, era uma menina pacífica e simpática.

Nesse dia dormi com um sorriso no rosto, pois sabia que tinha encontrado uma amiga.

_________________________

³A epilepsia é uma doença nervosa com manifestações rápidas, ocasionais e súbitas, principalmente distúrbios da consciência. A epilepsia generalizada é aquela que atinge os dois hemisférios do cérebro humano.  E preciso lembrar que a morte do personagem causada por essa doença não possui fundamento científico.


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