Fugindo De Um Erro escrita por Luana Brasil


Capítulo 4
Capítulo 4 - Na Minford Place




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No outro dia eu, por incrível que pareça, acordei na mesma posição em que eu dormi e então me levantei conseqüentemente fazendo o Vincent acordar também, me sentei e disse:

-Bom dia, e agora o que fazemos?

Vincent colocou as mãos atrás da cabeça e ainda escorado no muro disse com um sorriso sarcástico no rosto:

-Andamos mais.

Eu lhe dei um tapa de leve na perna levantei e disse espreguiçando-me :

-Então vamos andar mais. Onde estamos?

Estendi minhas mãos para ajudá-lo a se levantar.Ele olhou fora do beco e disse:

-Estamos na Minford Place.

-Estamos perto!Mas espera ai... Cadê o seu tio?

-Não sei... Meu Deus, vamos logo porque tem dois policiais ali... Não olha pra traz.

Nós andamos uns dois quarteirões e eu estava na frente vendo uma vitrine, pensando a onde o Tony tinha se metido, enquanto o Vincent olhava uma banca de revistas mais atrás de mim.  De repente um cara apareceu e disse:

-Bom dia gata o que trás você a esse fim de mundo?-Eu fiz de conta que não era comigo

- Vem aqui você mexeu comigo.

Ele tentou me agarrar e eu comecei a gritar e quando Vincent viu veio me ajudar. Ele veio com tudo e deu um soco tão forte no garoto que o fez cair. Em seguida ele entrou na minha frente para me proteger. Quando o cara se levantou ele assobiou e mais dois caras apareceram. Um me segurou por trás pelos braços e os outros ficaram batendo no Vincent. Comecei a chorar, pois o cara me machucava e eu não podia fazer nada para ajudar o Vincent. Então o dono da banca apareceu e gritou com um taco de baseball na mão:

-Ei vocês, seus marginais- Todos nós olhamos para ele- Soltem essa garota e não encostem mais um dedo nesse rapaz ou chamo a policia.

O cara que estava me segurando me jogou no chão e os outros dois soltaram o Vincent, mas tinham batido tanto nele que quando o soltou ele caiu no chão. Engatinhei rapidamente para me aproximar dele e disse:

-Você está bem?

-Agora que você está... - Ele suspirou de dor- Estou!

Eu lhe dei um beijo na bochecha e disse:

-Muito obrigada Vincent.

Virei-me e vi que o homem da banca estava em pé próximo de nos dois e disse:

-Muito obrigada se não fosse você não sei o que seria de nós.

-Por nada sou o Peter, mas pode me chamar de Pânico.

-Eu sou Megan, nós temos que tirar ele daqui.

-Tudo bem. Segura pelas pernas que eu seguro pelo ombro, vamos escorar ele na parede.

Pegamos ele e o encostamos na parede de uma loja que ficava em frente à banca. Vincent estava todo dolorido e teve o lábio cortado por sua queda, sentei-me ao lado dele,  e ele encostou a cabeça no meu ombro e Pânico disse:

-Eu não sei para onde vocês querem ir, mas sei que se forem agora ele pode não agüentar. Vocês podem passar a noite na minha casa se quiserem e amanhã, se ele estiver melhor eu levo vocês a onde precisam ir.

-Mas e o tio dele... Ele vai ficar louco da vida se não nos encontrar.

-Quem é o tio dele?

-Tony Marverick.

-Ele é sobrinho do Tony? Então não tem problema... Assim que chegarmos em minha casa eu telefono para ele e aviso que vocês estão comigo.

Naquele dia ele fechou a banca mais cedo e nos levou para sua casa que era atravessando a rua.

 Ao chegarmos lá deitamos o Vincent no sofá da sala. Eu sentei no chão perto dele. Ele cruzou o braço dele com o meu e segurou minha mão. Eu sentia a forte pulsação do Vincent e ouvia sua respiração ofegante até que de repente ele parou. Eu me assustei, mas me acalmei quando vi que ele estava apenas dormindo, então vagarosamente soltei a mão dele, me levantei e sentei-me à mesa com o Pânico.

- O que houve Megan?- Ele me perguntou

-Eu e o Vincent estamos fugindo de uns assistentes e pra melhorar eles são tão ruins nisso que pediram apoio d policia para me achar.

-Por quê?

-Porque queriam me tirar do meu irmão ai eu fugi e durante a minha “fuga” eu conheci ele.

Pânico olhou para o Vincent e olhou para mim.

-Será que ele morreu?

-Não- Eu respondi rindo- Só está dormindo. Posso te perguntar uma coisa?

-Claro.

-Por que seu apelido é Pânico?

Ele riu.

-É porque eu tenho a síndrome do pânico, mas o meu tipo é leve então raramente eu tenho ataques. Aí esse apelido pegou.

-O que houve para você desenvolver a síndrome?

Ele sorriu e continuou:

-É uma longa história, que eu te conto em outra oportunidade. Já é tarde você precisa dormir.

Eu arrumei um colchão e depois de forrá-lo eu o coloquei no chão do lado do sofá onde o Vincent estava. Deitei-me e em questão de segundos, adormeci.

No meio da noite eu acordei de repente e continuei deitada olhando para o teto esperando o sono voltar. Eu ouvi o barulho do Vincent inclinando a cabeça para fora do sofá e então eu ouvi:

-Megan... Você “tá” acordada?

-Não seu bobo eu durmo de olho aberto mesmo.- Ele riu- o que foi?

-Nada a minha barriga ta doendo ai eu acordei.

Eu estava uns 60 cm abaixo dele.  Sentei-me perto dele e disse segurando sua mão:

-Você “tá” sentindo muita dor?

-Eu vou ficar bem.

-Vincent você hoje levou a maior surra daqueles covardes. Não é possível que você não esteja sentindo nada. Deixe-me ver sua barriga.

Ele levantou a blusa, ainda deitado, e então pude ver marcas vermelhas e uma roxa.

Minha mãe havia me ensinado uma técnica quando o Rick tinha brigado na escola. Era o seguinte: Você mergulha uma toalha em água não muito quente e coloca onde está avermelhado ou roxo.

Fui até a cozinha com a fronha do meu travesseiro e fervi a água. Mergulhei a fronha na panela e torci bem. Voltei até a sala de estar, onde o Vincent se encontrava. Ele ao ver-me com a fronha em mãos perguntou:

-Vai doer?

-Não seu medroso. - Disse rindo.

 Ajoelhei-me e comecei a pressionar, cuidadosamente, a fronha onde estava avermelhado, ou roxo, no Vincent. Ele me encarava, mas eu não o olhava.

-Você sabe por que eu te puxei para dentro do beco?

O olhei e continuei o que estava fazendo antes.

- Não faço a mínima idéia, mas você não ficou com medo de eu ser uma louca fugindo de assistentes sociais?

-Não sabe por quê?- Eu o encarei com um sorriso de leve no rosto- Porque eu vi nos seus olhos o medo que você sentia-Ele disse acariciando meu rosto- E uma louca não sente medo. Mas hein- Ele recuou a mão- Você sabe por que eu te puxei pro beco?- Eu o encarei esperando e resposta- Por que eu me apaixonei por você.

Eu o olhei e ele aproximou o rosto do meu querendo dar-me um beijo. Eu fechei os olhos para receber-lo, mas ele afastou o rosto com uma expressão de dor.

-Ai! Ta quente.

Eu me assustei e tirei a toalha de cima do machucado dele.

-Melhorou?

-Sim... - Ele disse ajeitando a camisa e se cobrindo- Acho que já posso dormir.

-Então tá. Qualquer coisa que você precisar pode me chamar. Qualquer coisa mesmo.

-Pode deixar- Ele disse sorrindo.

Não sei por quanto tempo o Vincent ficou acordado, mas sei que foi eu encostar a cabeça no travesseiro para eu voltar a dormir.

No outro dia eu, Vincent, Pânico e Tony estávamos sentados na mesa conversando.

-Nossa eu nem sei como te agradecer Pânico por cuidar de meu sobrinho e da Megan por mim. Você ta melhor Vincent?

-“To” tio. Megan cuidou de mim. -Vincent disse me olhando com um sorriso.

Estava tudo calmo até que começaram a bater violentamente na porta.

-Abra!- Alguém gritou- É a polícia!

Eu e o Vincent levantamos num pulo e eu disse:

-E agora?

-Vão pelos fundos- Pânico disse tenso- Eu lhes dou cobertura.

-Vai ficar tudo bem?- Tony perguntou.

-Não se preocupe. Andem rápido porque se eu não abrir eles vão arrombar.

Saímos pelos fundos e demos sorte de ninguém nos ver. Nós três andávamos em passos rápidos com medo que eles descessem e nos vissem.

Algum tempo depois nós já estávamos andando mais devagar e todos estavam calados, até que Vincent quebrou esse silêncio perturbador:

-Será que está tudo bem com o Pânico?

-Espero que sim. - Tony disse em um tom preocupado. 

Nós viramos na próxima esquina e quando eu voltei meus olhos para frente vi algo que me fez ficar paralisada com um imenso sorriso no rosto e uma lágrima de felicidade.

-O que houve Meg?- O Vincent me perguntou sem entender o motivo de tanta alegria.

-Conseguimos!- Eu dei um abraço forte e rápido nele- Olha o meu irmão lá! Ele e os amigos dele!

Eu comecei a correr e gritar o nome do meu irmão. Ele estava sentado na beira da calçada e ao ouvir seu nome levantou e forçou um pouco a visão para poder ver quem o chamava e ao ver-me ele correu em minha direção. Eu o abracei com toda a minha força. Ele me soltou e Duncan, um dos melhores amigos de meu irmão colocou o braço sobre meus ombros e disse:

-Maninha como você conseguiu voltar?

-Eu pulei do carro daqueles assistentes e sai correndo.

-Ai meu Deus!- Evelin veio correndo em minha direção me abraçou e disse:- Ai garota eu vou te matar! Como você faz uma coisa dessas? Pula do carro você quase nos matou do coração.

-“Nos”?- Eu perguntei.

-É Megan- Desmond, um outro amigo do meu irmão, disse- Todos nós ficamos aqui morrendo de preocupação. Alguém te ajudou a voltar?

-Sim. O Vincent e o tio dele.

-Quem é Vincent?

- Sou eu- Vincent apareceu na companhia de seu tio.

-E você?- Desmond perguntou referindo-se ao tio do Vincent.

-Eu sou Tony, tio do Vincent.

Rick veio e deu um abraço no Vincent e cumprimentou Tony, como de costume, e disse:

-Cara você não tem noção do tanto que eu sou grato a vocês dois por terem cuidado da minha irmã.

-Ah... não foi nada.

-Parados a onde estão!- Um grito vindo de uma voz grossa ecoou pela rua de minha casa. Era um policial que havia me descoberto, não sei como.

Olhava assustada aqueles dois policias. Tentei correr, mas ao meu primeiro passo um deles me segurou de forma a impedir-me de ter qualquer reação. Vincent tentou me ajudar, mas seu tio colocou a mão no ombro dele como se o mandasse parar. Colocaram-me no carro, eu o olhei e disse com os olhos cheios d’água:

-Me desculpe.

-Não se preocupe Megan, nós vamos ficar bem.

Os policias entraram no carro e um deles disse pelo rádio:

-Estamos com a garota e levando-a para o Doutor Lourdes K. Abrigo em Bed-stuy.

Eu estava encolhida no meu canto e a única coisa que eu pensava era: “Agora está tudo acabado. Eu tentei o máximo que pude, mas isso não tem a menor importância. Por que eu fui pichar aquele maldito muro? Por que fui deixar um trauma controlar minhas ações? Por que não posso fugir e esquecer todos esses problemas e toda essa dor? Por quê?”


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