Caixa Postal escrita por Evangeline


Capítulo 26
Capítulo 26- Si Deus Me Rilinquit


Notas iniciais do capítulo

Dedico a Mariza Pereira, por causa da linda recomendação. *O*
Peguei um pouco de cada ideia... e adicionei a minha. >///



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POV Davi ON





Nossos narizes encostaram as laterais, nossos lábios roçaram e sua respiração quente atingiu meu rosto. Seu cheiro me entorpecia, seu toque, seus cabelos, o ritmo de seu coração.


- Filho você já... Ouvi meu pai abrindo a porta corrediça da varanda e entrando sem avisar e eu a Juliana nos soltamos rapidamente. Ela se encostou no muro ao meu lado e vi seu corpo tremer um pouco enquanto um pequeno sorrisinho surgia ali entre os cachinhos. Meu pai ficou meio sem jeito e hesitava, refletia entre voltar para qualquer outro lugar da casa ou ficar e pedir desculpas pela maravilhosa interrupção.


- O que foi pai...¿ - Perguntei falando baixo e sentindo meu rosto corar.


- Você já jantou, filho¿ - Ele perguntou. Eu não acredito que meu pai me interrompeu para perguntar se eu havia jantado. Mordi um pouco forte fazendo a mandíbula machucar um pouco, mas soltei e abri um sorriso falso.


- Não pai, depois eu faço o jantar. Falei me controlando para não gritar. Ele sussurrou um tudo bem e saiu, piorando ainda mais a situação, afinal, tudo o que sobrou foi um clima tenso.


Eu suspirei fechando os olhos e apoiei os braços no murinho da varanda, abaixando a cabeça. Ela estava segurando o muro e olhando para o seu próprio prédio.


- Acho que vou pra casa... Ela falou e eu assenti com a cabeça. Acompanhei-a até a porta do prédio dela e me despedi. Depois da maravilhosa intromissão do meu pai o clima ficou bastante tenso entre nós... De Novo. O que há aqui¿ Nossos pais combinaram de estar sempre lá para atrapalhar o momento¿


Fui para a cozinha preparar o jantar, comi e deixei o prato do meu pai no micro-ondas.


- Pai, tá pronto. Falei perto da porta dele e entrei no meu quarto.


Enfiei a cara no travesseiro sem sequer me dar ao trabalho de acender a lâmpada. Num salto engatinhei até o pé da cama e me estiquei para olhar pela janela, e encontrei seu quarto apagado. Logo me deitei novamente e dormi. Sonhando mais uma cansativa e maravilhosa vez com ela.





POV Juliana ON





Meu pai veio me perguntar onde eu estava... Realmente, é ótimo que Lotte e Chris estejam mais íntimas, só precisei falar que estava estudando com elas. Me passou a mente que eu podia ter contado que estava na casa do Davi... Não teria nada de errado, já sou grandinha. Mas... acho que não estou preparada para enfrentar meu pai quanto a isso. E nem sei se eu teria o que dizer. Pai, eu quase beijei o garoto que eu acho que estou apaixonada na varanda da casa dele que é de frente para e minha. Ainda se fosse algo como Pai, este é o meu namorado.... O que eu estou dizendo, eu nunca disse que queria namorar com o Davi. Não não, eu nunca disse, eu não sei se gosto dele, eu apenas... Gosto. É, eu sou uma completa idiota.


Tomei um banho demorado e fui dormir. Claro que eu devia ter ido estudar... mas eu soube que não conseguiria me concentrar.





No dia seguinte, estavam todos nas salas fazendo a prova e esperando ansiosos pelo toque da liberdade. Era o último dia de aula. Eu estava escondendo um sorriso de canto e batendo a borracha na mesa sem fazer barulho enquanto mordia o lábio.


O toque veio e logo a escola estava um caos. Troca de números, troca de facebook, planos de férias...


- ALELUIA! Gritou a Chris me abraçando. Logo a Lotte se aproximou com um sorriso que ia de um canto ao outro do rosto.


- Tenho uma surpresa... Falou a Lotte misteriosa como sempre. Ela nos puxou para a Ultima mesa onde não tinha ninguém. É o seguinte, meu pai me deixou chamar minhas amigas para uma casa que temos perto da Lagoa. Ela falou e logo eu e a Chris abrimos um sorriso gigante.


- Quando¿ Meu pai vai querer todos os números possíveis. Eu falei brincando, mas não totalmente.


- E eu preciso saber sobre onde é o hospital mais próximo, minha mãe é doida! Disse a Chris e todas rimos. Logo o carro do pai da Lotte chegou, e a Chris pegou uma carona. Quando eu me afastei um pouco das pessoas da escola, meu celular tocou e eu atendi apressada, sabe-se lá Deus porquê.


- Oi! Sou eu! Falou o Bruno do outro lado da linha. Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar.


- Eu sei. Falei e ri um pouco. Tudo bem¿


- Na verdade não, perdi meu anjo. Faz quase um mês que não a vejo. Ele falou vagamente me fazendo corar. Eu me sentei no chão e apoiei as costas no muro do ginásio.


- Ah é¿ Hm, tadinho de você. Falei um pouco cínica.


- Pois é... Então Anjo, quer ir para algum lugar agora que está de férias¿ - Perguntou.


- Oh, seu stalker, como sabe que estou de férias¿


- Tenho meus contatos. - Ele falou querendo fazer mistério.


- Ah, eu mato o Lucas. Falei como se fosse uma ameaça de verdade.


- Não fuja da questão. Ele brincou.


- Sim capitão. Dependerá do dia e da hora... Sabe, sou muito ocupada.


- Ah, eu sei que é uma anja bem compromissada. Tem algo para fazer agora¿ - Perguntou me pegando de surpresa. Eu olhei rápido para os lados até que vi o Davi saindo dos trocadores com uma mega mochila nas costas. Corri até ele e segurei seu braço com um sorriso frenético.


- Desculpa, é que o Davi me chamou para ir ao parque... Falei e olhei para o Davi que me olhou confuso e surpreso.


- Ah... Legal. Bem, e que tal amanhã¿ - Perguntou claramente meio irritado.


- Não sei, talvez eu durma na casa dele hoje. Falei fazendo uma careta para o Davi. Logo ele entendeu que eu queria me livrar da pessoa do outro lado da linha.


- Na Casa do Davi¿ - Ele se certificou de ter ouvido bem.


- Sim, a gente tava marcando a algum tempo. Falei como se não fosse nada.


- Hm, sei... Então a gente marca qualquer dia, estou com saudade. Ele falou com o típico tom de garoto pegador. Detesto isso.


- É, talvez tenha algum tempo na minha agenda. Falei como quem não quer nada. Eu e o Davi já estávamos a caminho de casa.


- Nossa... Enfim, tchau então Anjinha. Ele disse e desligou rápido. Eu guardei o celular e suspirei. Olhei para o Davi que segurava o riso e logo começamos a gargalhar.


- Então, parque é¿ - Ele perguntou brincando.


- Pensei que seria mais legal irmos para o salão de música do meu prédio. Eu falei e pisquei brincando. Ele tentou esconder um rosto corado e um sorrisinho. Chegamos ao prédio e fomos para a sala de música. Deixamos as mochilas por ali no chão e ele ficou olhando admirado para tudo ali dentro. Eu ri um pouco.


- Quero ver você tocar um piano de verdade. Falei séria vendo-o virar-se para mim. Ele então encarou o piano negro de cauda que havia ali e sentou-se diante do mesmo, com as mãos em cima das teclas, sem apertar nada. Logo ele me olhou com um largo sorriso, me fazendo rir de volta. Voltou-se para o piano e começou a tocar as notas, me fazendo fechar os olhos para admirar a melodia que seus dedos provocavam com o piano. [música: http://www.youtube.com/watch?v=Bh1ZimLQcsc]


Cada vez que eu ouvia-o tocar ou cantar, seja ao violão ou ao piano, parecia que ele me encantava cada vez mais. A música entrando, invadindo a minha mente era exatamente igual ao que ele havia feito comigo: Invadido a minha vida de modo tão encantador e irresistível. Com altos e baixos, momentos de tensão e de saudade, dias onde ele me ajudou, dias onde sorrimos juntos, momentos que nós estávamos quase nos beijando...


E agora mais momentos como aquele onde tudo ao meu redor parecer ser só uma infinidade de branco, desimportante, com ele e o piano no meio, nem me olhar, apenas se comunicando através daquela canção, daquela melodia.





POV Davi ON





Comecei a tocar aquela musica lentamente, acompanhando as notas que eu treinei por um longo tempo. Consegui tocá-la quase inteira fechando os olhos, o que me ajudava na concentração.


Eu toquei pensando na ruiva que estava ali, atrás de mim. Lembrando da primeira vez que vi seus olhos se abrirem, suas sardas enrubescerem, seus cachos serem levados pelo vento, seu corpo magro dançando pela janela do apartamento, as lágrimas escorrerem-lhe pelo rosto... Lembrando de como senti sua mão pousada em meu peito enquanto dormia serenamente, de como senti a sua mão segurar minha camisa com força enquanto nossos lábios levemente se encostaram, de como senti sua mão embaixo da minha quando fomos interrompidos, de como sentia sua mão segurar meu pescoço e meu cabelo... Ontem.


Minhas sobrancelhas se juntavam levemente quando as notas ficavam mais rápidas e complicadas, mas um breve sorriso se abria quando facilitavam e ficavam mais delicadas e agudas.


Quando terminei de tocar, estava com a respiração um pouco ofegante e um sorriso no rosto. Tocar em um piano era completamente diferente do meu tecladinho. O meu era como um brinquedo de criança. Fiquei encarando as teclas de mármore branco como se fossem de ouro.


Voltei-me para Juliana que estava com um sorriso de canto a canto. Eu amava ver aquele sorriso. Estar ali, depois de ter tocado uma música naquele piano de cauda de verdade, e ainda ver o sorriso de Juliana olhando para mim, com aquele brilho nos olhos. Talvez não pudesse ser melhor.


Eu tinha uma ideia do que poderia melhorar o momento, mas talvez eu não pudesse mesmo fazer aquilo, já que sempre acontece algo que interrompe. Pelo visto o Universo Controlador de Mundos mudou de ideia quanto a nós dois.


- Eu já te disse que você é incrível¿ - Ela disse sorrindo muito e me abraçando forte depois que me levantei. Eu sorri um pouco e corei, fazendo-a sorrir mais um pouco.


- Obrigado... Agradeci enquanto ela saía do salão pegando a mochila e eu fui atrás dela.


- Tá me agradecendo por você ser incrível¿ - Ela falou debochando e sorrindo um pouco enquanto abria o portão do prédio.


- Não, agradecendo por me deixar tocar num piano de verdade. Falei sorrindo de volta. Ela riu um pouco. Aonde vamos¿ - Perguntei.


- Ah sei lá. Estamos de férias né¿ Vamos só andar. Ela disse sorrindo. Do nada ela segurou meu braço e me olhou com um sorriso falso e estranho. Começou a rir do nada. Eu só levantei uma sobrancelha e ri um pouco. Logo eu vi uma figura exótica passando pela esquina com mais algumas do mesmo tipo. Gente de cabelos coloridos, roupas cheias de espinhos metal e pouco glíter e calças de couro, com algumas peças de roupa em cores neon. Reconheci o Bruno no meio delas, olhando para mim e para a Juliana. Ah, entendi. Eu não sei se devia ficar com raiva por ela me usar, mas eu estava feliz por ela querer afastá-lo.


Sorri de volta para ela e segurei sua mão. Uma garota segurando no braço de um garoto mais parece que ele é o amigo gay dela, mas de mãos dadas, o Bruno entenderia o recado. Quando segurei sua mão, entrelacei os dedos um por um. Eu vi seu falso sorriso enorme, diminuir se tornando um tímido sorriso verdadeiro. O que me fez sorrir também. Continuamos andando indo para qualquer lugar, até que o Bruno já não pudesse nos ver. Folguei a mão para ela soltar se quisesse, mas ela não soltou. Continuou conversando comigo normalmente.


Acabamos dando a volta por três quarteirões e nada mais, voltamos ao prédio dela e nos despedimos normalmente, como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos ficado de mãos dadas por mais de duas horas. Bem, pareceu ser algo natural, e eu não sabia se era algo ou ruim, afinal, eu não sabia se era normal porque ela é acostumada a dar as mãos a todo mundo ou se é normal porque ela me considera o suficiente para me dar a mão.


Mulheres...


Cheguei em casa e corri para o banheiro para tomar banho. Sempre que eu saia de perto dela sentia um calor estranho, um vazio quente, e mesmo depois do banho ele permanecia. Melhorava, mas permanecia. Era muito estranho, mas ao mesmo tempo bom.


Terminei o banho e sentei diante da mesa da sala com um conjunto de lápis do HB ao 9B, borracha de silicone, um bigode (pequena escova de varrer restos de borracha) e uma folha de A3 40kg (folha duas vezes maior que a A4, e de gramatura mais grossa e pesada). É, desde que comecei a desenhar de verdade, tenho dado mais valor aos meus desenhos e fiz questão de gastar meu dinheiro com lápis de verdade, folhas de verdade. Eu até comprei lápis sangue, lápis azule e carvão. Peguei o lápis sangue e comecei a fazer breves riscos, lembrando das feições de Juliana e tentando reproduzir o melhor possível.


Olhos grandes... um meio sorriso que sempre está lá... o queixo bem feito e a cachoeira ruiva caindo sob seu rosto, cobrindo um dos olhos. Fui fazendo rabiscos, rascunhos. Fiz seis versões de seu rosto numa mesma folha. [desenho: http://fc01.deviantart.net/fs71/i/2013/014/8/8/juliana_by_maruseria-d5rh5uj.jpg]


Logo meu pai chegou e eu guardei tudo rápido. O que eu menos queria era um coroa em cima de mim me olhando desenhar a Juliana. O lado bom, é que assim que entrei no meu quarto descobri a pose que eu ia desenhar a Juliana, pois foi como a vi pela janela...


Espero que ela goste.

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Notas finais do capítulo

Desculpa, eu não podia deixar que se beijassem. ><
Eu quero que seja muitíssimo romantico. Mas acho que o beijo vai rolar no próximo capítulo... XDDD



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