Caixa Postal escrita por Evangeline


Capítulo 23
Capítulo 23: Desabafo


Notas iniciais do capítulo

Acho que vou dedicar este capítulo todas as Davifãns. XD



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Senti a Juliana levantar a cabeça, como se olhasse para ele.
- Filha... – Ele murmurou e ela me puxou para seu quarto. Era completamente diferente do que parecia visto da minha janela.
Eu nem podia acreditar que estava vivo.
Chegando no quarto dela, ela caiu ajoelhada no chão, chorando muito com o rosto entre as mãos. Eu me abaixei diante dela aconchegando-a contra meu peito e alisando seu cabelo bagunçado e solto.
- Calma... calma... – Eu sussurrava. Eu não sabia o porque ela estava chorando, eu só sabia que devia consolá-la. Ela olhou nos meus olhos, com os dela marejados e tristes. Eu não suportava aquela expressão. – Posso saber o que aconteceu¿ - Perguntei baixinho.
Ela soluçava enquanto chorava.
- Por que ela foi embora¿ - Ela perguntou baixinho.
- Quem¿
- MINHA MÃE! – Ela gritou com a cabeça baixa, talvez por vergonha. Eu a fitei surpreso. – PORQUE EU SÓ TENHO PAI¿ PORQUE MINHA MÃE SUMIU¿ EU SEQUER SEI COMO É O ROSTO DELA! – Ela continuava gritando. Eu deixei ela desabafar.
- Eu... Eu só queria um abraço, sabe, daqueles bem carinhosos e que me trazem segurança... – Falou baixinho. – MAS NEM MEU PAI ME DÁ! – Gritou ainda de cabeça baixa. Engoli seco. Eu não fazia ideia de que ela não tinha mãe.
- O MEU ÚNICO FAMILIAR QUE ME DÁ CARINHO É MEU PRIMO! MEU PRIMO! – Ela gritou dando ênfase ao fato de o próprio pai não lhe dar carinho.
- EU NÃO TENHO, NADA. – Gritou embargada em lágrimas. – Desde sempre... – Sussurrou. – Eu via as garotinhas das escolas com suas pais no dia dos pais, e com suas mães no dia das mães, e só quem estava lá era o meu primo para me abraçar e me dizer que tudo vai melhorar. – Desabafou num tom normal de voz, mas ainda de cabeça abaixada.
- Porque eu tenho que passar por isso¿! A vida inteira! – Chris tem um álbum lindo com as fotos do aniversário de 15 anos dela. Nada caro, a família dela não tem dinheiro. – Falou normalmente, mas sendo interrompida com soluços constantes. – Fotos dela com a mãe de um lado, e o pai do outro. – Sussurrou a última parte. – Todos sorrindo, felizes por estarem juntos! – Falou um pouco mais alto.
- E-e-eu, eu não faço questão de uma festa. Mas se em algum dos meus aniversários eu tivesse ganhado um dia com meu pai, eu teria motivos para comemorar, mas ó quem estava lá era o meu primo, que comprava um pequeno bolo e uma vela, e comemorávamos juntos num banco de parque... – falou num tom médio de voz.
- Me diz porque tem que ser assim... – Ela sussurrou olhando para mim com aquele olhar novamente, estava com o rosto vermelho de tanto soluçar. Eu a abracei forte, e ela abraçou de volta.
- Não tem que ser assim. – Eu sussurrei. Talvez ela não ouvisse, mas eu podia ouvir baixos soluços do outro lado da porta.
- Juli... – Eu peguei seu queixo fazendo-a olhar para mim. – Eu sei como uma mãe faz falta, e como é ter um pai ausente. Mas naqueles momentos em que você vai dormir e seu pai entra em seu quarto tarde da noite, para te dar um beijo de boa noite, são os momentos em que eu lembro que nossos pais nos amam. – Eu falei baixinho.
- B-beijo de boa noite¿ - Ela perguntou ainda embargada em choro.
- Sim, desculpe se eu fiquei até tarde olhando pra cá. – Eu corei meio sem jeito fazendo-a rir um pouco.
- E-ele entra aqui¿ - Perguntou sorrindo um pouco e eu assenti.
- Eu acho que... eles nos amam, só não sabem expressar. – Falei.
O tempo passou, a noite caiu e eu e ela estávamos sentados um ao lado do outro encostados na parede. Contei a ela sobre meu pai na pescaria.
- Por mais que ele tentasse, não sabia sobre o que falar comigo, então me perguntou sobre a faculdade. – Eu falei realmente com um pouco de pena dele. Ela sorriu.
- O que houve com sua mãe¿ - Ela me perguntou curiosa. Eu suspirei soltando um “ah... isso...”.
- Eu morava com ela há alguns anos, mas ela é uma prostituta. – Sussurrei o final. Ela pareceu não me julgar, e apenas queria ouvir eu terminar. – Então encontraram ela tendo um caso com o diretor. – Eu falei e ela não conseguiu conter um riso. Eu não pude deixar de rir um pouco sem graça. – O que foi¿
- É que quando eu o conheci, eu sabia que ele era um tarado. – Ela disse e rimos um pouco juntos. Eu ainda via uma sombra impedindo a luz do corredor de entrar no quarto, mas preferi não falar a Juliana. – Espera, ele não tem uma filha¿ - Ela perguntou.
- Tem, é a Catarina. – Eu fiquei meio hesitante em falar dela. – Na época, ela me culpava muito pelo fim do casamento dos pais, mas no fundo eu e ela sabíamos que não tinha nada a ver conosco. – Falei.
- E em qual parte disso ela ficou afim de você¿ - Ela falou sorrindo um pouco e me fazendo corar.
 - Ahm... – Fiquei meio sem jeito. – Foi na parte que eu tinha conseguido deixar de gostar dela e a vi atrás da quadra chorando. – Eu não acreditava que estava contando isso a ela. Eu não acreditava que tinha contado tudo a ela.
- Então... – Ela me incentivou.
- Então nós ficamos e ela me falou naquele dia que ela gostava de mim. – Eu falei dando ênfase ao “naquele dia”. Ela acenou positivamente com um meio sorriso, entendendo que o “naquele dia” era no dia em que ela me beijou na frente da escola inteira.
- E você gosta dela¿ - Ela perguntou me fazendo ter uma crise de tosse. Pude ver que ela tinha o olhar distante.
- Não, meu deus. Espero nunca mais me apaixonar por ela. – Eu falei me recuperando e fazendo-a rir um pouco.
Quando ela ria, os cabelos saiam de seu lugar atrás das orelhas dela. Parecia uma cachoeira ruiva escondendo as sardas mais lindas do mundo. Coloquei alguns cachos de volta atrás de sua orelha e ela corou. Pela primeira vez eu a vi corar. Estava linda.
O quarto estava apagado, a luz que entrava era pela janela e pelo vão embaixo da porta.

POV Juliana ON

Eu não podia acreditar que ele tinha uma situação tão parecida com a minha. Eu não podia acreditar que ele tinha corrido aqui, na frente do meu pai, e estava trancado comigo por horas.
Ficamos calados, e eu ainda não conseguia olhá-lo nos olhos quando ele arrumou meus cabelos.
Só ali eu percebi como estávamos próximos. Ele estava apoiando o peso do corpo numa só mão, que estava atrás de mim. Estava com o corpo virado na minha direção, e eu sentada levemente inclinada para ele. Sua outra mão pendia apoiada no joelho que estava dobrado.
Tomei coragem de olhar seus olhos.
Ele estava com uma expressão séria no rosto, com os olhos parciais e intensos mais uma vez me perfurando e cavando até o fundo da minha mente. Senti meu rosto quente novamente. Por que ele fazia isso¿
Mesmo sentados ele era mais alto do que eu. Não havia brisa balançando cabelos. Não havia interrupções, nada que pudesse me impedir de fazer o que meu corpo a tanto tempo pede.
Mas eu precisava ter certeza, precisava de um sinal.

Até que eu ouvi. Começou a chover novamente. Eu senti um arrepio percorrer o meu corpo inteiro, quando percebi estávamos com os narizes ao lado um do outro, ambos com a cabeça um pouco inclinada.
Permaneci parada, eu não conseguia mover o meu corpo. Era como se eu tivesse entrado num tipo de transe.
Ele aproximava a cabeça da minha ainda mais, quase encostando nossos lábios, e depois afastava lentamente poucos milímetros, para voltar a chegar perto novamente, e fazia isso com movimentos muito lentos e suaves, quase macios.

POV Davi ON

Eu não sabia como... Eu não sabia como eu a tocaria. Eu podia nunca mais ter esta oportunidade. Ela parecia imóvel, e olhava para minha boca com o rosto vermelho.

Eu... queria beijá-la.

Levei a mão que estava apoiada no joelho para seu rosto lentamente. Senti a pele de seu rosto se arrepiar. Minha respiração já não estava ritmada. O som alto da chuva me fazia prestar atenção apenas nela. E em como eu estava prestes a finalmente beijá-la.
Foi quando percebi que ela estava esticando-se quase completamente para poder ficar com o rosto quase na altura do meu. Ela estava com uma mão no meio do caminho entre seu colo e o meu peito, e estava tremendo muito. Eu sorri um pouco com aquilo.
Até que ao acariciar seu rosto com as costas da mão eu finalmente encostei levemente nossos lábios.
Apenas encostei, e senti um choque percorrer meu corpo inteiro. Ainda acariciando seu rosto, levei a mão para sua nuca, adentrando seus fios cacheados.
Aquela mão que pendia, a dela, agora segurava com força minha camisa, apoiando-se.

POV Juliana ON
Me apoiando para não desmaiar.
Tudo nele me fazia ficar entorpecida. A voz, a respiração, o cheiro. E... Aquele toque.
Não estávamos nos beijando, apenas havíamos encostado os lábios, ambos entreabertos. Era muito estranho, ao mesmo tempo excitante.
Ambos tremíamos, era estranho. Eu nunca havia ficado daquele jeito. Era novo, e a tensão fazia parecer que era proibido e mais excitante ainda.
Quem éramos¿ Duas crianças no primeiro beijo¿


 Eu só queria...

Só queria tê-lo para mim. Seja tremendo, seja firme, seja dormindo, seja acordado, seja agora ou seja sempre. Eu queria que ele pudesse estar sempre ao meu lado, fazendo aquele tipo de loucura. Eu queria saber mais sobre ele. Conhecer seu sabor.
Segurei sua camisa com mais força, e ele puxou delicadamente minha nuca a muito arrepiada. Nossos lábios selaram um lento e intenso beijo.


“Toc toc toc.”

Puta.

Que.

Pariu.


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Notas finais do capítulo

Eu nem sou tão má assim. u-u