Caixa Postal escrita por Evangeline


Capítulo 22
Capítulo 22: Chuva problemática


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para a Sophia, por estar acompanhando minha fic. *O*
Eu to me controlando com o caps...



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POV Juliana ON

Foi muito duro conseguir negar todas as vezes que o Bruno me chamou pra fazer algo essa semana, mas pelo menos dessa vez eu não estava fingindo. Eu fiz um monte de coisas com a Charlotte e a Chris. Sabe, daqui para o final do ensino médio a Chris vai estar muito linda, e esses panacas que sempre ignoraram ela vão se arrepender do falam pelas costas dela. É, eu sou vingativa. *sorriso mental irônico*
Nós três decidimos que daqui para a conclusão da escola, estaríamos mais bonitas e saudáveis, como se isso fosse possível pra a Charlotte, mas vendo as fotos dela de um ano atrás, eu não duvido nada.
Nós estamos tentando diminuir e se possível parar de vez com refrigerantes, doces e frituras. Vamos começar a fazer dança ou alguma arte marcial. E o que não falta agora é hidratantes, esfoliantes e todas essas coisas de beleza que eu nunca soube passar na vida.
A Chris me ajudou, ela dormiu lá em casa na sexta.
Descobri que tem coisas que eu não posso passar perto dos olhos, outras que não podem tocar no meu cabelo, e ainda coisas mortíferas que só podem ser usada uma vez por semana. Ah... ser homem deve ser tão fácil.
O cara faz uma academia, lava o cabelo e bota perfume e já tá bom.
Mulher dá hidratação, sobe num salto, usa umas cintas terríveis, atola maquiagem na cara, faz academia, ioga, dança e o baralho a quatro e ainda não tá bom, ela precisa ir num cirurgião porque o nariz acordou meio milímetro pra esquerda hoje.
É ridículo. Mas eu concordei com isso pela Chris, para incentivá-la, e devo dizer que já está fazendo efeito. Ou não, mas é sempre bom ser otimista.
Eu não tenho nada o que reclamar de mim. Não que eu não pensasse em como a vida seria se eu fosse uma galega gostosona, mas depois levanto as mãos ao alto por ser essa ruiva magrela aqui. Se pensar bem, todo mundo que vê uma loira gostosona diz que ela é bonita, mas poucas pessoas veem a beleza numa linda garota delicada e de cabelos e olhos escuros como a Chris.
Eu acho que a Chris e a Charlotte estão me mudando um pouco.
Até que é bom imaginar que elas vão ficar comigo até o final, é uma sensação boa.

Eu sei que a pessoa que está lendo isso quer saber o que eu ando pensando sobre o Davi. Bem, ele não apareceu na janela esse fim de semana inteiro, então não tem nada de novo a falar sobre ele.
Eu sei que ele mexe comigo, mas eu continua achando que algo extremamente físico e que não gosto dele. Eu não tenho os “sintomas” sabe¿ Não sinto ciúme, saudade, nem aquela incrível vontade de abraça-lo quando ele dorme na banca... Acho que... Acho que falei besteira.
Mas enfim, abraçar é físico, eu só sinto uma atração por ele. Talvez seja pelo fato de eu ter ficado com um cara 5 vezes mais atraente e sexy do que ele, e tê-lo visto beijando uma Deusa egípcia viva que é a Anouk. Mas eu não tenho ciúmes. Deve ser porque ele é apenas doce e gentil e nunca dá em cima de mim, por mais que eu queira que ele dê porque quando eu vejo ele falando, só presto atenção nos lábios delineados se movimentando e imagino como seria se... Enfim, acho que deu para perceber que é só uma atração passageira.
Eu acho.
Eu estava com a janela aberta. As escrivaninha do meu quarto ficava do lado da janela, de modo que o Davi podia me ver sempre que eu estava ali, por isso eu nunca ficava lá. Mas como ele parecia não estar em casa, sentei diante da escrivaninha e comecei a desenhar meu personagem favorito de todo os livros que já li.
Olhei para o céu que estava num tom muito escuro de cinza. Um sorriso se abriu em meu rosto. Eu amo a chuva. Amo o modo como as nuvens ocultam o sol, e traz a água para a terra.
Respirei fundo aquele ar úmido. Continuei meu desenho cantarolando uma música em japonês. (Last Night, Good Night – Hatsune Miku)
De repente veio o esperado. Aquele som maravilhoso das pequenas gotas, que todas juntas formavam uma melodia maravilhosa aos meus ouvidos. O barulho era muito alto, mas era como música para mim. A Mais bonita e mais natural música.
Senti um arrepio percorrer meu corpo. A chuva sempre me deixava animada. Continuei a cantarolar como se conversasse com meu desenho que ia tomando forma aos poucos. Eu desenhava, cantava e sorria. Era um domingo perfeito.
O frio percorria cada centímetro da minha pele, fazendo meus pelo se eriçarem deliciosamente. Eu não conseguia parar de sorrir.
Não havia vento, portanto eu podia deixar a janela aberta e não molharia meu quarto. Peguei um lençol, mesmo sabendo que podia pegar um casaco, e sentei no parapeito me encolhendo embaixo do lençol, mesmo sabendo que minha cama seria mais quente. Olhava as gotas caindo, o céu cinza escuro. Fechei os olhos sentindo o frio em meu rosto.
Perfeição.
- O-ya-su-mi. – Cantei por fim com um sorriso no rosto e logo adormeci.
Não me lembro de ter sonhado com nada, apenas acordei no dia seguinte na cama do meu pai, onde ele já não estava.
Me apoiei nos cotovelos para levantar. Eu estava com a mesma roupa, e sentia uma dor muito forte na cabeça e nas costas.
- Mas que diabos... – Resmunguei baixinho e meu pai logo apareceu. Parecia não ter dormido.
- Juju, filha, está se sentindo bem¿ - Eu não pretendia dialogar com ele por muito tempo, mas acho que eu não podia adiar para sempre uma conversa com meu pai.
- Estou... com a cabeça doendo. – Falei por fim.
- Só isso¿ Tem certeza, me conte filha. – Ele falou sentando ao meu lado e medindo minha temperatura com a mão na testa.
- Minhas costas também... e estou meio tonta. – Eu falei. – Pai, o que houve¿ - Ele suspirou lentamente.
- Você dormiu no parapeito com a janela aberta, filha. Quando eu cheguei você estava lá, toda molhada e dormindo, e então caiu no chão. – Ele falou e eu arqueei a sobrancelha.
Ele então me deu uma bronca por eu ser tão descuidada. Fiquei pasma com aquilo, meu pai nunca me deu uma bronca.
- Tudo bem pai, vou me cuidar melhor. – Eu falei por fim, sem ter segundas intenções com aquelas palavras.
- Não filha, eu preciso cuidar melhor de você. – Ele sussurrou da cabeça baixa.
Eu não entendo o porquê, mas lágrimas começaram a escorrer descontroladas pelo meu rosto e eu o abracei muito forte, o mais forte que consegui com os músculos fracos. Ele me abraçou de volta.
Acho que no fundo, aquele vazio que eu sinto, aquela sensação de que está faltando algo, é por causa da falta que sinto do meu pai... da minha família.
Ele é minha única família, fora o Lucas. Ele devia ser pai e mãe, mas acabou precisando ser apenas como um segurança distante.
Ficamos naquele abraço por um longo tempo, e quando me desvencilhei de seus braços e olhou para mim. Ele estava com os olhos inchados e vermelhos, o rosto molhado.
- Sara... – Pude ouvi-lo sussurrar quando levou o rosto para entre as mãos.
- O-o que¿ - Perguntei com um pingo se esperança.
- Nada filha. – Ele falou se levantando. – Já chamei um médico.
- Não pai! Eu não preciso de um médico! – Eu falei, sem gritar porém claramente exaltada. Ele me olhou surpreso. – Eu preciso da minha família. – Falei por fim sentindo as lágrimas voltarem.
- Filha, você sabe que eu faço o possível para estar com você, para cuidar de você e te ver feliz, mas eu não posso sair do trabalho e nem... – Ele parou ao me ver abanando a cabeça com vontade negativamente.
- Não pai... E-esquece... – Falei me levantando com um pouco de dificuldade da cama e indo em direção a porta. Eu precisava me acalmar, logo estaria entre lágrimas de novo. Por que eu sempre sentia vontade de chorar quando falava com ele¿ Por que ele nunca falou da minha mãe¿
Fui para o meu quarto onde eu me tranquei e escorreguei até o chão, chorando. Meu celular começou a tocar imediatamente que entrei no quarto. Eu atendi tentando disfarçar o choro.
- Juliana, o que foi¿ - Perguntou a voz do Davi no outro lado da linha, e eu pude vê-lo na janela me olhando preocupado, apoiado no parapeito da janela. Ele parecia ter acabado de chegar em casa. Eu apenas olhei para ele.

POV Davi ON

Ela olhou para mim com um rosto tão triste. As sobrancelhas finas quase unidas pouco acima da altura normal delas, os olhos quase fechados. Tinha a boca cerrada com força, forcando si mesma a permanecer calada.
- Juliana, o que foi, fala, tá tudo bem, você tá bem¿ - Eu perguntei. Eu não podia vê-la daquele jeito, e nem conseguia ver seus olhos direito por causa da distancia. Ela enxugou o rosto com o punho fechado.
- E-eu... eu vou aí. – Falei correndo e descendo o elevador depois de desligar o telefone.
O porteiro já me conhecia, então bastou eu perguntar o número do apartamento. Subi e bati freneticamente na porta, até que um homem alto atendeu perguntando algo com uma voz grave, eu nem ouvi ao vê a Juliana apoiada numa parede ali me olhando surpresa com o rosto todo molhado. Corri até ela e a abracei forte.
O que diabos eu estava fazendo¿ Eu fumei¿
- Quem é você¿ - O homem perguntou atrás de mim. Mas eu apenas permaneci abraçado com ela, esperando minha morte.


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Notas finais do capítulo

Quem quer apreciar a lenta morte de Davi? ^^