Eu só queria ficar sozinha e consegui por um bom tempo, até que ouvi a voz de Avis gritando meu nome. Ele estava próximo. Fiquei quieta. A voz dele se aproximava cada vez mais até que ele disse:

- Eu to te vendo, Anya. Desça daí.

- Pra que?  Para todas aquelas pessoas voltarem a me encarar? Ou melhor! Meu pai me trouxe 15 presentes? Sabe, um para cada dia do meu aniversário que, adivinhe só, ele não estava presente. – gritei, sem olhar para ele.

- Sei que é difícil, mas desce. Quíron e Nico querem falar com você.

- Não. – resmunguei.

- Olha, eu posso muito bem subir até aí e te derrubar. – ele ameaçou e algo me dizia que ele não estava brincando.

Não respondi nada e Avis chegou perto da pedra, já começando a subir. Realmente não estava no humor de ser derrubada de novo para quebrar outra costela, então falei:

- Ta, eu desço.

A pedra tinha mais ou menos três metros de altura e, se eu fosse alguém normal, teria me machucado, mas sou uma filha de Zeus. Por isso, simplesmente pulei e com a força do pensamento, pousei sem impacto.

- Como você subiu aí? – Avis me perguntou, já começando a andar.

- Subindo. – disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo e apressando o passo para segui-lo. – Pera... Quíron não é o centauro de Hercules?

- É sim. – ele respondeu, rindo. – Ele é imortal, e é o diretor das atividades daqui.

- E quem é Nico?

- Nico Di Angelo, filho de Hades, diretor do acampamento. Os deuses deram a ele a imortalidade para que ele pudesse cuidar do acampamento, já que ninguém mais queria. Ele lutou junto com Percy Jackson, filho de Poseidon, na batalha contra Cronos, o senhor do tempo e contra Gaia, a mãe terra.

- Ah. Existe algum semideus filho dos grandes que não salvou o mundo? – perguntei, imaginando se um dia eu salvara o mundo. Imediatamente descartei o pensamento.

-Bom, Nate e você, até agora. – Avis respondeu, me dando um empurrão leve.

Por todo lado tinham adolescentes batalhando e brincando. Adolescentes saíam do arsenal do lado do chalé de Atena carregando armas muitas vezes maiores que eles próprios, Um garoto de mais ou menos 16 anos sorriu para Avis, que fez sinal para ele se aproximar.

O garoto tinha cabelos ruivos e era alto e bem magro. Seus olhos pretos brilhavam intensamente e tinha um sorriso irônico no rosto. Ele deu um tapa na cabeça de Avis, como se fossem bons amigos. Eu não tinha visto esse garoto ainda, até agora.

- Você perdeu algumas coisas na hora do jantar, Aidan. – Avis falou, balançando a cabeça em minha direção.

- Olha, olha. – Aidan falou, me avaliando. Aquele garoto era meio assustador, mas incrivelmente bonito. – Carne nova. Bem bonita, mas o que tem demais? Novos semideuses sempre chegam.

Ouvir aquilo foi como um tapa na minha cara. Não sei por que aquilo importava. Ele era bonito, mas Simon e Avis também eram. Até o filho de Poseidon era mais bonito. Mas não sei por que, eu queria impressioná-lo.

- O que tem demais? – Avis perguntou com um tom ofendido, mas sorrindo. – Pensei que você ia saber só de bater os olhos nela.

- Bom, tem algo de diferente. Eu não consigo senti-la. – Aidan respondeu com os olhos enigmáticos que pareciam querer ver dentro de mim.

Olhei para Avis, esperando que me desse alguma explicação. O que Aidan queria dizer com aquilo? Mas Avis parecia tão confuso como eu.

- Sei que você esta aqui, porque não sou cego. Mas se eu fechar os olhos... – Aidan falou e fechou os olhos –... Só sinto Avis. Eu iria dizer que era um feitiço, mas se fosse eu saberia.

- Não há como ele estar escondido? – Avis perguntou – Talvez alguém tenha feito para protegê-la.

- Feitiços deixam resquícios. Não tem nenhum feitiço aqui, confie em mim. – Ele falou em tom autoritário. Olhou para mim com os olhos semicerrados e perguntou: - Quem é você?

- Uh...- Olhei para Avis, em busca de ajuda. Mas ele ficou quieto, indicando que era eu que devia responder. – Meu nome é Anya.

- Quem é seu pai ou mãe divino? – Aidan perguntou, impacientemente.

- Zeus. – respondi.

Eu pensei que ao ouvir isso, Aidan ficaria impressionado. Mas ele só levantou a mão e a botou no queixo, em um gesto pensativo. Fiquei irritada e falei:

- Olha, eu não sei quem você é e não sei por que está olhando para mim como se eu fosse anormal ou tivesse feito alguma coisa errada, mas eu não vou ficar aqui para descobrir.

Sem esperar por Avis, eu sai correndo em direção a casa grande. Conseguia ouvir Avis gritando meu nome e percebi ele correr em minha direção, mas eu não parei até chegar à casa grande. Sem saber o que fazer eu bato na porta e ela se abre.

Nico estava sentado de pernas cruzadas, no chão. Quíron estava andando de um lado para o outro, balançando a cauda. Nico tinha uma aparência assustadora. Não parecia nem um pouco um deus. Mesmo um deus menor. Ele tinha olhos pretos e profundos, envoltos pelas maiores olheiras que já vi. Fora isso, tinha aquele jeito meio deprimido. Nada disso me deixou a vontade, principalmente sem Avis estar ali.

- Avis me disse que vocês queriam falar comigo. – falei, depois de ficar assustada de Quíron e Nico tanto me encararem.

- Sim, certo. – Quiron falou, gentilmente. – Anya, querida, você sabe o que ser filha de seu pai significa?

- Ser uma semideusa? – perguntei.

- Uma bastante poderosa. Mas não é só isso. Significa que seu pai quebrou, novamente, a promessa. Avis me contou que já falou com você sobre a promessa. – ele esperou algum comentário, mas eu permaneci em silêncio. – De qualquer modo, isso quer dizer que você está em perigo. Até agora, o único deus que não quebrou a promessa, foi Hades e, devo dizer, ele não é um dos deuses mais compreensivos.

- O que você quer que eu diga? – perguntei, irritada. – Se você está esperando um pedido de desculpas meu por ter nascido, pode ir esquecendo.

                Quíron abriu a boca para responder, mas Nico falou em seu lugar, antes que as coisas ficassem muito tensas:

- Quíron, por que você não vai dar um passeio? Enquanto isso eu e Anya temos muitas coisas para conversar.

O centauro fez cara de quem ia protestar, mas Nico o olhava decididamente. Fazendo uma breve reverência, Quiron saiu da sala.

Apesar de estar com raiva do centauro, ficar sozinha com aquele garoto me deixou assustada. Lentamente, ele deixou a posição de meditação e ficou em pé, me olhando com olhos avaliadores. Estava com tanto medo que havia me grudado na porta, como se eu conseguisse me fundir a ela e sair de fininho.

- Eu não mordo. – Nico falou e apontou para um dos sofás, indicando que eu deveria sentar.

                Hesitantemente, me sentei, sem tirar os olhos do deus menor. Nico sorriu, como se estivesse se divertindo e então sentou em um banco na minha frente.

- Eu sei como você se sente. – Nico falou. – Eu era menor que você quando descobri ser filho de um dos grandes. Bom, eu não lidei muito bem com isso.

- Você salvou o mundo. – soltei, sem conseguir me segurar. – Me parece que você lidou muito bem com isso.

- Não salvei. Eu só estava lá quando Percy salvou. – ele falou de um jeito meio amargurado. Nico soltou uma risada irônica. – Percy é o verdadeiro herói. – durante alguns segundo incômodos, ficamos em silêncio, mas Nico se recuperou: - Bom, isso não importa. Que tal falarmos sobre você? Soube que teve um sonho noite passada.

- Avis te contou? – perguntei, me sentindo completamente traída. Não esperava que Avis pudesse contar.

- Você está falando com um deus. Não preciso que ninguém me conte. – ele me analisava – Eu só não sei exatamente o que você sonhou. Gostaria de me contar?

Contei para ele o que sonhei. Esperava que ele achasse bobagem e me dispensasse, mas ele ficou nervoso. Levantou do banco e ficou andando de um lado para o outro, mexendo em um punhal.

- Tem certeza que não aconteceu mais nada? É só isso que você se lembra? – Nico perguntou, sem esconder seu nervosismo.

- Como já disse pela décima vez: sim.

Ele deu umas três voltas em volta do sofá e me mandou sair.