Mudança De Vida escrita por lovelikepercy


Capítulo 4
Acampamento Meio-Sangue




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Acordei numa maca em um lugar que definitivamente não era um hospital, mas cheirava como um. Tentei me sentar, mas minhas costelas doíam. Virei minha cabeça, tentando olhar melhor o lugar. Tinham muitas macas e só algumas estavam ocupadas. Era tipo uma barraca. Mais ou menos como aquelas em que montam durante a guerra para cuidar dos feridos.

Ao meu redor, pessoas muito bonitas, todas loiras, cuidavam de quem estavam nas macas. Uma menina viu que eu tinha acordado e veio até mim segurando uma taça dourada. Seus olhos eram azuis claro e ela era linda.

- Não faça esforço. – Ela orientou, me dando a taça com um liquido que cheirava a sorvete, mas era transparente como água.

- O que é isso? E onde eu estou?

- Beba, vai fazê-la sentir-se melhor. Você está no acampamento meio-sangue, sua nova casa.

Hesitei, mas por fim bebi. Não só cheirava a sorvete, mas também tinha gosto de sorvete de flocos. O sorvete favorito de Simon e meu.

- Não vendem isso aqui em Nova York. – disse e esperei ela rir, mas ela ficou me olhando com uma expressão confusa. – Tá, foi uma péssima piada.

- Ah! – a garota exclamou, levando uma mão a boca. Ela parecia realmente envergonhada. – Me desculpe, eu não saio muito do acampamento. É a minha casa, sabe? É o lugar onde os semideuses ficam durante as férias de verão, ou integralmente no meu caso e de alguns outros, treinando para futuras batalhas.

- Semi o que? – perguntei, bastante confusa.

- Semideuses. Filhos de deuses gregos com humanos. Por exemplo: eu e todos os que estão curando os feridos somos filhos de Apolo, o Deus do sol, da poesia, do oráculo e algumas outras coisas.

Esse é exatamente o tipo de coisa que estou cercada: gente maluca. Como uma garota tão bonita podia ser tão pirada? Resolvi ignorar todo esse negócio de deuses gregos e me focar em coisas mais importantes:

- Como eu cheguei aqui?

- Avis te trouxe... Você se machucou feio. – a garota respondeu. – Falando em se machucar, como você está se sentindo? Deixe-me ver sua costela. Ela quebrou, caso você não saiba.

- Ah, a dor me deu uma dica sobre a costela. Estou melhor depois desse liquido que você me deu, mas ainda sinto muita dor para me mexer. Érr, quem é Avis?

- Bom, o néctar não pode curar ossos quebrados, mas ajuda com a dor. – ao perceber que eu não fazia ideia do que ela estava falando, ela completou: - Néctar é a bebida dos deuses. Se um semideus ingerir na quantidade certa, fica curado, mas se ingerir demais, vira cinzas.

- Confortador. – comentei. – Acho que você esqueceu de dizer quem é Avis.

- Um segundo. – ela foi até o outro lado do lugar, onde um garoto alto estava cuidando de um “paciente”. O garoto olhou na minha direção  depois perguntou algo para a garota que vinha cuidando de mim, algo como “ela está bem?”. A garota apontou para mim com a cabeça, como quem diz “vá descobrir”.

O garoto falou algo para seu paciente e então veio na minha direção. Ele era loiro como os outros, mas seu cabelo era de um tom mais dourado. Mesmo quando ele estava ainda longe, foi possível reparar nos seus olhos verdes e nos seus músculos. E que músculos.

- Como está se sentindo? – perguntou, enquanto olhava para minhas costelas.

- Confusa. – respondi sem tirar meus olhos dele – A dor melhorou.

- Deve passar completamente em um ou dois dias, mas só se você continuar descansando. Eu poderia arriscar te dar mais néctar, mas...

- Não! – gritei, antes que ele pudesse completar a frase. – Sem mais néctar. Acho que eu prefiro não virar pó. – o garoto sorriu, quase rindo. Sentou na ponta da minha cama, o que me deixou meio sem-graça, mas ele não pareceu perceber. – Então... Deuses, uh? Vai me dizer que você também faz parte dessa loucura toda?

- Queria poder dizer que não, mas faço. Tem gente que não nasceu para uma vida normal. Meu nome é Avis e sou filho de Apolo.- ele pegou uma coca-cola da geladeirinha e deu um gole, depois esticou na direção: - Mas pelo menos temos bebidas normais por aqui, além das que te transformam em cinzas. Você quer?

- Não, obrigada. Isso que você está falando é verdade? – perguntei.

- Sim. É só uma coca normal. Não vai fazer nada maligno.

- Não sobre a coca. Quero dizer, sobre os deuses.

Avis assentiu. Ele parecia já ter tido esse tipo de conversa com várias pessoas antes de mim. Por algum motivo, eu sentia que podia confiar nele. Talvez pelo fato de ele ter salvado a minha vida.

- Seu amigo, o Simon, disse que seu nome é Ana, estou certo? Eu tenho um problema com nomes e...

- Na verdade é Anya. – falei, o interrompendo. – Olha, eu não quero ser rude e ficar te interrompendo, mas eu realmente não me importo se você é bom ou não com nomes. Avis, por que você me trouxe para cá?

- Pensei que estivesse obvio. – continuei olhando para ele, esperando uma resposta. – Você é uma semideusa. Uma bem poderosa. Não entendo como os monstros não te acharam antes, quer dizer, seu cheiro deve ser como um radar para eles.

                Eu não sei por que, mas eu sabia que tudo aquilo era verdade. Apesar de eu não me sentir poderosa, eu sabia que meu pai era um deus. Sabia que tudo que havia acontecido hoje era real.

- Ah... Minha mãe sabe que eu estou aqui? Porque se não eu vou ter um problemão quando chegar em casa.

- Sabe. Quer dizer, mais ou menos. Ela pensa que você está na UTI e por isso ela não pode te visitar.

- Simon não contou o que aconteceu? – perguntei bastante surpresa. Simon normalmente iria falar tudo para ela. Talvez ele pensasse que ela não acreditaria.

- Simon não sabe o que aconteceu. Existe uma coisa chamada névoa: ela faz com que os mortais atribuam às coisas estranhas que vêem como mulheres cobras, a coisas do cotidiano. Eles pensam que você entrou em uma ambulância comigo e não que você montou em um cavalo com asas. Por algum motivo, a névoa demorou a agir, mas depois ela encheu as mentes dos mortais e substituiu tudo que eles viram.

- Cavalo com asas? Essa é nova. – comentei.

 Avis sorriu. Ele olhou o relógio no pulso e soltou um suspiro:

- Eu preciso ir para o jantar. Em dez minutos eu volto. Uma harpia vai trazer a sua comida, o.k.?

                Ele deixou a tenda, junto com todos os outros filhos de Apolo. Logo depois disso, vários monstros entraram na tenda, todas com bandejas. Mesmo com a dor na minha costela, eu consegui ficar em pé. Peguei a lata de coca-cola que Avis havia deixado e joguei em uma delas, gritando:

- AVIS! SOCORRO!

                Um dos filhos de Apolo entrou na tenda correndo. Isso fez com que os monstros soltassem gritos de susto.

- O que houve? Relaxe. Sente. – o garoto falou, passou por entre os monstros como se não fosse perigo.

- Esses monstros entraram aqui e... – percebi que todos os pacientes me olhavam como se eu fosse louca. – Vai me dizer que não são monstros?

- Bom, sim, são monstros, mas são boazinhas. – o garoto falou, me ajudando a voltar para cama. – Agora, peça desculpas para a coitada que foi acertada na cabeça. Elas são harpias.

- Hm, desculpa? – pedi, me sentindo realmente envergonhada.

                A harpia balançou a cabeça de modo positivo e me entregou a bandeja, depois deixou a tenda. Todas as harpias entregaram as bandejas e saíram, assim como o filho de Apolo.

 Assim que terminei o jantar, Avis voltou. Trazia consigo uma maçã e um sorriso no rosto.

- Soube do seu incidente com as harpias. – ele falou, tacando a maçã para mim.

- Por favor, me diz que só você ficou sabendo disso. – pedi, sentindo meu rosto esquentar. Dei uma mordida na maçã. 

- O que quer que eu diga? – Avis perguntou, enquanto sentava no pé da minha cama.

- Minta para mim. – decidi.

- Só eu fiquei sabendo. Mais ninguém. – ele mentiu descaradamente.

- Mentiroso. – falei, rindo. – Então, onde paramos? Ah, sim! Névoa.

- Você já sabe tudo que tem que saber. Próximo passo: tem uma semideusa na sua escola. Shannon, se não me engano. Ela disse te conhecer. É uma filha de Afrodite. Costumava ser campista integral, mas resolveu que queria uma vida normal, então só vem nas férias.

- Sharon. O nome dela é Sharon. Duvido que ela seja uma semideusa. Nós semideuses deveríamos ser capazes de fazer alguma outra coisa alem de fazer as unhas, certo?

- Não se você for uma filha de Afrodite. Não que elas sejam inúteis. Uma campista do chalé de Afrodite, de 50 anos atrás, salvou o mundo. Seu nome era Piper. Ela é uma lenda no chalé de Afrodite. Teve outra também, seu nome era Silena. Ela morreu para salvar seus amigos. – ele contou. Com um sorriso na cara, pegou a maçã da minha mãe e deu uma mordida gigante.

- Ei! Essa maçã era minha. – reclamei. – Tanto faz, pode ficar. De qualquer modo, como você soube que era filho de Apolo? Ele te entregou uma cartinha, ou algo do tipo?

- Apolo me reclamou. Vai acontecer com você também, seu pai vai te reclamar. – vendo minha expressão de dúvida, ele acrescentou – Você deve estar se perguntando por que ele nunca falou com você ou deu algum sinal que existia, certo? – eu assenti com a cabeça. – Os deuses são muito ocupados e não podem interferir diretamente na vida dos mortais. Principalmente o seu pai.

- Você sabe quem é meu pai? Como?

- Depois do que você fez com as Dracnae, aquelas mulheres cobras, ficou meio aparente, embora ainda tenhamos que esperar pela reclamação oficial. – Avis falou, comendo a ultima parte da maçã.

- Quem é? – perguntei impaciente. – É injusto você saber quem é meu pai e eu não.

- Não é a hora. Bom, vou te explicar como o acampamento funciona.

 Avis contou detalhadamente cada coisa do acampamento. Explicou sobre os chalés, que os filhos dos deuses dormiam no chalé destinado para seu pai/mãe, sobre o lago de canoagem, sobre a parede de escalada, sobre os sátiros (são os caras metade bode que eu mencionei), sobre os centauros (caras metade cavalo), sobre as ninfas e sobre as fronteiras mágicas.

- Onde eu vou dormir? Quer dizer, quando eu puder sair daqui. – perguntei.

- Sabia que eu estava esquecendo de contar alguma coisa. – ele deu um tapa na testa – Vai ficar no chalé de Hermes, deus dos viajantes. É onde os não reclamados ficam.

- Hm, ok. Vamos, me dê uma dica sobre quem meu pai pode ser. Eu prometo manter segredo. – pedi, fazendo beicinho.

- Você não vai querer saber. Eu posso estar enganado.

- Me diga.

- Bom, é o seguinte: muitos anos atrás, os 3 deuses grandes fizeram um acordo. Eles não poderiam mais ter filhos com mortais, porque seus filhos eram muito poderosos e causavam muitos problemas. Mesmo assim, todos os 3 deuses quebraram essa promessa. Poseidon teve um filho chamado Percy, cinquenta anos atrás, Zeus teve Thalia, alguns anos antes de Percy nascer, e Hades teve dois filhos, Nico e Bianca, muitos anos atrás. Todos eles salvaram o mundo diversas vezes. Percy lutou contra dois titãs e matou muitos gigantes. Nico lutou ao seu lado. Bianca morreu e salvou a vida de muitos. Thalia está viva até hoje, mas isso é um assunto que mais tarde discutimos. Depois desses 4 semideuses, os 3 grandes renovaram o acordo. Desde então, eles tem sido fiéis. – ele manteve a expressão seria - Se você realmente for filha de um deles, seu pai vai estar com problemas.

- Você acha que eu sou filha de algum deles?

- Acho. Agora, você tem que dormir.

Eu ia protestar e mandar ele me falar mais alguma coisa, mas quando eu percebi, ele já estava saindo da tenda. Soltei alguns palavrões, mas por fim resolvi que ele estava certo e eu deveria dormir.

No meu sonho eu não estava mais no acampamento, nem em qualquer outro lugar que eu já tivesse visto. Eu estava em uma caverna de gelo, muito fria. Talvez estivesse no fundo do mar, porque eu percebi que na verdade o gelo era vidro e por ele era possível ver vários monstros marinhos nadando. No fundo da caverna de gelo e vidro, havia um espaço escuro, sem luz nenhuma. Era como se aquele pedaço da caverna estivesse morto.

- Logo. – uma voz profunda e antiga falou no fundo da caverna. – Logo nós teremos nosso encontro, Anya. Logo, logo. E não haverá nada que você vai poder fazer para impedir que eu mate todos que você ama.

- Quem é você? – gritei.

- Eu sou quem vai te matar, Anyanca. – ele respondeu e então começou a rir.

Anyanca. Esse era o meu nome de verdade, mas que eu nunca havia contado para ninguém. Nem mesmo Simon sabia dele. O som da sua risada e mais o fato dele saber quem eu realmente era me fez tremer.

- Eu perguntei quem é você? – gritei mais uma vez, dessa vez com raiva e com autoridade.

- Logo você verá. Agora, acho que é hora de você ir conhecer seus novos amigos. Pena que eles não vão viver muito tempo. – a voz falou e então meu sonho começou a se dissolver.

 Acordei com um sobressalto. Assim que abri os olhos, percebi que todos os pacientes e todos os curandeiros estavam me olhando, assustados. Avis veio até mim, segurando um pano úmido, que colocou na minha cabeça e me fez deitar novamente.

- Foi só um sonho, calma. – ele falou, enquanto lágrimas escorriam pelos meus olhos.

- Não foi um sonho. – eu sussurrei. Avis se inclinou mais para perto, tentando ouvir. – Não foi um sonho.

 Avis me olhou com cara de será-que-eu-te-dei-mais-nectar-do-que-devia?E então fez que sim com a cabeça, como se finalmente tivesse entendido o que eu quis dizer:

- Certo, pode mesmo não ter sido um sonho. – Disse deixando uma camisa laranja na minha cama e saindo da enfermaria.

Estava me sentindo bem melhor. Poderia estar melhor se não fosse pelo sonho, mas enfim. Minhas costelas não doíam mais e Avis me disse que elas já estavam no lugar certo. No mundo real, eu ficaria pelo menos um mês na cama, mas como Avis gosta de repetir: “Você não vive mais no mundo “real”.

Vesti a camisa laranja do acampamento que Avis me deu e meus jeans. Ele também me deu uma armadura, mas eu a deixei de lado. A mesma filha de Apolo que falou comigo quando eu acordei da primeira vez, deu uma ultima checada em mim e me liberou para ir tomar café no pavilhão. Mais tarde descobri que o nome dela era Lana.

Avis estava me esperando do lado de fora. Seus cabelos dourados brilhavam no sol e ele estava igual a mim, exceto pela armadura. Começou a caminhar quando eu me aproximei e eu acelerei o passo para segui-lo.

- Cadê sua armadura? – perguntou, meio desapontado

- Eu não vou desfilar por aí com aquilo. – respondi fazendo uma careta e observando o lugar.

Era realmente lindo. Imagine um acampamento grande com homens-bodes, homens-cavalos e adolescentes segurando armas mortais. Era mais ou menos isso. Pude contemplar os 20 chalés um pouco distantes e os que me chamaram atenção foram os grandes da frente, que Avis me disse mais tarde que eram o de Hera e de Zeus.

- Boa sorte nos jogos e treinamento sem ela, então. – eu estava prestes a perguntar que raios de jogos eram aqueles quando um menino baixinho e ruivo apareceu.

- Essa é a nova semideusa? – disse, me analisando - Uau.

Fiquei vermelha.

- É ela. – disse Avis botando o ombro ao meu redor de um jeito protetor. Fiquei mais vermelha ainda. – Anya, esse é Keaton, chefe do chalé de Hermes. Você vai ficar no chalé de Hermes e sentar-se à mesa de Hermes enquanto seu pai não te reclamar. – Olhei para Avis com uma expressão de você-só-pode-estar-brincando. Ele me olhou de volta com uma expressão de a-culpa-não-é-minha.

- Então, - disse Keaton abrindo os braços – bem vinda ao pavilhão de jantar!

O lugar tinha várias mesas e uma fogueira imensa no centro. Vários campistas jogavam parte de sua comida lá e faziam curtas preces.

- Por que eles fazem isso? – perguntei para Avis, mas ele não estava mais lá. Tinha indo para mesa de Apolo junto de seus irmãos.

- Oferenda aos deuses. – respondeu Keaton. – Você joga parte da sua melhor comida lá e faz uma prece em agradecimento ou pedido aos deuses.

- Posso pedir para ele me reclamar?

- Todo Deus reclama o filho, graças a Percy Jackson, legendário filho de Poseidon. Depois alguém te explica a história. Vamos. – disse e começou a andar em direção a uma mesa com comidas.

Fiz o mesmo que ele: peguei um prato e coloquei uvas, queijo e pão. Depois seguimos para a fila da fogueira e quando chegou minha vez, joguei a melhor parte das uvas que tinha pegado e agradeci por ter ficado viva por tanto tempo.

Sentei ao lado de Keaton na lotada mesa de Hermes. Antes de começar a comer, observei bem o lugar. Três mesas estavam vazias e em outra só tinha um menino mais ou menos da minha idade. Ele tinha cabelos pretos e seus olhos eram de um verde tão brilhante que se estivesse escuro, serviriam de lanterna. Ele era realmente lindo, mas tinha uma postura arrogante. Lembrava um dos populares metidos que desfilavam pela escola usando roupas de marca e se gabando por serem ricos e lindos.

- Quem é aquele? – perguntei a Keaton.

- Nate Wheadon, o primeiro filho de um dos grandes em mais de 50 anos. Poseidon, o Deus dos mares e terremotos. Desde que você não cruze seu caminho, você não vai ter problemas. Ei, vai comer esse pedaço de queijo? – ele perguntou, mas já havia pego de meu prato e enfiado na boca.

Comecei a comer as uvas e estava tão distraída tirando os caroços que nem me toquei que o pavilhão inteiro estava em silêncio me encarando. Levantei a cabeça e passei os olhos em todos os campistas que estavam me encarando. A coisa mais bizarra aconteceu: todos eles se ajoelharam. Fiz menção de se ajoelhar também, mas vi Avis apontando para cima da minha cabeça. Olhei para cima e vi um raio pequeno brilhando em cima de mim.

Olhei para frente e vi um centauro e um garoto que aparentava 18 anos em pé. Eles olhavam para mim com um ar de curiosidade.

- Thalia vai ficar feliz de saber que tem uma irmã. – o centauro sussurrou para o garoto que deu uma fria risada – Então, - falou mais alto – Anya, filha de Zeus! A primeira filha de Zeus desde Thalia Grace, caçadora de Artemis.

                Olhei para Avis, que sorriu e fez com a boca: eu estava certo. Tentei sorrir, mas estava muito sem-graça. Todos cochichavam, enquanto olhavam para mim. Por fim, para minha felicidade, o garoto ao lado do centauro falou, com voz autoritária:

- Ora, vamos! Voltem a comer e deixem a menina em paz. Vocês já haviam visto outro filho de um dos grandes. Eu mesmo sou um.

 A maioria continuou a conversar baixinho, mas pararam de me olhar, o que era um avanço. Bom, dois dos grandes deuses quebrarem um julgamento tão perto um do outro deveria significar algo ruim, então não podia culpá-los por se sentirem curiosos.

                Eu já estudei a mitologia grega, antes de ir para o acampamento, e sabia que Zeus era tipo o chefe dos deuses. Pensar nisso me fez sorrir. Não porque eu estava feliz, ou orgulhosa de meu pai, mas porque não consegui evitar o pensamento: será que minha mãe sabia que tinha uma filha com o deus mais poderoso? Nossa, como eu sentia sua falta. E de Simon. Pensar nos dois fez minha cabeça girar. Apesar de Keaton tentar fazer com que eu ficasse, levantei da mesa e saí do Pavilhão. Eu estava indo na direção da praia, quando uma mão segurou meu braço.

- Agora não, Avis.- reclamei, mas não era Avis. Era o filho de Poseidon.

Ele me soltou e levantou as mãos com um gesto de desculpas. Ignorando completamente o garoto, corri na direção da praia. No meio da praia, havia algumas pedras altas. Como eu fazia desde criança, escalei a mais alta e fiquei sentada de perna cruzada, olhando o céu.


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