Mudança De Vida escrita por lovelikepercy


Capítulo 3
Cinema tranquilo


Notas iniciais do capítulo

Esse foi escrito pela minha amiga, Nina, e revisado por mim.



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Depois de ler minha lista de coisas que tenho que melhorar, Simon riu e falou:
– Você precisa relaxar. Vamos ao cinema?

– Depende, você vai pagar? – perguntei, rindo.

– Depende, eu vou poder escolher o filme?

– Sim, sim. – concordei.

Assim que a aula de matemática acabou, arrumamos nossas coisas e caminhamos juntos para fora da escola. Simon e eu irmos para o cinema já havia virado algo do nosso cotidiano. Assim como eu, ele era apaixonado por filmes.

– Quero ver terror hoje. – ele disse, quando chegamos ao cinema.

– Se é só para eu te abraçar quando eu ficar com medo, não vai funcionar. Eu sou muito corajosa. – brinquei.

– Há. – ele exclamou. Com um olhar exageradamente atento, ele passou o braço pelo meu ombro e apontou para algum ponto no além: - Cuidado, Anya. Fique sempre alerta.

– Como assim? – perguntei, tirando seu braço do meu ombro.

– Sei lá, vai que aparece uma mulher cobra escamosa. – Ele disse de forma meio sarcástica e meio rindo. E eu não resisti, bati nele. – Ai! Você sabe que... – ele parou de repente e apontou, com o dedo tremulo, para um taxi – O que é aquilo dirigindo? Ah meu Deus, é um urso?

Para variar, eu fui idiota e olhei na direção que ele apontava. Obviamente, não tinha nada lá.

– Eu vi mesmo um urso naquele dia. Era um bem fofinho, posso dizer. – respondi, irritada.

– Aham. – ele respondeu fazendo uma careta. – Pronto, chegamos. Esta meio vazio, não é? É uma sexta feira de tarde, esse lugar deveria estar lotado. Talvez esteja fechado. – ele sugeriu.

– Não tem ninguém aqui. – concordei. – A porta principal está aberta. Se estivesse o lugar fechado, deveria estar tudo, bem... Como diz o nome: fechado.

– Acho melhor a gente ir embora. – Simon falou, se dirigindo para saída.

– Ah, jura? – eu perguntei com um tom irônico – O que será que acont...

Minha fala foi interrompida por uma explosão. O barulho estava distante. Eu sei que a primeira coisa que pessoas normais fazem quando ouvem uma explosão é sair correndo para um lugar seguro, mas, adivinhe só? Eu não sou normal. Sendo assim, me dirigi na direção do barulho.

– Vamos sair daqui Anya. – Simon gritou, mas eu já estava longe. – Droga. – ele resmungou e veio correndo em minha direção. – Você sabe que a gente poderia simplesmente chamar a policia e deixar eles fazerem o trabalho deles.

– Saí daqui. – Eu disse em um tom tão intimidador e sério que ele hesitou em continuar.

– Onde você está indo, Anya? – ele perguntou. – Isso não está parecendo boa coisa. Vamos dar o for...

A voz dele foi cortada por um vários gritos assustados. Vinha de uma das salas do cinema. Corri em direção a uma delas, com Simon me seguindo. Abri a porta e vi um monte de pessoas agachadas e abraçadas umas as outras, completamente tomadas pelo medo. Me aproximei da mulher mais próxima e perguntei o que estava acontecendo.

– É... É algum tipo de... Não sei. – A mulher respondeu entre soluços. Dava para ver o medo nos olhos dela - Quando ela entrou parecia alguém normal, mas depois ela quebrou uma das cabines de ingressos. Ela segurou o pescoço da vendedora e perguntou alguma coisa que ninguém entendeu... Ela falava sibilando e nossos telefones pararam de funcionar no segundo que ela pisou na entrada.

– Onde ela está? – perguntei.

– Na bilheteria.

– Vai ficar tudo bem. Por que vocês ainda não saíram daqui?

– Tem mais dela, esperando lá fora. – a mulher respondeu.

Olhei para Simon, que estava ao meu lado ouvindo tudo. Uma coisa boa sobre o Simon: ele sempre entende o que eu quero dizer. E, naquele momento, eu estava dizendo algo bem simples: tire eles todos daqui. Olhei mais uma vez para a mulher, que havia começado a chorar:

– Me escute, senhora: eu quero que você seja corajosa. Você consegue fazer isso? – ela hesitou por um momento, mas por fim fez que sim com a cabeça. – Ótimo. Então faça o que eu mandar, ok? Ok. Eu quero que você levante e saia. Leve com você tantos quanto você conseguir. O meu amigo aqui – coloquei a mão no ombro de Simon. – Ele é um policial disfarçado e vai te ajudar, ok?

Certo, policial disfarçado não foi a minha melhor história, mas a mulher acreditou. Eu estava saindo da sala, preparada para ir para a bilheteria, quando Simon segurou meu pulso e falou baixo, de forma que só nós dois podíamos ouvir:

– Eu não sei o que você está planejando, mas eu espero que seja o suficiente para nos tirar daqui.

Dei um sorriso, mostrando que tudo iria ficar bem. Para falar a verdade, eu não tinha a mínima certeza que tudo iria ficar bem. Mesmo assim, eu sai da sala. Outro grito vindo da bilheteria. Corri na direção da porta que dava lá, mas estava trancada. Era possível ouvir vindo lá de dentro:

– Ssssssse você não me der a menina, vou arrancar a sssssssssssua cabeça.

– Eu não sei do que você está falando. – uma voz feminina completamente assustada falou.

Tentei arrombar a porta com um chute, mas tudo que consegui foi machucar o tornozelo. Olhei ao meu redor, procurando algo para abrir a porcaria da porta. Por sorte, lá estava um lindo e perfeito extintor de incêndio. Sem nem pensar duas vezes, quebrei o vidro que o protegia e o arranquei de lá. Bati com força na maçaneta da porta, mas só depois de duas tentativas, a porta se abriu.

A bilheteria estava completamente destruída. Pipoca cobria o chão, junto de dinheiro e muito, muito vidro. No centro, uma mulher metade cobra segurava a balconista pelo pescoço. Uma mulher cobra não. A mulher cobra. A mesma que eu havia visto na rua, no outro dia.

– Pelo que parece, eu te encontrei novamente. – falei, jogando o extintor com força no chão, para atrair a atenção do monstro.

– E aí essssssssstá a menina pela qual eu procurava. – a mulher falou, largando a balconista, que caiu no chão como um saco de batatas.

A balconista rastejou para fora da vista da mulher cobra e se enroscou em um canto. Queria dizer que eu fiz algo heroico, mas o que eu fiz foi algo muito, mas muito, mais inteligente. Eu olhei para a balconista e gritei:

– E agora a gente CORRE!

Não foi preciso dizer duas vezes. A mulher ficou em pé, esquecendo totalmente seu medo, e começou a correr na minha direção. Quando ela estava suficientemente perto, comecei a correr junto.

Assim que passamos pela porta da recepção, eu fechei, esperando atrasar o monstro ao menos um pouquinho. É obvio que não funcionou. A mulher cobra mandou as portas pelos ares e veio na nossa direção como um foguete.

– Quem essa mulher é? – a balconista perguntou, enquanto corríamos na direção da saída do cinema.

– E isso importa? Mulher assustadora que quer nos matar. Precisa de mais informações? – respondi.

Para a minha alegria, conseguimos passar pela porta da saída sem que a mulher cobra nos alcançasse. Para a minha tristeza, Simon e os outros estavam do lado de fora, encurralados por dezenas de monstros iguais à mulher cobra. Assim que me reuni a eles, percebi que estavamos em perigo.

– Simon. – chamei.

Ele veio até mim e me olhou com uma clara cara de “e agora, senhorita que tem sempre que se meter em confusão? O que a gente faz?”.

– Me escuta: a gente precisa tirar eles daqui. – eu falei.

– Bom, isso estava meio obvio. – Simon comentou, ironicamente.

Me forcei a pensar. Se o Chuck Norris estivesse aqui, o que ele faria? Bom, provavelmente piscaria e todas elas teriam desaparecido. Eu pisquei. Quando abri os olhos, ainda estavam todas ali. Bom, valeu a tentativa. Pensa, Anya, pensa.

Estávamos na calçada na frente do cinema. Na nossa frente, vários carros passavam, aparentemente sem perceber as mulheres cobras. Se eu ao menos conseguisse fazer com que elas fossem parar no meio da rua...

E então eu fiz a coisa mais idiota da minha vida, mas que salvou a nossa vida. Eu me desviei de todas as pessoas e comecei a correr na direção da rua, gritando:

– Vocês me querem? Venham me pegar!

Deixe eu te dizer uma coisa: nunca, nunca, nunca faça isso. Se você não for uma pessoa extremamente sortuda ou não souber voar, você vai ser atingido por um carro. Acontece que, bem, eu sei voar. Pelo menos, naquele dia eu aprendi.

Todas as mulheres assustadoras foram burras o suficiente para me seguir. As primeiras da fila foram atropeladas e viraram pó. Sim, pó. Eu provavelmente teria o mesmo destino, não a parte do pó, se uma estranha rajada de vento não tivesse me tirado do chão e me feito flutuar dois metros acima de todos eles. Todas as outras cobras/mulheres não foram rápidas o suficiente para sacar o que estava acontecendo e tiveram o mesmo destino que suas pobres irmãs.

Aquele mesmo vento que salvou a minha vida, também fez com que eu quebrasse uma costela. Assim que todos os monstros estavam mortos, o vento me jogou de volta para a calçada, com ênfase na parte em que eu cai de dois metros de altura direto no asfalto.

Várias pessoas vieram correndo na minha direção, mas Simon fez com que todos recuassem e ele se ajoelhou ao meu lado:

– Sabe, quando eu digo que você é louca, eu já tenho provas o bastante. Você realmente não precisava ter feito isso.

– Um simples obrigado teria sido ótimo. – reclamei.

Eu tentei ficar em pé, mas uma dor aguda atingiu meu tórax e eu fui forçada a deitar de novo. Preocupado, Simon soltou algumas palavras que eu tenho certeza que fariam minha mãe desgostar um pouco dele.

– Você precisa ir para um medico. – ele falou, colocando a mão nas minhas costelas e me fazendo gritar de dor.

– Eu sou médico. – um homem gritou, no meio da multidão. – Eu posso ajudar.

O homem se ajoelhou na minha frente e começou a me examinar. Bom, não foi difícil encontrar o local do machucado já que, bem, estava sangrando.

– É sério? – Simon perguntou.

– Pode haver perfurado o pulmão dela. Temos que ligar para uma ambulância. – o homem respondeu.

– Os celulares não voltaram a funcionar. – uma mulher gritou do meio da multidão. – Não desde que as mulheres cobras chegaram.


Não consegui resistir um novo grito. O homem tirou o casaco e rasgou a manga. Como eu já havia visto em vários filmes, ele começou a pressionar sobre a ferida, para estancar o sangue. E ai veio mais um grito e tudo ficou preto.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem :)