Theodore’s POV

Eu atravessei o acampamento em direção ao chalé 7, onde muitos de meus irmãos e irmãs comemoravam enlouquecidamente nossa vitoria na captura da bandeira. Eu mesmo não escondia minha satisfação.

O sol já estava se pondo, sinal que logo todos seriam chamados para o jantar, mas mesmo assim eu queria entrar e descansar um pouco. Levantei o olhar em direção ao chalé de Apolo, tão brilhante quanto o sol durante o dia, agora perdia o foco para o chalé ao lado, pertencente à Ártemis, que a medida que escurecia ficava mais e mais prateado e brilhante. Exceto por uma mancha escura no telhado. Aproximei-me para poder perceber que a mancha era na verdade a silhueta de Alexia, deitada lá.

Desisti de entrar no meu chalé para ir até o dela. Tomando a liberdade de entrar, percebi que ela havia subido até o telhado através de uma escada de madeira que saia de lá. Talvez uma saída estratégica das caçadoras, quem sabe. Subi até lá e a encontrei, deitada olhando para o céu.

- Cuidado para não cair – falei, abrindo um sorriso

- Ah, é você. – ela respondeu sem ânimo, sentando-se – O que esta fazendo aqui?

- Vi você aqui em cima e resolvi subir também – falei, dando de ombros e sentando ao lado dela – E você, o que esta fazendo aqui em cima?

Ela pareceu triste

- Eu gosto de olhar para a lua às vezes. Me ajuda a pensar.

- Está decepcionada por ter perdido o jogo?

E o lado irritado de Alexia Wicket vem à tona novamente, senhoras e senhores:

- Se veio aqui cantar sua vitória pode ir caindo fora!

- Não vim cantar nada, relaxe! – falei, levando as mãos ao alto – Eu só perguntei.

Os ombros dela tombaram mais uma vez

- A culpa foi minha. Eu me atrapalhei e desorganizei a defesa toda.

- A culpa não foi exclusivamente sua – falei, em defesa dela – O pessoal aqui sabe que você é nova, eles deveriam entender.

- Os garotos pelo menos não entenderam. – ela falou, me olhando

- Acontece que os garotos daqui têm medo de você. – falei, rindo

Ela ergueu uma sobrancelha, surpresa

- De mim? Por quê? Eles deveriam ter medo é daquela doida da Ruby, isso sim.

Eu ri ainda mais.

- É que eles têm medo de que se eles se aproximarem de você eles possam atrair a fúria de Ártemis.

– Mas você é um garoto e não parece ter medo – ela concluiu, segurando uma risadinha

- Apolo é o irmão gêmeo de Ártemis. – contei, ainda rindo – Ele nunca permitiria que algo acontecesse a um filho seu.

- Então, isso nos faz primos? – ela perguntou pensativa.

- Não. No geral, não nos consideramos parentes por aqui, já que deuses não têm DNA – respondi – A menos que os campistas sejam do mesmo chalé, como eu e meus...

Fui obrigado a me interromper, pois abaixo de nós, Sam latia incontrolavelmente.

Alexia's POV

- O que é agora, Sam? – Perguntei de cima do telhado

“Desculpe interrompê-la, vossa alteza” respondeu ele com deboche “Mas Quíron quer ver você na casa grande e seu amiguinho também. Agora.”

- O que ele disse? – Theo me perguntou, sem poder evitar.

- Ele disse que Quíron quer nos encontrar na casa grande. Nós dois.

Theodore franziu as sobrancelhas

- O que será que houve?

- Eu não sei – respondi – Mas é melhor irmos lá verificar.

Eu me levantei do telhado com cuidado e num salto leve e ágil, aterrissei no chão. Eu era acostumada a saltar de lugares altos já que o apartamento onde moro é baixo e sempre que a Layla me aborrecia eu fugia pela janela. Mas Theodore pareceu se impressionar.

- Exibida – ele comentou

- Então me supere – desafiei de brincadeira

Ele tentou imitar meu salto, mas perdeu o equilíbrio e se esborrachou na grama. Eu caí na risada

- Acho que pular do telhado não é para mim – ele concluiu enquanto eu o ajudava a levantar – Vamos?

Concordei com a cabeça e começamos a correr em direção à casa grande. Quando chegamos, nós entramos com Theo já falando:

- Quíron, o que...

Ele parou quando percebeu que havia mais gente do que esperávamos lá dentro.

- Theo? Lexi? – disse Brianna – vocês também?

- Brianna! Axel!– exclamei e depos olhei para o Quíron e para o senhor D. – O que está havendo?

- Posso saber o que vocês fedelhos fazem aqui?

Não pude deixar de olhar para traz e ver a pessoa dona de uma voz com um tom tão esnobe

- Ruby?! – gritou Brianna que depois encarou o centauro – O que ela faz aqui? Já basta eu ter que estar no mesmo cômodo que essa porta aqui, - ela disse apontando para Axel - ainda me botam junto com ela?

- Acalme-se, Brianna – pediu Quiron com gentileza – Agora que todos estão aqui eu direi.

Ninguém mais suportava o suspense todo. Era torturante.

- Ultimamente, tivemos um pequeno problema no Olimpo...

- E quando é que não há problemas no Olimpo? – perguntou Axel, debochado.

- Quieto! – implicou Brianna

– Bom, como eu dizia, tivemos um problema no Olimpo: Há algumas semanas, o grande martelo de forja de Hefesto desapareceu e até agora não foi encontrado. Acreditamos que ele tenha sido roubado e... – Quíron foi interrompido outra vez

- O quê?! Quem teria a audácia de roubar o martelo de Hefesto? – Exclamou Brianna em defesa do pai

- Você também não cala a boca, hein? – Foi a vez de Ruby implicar

- Como se atreve a...

- Parem, vocês duas! – me obriguei a intervir, irritada

- Não se meta, filha de Ártemis! Não é da sua conta!

- Alexia, Brianna e Ruby, já chega! – falou Quíron, sério, enquanto o senhor D. olhava com gosto – parem agora.

– Mulheres... - Os dois meninos murmuraram um para o outro em tom de deboche.

Quando conseguiu acalmar os nervos de todos pelo menos um pouco, o centauro prosseguiu

– Como eu ia dizendo, ontem foi o tridente de Poseidon que desapareceu e achamos que talvez a ultima profecia que recebemos do Oráculo de Delfos tenha algo a ver com esses fatos

- E o que nós temos a ver com isso, Quíron? – questionou Theo

- Receio que caiba a mim explicar isso!

Eu virei para trás repentinamente e vi uma garota encostada, com um quadro na mão esquerda, na soleira da porta.

- Obrigado, Rachel – disse Quíron – Chegou na hora certa.

Ela sorriu e colocou o quadro virado para baixo sobre a mesa. Ela em seguida olhou para mim.

– Então, você é a nova campista? A filha de Ártemis? É um prazer conhecê-la, eu sou Rachel Elizabeth Dare, portadora do Oráculo de Delfos.

Ela nem mesmo me deu tempo de responder e já se voltou para Theo.

- Eu vou dizer o que vocês têm a ver com isso, Theodore. Tem a ver que há algum tempo eu recebi uma profecia que aparentemente envolve vocês todos.

Ela então começou a recitar os versos da profecia:

Cinco semideuses serão revelados

Das trevas profundas, o deus rebelado

O caos e a discórdia a superar

Para o sexto herói da morte retornar

Em pesadelo e morte o traidor irá surgir

E pela força final há de o antigo sucumbir

Não sei por que, mas eu não gostei nada, nada do que havia acabado de ouvir. Só de olhar para os outros, deu para ver que eles não gostaram também. Axel foi o primeiro a se pronunciar

- Certo, a profecia fala de cinco semideuses, mas o que garante que somos nós?

- De fato, não garante – disse Rachel – Mas eu acho que isso diz alguma coisa.

Ela levantou o quadro da mesa, revelando uma pintura escura e sinistra na qual se podia ver claramente seis pessoas. Um rapaz loiro e forte, empunhando uma longa espada; Uma garota de cabelos negros como a noite segurando uma clava da mesma cor; Um garoto alto, de cabelos castanhos com duas adagas nas mãos; Um outro garoto loiro com uma espada de metal duplo...

– Não é possível! – exclamou Brianna.

... Uma garota de cabelos castanhos com um machado de lâmina dupla e por fim, uma garota de cabelos avermelhados apontando um arco prateado para a massa de escuridão em sua frente. Como eu disse, sinistro:

- Somos nós! – falei, chocada e depois virei para Rachel – Você pintou isso?

Ela disse que sim com a cabeça

- Esse lugar me parece familiar – comentou Ruby, analisando o quadro. Quíron deu um suspiro.

– É o que eu temia. Se esse lugar for o mundo inferior então...

- O velho Hades é o culpado pelos roubos – completou o Senhor D. – E é dever de vocês, fedelhos encontrar os objetos.

- E quem é esse? – perguntei, observando a figura do único garoto que não reconheci na pintura

- Aparentemente é o sexto herói de que a profecia fala. Não o reconheço. E aparentemente ele está morto, mas deverá voltar em breve – Disse Quíron

- Então está em nossas mãos? – Perguntou Brianna, parecendo perdida.

- Sim, vocês devem ir ao mundo inferior e recuperar o que foi roubado – Disse Quíron – Não vou mentir que essa profecia não é preocupante, principalmente para os deuses. O ultimo verso diz que por uma força final o antigo sucumbirá e todos sabemos que o Olimpo é mais antigo do que tudo. E...

- Quando devemos partir? – cortou Ruby

- O quanto antes. Vocês devem ir à Los Angeles e usar a entrada de Hollywood para chegar ao Hades. Como é uma viagem longa, acho que vocês podem ter um dia para se prepararem... - Quíron pareceu preocupado. – É melhor vocês irem. Precisam descansar antes da viajem.

- Humph, sozinha eu chegaria lá em dois segundos – resmungou Ruby

- Acontece que a profecia fala de cinco semideuses, não só de você! – contestou Brianna

- Pode ser, mas é fato que sozinha eu sou melhor que vocês quatro juntos!

- Você diz isso agora, mas quando alguém enfiar uma faca nas suas costas você vai chamar quem? – Axel ergueu uma sobrancelha

- Ninguém está falando com você, Axel – Ruby rebateu.

- Se meteu com a Brianna, se meteu comigo – ele disse, debochado até a ultima gota.

- Cala a boca, Axel! – gritou Brianna

- Deixe ela em paz, Axel. Ela não fez nada pra você – defendi

- Nem pra você, Alexia – Ruby voltou a falar – Fique na sua

- Por que será que ninguém aguenta ficar perto de você, Ruby? – Theodore partiu em minha defesa – Não consigo imaginar...

- Por que, Theodore? Vai encarar? – Ruby devolveu

Enquanto a discussão prosseguia, o senhor D. ria até não poder mais

– Isso se eles não se matarem antes... - O deus murmurou entre risadas.