Acomodada na sala de espera do hospital há mais de vinte minutos, Sara aguardava nervosa e já até um pouco impaciente a volta de Grissom. Seu marido tinha sido levado por Mark para fazer uma tomografia na cabeça com a finalidade de saber o possível motivo das dores e pontadas que vinha sentindo de uma semana para cá. A esposa do supervisor só pedia silenciosamente para que nada de grave fosse detectado nos exames.

E não será!

Ela repetia a si mesma aquelas palavras. Já basta a amnésia que veio para bagunçar e virar de ponta a cabeça a vida deles, não precisavam de outro grave problema para preocupar a todos.

Mais algum tempinho de espera e Sara viu seu marido e o neurologista, que por sinal não estava com uma boa expressão, retornarem de onde tinham ido fazer a tomografia. Os três seguiram para dentro do consultório de Mark. Assim que se acomodaram em suas cadeiras, Sara apressou-se em perguntar ao médico sobre o que tinha acusado o exame do marido. Mark demorou um pouquinho a responder e isso fez com que tanto Sara quanto Grissom ficassem apreensivos e temerosos quanto ao que ouviriam.

— Sinto muito, mas não tenho uma boa notícia a dar. - o casal trocou um breve olhar e voltou a fitar o médico que prosseguiu: — O resultado mostrou que você tem uma veia muito importante da cabeça que está entupida, Grissom. E esta têm sido a causa das dores e pontadas que vem sentindo de um tempo pra cá. Em vista disso, terá que ser submetido a uma delicada cirurgia para desentupir essa veia.

— Delicada cirurgia? Isso quer dizer que há riscos pra mim?

Temeroso Grissom logo emendou a pergunta assim que o médico acabou de falar.

— Não necessariamente. Eu disse delicada cirurgia, porque se trata de um procedimento complicado, no qual demora certo tempo para ser realizada e requer muito cuidado quando for feito. Mas não tem que se preocupar ou temer nada, pois dará tudo certo quando for fazê-la.

Apesar de ter ouvido isso de seu médico, Grissom estava bem receoso com o fato de ter que fazer uma cirurgia na cabeça. Contudo era ciente de que tinha que fazê-la, porém não resistiu em questionar seu médico a respeito de algo.

— Doutor e se por ventura eu me recuse a fazer essa cirurgia. O que poderia acontecer comigo e com o que venho sentindo?

O médico e Sara olharam para Grissom sem entender porquê ele perguntou aquilo.

— Grissom, você não está pensando em se recusar fazer a cirurgia, está?

Ainda que no fundo esta fosse um pouco a sua vontade, muito por conta do medo que algo desse errado na hora, o homem não se recusaria a fazer a cirurgia.

— Não estou, Sara. Eu pretendo fazer a cirurgia. Só quero saber as consequências de não fazê-la. - explicou o homem a esposa. — E então doutor?

Mark revelou que se Grissom se recusasse a fazer a cirurgia, muito provavelmente as dores e pontadas que ele vem sentindo na cabeça só iriam aumentar e ficarem muito mais intensas e frequentes com o passar do tempo. Além disso, seu paciente futuramente até poderia vir a ter alguma coisa mais grave. Só que assim que pronunciou isso Mark se arrependeu por ver despertar a preocupação no casal Grissom. Eles logo quiseram que ele fosse mais claro e dissesse exatamente quais seriam essas "coisa mais grave" que Grissom viria a ter.

O médico até tentou desconversar sobre esse assunto, para evitar mais preocupação tanto para seu paciente como a esposa dele que estava grávida. Todavia Grissom foi incisivo e insistente ao pedir que seu médico não tentasse lhe esconder nada. O supervisor disse que era direito dele como paciente saber aquilo, fosse o que fosse.

Sara vendo que o médico por algum motivo não queria responder aquilo, intuiu que era coisa séria e, que  possivelmente, Mark estava tentando preservar seu paciente. Sendo assim a esposa do supervisor tentou intervir na situação, alegando ao marido que tal informação que ele queria saber não acrescentaria em nada, já que Gil faria a cirurgia de qualquer forma. Ainda assim, o homem teimou em querer saber daquilo. O doutor então sem saída acabou por contar que a coisa mais grave seria que Grissom possivelmente sofreria um AVC, além de uma possível segunda perda de memória.

— Então essa primeira perda de memória que eu tive, tem alguma ligação com isso que foi detectado agora nesses exames, doutor?

— Ainda preciso investigar com calma e detalhadamente isso. Mas posso lhes adiantar uma coisa... se isso tiver alguma ligação, então, senhor Grissom há uma grande possibilidade de o senhor recuperar gradativamente suas lembranças após a cirurgia.

Essas últimas palavras foram uma pequena luz no fim do túnel para o casal Grissom, principalmente para o supervisor.

Só de pensar que aquela situação de amnésia de Grissom poderia chegar ao fim após a cirurgia, já era motivo de alívio e alegria para o casal. Mas para isso se concretizar o médico tinha que primeiro encontrar alguma ligação entre os casos, porque senão eles voltavam para a estaca zero.

— Mas independente de ter ou não ligação, você terá que fazer a cirurgia, Grissom, ok? - o médico encarou seu paciente que assentiu. — E como não há tanta urgência em fazê-la, marcarei o procedimento para daqui um mês. Assim terei um bom espaço de tempo para analisar e comparar esse seu exame que acabou de fazer, com os que eu mandei que fizesse na primeira vez que esteve aqui. Tentarei ver se há alguma ligação disso que têm na cabeça com a perda de memória que lhe acometeu. Tudo bem pra vocês?

O casal assentiu ao mesmo tempo para o médico que ainda prosseguiu:

— Como me relatou que essas dores e pontadas têm lhe incomodado, Grissom, vou lhe receitar um remédio pra amenizar isso que sente até que faça a cirurgia. Mas só é para tomar o medicamento quando a dor já estiver incômoda demais. - explicou enquanto prescrevia a receita médica. Assim que acabou de escrever, Mark estendeu o papel a Grissom que o repassou a Sara.

A morena aproveitou a ocasião para tirar uma dúvida com o médico a respeito de algo que lhe rondava a cabeça há uns dias.

— Doutor Mark, será que poderia me tirar uma dúvida?

Tanto o médico quanto Grissom olharam para a mulher.

— Claro, Sara. Diga qual é sua dúvida?

— Há uns dias li um artigo médico na internet que falava sobre o fato de algumas pessoas quando recuperam a memória acabarem esquecendo tudo o que viveram, quando estavam desmemoriadas. Isso é verdade? E pode vir a acontecer com o Gil?

— É verdade, sim. E pode acontecer com o seu marido.

Grissom se remexeu com inquietude na cadeira.

Esquecer tudo, de novo?

Essa pergunta ecoou na cabeça do supervisor causando-lhe apreensão só de imaginar isso lhe acontecendo.

De forma alguma queria esquecer os momentos que viveu até aqui e as lembranças que construiu e as que ainda construirá, caso sua memória ainda demore a voltar. Até agora tinha reaprendido tanta coisa, passado por tantas outras e vivido momentos tão especiais, dentre eles: o dia em que ouviu pela primeira vez o coração de seus filhos que Sara carregava na barriga. Isso sem dúvida alguma era algo que não gostaria de esquecer. A emoção indescritível que sentiu e aquele sonzinho mágico que não saía de sua mente, ele definitivamente não queria esquecer ou ter apagado da cabeça aquilo. Bem como, os outros momentos que viveu até ali com seus outros dois filhos, Jully e Matt, os quais reaprendeu a amar; e nem os momentos compartilhados com a esposa de quem ele sabia que amava, apesar de não ter coragem para lhe admitir os sentimentos.

Calado e temeroso Grissom só prestou atenção ao médico, que seguiu esclarecendo a dúvida de Sara.

— Na verdade isso varia um pouco de pessoa para pessoa. Mas é comum que na maioria dos casos de pacientes que sofreram perda de memória, ao recobrar as lembranças antigas esquecerem as novas adquiridas durante a amnésia. Pra elas, é na verdade, como se a perda de memória nem tivesse ocorrido. Porém, também há pacientes que não esquecem as novas lembranças adquiridas quando têm toda sua memória recuperada. Só que sinceramente é difícil saber ou afirmar o que vai suceder com seu marido quando ele recuperar a memória. Cada caso é um caso.

Logo após isso houve uns instantes de silêncio que logo foi quebrado por Grissom.

— Não quero esquecer nada do que vivi até agora!

Tanto o médico quanto Sara olharam para Grissom. Com cuidado o neurologista se dirigiu ao seu paciente:

— Olha Grissom, infelizmente quanto a isso não tenho o que fazer. - confidenciou. — Mas se quiser posso lhe sugerir uma coisa que tenho certeza que vai lhe ajudar muito a saber o que lhe passou quando perdeu a memória, caso não lembre disso depois que tiver se recuperado. Por acaso quer minha sugestão?

Grissom ficou animado e curioso com aquilo e em resposta apenas balançou positivamente a cabeça. Mark então sugeriu que o paciente escrevesse em um caderno, como fosse um diário, tudo o que ele se lembrava que tinha lhe acontecido até agora e que também escrevesse tudo mais que fosse lhe acontecendo diariamente para que assim, quando recuperasse sua memória e não lembrasse de sequer tê-la perdido, tivesse ao menos registrado com suas próprias palavras e sua própria letra tudo o que passou, reaprendeu, sentiu e viveu durante a ausência de sua memória.

Sara achou a sugestão muito boa e incentivou o marido a aceitar aquilo. Alegou que seria bom para Grissom caso ele fizesse, pois ocuparia um pouco seu tempo e serviria de ótima terapia para sua mente também, o que foi concordado por Mark. Grissom analisou tal alegação da esposa e achou que de fato seria interessante fazer o que foi sugerido por Mark. Desse modo, o supervisor acatou a sugestão e disse que o mais pronto possível ia pôr em prática aquilo. Tanto Mark quanto Sara gostaram da aprovação de Gil. Ele se mostrou empolgado com tal fato, o que era bom já que desde que perdeu a memória o homem não se empolgava com algo. Sempre estava se lamuriando. Se bem que de uns tempos para cá já não fazia tanto isso.

Ainda houve mais uns minutos de conversa a respeito da futura cirurgia que Grissom faria, depois foi acertado o dia da próxima consulta que ficaria para daqui a vinte dias e por fim, o casal Grissom se despediu do médico.

Após saírem do hospital Sara passou em uma farmácia para comprar logo o remédio que o médico havia receitado para as dores que Grissom sentia vez ou outra. Em seguida, ela dirigiu para casa para deixar seu marido e apanhar suas pastas da universidade, pois logo mais teria que ir trabalhar.

Quando Grissom e ela chegaram em casa encontraram na sala seus filhos que ainda estavam com o uniforme da escola, já que tinham chegado a poucos minutos de lá. Sara conversou um pouco com os dois filhos para saber como tinha sido a manhã deles e logo depois, ela subiu para tomar um banho e se arrumar, deixando assim Jully e Matt na companhia do pai.

Alguns instantes depois a mulher desceu já pronta, almoçou com o marido e os filhos para logo em seguida, sair voada para seu trabalho.