Lost Memory escrita por Dri Viana


Capítulo 18
Chapter Eighteen


Notas iniciais do capítulo

Queridas leitoras, depois de um periodo bem complicado que passei por conta de um problema de saude da minha mãe, estou podendo voltar a escrever. Graças a Deus ela está aos poucos se recuperando da depressão profunda em q estava e ja está melhor a cada novo dia.
Dessa forma com minha cabeça menos preocupada eu resolvi retomar ainda q seja de forma lenta a escrever as minhas fics.
Espero q não tenham me abandonado. Bjs e aí está um novo cap.



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Sozinho no escritório, Grissom aproveitou que naquela manhã só estavam ele e Shirley na casa, já que Sara tinha saído para trabalhar bem cedo e, os filhos do casal ainda estavam na escola, para começar a fazer o que seu médico havia lhe sugerido na consulta de dois dias atrás.

O supervisor abriu o bonito caderno que a esposa havia lhe comprado ontem, o qual possuía uma capa de couro e trazia nela o  desenho em dourado de uma caneta em forma de pena, para expor ali todas suas lembranças adquiridas desde que acordou desmemoriado. Antes, porém, de começar a descrever os fatos ocorridos, Grissom fechou os olhos por segundos, respirou fundo e assim voltou mentalmente no tempo quatro meses, parando bem no exato instante em que se lembrava de ser o começo de toda aquela 'jornada' de amnésia, o momento em que acordava, via a esposa e não sabia quem era ela.

Ao abrir olhos poucos instantes depois, o homem começou a escrever. Sua mão trabalhava ágil e rápida em detalhar cada pequena lembrança que lhe vinha em enxurrada à cabeça.

A cada parágrafo que escrito, Grissom revivia mentalmente tudo o que ia sendo  registrado naquelas folhas do caderno.

O supervisor mergulhou fundo em sua mente para buscar relatar com maior riqueza de detalhes tudo que se lembrava daquele fatídico dia. Inclusive, teve momentos em que o homem chegou a se desligar do mundo ao seu redor perdendo assim, a noção do tempo e do espaço enquanto escrevia.

Por cerca de pouco mais de três horas, ele repassou para o diário várias coisas, situações, momentos, sentimentos, fatos e conflitos que se passaram dentro dele. Tudo, absolutamente tudo, que lhe ocorreu e lhe envolveu nas três primeiras semanas em que a família, a casa que mora e tudo mais que fazia parte de sua vida anterior, não passava naquele momento de meros desconhecidos para ele, foram mencionados e detalhados nas várias páginas.

Coisas que naquela época eram desconhecidas para ele, agora, com o tempo que passou já não eram mais nada de tão desconhecidas assim. Isso muito se deve a convivência e a familiaridade que ele já adquiriu com as pessoas e o ambiente ao qual reside. Ainda que Grissom continue desmemoriado, as coisas em sua casa já não são mais 'novidades' para o sujeito.

Quando o supervisor resolveu fazer uma pequena pausa em sua escrita, tomou um susto, pois ao folhear o caderno viu que tinha escrito mais de trinta folhas em pouco mais de duas horas. Diante daquilo achou melhor parar por ali e continuar escrevendo amanhã. Por hoje tinha escrito o bastante. Além do mais sua cabeça já começava a doer, decerto por conta de tanto se forçar para lembrar das coisas afim de escrevê-las.

Grissom fechou o caderno e guardou-o na gaveta da escrivaninha. No exato momento em que se pôs de pé, a porta do escritório foi aberta de maneira abrupta e por ela o supervisor viu passar seu filho menor que acabava de chegar da escola. Sorriu ao ver o menino que correu em sua direção e se agarrou as pernas do pai.

— Ei, campeão!

Grissom carregou filho no colo e depois o abraçou. Ele já conseguia ser completamente carinhoso e amável com os filhos e isso, era muito bom para os dois pequenos que se acostumaram a desde de sempre terem um pai extremamente carinhoso e amoroso com eles.

— Como foi na escola?

— Foi legal!... Papai, eu tenho uma coisa pra você.

— Pra mim?

— É, tá aqui.

O menino puxou do bolso de sua bermuda da escola, um papel todo dobro e o estendeu ao pai.

O supervisor pegou da mão do filho o papel e pôs o garoto sentado sobre a mesa para assim, ter as duas mãos livres para abrir o que o filho lhe entregou.

— Vamos ver o que tem aqui, rapazinho! - Grissom falava enquanto desdobrava devagar o papel. Seu filho sorriu de um jeito tão engraçadinho que encheu o coração do supervisor de ternura. Matt tinha um sorriso fácil como o de Sara e Grissom percebeu isso poucas semanas depois de convivência com a família.

— A tia me ajudou a fazer.

— É mesmo?

— Ahã.

Assim que Grissom viu o conteúdo do papel, sentiu uma emoção enorme acelerar seu coração.

Naquele pedaço de folha branco estava escrito com a letra toda torta e quase ilegível de Matt, que estava aprendendo a escrever, uma coisa, ou melhor, uma frase com quatro palavras que tocaram profundamente Grissom.

"Papai, eu te amo!"

Ler aquilo o fez sentir algo ainda mais imensurável por aquele garotinho a sua frente. Até aquele momento, Grissom mesmo com a aproximação gigante que teve para com os filhos nunca havia dito a nenhum deles que os amava, mas diante daquela demonstração do filho foi impossível se conter. Tomando Matt novamente em seu colo, Grissom olhou nos olhos do filho e então retribuiu as palavras do filho:

— O papai também te ama, campeão! - dizendo isso o homem abraçou o filho e logo em seguida, beijou seus cabelinhos encaracolados que por conta do shampoo que Matt usava, cheiravam a morango.

Houve um breve instante de silêncio que foi quebrado pela vozinha um tanto surpresa de Matt.

— Você me ama, papai?

Grissom desfez momentaneamente o abraço deles, olhou outra vez bem no fundo daqueles olhos azuis, que eram idênticos aos dele e só depois disso respondeu ao garoto:

— Sim. O papai ama muito você!

O supervisor sabia e não era de agora. Já tinha um tempinho, que aquele sentimento forte de amor vinha habitando dentro dele. O homem foi dia após dia reaprendendo a amar cada membro de sua família. E agora, não tinha dúvida alguma de que amava muito os filhos e também, a esposa a quem ele ainda não conseguia expor seus sentimentos.

Matt ao ouvir a confirmação do pai sorriu, e em sua ingenuidade de criança achou que Grissom enfim tinha recuperado a memória.

— Então já se lembrou das coisas? - havia alegria e empolgação em seu questionamento.

Grissom observou o rosto angelical do filho se iluminar com um sorriso largo. Pensou em mentir a resposta somente para não ver o sorriso tão lindo que Matt estampava, sumir como tinha certeza que sumiria ao ouvir sua negativa. Mas infelizmente, ele não podia e nem queria mentir para o menino. Então com dor no coração o homem de olhos azuis disse a verdade ao filho.

— Não, filho. O papai ainda não se lembrou das coisas.

Como ele prévia, o sorriso sumiu dos lábios de Matt e aquilo doeu em seu peito de pai.

— Eu pensei que já tinha lembrado de mim. - murmurou Matt de cabeça baixa.

As palavras do menino foram um duro golpe no estômago de Grissom. Por segundos o homem não soube o que dizer em resposta. Era triste e frustante causar essa decepção no seu filho. Se dependesse somente de si, Grissom já teria lembrado de cada pessoa de sua família. Só que infelizmente não dependia apenas dele.

— Se não lembrou de nada, então como sabe que me ama? - Matt se pronunciou novamente e olhou para Grissom fazendo um beicinho de choro.

Não chore, por favor!, Pediu em pensamentos. Não queria ter a desagradável experiência de ver novamente seu filho chorar diante dele como ocorreu no dia em que acordou desmemoriado. Aquilo tinha sido duro demais!

O supervisor tocou com delicadeza o rosto do filho e depois segurando em uma das mãos do pequeno lhe disse:

— Sabe, Matt... O papai não precisa se lembrar das coisas que esqueceu, para saber que ama você. O papai sente aqui dentro do coração dele que te ama muito.

Lentamente, ele foi vendo aquele beicinho de choro do filho ser substituído por um sorriso bonito. Grissom ficou feliz em ver isso. Concluiu que o garoto tinha entendido o que foi dito.

E realmente, o pequeno havia entendido. Matt podia ter pouca idade, mas entendia muito bem o que lhe diziam, porque era uma criança esperta demais para a pouca idade que tinha.

Depois de ouvir do pai que ele lhe amava, Matt quis saber se isso também se aplicava ao resto da família.

— E a Jully?

— O que têm a sua irmã?

— Também ama a Jully?

— Sim! - afirmou sem demora e dando um sorriso. Sua filha mais velha era tão amada por ele como era o garotinho no colo do supervisor.

— E ama também os meus irmãozinhos que estão na barriga da mamãe?

— Também, claro! - afirmou, dando outro sorriso.

— Humm... - Matt levou o dedinho indicador ao queixo e sem rodeios disparou ao pai: — E a mamãe, você também ama?

Grissom sorriu dessa vez mais abertamente quando questionado a esse respeito.

Como ele não amaria aquela mulher especial que tem sido com ele tão paciente, carinhosa, atenciosa e amorosa? Era humanamente impossível não se apaixonar por ela, tanto que ele se apaixonou.

Pela segunda vez se apaixonou pela mesma mulher!

Amava sua esposa! Tinha plena consciência disso!

Havia reaprendido a nutrir tal sentimento por ela de maneira natural e gradual.

— Sim, Matt... O papai também ama muito a mamãe! - tocou o rosto do garotinho que sorriu feliz e sapeca diante da resposta do pai.

 

***

— Mamãe hoje o papai disse que me ama muito!

Matt contou todo alegre enquanto a mãe o vestia com seu pijama de bichinhos. O garoto tinha feito questão de que naquela noite Sara o colocasse para dormir. Mesmo cansada por conta do trabalho na universidade ao longo daquele dia, a mulher foi satisfazer o pedido do filho menor. Não era sempre que cedia à pedidos dos filhos, mas aquele era algo que não negaria nunca a nenhum dos dois rebentos. No entanto o que ela não sabia era que seu filhote fez tal pedido com a intenção de lhe partilhar o que o pai havia lhe dito pela manhã.

Ao ouvir a fala do filho, Sara sorriu contente por vê a alegria estampada no rosto de seu menino diante de tal acontecimento relatado. E o sorriso dela também era por saber que Grissom, enfim, havia dito aquelas palavras lindas ao filho menor, que era tão ligado à ele.

— Que bom que ele disse isso à você, meu amor.

— E sabe o que ele disse mais?

— Não, o quê? - ela sentou-se ao lado dele que acabava de se deitar na cama e pôs-se a afagar os cabelos do menino.

— Que ele ama a Jully... os meus irmãozinhos que vão nascer e... A senhora! - enumerou nos dedos.

— À mim? - surpresa a mulher perguntou depois de alguns segundos que a última parte da fala do filho foi processada por seu cérebro.

— É... Ele disse que ama muito você, mamãe! - sorriu para ela.

Sara quase não acreditou no que  ouviu. Seu marido, a quem ela tinha certeza de que amaria pelo resto de seus dias, havia dito ao filho deles que a amava muito?

Será que ele disse aquilo só por dizer ou aquele sentimento já existia mesmo da parte dele por ela?

A morena resolveu acreditar de coração que a segunda opção fosse à correta, mas ainda assim, não resistiu em perguntar.

— Ele disse isso mesmo à você, Matt?

Talvez o fato daquela amnésia ainda persistir em seu marido, a fizesse duvidar um pouco que ele pudesse sentir algo por ela, sem que sua memória tivesse voltado por completo.

— Disse, mamãe! - respondeu o garotinho já bocejando e coçando os olhos.

Sara sorriu de tal confirmação.

É verdade que de umas semanas para cá ela vinha notando seu marido muito mais próximo à ela. Ele se mostrava mais cuidadoso, atencioso e até mesmo mais carinhoso com ela. Sara lembrou-se que chegou a flagrar Grissom inúmeras vezes a olhando de um jeito que ela podia jurar ser o mesmo de antes de ele perder a memória. Sem contar que, às vezes, ela tinha a ligeira impressão de que ele queria lhe dizer algo, mas não sabia o que era porque ele não dizia nada e nem ela tinha coragem de lhe perguntar o que era.

Contudo, a esposa se pegou imaginando o que poderia ser. E num lampejo de esperança se viu cogitando que talvez, ele quisesse lhe dizer nas muitas vezes em que o pegou olhando-a, que sentia algo por ela!... Que a amava assim como disse ao filho deles.

Será que o coração dele havia descoberto o sentimento que havia de sua parte para com a esposa, mesmo sua memória ainda não tendo voltado?

Ah! Se realmente isso fosse verdade, Sara se sentiria novamente completa como antes de todo aquele tsunami de amnésia vir e varrer sua vida colocando-a de pernas para o ar.

Enquanto a mulher divagava em pensamentos, nem percebeu que seu filho pegou no sono. Foi só após um tempinho que ela olhou para ele e o viu dormindo profundamente.

Aproveitou-se disso e levantou da cama, depois de ter dado um beijo na testa do filho; saiu do quarto do garotinho e resolveu dar uma passada no quarto da filha mais velha para lhe desejar "boa-noite" e só então, depois disso foi para seu quarto. Ao entrar no cômodo encontrou Grissom parado bem em frente à janela, observando a noite estrelada que fazia lá fora.

Ao vê-lo, Sara inevitavelmente lembrou-se das palavras do filho e foi impossível conter a excitação de seu coração que se acelerou.

Grissom a amava!... Será?

Mesmo desmemoriado será que ele já sentia amor por ela?

Sara ficou olhando para ele enquanto pensava. Distraiu-se com os pensamentos que nem percebeu que Grissom virou-se e estava olhando para ela. Só foi se dar conta disto, quando o marido se encontrava diante dela, chamando por seu nome pela terceira.

— Oi! - respondeu atordoada ao tê-lo bem a sua frente, há poucos centímetros de distância dela.

— Está tudo bem com você, Sara? - ele segurou de leve em seu braço. Havia se preocupado com o fato dela se mostrar alheia e não responder seus chamados. Por um instante, Grissom achou que a esposa estivesse sentindo algo.

Os olhos da mulher se desviaram do marido e encararam a mão dele tocando sua pele. Um calor seguido de arrepio tomou seu corpo. Estava ficando cada vez mais difícil para ela controlar e segurar o desejo que só fazia aumentar pelo marido a medida que a gravidez avançava. 

Malditos hormônios!

Notando o olhar de Sara para sua mão e intuindo erroneamente que a esposa não estivesse gostando de tal gesto dele, Grissom então tratou de soltar o braço de Sara depressa.

— Está tudo bem, sim. - ela respondeu, olhando-o de relance.

— Pensei que estivesse sentindo algo.

— Não... Eu... Eu vou tomar um banho e depois me deitar. Estou cansada, tive um dia agitado na universidade.

Ela saiu de perto dele, pois se continuasse mais um pouco que fosse, talvez o agarrasse e lhe tascasse um beijo daqueles que há meses não trocavam.

Quando a mulher já estava perto da porta do banheiro, o marido a chamou.

— Sim! - ela respondeu, mantendo-se de costas para ele.

— Gostaria de falar com você sobre uma coisa. Será que antes de dormir poderíamos conversar?

Ela engoliu à seco. O que será que ele queria conversar com ela? Talvez falar sobre seus sentimentos?

Será?

— Claro, Gil. Deixa só eu tomar um banho e assim que terminar nós conversamos. Tudo bem? - virou-se e lhe lançou um olhar ao marido.

— Sim! - concordou o homem esboçando um sorriso.

Sara entrou no banheiro e deixou que a ducha quente levasse o cansaço que lhe consumia. Bem que também podia levar as dúvidas que rondavam sua cabeça. Mas aí era pedir demais!

Cerca de quinze minutos depois, a mulher estava saindo do banheiro de banho tomado e usando uma de suas camisolas que já começavam a marcar a barriga de mais de quatro meses de gestação. Teria que providenciar logo outras  camisolas mais largas.

A mulher notou o marido lhe olhar de cima abaixo e engolir a seco ao vê-la surgir no quarto com a roupa de dormir. E ao dar a volta na cama para ir se acomodar em seu lado, Sara notou de soslaio que o marido lhe seguiu com o olhar. Quis sorrir disso, mas se conter.

— Então o que quer conversar comigo?

Ela se pronunciou enquanto se acomodava a cama e puxava o lençol para cobrir suas pernas que a camisola curta deixava de fora.

— Hã?

Ele respondeu, avoadamente. Sequer tinha prestado atenção no que a esposa havia perguntado, pois estava mais interessado em admirá-la naquela camisola.

— Gil?! 

Sara olhou para ele e dessa vez não conseguiu conter o sorriso diante da cara abobalhada que o marido tinha ao olhá-lo.

— Desculpa... Eu... Me... - ele se embolou e não terminou a explicação por vergonha de dizer que havia se distraído ao vê-la tão linda naquela camisola.

Por um segundo Sara quis incitá-lo a concluir sua fala, mas depois desistiu diante do rubor na face do marido. Aquilo lhe deu uma ideia do motivo dele estar daquela forma. E diante desta nova "evidência", a ideia de que seu marido já lhe amava como ele afirmou à Matt, ganhou mais força para Sara, fazendo o coração da perita disparar.

— Sobre o que quer conversar comigo? - repetiu a pergunta já que ele pareceu não ter ouvido na primeira vez.

— Bem, é que... - ele iniciou, desviando o olhar da esposa para não perder o foco do assunto que queria ter com ela. — Conversando hoje de tardinha com... A Shirley soube que temos uma casa de veraneio. É verdade? - ao fim do questionamento o homem arriscou encarar a esposa.

As esperanças de Sara de ouvir uma possível declaração de amor do marido foram por água abaixo depois dessa fala dele. Um misto de decepção com frustração acometeu Sara. A morena esperava ouvir outra coisa do marido não aquilo.

"Que tola eu sou por achar que ele sentisse algo por mim e fosse me contar isso. Acorda, Sara! Seu marido só vai voltar a te amar quando recuperar a memória!". A perita falou mentalmente a si mesma.

Seria bom demais se seu marido tivesse amor por ela mesmo com a ausência de memória quanto a história que construíram juntos.

— Sara tudo bem?

Grissom notou um repentino ar de tristeza na esposa e ficou sem entender nada.

— Tudo sim. - ela forçou um sorriso para ele. — E é verdade que nós temos essa casa! - confirmou após uns minutos em silêncio. A morena "engoliu" a seco a decepção que foi não ouvir o que queria.

Se ele ainda não me ama, paciência!

— Nunca mencionou sobre essa casa. Shirley me disse que você, as crianças e eu costumávamos ir muito pra lá.

Ela sorriu ao lembrar das vezes em que foram para à casa de veraneio.

— Sim. Sempre que tínhamos oportunidades íamos para lá, principalmente, quando eram férias ou feriados prolongados. Nossos filhos adoram aquela casa. - O sorriso dela se intensificou e isso não passou despercebido por Grissom. — É uma casa muito bonita, grande e fica bem perto da praia..O imóvel era da sua mãe, na verdade, e ficou pra você de herança quando a Beth faleceu.

Houve um instante de silêncio entre eles depois que Sara mencionou sobre a mãe de Grissom. Até então ela não havia entrado em detalhes com ele sobre seus parentes. Obviamente tinha lhe contado a respeito deles, mas apenas nomes e coisas superficiais, nada tão profundo e detalhado.

E diante da menção da esposa sobre sua mãe, Grissom interpelou:

— Faz tempo que a minha mãe faleceu?

Sara suspirou antes de responder:

— Daqui alguns meses vai fazer cinco anos. Ela faleceu dois meses antes do Matt nascer.

Novamente o silêncio imperou, só que durou pouquíssimo, já que logo Grissom o quebrou.

— Do que ela faleceu, Sara?

Mais necessidade ele sentiu de saber aquilo que fazia parte de sua vida.

Desviando os olhos do marido e encarando a parede lá adiante de si, Sara começou a falar:

— Beth estava aqui em casa. Tinha vindo passar um tempo conosco por conta da minha gravidez, que estava na reta final. Certa noite, estávamos, você, eu e ela na sala conversando sobre o bebê e aí... - ela fez uma pausa ao recordar da tristeza que foi aquela noite de anos atrás. Foi um baque enorme não só para seu marido como para ela o falecimento de Beth. — Do nada a sua mãe começou a passar mal. - retomou sua fala. — Ela se queixava de uma dor forte no peito. Imediatamente, você a levou ao hospital enquanto eu fiquei em casa com a Jully que era pequena na época. Poucos minutos após chegar lá ela... - outra vez Sara parou de falar por uns segundos e após engolir o nó que se formou na garganta voltou a prosseguir na narrativa. — Ela teve um infarto fulminante e faleceu.

Após contar isso, a morena olhou para Grissom e ele pode ver os olhos da esposa cheios de lágrimas e vice-versa.

Ambos ficaram calados se fitando com tristeza por conta da dolorosa lembrança partilhada por Sara.

Grissom não se lembrava, mas sua esposa havia criado um laço muito forte com sua mãe. É, bem verdade, que no começo a relação entre nora e sogra não foi nada boa. Elas tiveram vários atritos e se estranharam bastante, muito por culpa de Beth que de primeira não gostou nada de Sara por achá-la nova demais para Grissom, já que quando eles começaram em um relacionamento amoroso a morena tinha pouco mais de 24 anos, enquanto o supervisor beirava os 40.

De início Beth chegou a suspeitar maldosamente, que Sara só estava com seu filho por interesse de ganhar regalias no trabalho ou até mesmo subir de cargo, já que descobriu que a namorada de Grissom era subordinada dele no laboratório criminal.

Contudo, aos poucos Beth foi vendo e ouvindo de vários amigos do filho, principalmente de Catherine, a melhor amiga de Gil, que não era bem isso. Além disso, a própria Sara mostrou à sogra com ações e declarações que amava o supervisor e não visava quaisquer regalias no trabalho por estar se relacionando com seu chefe. Era AMOR e não interesse o que sentia por Grissom.

Diante dessas coisas todas, gradativamente, a relação entre as duas mulheres foi melhorando e logo se tornou outra depois de certo tempo. E assim, tanto sogra quanto nora passaram a se dar muito bem para alívio de Grissom, que não gostava nada do fato de as duas mulheres de sua vida não se darem bem.

— Você gostava muito da minha mãe? - a pergunta rompeu o silêncio.

— Sim. - Sara deu um pequeno sorriso ao responder enquanto enxugava uma lágrima que havia escapado de seus olhos. — Mas as coisas entre sua mãe e eu não tiveram um começo agradável.

— Como assim?

— Beth não me aceitava como nora. Ela não me achava a mulher certa pra você, porque quando começamos a namorar eu era ao ver dela muito nova, enquanto que você já era um homem mais vívido. Pra sua mãe, você tinha que arranjar alguém mais experiente que eu e que tivesse a sua idade, e não uma "jovenzinha" como eu, que mais cedo ou mais tarde segundo ela, ia acabar te traindo com outro mais jovem que você.

— Minha mãe achava isso? - o supervisor tinha os olhos arregalados.

— Sim. E ela chegou até cogitar que eu só estava com você, porque era meu chefe e dessa forma, eu poderia tirar vantagens disso. Sendo mais clara, sua mãe me achava uma oportunista. - ela deu um sorriso ao contar aquilo.

Agora podia se dá ao luxo de rir da situação, mas antes não, porque não tinha nada de engraçado. O perrengue que passou logo no começo com a sogra não era digno de rir. Beth pegou pesado em suas acusações e em seus julgamentos em relação à Sara. Só que a morena com demasiada paciência e esforço foi mudando a visão deturpada que a sogra fazia dela. Depois Beth chegou até a lhe pedir desculpas por tudo que fez e pelas coisas que disse, e a partir daí as duas passaram a se dar muito bem e a terem uma relação maravilhosa, tanto que Sara tinha na sogra uma segunda mãe.

— E como foi que vocês se entenderam?

— Depois de um longo tempo. Fiz sua mãe ver que eu não era nada do que ela pensava e as coisas entre nós foram se acertando. Ela me pediu desculpas e aceitei. Passamos a nos entender e a relação entre nós foi a melhor possível. Nós até nos tornamos muito amigas. Havia um carinho mútuo. Eu a adorava e ela me adorava. Sua mãe depois que nos entendemos, foi à melhor sogra que alguém poderia ter!... E quando ela partiu, eu senti muito; foi uma perda muito dolorosa tanto pra você quanto pra mim.

Silêncio outra vez!

E por uns segundos cada um deles ficou refém de seus pensamentos a respeito do que foi o dito.

— E sobre o meu pai o que sabe?

— Pouco. Apenas que ele faleceu quando você tinha oito anos. Segundo Beth, ele era um homem íntegro, bom, carinhoso, além de um ótimo marido e um excelente pai. Sua mãe sempre me dizia que você havia puxado demais pra ele, tanto no jeito quanto na aparência. E tenho certeza de que onde quer que ele esteja, deve está muito contente e orgulhoso por vê o homem bom que você se tornou.

Ele deu um pequeno sorriso por saber aquilo. Como gostaria de lembrar de seus pais, só que infelizmente isso não era possível. Mas ao menos agora tinha mais informações sobre seus pais, coisa que antes não tinha.

Calados, o casal se olhou e ambos desviaram o olhar do outro quase que juntos. E coube a Sara, dessa vez quebrar o silêncio.

— Nós começamos a falar da casa e terminamos falando da sua mãe e do seu pai. - a mulher sorriu. Ao seu lado o esposo fez o mesmo de maneira bem discreta. — Por que mencionou sobre a casa?

— Fiquei com vontade de conhecê-la. Será que poderíamos ir lá antes da minha cirurgia, Sara? - a esposa virou o pescoço e encarou o marido, surpresa com a proposta dele. — Gostaria muito de pelo menos passar um fim de semana com você e os nossos filhos nessa casa. Ficar longe de Vegas, médicos e tudo isso que se tornou parte da minha rotina de desmemoriado. Já me sinto um pouco sufocado com tudo isso e queria esquecer nem que fosse por apenas dois dias dessas coisas.

A mulher piscou lentamente, ainda  processando o que ouviu. Talvez fosse bom mesmo para seu marido e a família toda, eles irem para à outra casa que tinham.

Quem sabe por lá, naquela casa cheia de boas recordações e de momentos em família, Grissom não se lembrasse de algo? Era uma esperança a qual Sara se agarrou.

— Se você quer ir lá, nós iremos então.

— Mesmo?

Ela viu o marido sorrir feito um garoto encantador e gostou disso. Ele sempre ficava lindo quando sorria assim.

— Sim. - ela confirmou. — Podemos aproveitar o feriado de quatro de julho que é na semana que vem. Se não me engano, ele vai cair na sexta-feira então podemos passar três dias por lá. Tenho certeza que vai ser bom para todos nós irmos para nossa outra casa. - sorriu para o esposo que agora lhe sorriu mais abertamente.

Era fato que o sorriso de Grissom cada vez mais se iluminava para esposa, assim como, seus sentimentos por ela se intensificavam.

Era apenas uma questão de tempo e oportunidade perfeita para aquele homem desmemoriado derrubar as paredes que haviam dentro dele e que o impediam de expor o que sentia pela esposa, começarem a ficar frágeis, até por fim desabarem. E dessa forma, Grissom abriria a porta de seu coração para sua esposa saber o que ele tanto sente por ela.

 

 

 

E todas as minhas paredes seguiram de pé pintadas de azul
Mas eu vou derrubá—las 

Derrubá-lase abrir a porta para você

 

E tudo o que sinto no meu estômago
São borboletas, da mais linda espécie.
Compensando o tempo perdido, voando.
Fazendo com que me sinta bem

 


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Notas finais do capítulo

Espero q tenha agradado o cap.
Bjs e ate o proximo.