Ouvi o portão se abrir assim que acabou. Minha mãe havia chegado. Não mexi nenhum músculo, ela que viria até meu quarto. 
- Oi Ju – ela disse abrindo a porta 
- Oi mãe – sorri. 
Ela entrou e se sentou na ponta da cama, ficou olhando pra mim. 
- o que foi mãe? – olhei assustada. 
- Nada... 
- Eu em... – resmunguei. 
- Sabe filha... eu queria desabafar – ela riu. 
- Uai, fica a vontade – sorri. 
- É... sei lá... É sobre o Emilio. – ah mais essa eu quero ouvir. 
- O que? 
- Num sei... Eu estou em sentindo diferente com ele... Acho que depois que eu reencontrei seu pai, eu mudei... Mas eu não quero mudar. – ela sorriu. 
- Mudou? 
- É. Estou tratando ele diferente, não sei Julia... 
- Mas é só você tentar não fazer isso mãe... Se é automático, presta atenção no que você tá falando, no que você tá fazendo – sorri. 
- Vou tentar – ela sorriu e se levantou – Então em Julia, vou no shopping, quer ir? 
- Não mãe, vou ficar aqui em casa – sorri. 
- Então tá, vou só tomar um banho. – ela saiu do quarto e fechou a porta. Fiquei vendo televisão até ela voltar e se despedir. 
- Tchau filha – ela bateu na porta. 
- Tchau mãe, boas compras – gritei. 

Me levantei, e fui até o notebook. Peguei e voltei pra cama. Fiquei no twitter e msn por um tempo. Até enjoar. Conversei com a Rafa, contei sobre o Gabriel, e ela afirmou a mim que eu tinha falado alguma coisa errada mesmo. Como eu queria poder voltar no tempo.
Fechei o computador e coloquei em cima da escrivaninha como antes. Me deitei na cama, e fiquei vendo mais TV. Eram 9:30 quando o sono bateu. Minha mãe ainda não havia chegado, mas não dei importância. Me virei na cama e fechei os olhos. Amanhã seria um grande, grande dia. 
You can’t make up your mind, mind mind, mind mind (8)
Acordei do meu sonho que na verdade era uma tela preta – qq – e me levantei da cama. 
Ok, hoje é meu grande dia. Preciso estar razoável, hum... ou não ne. 
Fui até o banheiro e liguei o chuveiro. Tomei um banho rápido e sai enrolada na toalha. Abri meu armário procurando um jeans descente. Peguei um skinny meio velho e um casaco preto com um monstrinho colorido na frente. Vesti tudo, com a blusa de uniforme, e fui ao banheiro. Escovei os dentes e penteei o cabelo, que estava com algumas ondas. Apenas isso de diferente, o resto do cabelo era como antes – um corte inteiro, sem franja, sem nada diferente, partido no meio. Não passei maquiagem hoje. 
Calcei meu all star preto e peguei minha mochila. 
Cheguei na cozinha, minha mãe estava tomando café, vestida seu hobby e com chinelos de coelhinho – tenso. 
- Oi filha, bom dia – ela sorriu. 
- Oi mãe – sorri de volta. Peguei meio pão de sal e comi puro. Voltei pro banheiro para escovar os dentes de novo, e sai de casa. 
- Boa aula – minha mãe gritou quando eu já estava no portão. 
- Obrigada mãe – gritei de volta. Vai ser sim, um ótimo dia, uma ótima aula. Bom, pelo menos eu espero. 

Peguei o caminho da escola, e fui andando. Bem estranho o Emilio não ir tomar café na minha casa nem ontem nem hoje. Ah, mas ele nunca foi. Só semana passada, quando ele cismou comigo. Bom, eu sinceramente, não vejo nada demais entre ele e minha mãe, não que eu esteja querendo acabar com alguma coisa, interferir em alguma coisa, só acho que isso é um foguinho de fósforo. Já já acaba, e eu acho que minha própria mãe já tá começando com esse fim. 
Cheguei na escola e fui direto pra sala. 
O Luiz não tinha chegado. Nem a Rafaela. Eu estava sozinha, então abaixei minha cabeça sobre os braços e fechei os olhos. 
- Acho que ela morreu – ouvi a voz da Rafaela. 
- Revive Ju! – alguém começou a me sacudir – tenho que te contar uma coisa! – era a voz do Luiz, mas não era a voz do Luiz. Era a voz nova do Luiz, tenso. 
- Oi, oi oi, já acordei – disse levantando a cabeça e jogando o cabelo pra trás. 
- Hum... que bom – Rafaela se sentou. 
- é... 
- Hm, o Luiz tem que te contar um trem aí ne... – Rafaela cutucou ele com o cotovelo. 
- Tem? – levantei uma sobrancelha – então conte-me – sorri. 
- É que... lembra da nossa conversa de ontem – ele sorriu – eu acho que... 
- Deu certo! – Rafaela gritou. 
- Deu certo o que? – arregalei os olhos. 
- Ah coração, para ne? Eu e você tivemos uma conversinha intima ontem lá na escada meu bem, tá com amnésia? – a voz dele voltou ao normal. – caham – tossiu – desculpa. Ontem, a gente conversou lá debaixo da árvore, não lembra não? – agora ele ajeitou a voz, e conversou mais formal. 
- Hum – pausa – sobre a Larissa ne? 
- É uai, o que você acha que explica ele tá desse jeito – pausa – ridículo tentando ser uma coisa que ele não é?! – Rafaela disse dando um tapinha no braço dele. 
- Você e a Larissa... A Larissa e você? Vocês dois... ? oi? – não acredito.